terça-feira, 25 de junho de 2013

A ARENA DAS DUNAS E A TEORIA DO BOLO ECONÔMICO


Honório de Medeiros
 
 
Quando os poucos que têm muito comem tudo, deixando os farelos para os muitos que têm pouco.
 

Desde que Goebbels lançou o mote “de tanto se repetir uma mentira, ela acaba se transformando em verdade”, em contrapartida para alguns poucos argutos observadores da realidade ficou fácil identificar esse lugar-comum na retórica usada pela elite predadora quando concretiza o processo de iludir o “Zé Povinho”.

É o caso, por exemplo, da Teoria do Bolo Econômico – “primeiro crescer, depois repartir”, popularizada nos anos 70 do século passado, aqui no Brasil, por ninguém menos que Delfim Neto.

Aliás, esse processo de iludir é um dos meios por intermédio dos quais o jogo do poder é jogado pela elite predadora configurando, assim, o retrato em negativo da seleção dos mais aptos – em certo momento específico da história – conforme pensado por Herbert Spencer na esteira do pensamento darwiniano, jogo esse bancado via estratagemas, ou seja, idéias que são usadas retoricamente para obter e, uma vez obtida, prolongar a exploração do “Zé Povinho”.

No caso da “teoria do bolo econômico” tal idéia, uma vez surgida, qual “meme” - um análogo cultural do gene na genética -, como descrito por outro darwiniano, Richard Dawkins, terá uma sobrevida útil proporcional à nossa incapacidade em destruí-la. Na verdade esse “meme” vai, por sua vez, se replicar infinitamente em ambiente fértil, qual seja aquele formado por pessoas sem escrúpulos mais os inocentes úteis.

Em outras palavras, mas mantendo o mesmo sentido, assim é que uma idéia econômica – fruto da mais ilegítima elite predadora – nasce, sobrevive e vem constituindo, desde então, o arsenal que a elite predadora usa para explorar, seja porque não tem noção daquilo do qual está fazendo parte, seja por puro cinismo, deliberadamente. É a teoria do bolo econômico. Para os defensores da Teoria do Bolo Econômico, quanto mais ele crescer, mais pessoas comem.

Como essa idéia funciona na prática? Funciona assim: alguns predadores internacionais precisam fazer o dinheiro circular voltando para o ponto de partida mais robusto, bem mais gordo: nasce, então a noção de Uma Grande Obra, constituída obviamente pelo conjunto de várias outras obras menores, quase sempre em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Por exemplo: uma “Copa do Mundo de Futebol” em algum País cuja infra-estrutura física não esteja pronta para o evento, tal como qualquer um do Oriente Médio, África ou mesmo o Brasil. O Brasil, sejamos mais claros, foi escolhido a dedo a partir de parâmetros muito bem definidos, dentre eles a possibilidade da circulação de idéias e capital sem grandes obstáculos que atrapalhem os negócios.

Feito isso começa um imenso e lucrativo trabalho, para toda a elite predatória envolvida no “Grande Projeto”, de arrebanhamento dos “corações e mentes”. É onde entra toda a cadeia alimentar da qual ficarão fora apenas as piabas, por razões ululantes, constituída pela “mídia famélica”, os políticos de sempre, os empreiteiros, ah! os empreiteiros, a arraia-miúda que tal quais os peixes-pilotos se alimentam com as sobras dos tubarões, e até mesmo, pasmemos juntos, os intelectuais orgânicos, aqueles sem espinha dorsal, que vivem se contorcendo para prestarem serviços vendendo argumentos: convencer os basbaques, como no caso do Rio Grande do Norte, acerca da importância indizível, pela magnitude, da tal “Arena das Dunas”, para o progresso econômico do nosso Estado.

Desenvolvimento para quem? O Estado não existe, é uma hipostasia; o Estado sou eu, é você, somos nós. Ninguém fala pelo Estado. Ninguém.

Lê-se, por exemplo, na mídia incauta, que “A Grande Obra” é importante para sanear a malha viária. Qual malha viária? A de Mossoró? A de Caicó? A de Pau dos Ferros? Ora, convenhamos, “a malha viária”, enquanto as delegacias de polícia, no interior e na capital não têm computador, papel, armas, carros, homens... Lê-se, também, na mídia inocente inútil, que “a Grande Obra” vai gerar muitos e muitos empregos. Sabemos que empregos são esses: sazonais. Desaparecem quais pipoqueiros e vendedores de cachorro quente em final de festa de padroeira. O grosso do dinheiro, aquele que realmente importa, esse já foi embora em busca de outros nichos a serem predatoriamente explorados.

Essa é a lógica do capital. Uma vez comprada a idéia, ou seja, o investimento, imediatamente os investidores entram na luta com um discurso uníssono: “a Grande Obra” é fundamental para o desenvolvimento do Estado, e quem for contra ela é contra o Estado. O mote do velho Goebbels entrou em ação.

Não há muito mais a dizer agora exceto que se trata de uma luta vã essa contra o desperdício do nosso dinheiro. Os poucos irridentes contrários à farsa que se desenrola impávida e colossal não dispõem de meios à altura dos adversários para sublevar os “corações e mentes”. Não têm como comprometer os aparelhos do Estado: Legislativo, Judiciário e Executivo, nessa sublevação. Talvez se faça presente a voz solitária do Ministério Público. Duvido. Não podem massificar a informação que a historia oferece gratuitamente a quem souber procurá-la, de que grandes obras não valem por si só, que o digam os milhares de “elefantes brancos” existentes mundo afora. Consultem o Google, aqueles que não crêem. Não podem apontar o exemplo dos países sérios, como os escandinavos. Praticamente não têm como fazer a defesa de investimentos maciços em políticas públicas na educação, saúde e segurança. Em quais veículos de massa irão falar em Amartya Senn e seu trabalho acerca de “Desenvolvimento como Liberdade”? Liberdade esta que se confunde com segurança, saúde, educação...

 

Infelizmente o exemplo dos países civilizados nos quais a Sociedade escolhe, primeiramente, suas políticas públicas, para em seguida e se for o caso, construir a obra necessária para implementá-la, não tem como ser apresentado aos norte-rio-grandenses imensamente carentes de saúde, segurança, educação. Pois que não haja dúvidas: se consulta popular houvesse era assim que nosso povo disporia seus recursos.

Chega a ser doloroso: muito embora seu dinheiro banque o bolo que poucos, que têm muito, irão comer à farta, para os muito que têm pouco sobrarão apenas as migalhas.

* Publicado originalmente na segunda-feira, 4 de abril de 2011, neste blog

segunda-feira, 24 de junho de 2013

ECONOMIA: BRASIL ESTÁ NA LANTERNA E AFUNDANDO!



PIB do Brasil está na ‘lanterna’

Cepal vai rever para baixo previsão de crescimento

Às voltas com inflação em alta, fuga de capitais e lentidão na realização de investimentos, o Brasil é o país que teve a segunda mais baixa variação do Produto Interno Bruto (PIB) entre as nações da América Latina no ano passado: apenas 0,9%, último entre os que apresentaram crescimento e à frente apenas do Paraguai, que apresentou queda de 1,2% no PIB em 2012.



Os dados são da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) que fez um ranking com 20 países da região.


Além do PIB foram analisadas também as taxas de inflação desses países. A brasileira, de 5,8%, no ano passado, foi a sexta mais alta da região, abaixo de parceiros latinos como a Venezuela, a Argentina e o Uruguai, que em 2012 registraram taxas de 19,5%,10,8% e 7,5%, respectivamente.


 

HOJE EU VOU CAIR NA ESTRADA...


 
 
Regina Azevedo
 
Hoje eu vou cair na estrada
só com uma calcinha na bolsa
uma foto em P&B do Bukowski
e um CD que só tenha músicas maravilhosas.

verei o asfalto seguir em frente
linha branca que não se curva
nuvens trocando de lado
as cores vacilando
e você estará ao meu lado
nossos pés calçados
com sandálias de dedo.

tudo caberá como num quebra-cabeça
debaixo de uma cabana montada
à beira da estrada;
o resto não passa
da passagem.

vento bagunçando os seus cabelos
equilibristas de meio-fio
o amor nos fazendo música
nossa casa feita de lençóis
aquele nosso submundo
nosso plural tão certo quanto o horizonte.

tudo estará perfeito
uma calcinha secando no varal.

sinto algo dentro de mim
uma vida que chuta
sentimentos que afloram
como as lágrimas inundam
e olho pro lado e quem deveria estar lá
dorme
milhões de quilômetros.
 
IMAGEM: ultradownloads.com.br

domingo, 23 de junho de 2013

THE OBSERVER: PROTESTOS CRESCEM COM PERDA DE FÉ NA POLÍTICA


Brasil integra leva de protestos virais, flexíveis e com múltiplas bandeiras, afirma 'The Observer'

Uma reportagem publicada na edição deste domingo do jornal britânico The Observer afirma que as manifestações que vêm ocorrendo na Turquia, no Brasil e em diversos outros países têm em comum o fato de serem "virais, organizadas de forma flexível, com mensagens soltas e a maior parte acontecendo em espaços públicos urbanos''.


O texto, assinado pelo editor de Internacional do jornal semanal, Peter Beaumont, acrescenta que, diferentemente do movimento de 1968 ou mesmo do que levou ao colapso do império soviético no Leste Europeu em 1989, o movimento atual "tem poucos líderes reconhecíveis e muitas vezes ideologias conflitantes".


De acordo com Beaumont, "os pontos de referência não são necessariamente ideológicos, mas se inspiram em outros protestos, entre eles os vistos na Primavera Árabe e no movimento Occupy. Como resultado, houve uma onda de movimentos sociais - alguns de vida curta - de Wall Street a Tel Aviv, de Istambul ao Rio de Janeiro, muitas vezes envolvendo membros da sociedade mais jovens, mais educados e de maior renda".


As diferentes bandeiras do movimento no Brasil são um exemplo do que o autor diz ser a "a difícil categorização" dessa nova forma de protestos.


Mudança de humor

Segundo o texto do Observer, no Brasil os manifestantes "estão expressando uma série de exigências que vão desde reformas de educação até passes livres em ônibus, enquanto denunciam os dólares gastos pelo poder público em estádios para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas dois anos depois".


A reportagem afirma que o Brasil não se encaixa no perfil do país com potencial para grandes movimentos de massa no momento, já que "o desemprego entre os jovens está a um nível baixo que é recorde e o país promoveu o maior salto em seu padrão de vida na história do país".


Mas, afirma, a enquete Edelman Barômetro de Confiança, que avalia a confiança da opinião pública de diferentes países em suas instituições, mostrou em 2011 que Estados Unidos e Grã-Bretanha estavam entre os mais céticos em relação às suas instituições, ao passo que o Brasil estava no topo da lista dos mais crédulos.


Mas que na enquete realizada neste ano, o Brasil caiu 30 pontos na tabela, e que a Espanha e a Turquia, que também contou com manifestações em 2013, também passou a engrossar a categoria dos mais céticos.

DEMOCRACIA DE QUEM?


Por François Silvestre (http://portalnoar.com/francoissilvestre/) 

A primeira parte deste texto eu publiquei no meu Blog do Portal No Ar, sobre esse levante ainda longe de ser compreendido. Aí vai a segunda parte:

É a primeira manifestação pública, organicamente desorganizada, grandiosa, que põe em cheque a ordem constitucional vigente. Não pela desordem ou violência que condenamos, mas pela demonstração de que o modelo saído da composição entre a Ditadura agonizante e a oposição de conchavos já esgotou o seu ciclo.

E joga na cara de todos uma questão cristalina: Há democracia no Brasil? Sim. Mas essa democracia é para todos? Não.

A democracia brasileira, formal, saiu de uma Constituição socializante de mentira, cuja riqueza nacional pertence a poucos privilegiados. Se há democracia política, longe estamos da democracia econômica.

Servidores da educação, da saúde, da segurança, dos serviços e da maioria das categorias de servidores públicos não fazem parte desse butim. Trabalhadores continuam sendo massa de manobra. Agricultores são comprados com a esmola oficial.

Quem abocanha a fatia do leão? Banqueiros privados e públicos, grandes negocistas, empreiteiros e uma casta do serviço público, da indústria dos concursos, cuja vocação é a grana. Esses são os donos da democracia. Cada um com sua “ética” na ponta da língua.

A molecada das ruas intui essa verdade. Vão aparecer os sabotadores, espertos, com suas bandeiras de farsa, querendo impor a lição do Leopardo de Lampedusa: “É preciso que tudo mude, para que fique tudo do mesmo jeito”. Té mais.

sábado, 22 de junho de 2013

ESTÁ O ANONYMOUS POR TRÁS DOS LEVANTES?


Ativo no Facebook, Anonymous assume liderança das manifestações pelo Brasil
Os hackativistas do grupo Anonymous assumiram uma espécie de liderança (ou, ao menos, servindo de referência) nas manifestações que ocorrem pelo Brasil afora.


Hackativistas crescem abruptamente na rede social e ditam novas diretrizes. 

Os hackativistas do grupo Anonymous assumiram uma espécie de liderança (ou, ao menos, servindo de referência) nas manifestações que ocorrem pelo Brasil afora. Eles já faziam parte dos protestos contra o preço das passagens, mas, depois que a meta de redução da tarifa foi atingida e deixou de ser a “força motriz” das passeatas, eles assumiram de vez a dianteira ideológica. 

Prova disso é a fanpage principal do Anonymous no Facebook, que teve uma guinada explosiva nos últimos dias. 

O crescimento semanal de curtidas, segundo as estatísticas da página, pulou de 7.000 a 8.000 por semana para cerca de 130 mil. 

Eram 400 mil fãs na semana passada – hoje, são quase 850 mil. A página, alimentada frequentemente, tem muitos posts por dia. 

Eles englobam a manifestação pela redução da tarifa do transporte público, já efetuada pelos governantes, mas também criticam corrupção, erros de governo, repressão e injustiças do tipo. 

Novas diretrizes 

Entre as publicações da página, está também a disseminação de um vídeo, que orienta os manifestantes a se guiarem por cinco novas metas. São novas causas que devem ser os alvos do desdobramento das manifestações. 

1º: Não à PEC 37; 
2º: Saída imediata de Renan Calheiros da presidência do Congresso Nacional; 
3º: Imediata investigação e punição de irregularidades nas obras da Copa, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal; 
4º: Queremos uma lei que torne corrupção no Congresso crime hediondo; 
5º: Fim do foro privilegiado, pois ele é um ultraje ao Artigo 5º da nossa Constituição.

O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RN PEDE AJUDA!


Caros amigos e amigas,
 
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte é uma organização de caráter privado, com 111 (cento e onze) anos de existência, guardião da memória potiguar, corporificados por documentos tricentenários, representados por um acervo de cerca de 50 mil títulos e obras raras. Contudo, a conservação deste acervo está em perigo constante, tal a precariedade física do seu prédio-sede e o risco iminente de sinistro, já atestado por laudos técnicos de órgãos competentes, além de outras urgentes providências que são descritas na relação anexa.
 
Visando a solução desse grave problema os atuais dirigentes do Instituto, tendo à frente o Presidente Valério Mesquita vem procurando celebrar convênio com entidades governamentais, as quais, mercê de determinação legal, exige contrapartidas em recursos financeiros, que efetivamente não temos.
 
Sendo assim, chegou a hora da convocação do povo, real destinatário desta Casa da Memória, para salvar o patrimônio que lhe pertence e essa ajuda que se torna fundamental, somente poderá ocorrer com desembolso financeiro, em tempo breve.
 
Com essa finalidade, deposite sua contribuição, que esperamos seja generosa, nunca inferior a R$ 50,00 (cinquenta reais), na CONTA Nº 130001219 - AGÊNCIA Nº 4322, do Banco Santander - Natal/Centro, (CNPJ.: 08.274.078.0001-06) ou, se mais conveniente, pela entrega da contribuição na Sede do Instituto, na rua da Conceição, nº 622 - Cidade Alta - no turno matutino, diariamente, local em que os diretores se reúnem.
 
A história do Rio Grande do Norte agradece.
 
Natal, 11 de junho de 2013
 
A Diretoria.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A VAIA DE RAÍSSA TÂMISA



François Silvestre
  
Raíssa foi, com amigas e amigos, para a movimentação de rua, ontem em Natal. Estavam próximos do local onde começou uma ação depredadora contra o prédio da Governadoria, cujos depredadores agressivos e incontroláveis agiam com o rosto coberto por máscaras. Ela não se conteve e resolveu reclamar falando alto para eles ouvissem. Reclamou da depredação e cobrou a cara limpa para aquela prática condenável. O líder do grupo respondeu, também em tom alto, que não tirava a máscara nem queria lição de patricinha. Os colegas da depredação aplicaram uma vaia na reclamante. Acho que a vaia aplicada por pessoas que não têm frenteira nem do remorso, ficou de bom tamanho. Poderia ter sido pior. O movimento tem as duas faces do país. Quem quiser que esconda com máscara a face que envergonha.

"ATÉ QUE TUDO CESSE, NÓS NÃO CESSAREMOS!"


 
 
Honório de Medeiros

                               Em 1979 entrei no Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vinha do Curso de Matemática Pura, onde a mim faltara vocação. Ainda estávamos em plena ditadura militar. Críticas ao Governo ainda eram feitas com muito receio. Não fazia muito tempo que a repressão implicava em tortura e desaparecimento. No Planalto, Figueiredo iria substituir Geisel e continuar a “abertura política lenta e gradual” timidamente iniciada por seu antecessor, sob a batuta de Golbery do Couto e Silva.
                        O Centro Acadêmico Amaro Cavalcanti, do Curso de Direito, cujo grito de guerra era “até que tudo cesse, nós não cessaremos” fora extinto em anos anteriores, assim como todos os outros, e substituídos por Diretórios Acadêmicos que representavam cada Centro Universitário. A razão era óbvia: era muito mais fácil os órgãos de repressão controlarem diretórios acadêmicos, em bem menor número, que centros acadêmicos, um por cada curso existente na Universidade.
Nos corredores do curso um grupo de estudantes, dos quais eu fazia parte, se reunia habitualmente para discutir política, principalmente a participação no processo que se desenrolava à conta-gotas Brasil adentro, e livros, muitos livros. Tínhamos em comum o hábito da leitura, o amor pela discussão, o interesse pela política.
Em certo momento, logo no começo do curso, resolvemos dar um passo além: refundarmos o Centro Acadêmico Amaro Cavalcanti, de tantas e gloriosas tradições.
Realizamos duas notáveis Assembléias Extraordinárias para as quais todos os alunos do curso de Direito foram convidados e compareceram em massa. Contávamos, também, com a simpatia de alguns poucos professores do curso, principalmente Jales Costa, de saudosa memória pelo exemplo, cultura e empatia com seus alunos.
Ressurgiu, então, o Centro Acadêmico do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte! Seu primeiro presidente, após a refundação foi João Hélder Dantas Cavalcanti. Tive a honra de ser o segundo, dessa vez com disputa eleitoral.
O Centro Acadêmico viveria momentos impressionantes logo após seu retorno às atividades: fizemos o primeiro debate, no Brasil, entre candidatos a Governador do Estado, em pleno auditório da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cedido, para nosso espanto, pelo Reitor à época, professor Diógenes da Cunha Lima, justiça seja feita. O evento foi noticiado pela grande imprensa brasileira. Em noite memorável, Aluizio Alves e José Agripino Maia debateram, sob a mediação do Professor Jales Costa, acerca dos destinos políticos do Brasil e do Rio Grande do Norte naquela que seria a primeira eleição direta para Governador do Estado após o Golpe de 64.
Aqui ressalvo a conduta do então Prefeito de Natal, por eleição indireta, José Agripino Maia. Eu e João Helder fomos a sua residência para convidá-lo. Sabíamos que todo seu “entourage” era contra sua ida ao debate. Fizemos o convite, ponderando acerca de quão ruim seria para sua imagem as fotos de sua cadeira vazia em pleno auditório lotado, e quão ruim seria para a democracia que estava ressurgindo sua negativa em participar. Jussier Santos, um dos seus secretários municipais, fez uso da palavra se colocando contra a participação de José Agripino, alegando que toda a platéia presente seria, com certeza, claque de Aluísio Alves.
José Agripino, entretanto, não hesitou e confirmou sua presença. Ponto para nós e para a democracia.
Não paramos por alí. Dias depois colocamos para debater entre si, sob minha mediação, os dois candidatos principais ao Senado da República pelo Rio Grande do Norte: Roberto Furtado, pela oposição, e Carlos Alberto de Souza, pela situação. Carlos Alberto levou uma claque disciplinada para aplaudi-lo, liderada por Eri Varela, um seu assessor. A noite foi tumultuada, mas tudo terminou acontecendo da melhor forma possível.
E continuando o exercício de ousadia, realizamos vários encontros nos quais foi discutida abertamente, com a presença maciça de estudantes e professores, a relação entre marxismo e Direito. Para um desses debates foi convidado, especialmente, o ex-Governador Cortez Pereira, naquele momento ainda cassado em seus direitos políticos. Não tenho certeza, mas Cortez Pereira uma vez me disse que tinha sido a primeira manifestação pública dele desde sua cassação.
Por fim, e não menos importante, fizemos também o primeiro debate, no Brasil, entre os candidatos a Reitor à sucessão do Professor Diógenes da Cunha Lima, mesmo que o pleito viesse a ser, como de fato o foi, realizado de forma indireta. Todos concorrentes compareceram. Lá estiveram Pedro Simões, Dalton Melo, Jales Costa, Genibaldo Barros e Lauro Bezerra.
Resgato essas lembranças graças ao impacto das manifestações que estão ocorrendo no Brasil e que, segundo minha avaliação é muito importante politicamente. Posso estar enganado, mas acredito que mudanças reais estão acontecendo. Desejo ardentemente que o povo enseje as mudanças que o Brasil precisa, principalmente no que diz respeito ao combate feroz e determinado contra a corrupção.
E tendo resgatado essas lembranças aproveito para homenagear meus companheiros de luta daquela época: João Hélder Dantas Cavalcanti, Evandro Borges e Rossana Sudário, em nome dos quais abraço todos quanto estiveram conosco naquelas gloriosas manhãs na sala F1 do Setor V, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, gritando, juntos, felizes, ansiosos para mudar o Brasil, “até que tudo cesse, nós não cessaremos”.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A PASSEATA PODE SER CONTRA VOCÊ, SABIA?


Carlos Alberto Nascimento de Andrade (carlos.potiguar@uol.com.br):
 
 

Este texto não é meu, copiei de um colega no Facebook, mas concordo em gênero, número e grau com o texto:

 
O brasileiro se levantou contra toda essa corrupção e violência. Um senso de indignação generalizado, de já ter tolerado demais, apanhado demais.
 
Mas se você foi à manifestação e usa carteirinha de estudante para ter meia-entrada, mas não é estudante, você é parte do problema. Você não tem moral para reclamar da corrupção deste país. O nome disso é hipocrisia.
(Reclame mesmo assim, por favor, porque são dois problemas diferentes.)
Se você joga bituca de cigarro no chão, você trata a cidade como o seu lixo particular. Mas a cidade é de todo mundo. As ruas estão nojentas e a culpa é sua.
A manifestação é contra você.
Se você fura fila de banco, de carro etc.
A manifestação é contra você.
Ah, você é ciclista, todo orgulhoso de ser sustentável, um carro a menos, menos trânsito e CO2. Você reclama da opressão do carro, mais forte, contra a bicicleta, o mais fraco. Mas você não para no sinal. Não respeita a faixa de pedestres. Você até anda na calçada, tornando-se o opressor do pedestre.
Não se iluda: a manifestação é contra você.
Você leva o cachorro para passear e não recolhe o cocô. Ninguém admite, mas o resultado está aí: nossas calçadas são um mar de merda. Calçada não é a privada do seu totó.
A manifestação é contra você.
Você joga papel no chão, e não faltam desculpas para não fazer o que é certo. Essa merda de prefeitura que não instala lixeiras, né? Ou, saída de estádio, você toma uma cerveja e joga a lata por aí. Ah, todo mundo estava jogando. Depois vem o cara limpar. A responsabilidade não é do estado. É sua. E você, manifestante, não pode se esquivar a ela nos outros 364 dias da sua vida.
A manifestação é contra você.
Se você copia textos da internet, não indica a fonte e entrega ao professor dizendo que é de sua autoria...
A manifestação é contra você.
Você não cumprimenta o porteiro. Você exagera horrivelmente no perfume e invade o nariz do outro. Você dirige bêbado. Você põe um escapamento superbarulhento na sua moto, que dá para ouvir a quarteirões de distância, incomoda todo mundo e compra um capacete que ajuda a isolar o som. Você obriga todo mundo do ônibus a ouvir a sua música. Você suborna o guarda ou qualquer outro serviço público. Ou ainda, você escreve textos como este, apontando o dedo contra delitos que já cometeu ou ainda comete, achando que dedo em riste exime você da responsabilidade.
Você é parte da violência. Você é parte da corrupção. Se você não mudar, o país não vai mudar. Mas não adianta todo mundo apenas demandar que “o poder” conserte as coisas. Quer mudar o país? Não esqueça de mudar a si mesmo, e pagar o preço da mudança, como um adulto.
Então, vai pra rua, que estava na hora. Mas não esquece: a manifestação é contra você.
*Inspirado em um texto lindo e corajoso da Duda Buarque.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A BRAVA GENTE BRASILEIRA E OS "MILITANTES DO MOUSE"

Carlos Santos 

 

Protestos

 
Fiquemos de olho nos oportunistas!

É aquela gente insípida que adora pegar carona no esforço alheio.

São os “militante do mouse“.

Não descolam a bunda da cadeira, com uma Coca-cola e um sanduíche de lado.

Pensam que são ativistas de um novo tempo porque repetem palavras de ordem e citam Che.

Sacrifícios e renúncias, nem pensar.

Diante da telinha do PC ou clicando freneticamente um smartphone, tudo é mais seguro e divertido.

No fundo, não sabem o que uma brava gente brasileira fez lá atrás.

Chegaaaaa!!!

VIVA O CARIRI CANGAÇO!



Esse é um pessoal inigualável: a turma do Cariri Cangaço, sob a liderança incontroversa do "gentilhomme" Monsieur Severo, competente, leal, unida por amizade fraternal, apesar das distinções entre seus integrantes, status inerente à condição humana. O que essa turma tem contribuído para o avanço do conhecimento na área de cangaço, coronelismo e misticismo, já vale um estudo à parte. E não remanesce dúvida quanto a isso: breve essa experiência diferenciada estará sendo estudada no mundo acadêmico. Cheguei no Cariri Cangaço meio por acaso, fui adotado e não nego minha filiação. Ao contrário: me orgulho! Sou, também, embora pequeno, parte dessa história que está sendo escrita para o Brasil e, porque não dizer, para o mundo. Viva o Cariri Cangaço!

terça-feira, 18 de junho de 2013

A MISTERIOSA FORÇA DO CIVISMO


François Silvestre
 
 
Só uma força quase inexplicável, misteriosa até, para retirar essa molecada da frente dos computadores, levando-os a invadirem as ruas, numa combinação sem acerto previamente estabelecido, tendo o próprio computador como cúmplice, sem o toque de qualquer liderança pessoal ou de agremiação. Sem discursos, retóricas ou demagogia. Só não ver quem não quer a bordoada que estão levando os sociólogos, psicólogos, especialistas políticos e jornalistas que entendem de tudo. Ninguém, ninguém mesmo, sabe exatamente o que está acontecendo. É o primeiro fato novo na vida política do país, na era da internet. Tão estranhamente belo e assustador que fez o discurso do poder mudar da noite para o dia. E mudar também a relação policial com o movimento. Só uma mente limitada ao nível asnal pode acreditar que tudo isso é motivado por vinte centavos de aumento nas tarifas de transporte. Quem pensar assim tem uma mente que vale menos do que vinte centavos. O país deu uma sacudida na sua preguiça cívica. Resolveu sair às ruas para que os tempos modernos vejam uma nova banda passar. Onde ela vai chegar, não se sabe. Mas é certo que ela não vai por onde o Estado meio covarde, meio fascista, meio hipócrita quer que ela vá. Há um monstro terrível e belo, feroz e suave, tomando conta do tempo, enchendo a nave da praça. Esfinge, que talvez só a História decifre, no momento certo da compreensão.

O BRASIL PAROU! VIVA O BRASIL!

 

Brasil para em protestos e manifestantes tomam ruas em diversas cidades

 
Especialistas apontam sensação de “mal-estar coletivo” entre brasileiros
 
Do R7, com agências internacionais
 
 
 

Só na capital paulista, mais de 100 mil manifestantes foram às ruas, estima o MPL (Movimento Passe Livre)Tiago Queiroz/AE.
 
Uma onda de protestos tomou conta das ruas de várias cidades do Brasil na noite desta segunda-feira (17). Com alto número de participantes — apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, a manifestação reuniu mais de 200 mil pessoas —, algumas cidades tiveram registro de confusões e confrontos entre os manifestantes e a PM. Além da capital paulista, atos também aconteceram em capitais como Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Belo Horizonte, Maceió, Vitória e Salvador, reunindo milhares de pessoas. Com o crescente descontentamento da população, o protesto, que começou por conta do aumento da tarifa do transporte público, tomou dimensões maiores e incontáveis grupos passaram a protestar contra a ação truculenta da PM, dinheiro gasto com a Copa das Confederações e a corrupção no País.

A sequência de manifestações — convocada principalmente pelas redes sociais — foi agravada após a confusão no último protesto em São Paulo, na quinta-feira (13), que terminou com manifestantes e jornalistas feridos, além de mais de 240 detidos. O grande número de ações populares levou a presidente Dilma Rousseff a se pronunciar sobre o assunto. Segundo a ministra da Secretaria de Comunicação, Helena Chagas, a presidente considera que as manifestações pacíficas são próprias da democracia e é próprio dos jovens se manifestarem. A presidente esteve com o secretário-geral da presidência, Gilberto Carvalho, que admitiu estar preocupado com a onda de manifestações, mas garantiu que o governo busca o diálogo.
 
Em São Paulo, a manifestação fechou vias importantes da cidade, como a avenida Paulista e a marginal Pinheiros. Até às 22h30, o ato era pacífico e não teve registros de confrontos com a PM. Entretanto, quando os manifestantes passaram pelo Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, eles tentaram forçar a entrada no local. A PM reagiu lançando bombas de gás lacrimogêneo. Após esse conflito, houve dispersão dos manifestantes.
 
 
No Rio de Janeiro, participantes do protesto entraram em confronto com a Polícia Militar por volta das 19h50. A multidão tentou invadir a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), e a PM reagiu lançando bombas de efeito moral. O Batalhão de Choque foi acionado e marchou na região. Milhares de manifestantes foram às ruas da capital fluminense protestar. As reivindicações foram além do aumento da passagem de ônibus, para R$ 2,95. Os manifestantes pediram educação e saúde de qualidade, além de protestar contra a corrupção e os gastos com Copa e Olimpíada.

No Distrito Federal, manifestantes subiram no prédio do Congresso. Segundo a assessoria da Câmara,
os manifestantes quebraram a porta de vidro da sala da vice-presidência da Casa. Ninguém ficou ferido, mas houve ameaças de invasão. Os manifestantes cantaram o Hino Nacional. Por volta das 19h, eram 6.000 manifestantes que pediam investimentos no transporte público, na área de saúde e educação. Eles também são contra a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) número 37, que retira o poder de investigação criminal dos Ministérios Públicos Estaduais e Federal, modificando a Constituição Brasileira.
 
 
Em Belo Horizonte (MG), manifestantes entraram em confronto com a PM. Durante um deles confronto, um rapaz que participava do movimento caiu de uma altura de aproximadamente sete metros do Viaduto José Alencar, na região da Pampulha. Pelo menos outras duas pessoas ficaram feridas durante os confrontos. Cerca de 30 mil pessoas participaram da manifestação, segundo estimativa da PM, e de 50 mil, de acordo com os organizadores da passeata.
 
 
Em Maceió (AL), cerca de 2.000 manifestantes participaram de uma passeata em protesto contra o reajuste do preço da passagem de coletivos na capital. O tom pacífico do ato foi quebrado por um motorista que furou um bloqueio e atirou em um manifestante na avenida Fernandes Lima.
 

Mal-estar coletivo
 
 
Essa sequência de protestos é motivada por uma sensação de 'mal-estar coletivo', compartilhada em especial pela juventude das grandes cidades. Essa é a análise dos especialistas ouvidos pela BBC Brasil. O fenômeno seria mais social do que político e concentra-se nas regiões metropolitanas, onde as sucessivas políticas públicas executadas por governantes locais teriam deixado de atender aos principais anseios da população, sobretudo os mais jovens.
 
 
De acordo com avaliação da agência Reuters, o aumento da passagem foi apenas o episódio que deflagrou a onda de reivindicações. Apesar de taxas de desemprego baixas, o País enfrenta inflação rondando o teto da meta do governo e sofre com crescimento econômico tímido. As manifestações ganham corpo durante a realização da Copa das Confederações, teste final antes do Mundial de 2014 no Brasil, e pouco mais de um ano antes das eleições presidenciais.

*Com informações do Estadão Conteúdo