quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO, SEGUNDA PARTE

OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO (Segunda Parte):
 
 
 
TEORIA: O ataque a Mossoró resultou da ganância do Coronel Isaías Arruda e Lampião, no que foram secundados por Massilon 
 
 
Que o Coronel Isaías Arruda foi o maior responsável por induzir Lampião a atacar Mossoró, quanto a isso não há dúvidas. Sem esse assédio, não teria havido o ataque. Com a mentalidade rapace da qual era possuidor Isaías Arruda, quando lhe propuseram essa idéia, percebeu de imediato que sua concretização lhe permitiria ganhar algo de qualquer forma: planejar a empreitada, convencer Lampião, fornecer armas e munição, nada tinha ele a perder se pusesse mãos à obra e o atraísse para esse projeto.
 
Se tudo desse certo, raciocinou o Coronel, ganharia sua parte - uma verdadeira fortuna[1], levando-se em consideração o valor do exigido, dias após, por Lampião ao Coronel Rodolpho Fernandes, para que houvesse a invasão da cidade -, como acontecera antes, quando Massilon voltara com o dinheiro arrancado de Apodi.
 
Se nada desse certo obteria um lucro especial vendendo, ao cangaceiro, como de fato vendeu, as armas necessárias ao ataque; além do mais, se por obra e graça das circunstâncias, Lampião morresse no Rio Grande do Norte, ele, o Coronel, ver-se-ia livre das pressões que estava sofrendo, oriundas de Fortaleza, do Governo do Estado, e, até mesmo, do Governo Federal, por suas ligações com o líder cangaceiro, e que o levaram, segundo alguns historiadores, a trai-lo, tentando envenená-lo e queima-lo vivo, ou, segundo outros, a encenar essas duas tentativas de comum acordo com o Rei do Cangaço.
 
Entretanto a idéia de atacar Mossoró não nasceu no Coronel Isaías Arruda.
 
Isso por vários motivos, dois deles bastantes simples: em primeiro lugar, ele não chamou Lampião ao Cariri, como já sabemos, e sem Lampião, não haveria condições para realizar o ataque a Mossoró; em segundo lugar por que se a questão fosse meramente financeira, outras cidades, mais próximas e bem menos perigosas, no Ceará, na Paraíba, ou mesmo no Rio Grande do Norte, poderiam ser invadidas e render um grande lucro, sem a possibilidade de fracasso que uma cidade do porte e da distância[2] de Mossoró representava.
 


Capela de São Vicente, Mossoró, final dos anos 20, começo dos anos 30, por Francisco Soares de Lima
 
É em Sérgio Dantas, no “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE[3]”, que encontramos subsídio para essa conclusão:
 
O cangaceiro “Mormaço”, em diferentes interrogatórios prestados à Polícia (Martins, Pau dos Ferros, Mossoró e Crato), deixou claro que Lampião desejava chegar ao Ceará para refugiar-se e municiar o bando. Também acrescentou, em diversas oportunidades, que Arruda intermediava, invariavelmente, tais compras de munição.
 
Por outro lado, Mossoró não teria entrado no campo das elucubrações criminosas do Coronel Isaías Arruda, se não tivesse acontecido o seguinte fato, esse muito significativo, também relatado por Sérgio Dantas[4]:
 
Em dias de abril daquele ano[5], o sinistro caudilho[6] recebera importante solicitação. Décio Holanda[7] – destacado fazendeiro do município de Pereiro, no Ceará – pediu-lhe que colocasse a “cabroeira” particular a seu serviço, posto que planejava tomar de assalto a cidade de Apodi, no Estado vizinho.
 
(...)
 
Viajou[8] até Serra do Diamante, em Aurora, e foi ter com Arruda. Descreveu-lhe o imbróglio. Através do confrade – mestre na intriga política – empresariou o bandoleiro Antônio Leite, o Massilon.
 
O plano sinistro, em um primeiro momento, previa a conquista de Apodi. Sugeria, em seguida, o aprisionamento de Francisco Pinto e principais agregados políticos do intendente. Por fim, prescrevia extorsões, roubos, incêndios, homicídios.
 
Ainda:
 
Aurora, Ceará. Há dois dias Massilon já retornara ao esconderijo. Ao mentor Isaías Arruda, prestou contas do assalto. O apurado foi dividido meio a meio, como anteriormente combinado entre cangaceiro e Coronel (O CEARÁ, 1928).
 
Antônio Leite estava eufórico. Descrevia detalhada e reiteradamente a sucessão de assaltos. Gabava-se do feito heróico:
 
- Disseram que eu não sabia brigar, e eu volto com quarenta contos de réis!

 


Casa do Coronel Isaías Arruda em Aurora, Ceará. Nela há um subterrâneo onde o Coronel estocava armas.
 
Ou seja, em assim sendo, Mossoró foi conseqüência de Apodi e de uma circunstância inesperada: a chegada de Lampião em Aurora, no Ceará, terras do Coronel Isaías Arruda. Apodi, por sua vez, foi conseqüência das brigas entre coronéis norte-rio-grandenses e paraibanos disputando o poder[9].
 
E a idéia do ataque a Mossoró, da qual resultou o planejamento de Isaías Arruda e a execução de Lampião, com certeza não foi de nenhum dos dois, mas, sim, proposta de Massilon, à qual aderiu de pronto, pelas razões elencadas acima, o Coronel, e, com extrema relutância, o maior dos cangaceiros.
 
Portanto tudo leva a crer que Massilon, ou alguém ou alguns que ele representava, idealizou, Isaías planejou, e Lampião executou.
 
A pergunta que se faz agora, é se a idéia de Massilon atacar Mossoró foi algo estritamente seu ou de alguém ou alguns mais, do qual ou dos quais ele seria mero marionete.
 
CONTINUA QUARTA-FEIRA DA PRÓXIMA SEMANA COM A SEGUNDA TEORIA ACERCA DA INVASÃO DE MOSSORÓ POR LAMPIÃO.
 
[1] Cinqüenta por cento do butim.
 
[2] Perto de quinhentos quilômetros, de Aurora a Mossoró, área praticamente descampada, sem a proteção natural como serrotes, mata fechada ou pedreiras, ante um cerco militar, sem as quais o cangaceiro não passava.
 
[3] Cartgraf Gráfica Editora; 2005; 1ª edição; Natal, RN.
 
[4] “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”; Cartgraf Gráfica Editora; 2005; 1ª edição; Natal, RN.
 
[5] 1927.
 
[6] Isaías Arruda.
 
[7] Décio Sebastião de Albuquerque Holanda era seu nome completo. “Genro de Tilon Gurgel do Amaral, casado que foi com sua filha Francisca Brito Gurgel (Chicuta). Décio morou vários anos no RN, transferindo-se depois para o Ceará” (“NAS GARRAS DE LAMPIÃO”; GURGEL, Antônio; BRITO, Raimundo Soares de; Coleção Mossoroense; Série “C”; v. 1.513; 2ª edição; Mossoró).
 
[8] Décio Holanda.
 
[9] Mais adiante será esmiuçada essa afirmação.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

COMADRE


 
libertosdoopressor.blogspot.com
 
 
Honório de Medeiros
 
 
O que mais me impressionava em Comadre, no aspecto físico, era seu rosto.
 
Nele, o sol e o suor escavaram miríades de rugas finas a recortar sua pele morena, gretada, compondo uma teia que aprisionava nosso olhar.
 
Depois, as mãos. Mãos como garras. Fortes. Calosas. Descoradas por anos e anos a sabão, anil e água.
 
Por fim sua vestimenta: um vestido cor parda, de chita humilde, sempre o mesmo modelo, de mangas compridas – ela, por razões óbvias, usava arregaçadas – que ia até o tornozelo, tudo encimado por uma espécie de coroa de pano branco retorcido e molhado, propositadamente concebida para receber e acomodar o saco de roupas sujas.
 
Pois Comadre, como se pode perceber da leitura do texto, era a lavadeira não somente lá de casa, mas de praticamente toda a família. E, muito embora a faina duríssima, estiva sempre feliz.
 
Na minha meninice de bicho arredio, dado aos livros e devaneios, alternados por impulsos de convivência alegre, sua gargalhada compunha o meu sábado, assim como o carneiro guisado e o cuscuz molhado na graxa, na hora do almoço.
 
Lá em casa, mais aos sábados do em qualquer outro dia, por conta da feira, até o meio da tarde o vai-e-vem e converseiro era permanente. Entrava-se e saia-se. Todos confluíam para a área-de-serviço, contígua à cozinha, um espaço aberto, parte acobertado por um telheiro antigo, parte livre e dando para a saída lateral da casa.
 
Entrava e saía o leiteiro, a lavadeira, o pessoal que vinha com a feira semanal, parentes de outras cidades, aderentes, contraparentes, amigos, amigos dos amigos... Todos embalados por uma xícara de café quente pelando e uma boa fatia de pão com manteiga.
 
Conversava-se, cantava-se, declamava-se, discutia-se, fofocava-se, trocavam-se receitas de bolos e de remédios. Naquele local, sem que eu me desse conta na época, a solidariedade fincava raízes e se propagava: todos se uniam para se amparar mutuamente.
 
Escutavam-se mágoas, partilhavam-se alegrias, construía-se teimosamente a delicada trama de uma vida ancestral, fadada a desaparecer, na qual todos formavam a unidade, e a unidade era a sobrevivência.
 
Comadre, então, como eu diria muito tempo depois, quando o passado passou a interromper cada vez mais meu presente, era um modelo de sobrevivência. Paupérrima, viúva ainda jovem, criou sua dezena de filhos lavando roupa e sempre com aquela alegria de viver que me deixa, ainda hoje, perplexo.
 
Poderia ela ter sido um personagem de um Tolstoi tardio, quando o cristianismo primitivo passou a ser sua segunda natureza.
 
Vezes sem conta, quando próximo de sua tão sonhada aposentadoria, eu lhe perguntava:
 
- “Comadre, por que a senhora é tão feliz?”
 
- “Meu filho”, me respondia com aquele seu sorriso luminoso estampado na face engelhada, “Deus não nos quer tristes.”
 
- “Mas Comadre”, retorquia eu, “e o sofrimento que nós vemos no mundo, a violência, a fome, as doenças...?”
 
- “Olhe, meu filho, como posso duvidar de Deus? Ou acredito ou não acredito.”
 
E seguia lépida e fagueira, a chistar com um e com outro, sem faltar ao respeito, trouxa na cabeça, alegre, feliz, sem sequer desconfiar que sua lógica simples dera um nó cego em toda a minha metafísica.

sábado, 8 de setembro de 2012

APRENDER A APRENDER

 
Imagem graças a Rodrigo Baía
 
 
APRENDER A APRENDER
 

Honório de Medeiros
 

1) APRENDEMOS quando nos defrontamos com um problema, qualquer que seja ele; como lembra Popper, "cada problema surge da descoberta de que algo não está em ordem com nosso suposto conhecimento; ou examinado logicamente, da descoberta de uma contradição interna entre nosso suposto conhecimento e os fatos; ou, declarado talvez mais corretamente, da descoberta de uma contradição aparente entre nosso suposto conhecimento e os supostos fatos.."
 

a) ESSE problema pode ser inesperado (não por outra razão a sabedoria popular diz: “a necessidade é a mãe da invenção).
 

b) ESSE problema pode ser provocado:
 

b.1) QUANDO problematizamos as coisas e/ou os fenômenos (como disse Gaston Bachelard, “O conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão”);
 

b.1.1) POR intermédio da contra-argumentação, utilizando o contraexemplo;
 

b.1.2) POR intermédio do uso da técnica jornalística: o quê, quem, quando, onde, por que e para quê.
 

2) QUALQUER problema é, antes de tudo, uma questão do espírito (intelectual), mesmo no trabalho puramente mecânico.
 

3) ELABORAMOS teorias que são soluções provisórias a serem testadas.
 

a) O teste dirá se erramos ou acertamos;
 

b) O erro nos ensina, posto que não precisamos mais trilhar o mesmo caminho já tentado.
 

4) SE aprendemos quando nos deparamos com um problema, há um conhecimento que o antecede e nos permite identifica-lo.
 

5) SE o conhecimento é retificável, é evolutivo, no sentido de que caminha sempre do mais simples para o mais complexo.
 

6) O conhecimento pode, então, ser compreendido como um “vir-a-ser” de complexidade cada vez maior.
 

7) A recusa em problematizar as coisas e/ou fenômenos conduz a neuroses. Aqui se compreenda essa recusa como uma fuga do problema com o qual alguém se defrontou.
 

8) O como dizemos a nós mesmos, ou aos outros, o que aprendemos é papel da Retórica: podemos ser convencidos ou seduzidos, convencer ou seduzir.
 

9) NÃO é possível comparar INFORMAÇÃO com CONHECIMENTO; quando conheço, estou informado, mas, nem sempre, quando estou informado, conheço. Posso estar informado de algo sem compreendê-lo.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

PESQUISA ELEITORAL SEM MÁ-FÉ E ÀS CLARAS NA POLÍTICA

Carlos Santos
http://blogcarlossantos.com.br/

Em toda campanha eleitoral no Brasil existe sempre um vilão de plantão: a pesquisa de opinião pública. É aqui no Rio Grande do Norte, no Amapá, Rio de Janeiro ou Mato Grosso do Sul. Não importa. O vilão também se veste de panaceia. Em muitos casos é, também, “remédio” para passar imagem de vigor ou revigoramento de algum candidato.
 
Mas, por que ocorre tanta celeuma em torno das pesquisas? A resposta é simples: os interesses em jogo são incomensuráveis, mexendo muito mais com o emocional do que com a razão. Nesse caldeirão há muito de desconhecimento de causa, além de alta dose de má-fé.
 
A boa pesquisa é aquela que me serve; a pesquisa errada é a que beneficia o adversário. Esse é o raciocínio consciente ou não que mexe com a sensibilidade de muitas pessoas, em discussões que normalmente não possuem um pingo de bom senso.
 
Você sabe como é feita uma pesquisa com o mínimo de organização, zelo e segurança técnica? Basicamente, os entrevistados são selecionados aleatoriamente de acordo com grau de instrução, faixa etária e sexo. Os dados utilizados são obtidos através de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Justiça Eleitoral. Segue-se critério proporcional, de estamentos sociais.
 
As sondagens podem ter 300, 500, 600, 1.200 ou mais pessoas, dependendo do universo populacional e os recursos empregados, buscando reduzir ao máximo a margem de erro.
 
Margem de erro
 
“Todas as pesquisas têm margem de erro amostral. Esse erro é calculado em função do tamanho e da heterogeneidade da amostra e dos resultados obtidos. A margem de erro normalmente divulgada refere-se a uma estimativa de erro máximo para uma amostra aleatória simples. Assim, considerando o erro amostral, fica estabelecido um intervalo de confiança — limites para mais e para menos em relação ao valor obtido”, explica o Ibope.
 
Às vezes ocorre o chamado “fato novo” durante uma campanha e a pesquisa pode não refletir o acontecimento avaliado como “bombástico” e capaz de alterar o comportamento do eleitor. Não existe uma regra científica, comprovada, para determinar se o fato novo mexe mesmo com a intenção de votos. Depende de fatores como o grau de importância que o eleitor atribui ao fato, como ele evolui no plano da comunicação/marketing e o próprio tempo para ele se dissipar.
 
Muitos eleitores ficam atordoados com diferenças consideráveis entre uma pesquisa e outra, de institutos diferentes, para o mesmo ambiente pesquisado e campanha. Tem razão em ficar confuso, até porque é comum que muitos segmentos da imprensa e grupos/candidatos trabalhem para confundir, como forma de desmoralizar números que não são interessantes a seus propósitos.
 
George Gallup, fundador do grupo, dizia que um médico não remove todo o sangue de uma pessoa para examiná-la. Basta uma amostra. Da mesma forma, não é preciso entrevistar toda a população para saber o que as pessoas pensam. Uma pesquisa deve levar em conta a divisão da sociedade em classes sociais e outros aspectos demográficos. (Frank Newport, vice-presidente do grupo Gallup, o maior e um dos mais antigos institutos de pesquisas dos Estados Unidos, fundado por George Gallup, nos anos 30).
 
O que é uma pesquisa? Usando um lugar-comum, é bom repetirmos sem medo de estarmos sendo óbvios: é como uma fotografia. Vale aquele momento. Uma pesquisa realizada pelo mesmo instituto, uma semana depois da anterior, pode mostrar mudanças e até mesmo alterações consideráveis. Entretanto, nada é por acaso. É preciso o olho do estudioso, com distanciamento crítico, para avaliar se houve algo ou um elenco de situações para determinar alguma reviravolta. Ninguém cresce ou cai muito na intenção de votos “do nada”.
 
É correto se avaliar crescimento ou queda de algum candidato, num comparativo entre duas pesquisas feitas por dois institutos diferentes? Não é recomendável, nem sensato. Normalmente é adotado por quem deseja ‘vender’ ideia de crescimento de algum candidato ou queda de outro. É um sofisma levantado por estupidez ou intenção de fraude.
 
Também pode existir distorção por falha técnica ou manipulação criminosa. Há alguns anos, no Paraná, um candidato chegou a denunciar determinada empresa que queria lhe vender pesquisa conforme sua aspiração. Várias empresas chegaram a ser impedidas legalmente de atuar no Brasil, em face de falsificação de dados etc.
 
O bom acompanhamento da performance de candidatos majoritários acontece principalmente com sequência de pesquisa pelo mesmo instituto, utilizando idêntica metodologia, com intervalos mais reduzidos entre uma e outra. Campanha bem organizada faz isso com maestria.
 
À medida que se aproxima o dia das eleições, as pesquisas são feitas por quinzena, semanalmente ou até mesmo todos os dias. Dessa forma é possível um acompanhamento minucioso do comportamento do eleitor. Contudo o custo desse trabalho passa a ser mais elevado. O partido/candidato deve avaliar a relação custo-benefício.
 
Enfim, não existe comprovação de que pesquisa ganhe eleição como objeto de propaganda, mas é uma ferramenta fundamental para se navegar nesse oceano revolto das campanhas eleitorais. Boa viagem.
 
* (Esta postagem foi originalmente veiculada no dia 17 de julho deste ano, às 23h44. Serve para hoje, amanhã e daqui a algumas décadas. Continua e continuará atualíssima e ajuda a quem deseja realmente entender o que é pesquisa, a compreender melhor esse importante instrumento científico. Mas àqueles que se movimentam apenas pela estupidez e má-fé, ficará impossível compreender o que está escrito).

OS SESSENTA ANOS DE UM GRANDE ESCRITOR



 
Nos sessenta anos de Franklin Jorge, sentido horário: eu, Toinho Silveira, Ana Maria Cascudo e o aniversariante.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO


OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO:
 

Leiam, anteriores a este texto, em www.honoriodemedeiros.blogspot.com, 1) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: UM MISTÉRIO QUASE CENTENÁRIO; 2) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: COMO ERA A CIDADE NA ÉPOCA DA INVASÃO

 

TEORIA: O ataque a Mossoró resultou da ganância do Coronel Isaías Arruda e Lampião, no que foram secundados por Massilon

(PRIMEIRA PARTE) 

                                   Esta é a versão, digamos assim, “oficial”, encontrada em quase todos os textos acerca do cangaço.
 
                                   Em Raul Fernandes, por exemplo, em seu clássico “A MARCHA DE LAMPIÃO” (2ª edição; Editora Universitária – UFRN; 1981; Natal), lê-se:
 
A notória fama de riqueza de Mossoró aguçava a cobiça dos bandidos. A falta de força policial os estimulava. Criminosos e aventureiros se movimentavam. Das ribeiras do Moxotó, do Navio e do Pajeú afluentes da grande bacia do rio São Francisco, e dos arredores das vilas de Nazaré e Flores, na hinterlândia de Pernambuco, Lampião formou o bando.
 
                                   (...)
 
Os mais esclarecidos entraram na empreitada desejosos de fugir com o produto dos roubos para o Sul do País, ou qualquer lugar onde pudessem viver impunes.
 
 
 
Essa teoria não se sustenta. Não foi assim que aconteceu, muito embora seja inegável que a ganância foi um dos combustíveis que acionou todos os envolvidos.
 
O que se quer dizer é que o primeiro passo do projeto da invasão, a “causa causarum”, não pode ser atribuída a Lampião, tampouco ao Coronel Isaías Arruda.
 
E é fácil inferir essa conclusão, meramente interpretando os textos “canônicos” acerca do tema.
 
Sérgio Dantas, por exemplo, em outro clássico da literatura do cangaço, “LAMPIÃO E O RIO GRANDO DO NORTE” (1ª edição; Cartgraf – Gráfica Editora; 2005; Natal), ao ressaltar a resistência do Rei do Cangaço ao assédio do Coronel Isaías Arruda, para realizar a empreitada do ataque a Mossoró, cita uma fonte inquetionável:
 
O cangaceiro Jararaca, testemunha da conversa (entre Isaías e o cangaceiro) lembrou com fidelidade, dias mais tarde, a resistência de Lampião ao assédio ferino do Coronel Arruda:
 
“Lampião nunca tencionara penetrar nesse Estado porque não tinha aqui nenhum inimigo e se por acaso, para evitar qualquer encontro com forças de outros Estados, tivesse que passar por qualquer ponto do Rio Grande do Norte, o faria sem roubar ou ofender qualquer pessoa, desde que não o perseguissem”.
 
Um pouco mais adiante o mesmo escritor, nas notas ao Capítulo do qual se extraiu o texto acima transcrito, lembra outro depoimento:
 
Uma segunda referência encontra-se em Lucena (1989, p. 99), onde o cangaceiro Manoel Francisco de Lucena Sobrinho, o “Ferrugem”, também em entrevista, afirma textualmente: “Lampião não queria atacar Mossoró, alegando que não conhecia o Rio Grande do Norte”.
 
Esses depoimentos são suficientes para inutilizar a teoria da qual Raul Fernandes foi um dos mais importantes porta-voz. Não é verdade que em decorrência da riqueza de Mossoró Lampião tenha formado um bando para a atacar.
 
Teria sido então o ataque a Mossoró uma idéia nascida no cérebro do Coronel Isaías Arruda?
 
 
 
Coronel Isaías Arruda
 
 
Sérgio Dantas crê que sim. Em sua obra já citada, na parte denominada “O PARTO DE UM PLANO MACABRO”, encontramos o seguinte:
 
Arruda tinha interesse em Mossoró, cidade rica, centro comercial de incontestável notoriedade no cenário sertanejo. De forma inicialmente sutil começou a sondar o cangaceiro. Lembrava-lhe a todo instante o êxito obtido por Massilon em dias passados.
 
(...)
 
Arruda mostrava-se indiferente aos argumentos do zanaga (Lampião). Mantinha-se particularmente interessado na pilhagem de Mossoró. A cidade potiguar – reafirmava o Coronel – tinha fama de prosperidade.
 
Mas é muito pouco provável que tenha sido do Coronel Isaías Arruda a concepção da idéia do ataque a Mossoró. Assim como não foi dele a concepção da idéia do ataque a Apodi, realizado dias antes, sob o comando de Massilon, com um propósito eminentemente político, como há de se ver mais adiante.
 
CONTINUA QUARTA-FEIRA DA PRÓXIMA SEMANA COM A SEGUNDA PARTE DESTE TEXTO. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

DA ACADEMIA

Não se enganem: a Academia é um gueto!

ÂNGELO OSMIRO LANÇA "ASSIM ERA LAMPIÃO E OUTRAS HISTÓRIAS"


ACERCA DE TROGLODITAS E COVARDES

Marcelo Dieb


A tipologia é imutável: possuem bíceps, tríceps, retos abdominais, deltóides e trapézios hipertrofiados que ficam à mostra em camisetas justas e vitrinais.

Andam sempre em bando e ao contrário das andorinhas, são algozes.


Sem exceção, são microcéfalos e incapazes de uma sustentação oral sobre outro e qualquer assunto que não seja anabolizantes, carros, relógios, bebidas e mulheres. Sentem-se irresistíveis e ai de quem contrariá-los.


Não há perdão para a rejeição. Agridem, machucam, dilaceram e até matam.


Geralmente oriundo de lares onde a violência velada ou não dá o tom do dia a dia, projetam o que presenciam em suas casas nos lugares públicos que frequentam.
 
Acham-se machos, superiores, mas na hora do pega pra capar, se mijam e até imploram pela vida. Consomem regularmente muita bebida alcoólica, drogas ilegais, viagras e levitras para que a possibilidade de falhar no momento supremo, seja, a todo custo, afastada.


Humilham suas namoradas e fazem-nas passar por situações de profundo constrangimento o que lhes proporciona sensação de prazer e indiferença típica dos psicopatas.


São esses "fortinhos" que hoje infestam as casas noturnas de Natal. São esses seres abjetos que podem, tranquilamente, agredir uma filha criada com esmero, zelo e dedicação e que saiu de casa com o único objetivo de se divertir.


São eles que tiram a tranquilidade dos homens de bem que confiam nas suas filhas mas temem que a ineficácia do Estado permita ser acordado, um dia, na madrugada, com a notícia de uma filha agredida. São eles que dão o tom da violência gratuita e desmedida em nome de um status fajuto e oco.


Para que se sintam "in", perante a corja que os acompanham, é necessário o emprego da força que estimula um ego distorcido, atrofiado e carente de valores dignos dos homens e mulheres de bem.


Tive uma filha agredida, sim.


Covardemente.


Fico a matutar o que aconteceria com esses animais, se a agredida fosse filha de um deputado, senador, prefeita ou governadora.


Como sou tão somente um cidadão comum, resta-me tão somente a resignação e o conforto dos amigos que sofrem junto e tentar encontrar uma maneira de mostrar à minha filha que apesar do seu sofrimento, vale a pena a caminhada.


Afinal estamos aqui pra isso.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

POEMAS INOCENTES

Bárbara de Medeiros
 
 
Pesadelos de criança
 
 
Na esquina dos meus sonhos,
Tem um monstro que me assusta.
Por causa dele, ainda sou criança.
Seria mesmo um monstro?
Quando, na verdade,
me ajuda?
 
 
Classificado básico
 
 
Perdi-me.
Em algum lugar aí.
Quem me encontrar,
Favor me dizer.
Pois não sou ninguém sem mim.

sábado, 1 de setembro de 2012

A CRÍTICA É O PRESSUPOSTO DO CONHECIMENTO CONSCIENTE

 
A Árvore do Conhecimento


Leia mais em: http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2010/02/arvore-do-conhecimento.html



Honório de Medeiros


                        Um dos maiores, senão o maior, males do qual padece a Educação, é a crença – o termo correto é esse – no aprendizado por informação.
 
                        Por essa crença nosso cérebro é como um recipiente vazio que deve ser preenchido com o conhecimento que nos for fornecido.
 
Popper denomina essa crença de “Teoria do Balde Vazio”, e ela depende, fundamentalmente, da suposição de que conhecemos por que observamos, o que nos conduz a um empirismo ingênuo, no qual a observação do que somos e do que nos cerca é possível graças ao raciocínio indutivo.
 
Este não é o espaço apropriado para analises acerca dessas teorias. Convém lembrar, de forma parafraseada, entretanto, um “blague” que Popper, em tom irônico, apresenta em uma de suas obras dedicadas à Teoria do Conhecimento: se solicitarmos a algumas pessoas que durante certo tempo cronometrado apenas observem, e, em seguida, nos digam o que aprenderam com essa observação, provavelmente todas elas indagarão: “em relação ao quê?”
 
Pois parece óbvio que somente é possível o conhecimento de algo a partir de um conhecimento já existente, o que situa a observação no seu devido lugar, qual seja o de comprovar, ou negar, uma teoria já existente.
 
Não por outra razão a informação (conhecimento) que não é precedida de um conhecimento real, concreto, indiscutível, que nos permita aceitar de forma crítica, e, portanto, entender aquilo acerca do qual que se está sendo informado, resulta em nada.
 
E, também, não por outra razão, lê-se sem que se compreenda, participa-se dos fatos sem que se aquilatem suas causas, essência, e consequências, fala-se e escreve-se o que não tem sentido, concretizando a imagem fiel da alienação intelectual que descreve tão bem os habitantes do mundo em que vivemos.
 
Para que se estabeleça o processo de aquisição do conhecimento é preciso que algo deflagre, em nós, a angústia criativa de sobreviver a uma realidade que não mais é apreendida pelo que sabíamos até então. Ocorre em situações críticas, e independentes de nossa vontade. O senso comum diz isso de forma brilhante: “a necessidade é a mãe da invenção”.
 
Podemos, entretanto, gerar esse processo de conhecimento. Se formos estimulados a criticar (no sentido de buscar falhas, contradições, desarmonias) na informação que nos é fornecida, com certeza avançaremos. A crítica, portanto, é o pressuposto do conhecimento consciente. Não por outra razão Bachelard, o poeta/filósofo, afirmou: “O conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão”.
 
 E não por outra razão Kiekergaard nos impeliu a “duvidar de tudo”.
 
Muito mais recentemente Karl Popper propôs que o conhecimento novo – não apenas a filosofia – começasse por problemas. Esses problemas surgiriam do contraste entre o conhecimento antigo, a expectativa de que regularidades, padrões, se mantivessem, inclusive em relação a nós mesmos. Ao nos depararmos com algo que o nosso conhecimento antigo não explica, há uma fragmentação nas nossas expectativas e surge, então, o problema a ser solucionado. Observe-se que tal teoria pressupõe a existência do conhecimento inato adquirido geneticamente, no que é referendada pela teoria da seleção natural de Darwin.
 
A técnica mais banal para o exercício da crítica é o uso do contra-argumento (contraexemplo). Uma vez tendo recebido alguma informação, submetamo-la à crítica, argumentando na medida de nossas possibilidades, contra ela. Nada teremos a perder, muito teremos a ganhar em utilizando tal técnica. Outra técnica simples é indagar, dialogar com a informação. Para tanto cabe usar o que nos ensina a técnica jornalística, indagando a nós mesmos e também respondendo: Quem? Quando? Como? Onde? O quê? Por quê?
 
Uma vez que o espírito da crítica pedagógica, a vigilância epistemológica que pode conduzir à ruptura epistemológica, à “reforma das ilusões”, se estabeleça como “Paidéia”, padrão cultural, ideal civilizatório, o avanço será inexorável, e a nossa Educação somente ganhará com essa opção.
 
Para que se tenha ideia de como não evoluímos ao longo desses anos, em discurso na solenidade de formatura de todas as turmas concluintes do ano de 1982, representando os alunos, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tive a oportunidade de dizer:
 
                        “Como entender, por exemplo, que no âmbito da Universidade, onde o sonho e a crítica deveriam caminhar de mãos dadas, permeando a efígie do futuro de esperança e conhecimento, nada mais se encontre do que o imediatismo, o pragmatismo solerte e a mera repetição anacrônica de informações? Como aceitar a inacreditável relação professor-aluno, completamente abstraída da consciência do saber, que conjuntamente com a preocupação de suscitar dialéticas, referendar críticas e debates livres, numa ontologia da ideia ensinada e na aplicação do racionalismo docente, constitui a preocupação básica de Gaston Bachelard, exposta em sua obra “Racionalismo Aplicado”, onde nos lembra: “De fato, numa educação de racionalismo aplicado, de racionalismo em ação de cultura, o mestre apresenta-se como negador de aparências, como freio a convicções rápidas. Ele deve tornar mediato o que a percepção proporciona imediatamente. De modo geral, ele deve entrosar o aluno na luta das ideias e dos fatos, fazendo-o observar bem a inadequação primitiva de ideia com o fato”.
 
                        Se na observação do problema limitamo-nos ao componente psicológico da relação professor-aluno, necessário se faz observar os próprios problemas estruturais em torno dos quais gravitam os específicos. Precisamos ir ao encontro do espírito mais geral que preside os fatos e as idéias no âmbito da Universidade. Fundamental é retornar à consciência crítica e política no sentido socrático-aristotélico, que é seu pressuposto maior. Fundamental é acreditar que quimera e contestação, a discussão, a livre manifestação de idéias - alicerce do conhecimento - caminham ou caminharão nos corredores da Universidade.”
 
                        Portanto precisamos ensinar a criticar, para que seja possível o conhecer, afastando, de vez, essa perspectiva ideologicamente equivocada e intelectualmente ultrapassada de informar para formar.