* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
"Sapere Aude"
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Texto original no livro História de Cangaceiros e Coronéis, do autor
Acompanhe neste blog todos os domingos
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Ao longo de minha vida enquanto professor, encontrei muitos
casos de alunos que claramente não queriam se bacharelar em Direito.
Estavam ali, no curso, cumprindo uma trajetória que não era
de seu agrado. Prefeririam se dedicar à música, à história, a escrever, à
arquitetura, jornalismo, psicologia...
Quando eu percebia procurava conversar. Às vezes, em alguns
casos, sequer o aluno tinha percebido que sua praia não era aquela. Seduzido
por ideais que lhe eram impostos pela sociedade, como status e dinheiro, ou,
pior, por ideais que seus pais cultivavam, ali ficavam eles, nas salas de aula,
a passar horas e horas tomando contato direto com uma realidade, no seu caso,
no mínimo entediante.
Mesmo aqueles que sabiam exatamente o que queriam, tal como passar
em um concurso público e supostamente se tranquilizar quanto ao futuro, para,
então, se dedicar a alguma atividade que lhe desse prazer, tal como a literatura,
era fácil perceber que tinham uma dúvida latente e perturbadora pairando sobre
suas mentes: “será que vale a pena todo esse tempo perdido? A vida é tão
curta...”
Pois bem, se é assim, ou mesmo que seja apenas para lhe
assegurar a certeza de sua escolha, na medida em que isso seja possível, ou por
pura curiosidade, vale a pena ler COMO ENCONTRAR O TRABALHO DE SUA VIDA,
de Roman Krznaric.
Desde já advirto: não se trata propriamente de livro de
autoajuda. O livro é bem escrito, bem fundamentado, e faz parte de uma coleção
“tocada” pelo filósofo Alain de Botton, autor de Religião para Ateus e Como
Proust pode Mudar sua Vida.
Eu mesmo somente me interessei, quando li uma citação de
Richard Sennet, pensador de meu agrado, no livro.
Quanto ao escritor, é membro fundador da “The School of Life”,
e foi mencionado pelo jornal “Observer” como um dos mais importantes pensadores
sobre estilo de vida do Reino Unido, além de ser conselheiro de organizações
tais quais a Oxfam e Nações Unidas.
Então, se for o caso, mãos à obra!
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Ariano, entrevistado pelo Cadernos, em certo momento lembra: "não sou um escritor de muitos leitores; costumo dizer que sou um autor de poucos livros e poucos leitores -, (...) Mesmo que eu não publique, tem um círculo de leitores que sempre lê o que escrevo."
Retruca o Cadernos: "Este é um circuito antimoderno, o circuito da comunidade interessada."
Qual uma confraria de amigos, na Idade Média, digo eu, onde foi iniciada essa tradição.
Assim é, assim será o caráter dos tempos atuais e futuros, no qual a imagem evanescente e superficial é tudo e as palavras, mesmo quando amalgamando belos e profundos textos, manjar para poucos.
A palavra é arte, arte fugidia, de domínio difícil e angustiante.
Relendo O Crime do Padre Amaro do imenso Eça, lá encontro essa ideia pela voz do seco Padre Notário:
- Escutem, criaturas de Deus! Eu não quero dizer que a confissão seja
uma brincadeira! Irra! Eu não sou um pedreiro-livre! O que eu quero dizer é que
é um meio de persuasão, de saber o que será que passa, de dirigir o rebanho
para aqui ou para ali... E quando é para o serviço de Deus, é uma arma. Aí está
o que é - a absolvição é uma arma."
A palavra é uma arma.
Recordo-me que dizia para meus alunos de Filosofia do Direito ser a confissão um inteligente serviço secreto, à serviço da aristocracia, para a manutenção dos interesses da elite dominante nos tempos medievais.
A palavra: arte ou instrumento. Às vezes ambos ao mesmo tempo.
Não somente a palavra escrita, mas também a falada, mesmo aquela que suscita nossos delírios: arma com a qual nos ferimos.
Natal, em 7 de março de 2015.
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Em Desenvolvimento como liberdade, Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia, ex-membro da Presidência do Banco Mundial, ex-professor da Universidade de Harvard, esposo de Emma Rothschild – autora, por sua vez, de Sentimentos Econômicos, um denso ensaio acerca de Adam Smith, Condorcet e o Iluminismo – nos convida a percebermos o contraste entre “um mundo de opulência sem precedentes” e “um mundo de privação, destituição e opressão extraordinários.”
Na verdade Amartya Sen nos convida a entendermos o desenvolvimento como “um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam”, e, não, como algo a ser identificado com o crescimento do Produto Nacional Bruto (PNB), aumento de rendas pessoais, industrialização, avanço tecnológico ou modernização social.
Ao se referir à expansão das liberdades reais Amartya Sen se refere, por exemplo, aos serviços de educação e saúde – e aqui eu acrescento segurança pública – e os direitos civis (a possibilidade de participar efetivamente do governo e das discussões e averiguações públicas em relação ao dinheiro do povo).
Aceitar esse ideário como premissa implica em compreender que somente podemos considerar desenvolvido ou em desenvolvimento um País, Estado ou Município no qual, à título de esclarecimento, e em termos bastante simplificados, o dispêndio com obras públicas, tais como calçamentos, praças, ruas, estradas, asfaltamento, prédios, pontes, açudes, barragens, somente ocorra como conseqüência da implantação de políticas públicas voltadas para o avanço em áreas como educação, saúde e segurança.
Políticas públicas estabelecidas claramente através de programas e projetos que tenham metas, prazos, alocação de recursos humanos e financeiros e possam ser acompanhados e questionados pela sociedade.
Óbvio que não é isso que vemos: a
lógica é outra. As obras públicas são sempre “vendidas” à sociedade como sendo
essenciais para o desenvolvimento. Essa lógica, consciente ou
inconscientemente, busca privilegiar quem se beneficia financeiramente com ela,
ou seja, aqueles que detêm o capital em suas mãos e querem o retorno imediato
do investimento político realizado.
Um exemplo particular dessa lógica é a relação estreitíssima, no Brasil, entre empreiteiros, construtores, empresários da construção civil e os governos, sejam estes federais, estaduais e municipais, os quais após realizadas as eleições, pressionam seus candidatos eleitos a investirem em obras escolhidas a dedo.
A constatação daquilo que aqui se afirma pode ser feita por qualquer um: basta que nos perguntemos se com todo o investimento em obras ocorrido no Brasil, digamos, desde Fernando Henrique Cardoso, houve diminuição sensível da miséria, e a educação, a saúde, a segurança pública estão significativamente melhores. É claro que não. Muito ao contrário.
O que nós percebemos, nitidamente, é que o avanço, se é que houve, é um verniz que não resiste a uma visita a postos de saúde, escolas públicas e delegacias de polícia.
Portanto a conclusão é óbvia: desconfiemos de qualquer obra que não esteja atrelada a uma política pública na área de educação, saúde ou segurança. Para começo de assunto.
Isso, por uma razão muito simples: primeiro, os programas; depois os projetos; enfim, as ações.
Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
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"O mais velho estava seguindo os passos do pai, só que em outro
ministério, e já se aproximava daquele estágio no serviço público em que a
inércia é recompensada com a estabilidade" (A Morte de Ivan Ilitch,
Tolstoi).
Esse pequeno trecho de uma das mais expressivas novelas do grande
escritor russo nos mostra como o homem e suas relações são os mesmos, malgrado
o tempo e a distância.
Aqueles momentos nos quais o homem parece romper com seu destino comum
são fagulhas, e elas logo desaparecem na névoa da rotina.
Como se fôssemos livres para nadar no rio, desde que dele não saíssemos, e sempre terminássemos no mar.
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* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com). Originalmente publicado na Revista do Instituto Histórico do Rio Grande do Norte de nº 97.