domingo, 15 de abril de 2012

HISTÓRIA DA VIDA REAL



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Por Honório de Medeiros


Nas Seleções do Reader Digest que meu pai colecionava na década de 40 eu lia, entre menino e adolescente, uma seção cujo título era “Histórias da Vida Real”.

Não me lembro mais de qualquer das “histórias”, exceto uma: durante a Segunda Guerra Mundial, as moças americanas eram incentivadas a participarem do esforço comum americano escrevendo para seus compatriotas combatentes mundo afora. Um deles começou a se corresponder com uma garota do interior de um daqueles estados americanos do Oeste. Passaram-se os anos e as cartas, que começaram cordiais mas distantes, assumiram um teor cada vez íntimo, com troca de confidências, sonhos, planos e tudo quanto diz respeito a, finalmente, uma correspondência amorosa.

                        Tudo correu perfeitamente bem exceto pela recusa obstinada da moça em enviar, para seu correspondente, uma fotografia e o nome da cidadezinha na qual morava. Todas suas cartas eram enviadas da Estação Central de Trem da capital do seu Estado. Ele argumentava dizendo que gostaria de ter, perto de si, não apenas suas cartas e tudo quanto de bom elas lhe traziam, mas, também, uma imagem sua para a qual pudesse olhar naqueles momentos terríveis pelo qual estava passando. Ela lhe respondia, justificando-se, que o amor, entre eles, começara pelo espírito, e assim deveria continuar até o momento em que, finalmente, pudessem se encontrar frente a frente, e uma fotografia poderia lhe dar uma falsa impressão que a realidade viria desmascarar.

                        Finalmente a guerra terminou. Ele lhe escreveu para combinar o encontro e ela lhe pediu que estivesse no dia e hora marcados, na Estação Central de Trem da capital do seu Estado, quando seria reconhecida por trazer, nas mãos, um ramo de rosas vermelhas. Esta seria a única forma de reconhecê-la que ele dispunha: não sabia como era ela, em qual cidade vivia, e, mesmo, se seu nome era real ou fictício.

                        Meio-dia em ponto, conforme combinado. O trem para. Ele salta e olha, ansioso, para todos os lados. Há poucos transeuntes na Estação. Ninguém que aparente ser uma moça desacompanhada portando um ramo de rosas vermelhas nas mãos. Começa sua frustração. Será que foi enganado ao longo de todos os anos? Será que tudo quanto ela lhe dizia por carta, o amor que nascera, os planos construídos, eram mentiras? Parado, a maleta aos pés, a expressão ansiosa, ele olhava em todas as direções tentando encontrar uma explicação para um possível atraso, como um acontecimento de última hora, um obstáculo inesperado...

                        O tempo passou. Uma hora depois, convicto que tinha sido iludido, ele começou a se dirigir para o guichê de vendas de passagens. Pretendia ir embora o mais rápido possível. Quando se aproximou do guichê viu, sentada, próxima ao local, uma senhora de aproximadamente sessenta anos trazendo, em suas mãos, um buquê de flores vermelhas. “Então é isso?”, se perguntou. “Ela é esta senhora, e por essa razão não teve coragem de me enviar uma fotografia sua?”
Parado, perplexo, pensou em se esconder – não era possível aceitar que aquela senhora fosse sua amada! “E agora?” disse a si mesmo, “deveria honrar o amor espiritual com o qual se comprometera e que independia de idade ou poderia justificar sua fuga alegando ter sido manipulado?”

                        Não resistiu. Aproximou-se. “Senhora, seu nome é Lucy?”, indagou usando o nome usado por ela nas cartas.

 “Não, ela me pediu para ficar aqui algum tempo, com essas rosas na mão, aguardando que alguém viesse a sua procura; ela está ali”, e apontou. Um pouco além, vindo em sua direção, com outro buquê de rosas vermelhas nas mãos, uma belíssima mulher lhe sorria, enquanto acenava discretamente. 

sexta-feira, 13 de abril de 2012

CORONELISMO: O RIO GRANDE DO NORTE NO TEMPO DOS CORONÉIS (I)

Coronelismo: o Rio Grande do Norte no tempo dos coronéis (O “Fogo” de Pau dos Ferros).

 PRIMEIRA PARTE


Cel. Antônio Joaquim de Santana



Corria o ano de 1901. No Cariri, mais precisamente em Missão Velha, o Coronel Antônio Joaquim de Santana, mais conhecido como Coronel Santana apeia, do poder, pelas armas, o Coronel Antônio Róseo Jacamaru, chefe político e intendente da Cidade. Pertencendo à família dos Terésios, originária de velhos troncos coloniais, fundadores do Engenho de Santa Teresa, entre Missão Velha e Barbalha, governou Missão Velha o Coronel Santana durante dezesseis anos e alimentou o sonho de dominar o sul do Ceará colocando, em cada município, na chefia, uma pessoa de seu sangue.


Seguiu-se, no tempo, a deposição do Coronel José Belém de Figueiredo, chefe político do Crato, em 1904, após tiroteio que durou dois dias e deixou vinte e uma vítimas, das quais oito mortas. Logo depois, em 1906, após tiroteio que durou oito horas, caiu o Coronel Manuel Ribeiro da Costa, conhecido por Neco Ribeiro, sobrinho do célebre caudilho Joaquim Pinto Madeira, este da guerra civil absolutista de 1832. Seu algoz foi o Coronel João Raimundo de Macedo, o Joca do Brejão. Venceu quem conseguiu reunir um maior exército de “cabras”.


Vieram, após, o fim do reinado político do Coronel Marcolino Alves de Oliveira, arrancado da chefia política do Quixadá pelos Coronéis Joaquim Fernandes de Oliveira e José Alves Pimentel e, em 1907, em Lavras da Mangabeira, a queda do Coronel Honório Correia Lima, curiosamente o filho mais velho de Dona Fideralina Augusto Lima e irmão de Gustavo Augusto Lima, seus carrascos.


 Não foram diferentes os anos seguintes, como qualquer leitor poderá constatar lendo “Império do Bacamarte”, obra inigualável de Joaryvar Macedo, fonte dessa pequena introdução, sem qualquer sombra de dúvida uma referência para os estudiosos do fenômeno do coronelismo no Brasil, principalmente do Sertão nordestino, e sua relação com o cangaço e o misticismo próprios da região. Joaryvar, alicerçado em profunda pesquisa bibliográfica, em jornais antigos, depoimentos pessoais, literatura de cordel, e outras fontes primárias, tais como processos-crimes, nos legou um impressionante painel histórico do Cariri cearense e seus principais personagens, os coronéis.


Teria sido esse epifenômeno, o coronelismo, circunscrito ao Sertão do Cariri? Claro que não. Muito pelo contrário, acerca de sua importância, sua presença no mundo rural brasileiro, conseqüência tardia de certa estrutura de poder típica de uma aristocracia renascida na América litorânea - os senhores de engenho pernambucanos e paulistas -, renovação da velha árvore multissecular portuguesa, podemos tomar conhecimento a partir da obra de Raymundo Faoro, “Os Donos do Poder”, e sua abordagem do feudalismo nacional, “nascido neste lado do Atlântico, gerado espontaneamente pela conjunção das mesmas circunstâncias que produziram o europeu”.


Diz-nos Faoro: “O quadro teórico daria consistência, conteúdo e inteligência ao mundo nostálgico de colonos e senhores de engenho, opulentos, arbitrários, desdenhosos da burocracia, com a palavra desafiadora à flor dos lábios, rodeados de vassalos prontos a obedecer-lhe ao grito de rebeldia. Senhores de terras e senhores de homens, altivos, independentes, atrevidos – redivivas imagens dos barões antigos”.


O próprio Joaryvar Macedo assim começa “Império do Bacamarte”: No território pátrio, o fenômeno do coronelismo esboçou-se na Colônia, tornou-se realidade no Império e consolidou-se após o advento da República. Ainda: Entre nós a Primeira República, também denominada, consoante já se esclareceu, República dos Coronéis, teve no coronelismo uma das suas marcas principais. Mais acentuado no Nordeste, o fenômeno generalizou-se por todo o País, do Amazonas ao Rio Grande do Sul.


No Rio Grande do Norte, que houve coronéis, disso não há qualquer dúvida. Basta consultar “Coronéis do Seridó”, de Pery Lamartine, e conhecer desde o Coronel João Damasceno Pereira de Araújo, o João Damasceno do Saco do Martins, até o Coronel Cazuza do Ipueira, passando por Silvino Bezerra de Araújo Galvão, José Bernardo de Medeiros, Laurentino Theodoro da Cruz e vários outros senhores proprietários de terra e líderes políticos. Todos descendentes de portugueses que avançaram Sertão adentro, a arrancar da indiada insubmissa a terra que lhes pertencia imemorialmente, até o fim da Guerra dos Bárbaros (1687-1697), quando, por fim, do Vale do Açu, passando por Apodi, no Alto Oeste, até o Seridó, em Acauã, os vitoriosos fincaram definitivamente seus marcos sob os despojos do conflito.


      Mas teria havido, no Rio Grande do Norte, alguma deposição, entre coronéis, pela força das armas? Alguma violenta tomada do poder?

CONTINUA SEXTA-FEIRA VINDOURA... 

quinta-feira, 12 de abril de 2012

POEMA DE DESPEDIDA

 

Rabindranath Tagore

Do musicaindianabrasil.com

Poema de despedida





"É hora de partir, meus irmãos, minhas irmãs
Eu já devolvi as chaves da minha porta
E desisto de qualquer direito à minha casa.
Fomos vizinhos durante muito tempo
E recebi mais do que pude dar.
Agora vai raiando o dia
E a lâmpada que iluminava o meu canto escuro
Apagou-se.
Veio a intimação e estou pronto para a minha jornada.
Não indaguem sobre o que levo comigo.
Sigo de mãos vazias e o coração confiante."


Rabindranath Tagore – (1861 – 1941) – Poeta, músico, escritor, dramaturgo e romancista indiano.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

MENSALÃO: O ATALHO PARA DESMORALIZAR O SUPREMO!

Ministro do STF Ricardo Lewandowski

QUAL É A DELE?

Mensalão: o atalho para desmoralizar o Supremo, por Augusto Nunes



Blog de Augusto Nunes

Revisor do processo do mensalão, que se arrasta no Supremo Tribunal Federal desde agosto de 2007, o ministro Ricardo Lewandowski ainda não concluiu o parecer que começou a ser digitado em dezembro, mas está pronto na cabeça há cinco anos.
Relator do pedido de inquérito contra o senador Demóstenes Torres, precisou de algumas horas para autorizar a solicitação da Procuradoria Geral da República e determinar a quebra do sigilo bancário do parlamentar goiano.
Surpreendido pela demonstração de agilidade, o Brasil decente sente-se à vontade para exigir, como registrei no comentário de 1 minuto para o site de VEJA. que o revisor Lewandowski trabalhe com a mesma rapidez do relator Lewandowski.
Como sabem até os cabides das togas, os 38 mensaleiros só se sentarão no banco dos réus ainda em 2012 se o ministro terminar o serviço até 15 de maio. Ultrapassada essa data, os 38 envolvidos com a organização criminosa chefiada por José Dirceu só serão julgados em 2013.
É com isso que sonham os protagonistas do maior dos escândalos do Brasil republicano, que seriam presenteados com três motivos para dormir sem sobressaltos.
Primeiro: o governo e a base alugada escapariam do desgaste provocado pela exumação, em plena temporada eleitoral, das incontáveis delinquências promovidas por pecadores da aliança governista envolvidos na roubalheira colossal.
Segundo: os meliantes teriam consideravelmente ampliada a chance de beneficiar-se do mecanismo da prescrição.
Terceiro: atingidos pela aposentadoria compulsória, os ministros Cezar Peluso e Ayres Britto estariam fora do julgamento. Gente com culpa no cartório não se dá bem com juízes que votam de acordo com fatos.
Nas páginas amarelas de VEJA, Ayres Britto, que assumirá neste 19 de abril a presidência do STF, deixou claro que só falta o parecer do revisor para que o caso chegue ao desfecho.
Lewandowski pode votar como quiser. Pode absolver os chefes da quadrilha “por falta de provas”. Pode enfileirar pretextos para explicar o inexplicável. Pode até tentar induzir o restante do STF a “amaciar para Dirceu”. Mas não tem o direito de retardar o epílogo de uma história que começou há sete anos.
Como informa o texto sobre a campanha batizada de “Missão Ampulheta”, publicado na seção Feira Livre, Lewandowski logo saberá oficialmente que os brasileiros decentes têm pressa.
É preciso obrigá-lo a cumprir seu dever. É preciso, sobretudo, alertá-lo para o tamanho do perigo: quem conduz um processo pelo caminho mais demorado acaba descobrindo que percorreu o atalho mais curto para a desmoralização do Supremo.

VILA-MATAS: O DESAPARECIMENTO E A BUSCA DA ESSÊNCIA LITERÁRIA

Enrique Vila-Matas
De rascunho.gazetadopovo.com.br

 Edições > 144 > Revista "Cult" > Entrevista com Enrique Vila-Matas

O desaparecimento e a busca da essência literária em Doutor Pasavento

 Wilker Sousa

Quando da recente morte de J.D. Salinger (1919-2010), muito se especulou acerca das razões que o levaram à sua longa reclusão na pequena Cornish, em New Hampshire. Após a retumbante fama advinda da publicação de O Apanhador no Campo de Centeio, Salinger deixou o frenesi nova-iorquino e optou pela tranquilidade de sua casa de campo, onde viveu de 1953 até sua morte. Escritores mais familiarizados com holofotes ou ainda aqueles que fazem da fama o substrato de suas carreiras por certo veriam essa atitude como um verdadeiro contrassenso. Em contrapartida, outros, como Samuel Beckett (1906-1989), o suíço Robert Walser (1878-1956) e o espanhol Enrique Vila-Matas, julgariam sábia a postura de Salinger. O primeiro, quando soube que ganhara o Nobel, fugiu; Walser passou os últimos anos de sua vida em um manicômio, onde escreveu microtextos, sem nunca publicá-los; e Vila-Matas faz do desaparecimento um dos eixos centrais de sua obra.

Em “A Arte de Desaparecer”, conto presente em Suicídios Exemplares (1991), o personagem Anatol pena ao ver publicado um dos romances que guardara em seu baú. Seduzido pelas possíveis benesses da glória literária, em contraposição ao tédio e ao anonimato de sua recém-chegada aposentadoria, o “escritor secreto” permite que um editor publique suas obras. Contudo, logo é tomado por arrependimento e foge, restando-lhe a conclusão de que “a obrigação do autor é desaparecer”. O conto, acredita Vila-Matas, seria a origem do tema em sua obra, assunto que desenvolveria com ainda mais força em Doutor Pasavento, romance publicado em 2005 e que chega neste mês às livrarias brasileiras. O livro é narrado por Andrés Pasavento, romancista que, após ser convidado a dar uma palestra em Sevilha, decide desaparecer subitamente. Para tal, converte-se no psiquiatra Doutor Pasavento, isola-se de seu universo habitual e passa a escrever sobre sua ânsia de viver à margem. O resultado é uma narrativa híbrida, cuja presença marcante do gênero ensaio e o diálogo com grandes nomes do pensamento e da literatura revelam o uso não gratuito da notável erudição de Vila-Matas. Na entrevista a seguir, concedida à CULT por e-mail, Vila-Matas fala sobre o romance, os limites impostos pela linguagem, e explica por que a glória do autor é o avesso da essência literária.

CULT – Por que o tema do desaparecimento é tão recorrente em sua obra?

Enrique Vila-Matas – Na realidade, o verdadeiro escritor deseja somente escrever; busca mais a solidão para escrever do que a aparição em público. A aparição midiática do escritor é a antítese da essência de seu ofício. Em Suicídios Exemplares há um conto que parece ser a origem dessa minha dedicação ao tema da necessidade de desaparecer. É o conto “A Arte de Desaparecer”, baseado, certamente, em uma história real, aquela do escritor secreto Gesualdo Bufalino. Esse narrador siciliano escrevia sem a intenção de publicar, mas foi descoberto por seu compatriota Leonardo Sciascia e convencido por ele a publicar um romance que tinha guardado – um romance genial, e aí começaram os problemas para o pobre Bufalino.

CULT – Ainda sobre o desaparecimento: a grande obra literária tende a perpetuar-se e, inevitavelmente, também aquele que a escreveu. Embora lutem o tempo todo para desaparecer, esse foi o principal paradoxo vivido por escritores como Walser, Salinger e também o Doutor Pasavento?

Vila-Matas – Serve para o Doutor Pasavento também. Mas, se é certo que a obra e o escritor, como você disse, tendem a se perpetuar, também é certo que no fim, através do tempo, a obra viajará irremedialmente sozinha na imensidão. E um dia a obra morre, como morrem todas as coisas, como se extinguirão o Sol e a Terra, o sistema solar e a galáxia, e a mais recôndita memória dos homens.

CULT – Há uma passagem no livro em que o narrador diz não escrever um romance. Em outro momento, exalta Sterne por ter feito de Shandy antes um ensaio sobre a vida do que propriamente um romance. Você acredita que o romance é um gênero em extinção? A tendência é caminharmos para experiências híbridas, de modo que se diluam cada vez mais as fronteiras entre os gêneros?

Vila-Matas – O romance não somente não desaparecerá como ainda terá vida longa, embora adotando formas diferentes daquelas que conhecemos hoje.

CULT – Beckett, que tanto lidou com os limites impostos pela linguagem, desejava alcançar o essencial para um dia poder descartá-la, desaparecer com ela. No que se refere à sua obra, você vive um impasse semelhante?

Vila-Matas – A essência da literatura são o silêncio e o desaparecimento? Beckett dizia que era preciso seguir escrevendo, mesmo que tudo já estivesse dito. Creio que faço algo parecido. Sou consciente de que toda a literatura moderna nasceu quando Montaigne confessou, no começo de seus Ensaios, que escrevia com a intenção de conhecer-se a si mesmo. Hoje já sabemos perfeitamente que tipo de consequências isso trouxe. Não muito depois de começarmos a “buscar a nós mesmos” na literatura, começaram a se desenvolver uma lenta mas progressiva desconfiança nas possibilidades da linguagem e o temor de que ela nos arraste a zonas de profunda perplexidade. É dentro dessa busca e perplexidade que eu escrevo todos os dias. Para levar a cabo essa busca, necessito me isolar, escrever, desaparecer em meu local de trabalho.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O VERDADEIRO DESTINO DE UM GRANDE ARTISTA

Gaston Bachelar

Em marciomariguela.wordpress.com


"O verdadeiro destino de um grande artista é um destino de trabalho. Em sua vida chega a hora em que o trabalho domina e conduz sua destinação. As infelicidades e as dúvidas podem atormentá-lo por muito tempo. O artista pode vergar sob os golpes da sorte. Pode perder anos numa preparação obscura. Mas a vontade de obra não se extingue desde que ela encontrou uma vez seu verdadeiro foco. Começa então o destino de trabalho. O trabalho ardente e criador atravessa a vida do artista e confere a essa vida virtudes de linha reta. Tudo vai em direção à meta numa obra que cresce. Cada dia, esse estranho tecido de paciência e entusiasmo torna-se mais ajustado na vida de trabalho que faz de um artista um mestre."

Gaston Bachelard (1884-1962), "Le Droit de Rêver"

segunda-feira, 9 de abril de 2012

CONHECIMENTO E LIBERDADE

Liberdade!
vedanta.pro.br

Por Honório de Medeiros

                               Uma das consequências do mundo virtual de hoje, ou pós-modernidade, se assim o quiserem denominar, é que seremos todos ignorantes no geral e conhecedores no particular. Saberemos cada dia mais, acerca de cada dia menos, e, nesse ritmo, talvez saibamos, um dia, individualmente, quase tudo acerca de quase nada.
                   Isso me lembra algo vivido na adolescência: um Congresso Internacional de Fitopatologia, promovido pela Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM), para o qual se anunciava a presença de um belga, professor-doutor, especialista na reprodução de um tipo de mosca sazonal, existente nos nossos litorais. Ou seja, quase tudo acerca de quase nada.
                   A verdade é que nosso cérebro possivelmente não suporta fazer a síntese de todo o conhecimento específico ao qual temos acesso, para estabelecer generalizações consistentes.
                   Os troncos quem compõem o nosso conhecimento geral, Marx, Freud, Darwin, Einstein, e alguns outros, para ficarmos no século XX, aos poucos estarão de tal forma diluídos na nossa memória, que o conhecimento específico possível e atual, individualmente, consequências dessas teorias fundantes, de tão afastado do original que os precedeu, dele somente guardará, se guardar, pálida lembrança.
É o caso, por exemplo, de citações de trechos descontextualizados desses pensadores, possíveis de serem encontrados em trabalhos acadêmicos, com os quais guarda vaga relação.
                   Vejamos o exemplo da produção dita científica nos mestrados e doutorados: de tão especializada se apresenta que seus elaboradores passam a ver a realidade por um olho só, quando deveriam ser como o monstro guardião do Pomo das Haspérides, na mitologia grega, que tinha cem olhos.
                   Caso queiramos pensar em profundidade, estabelecendo as conexões possíveis do presente com o passado intelectual comum à espécie humana, teremos sempre que nos reconstruir teoricamente, buscando reiteradamente nossas fundações intelectuais, em uma escala que não tem fim, dado o conhecimento existente.
Onde iremos parar?
Não há tecnologia que nos permita esse maciço empreendimento de inferências, de intuições e deduções, partindo-se de premissas gerais que nos conduzam às conclusões possíveis, após relacioná-las com as infinitas possibilidades que são os fatos ou fenômenos atuais, permitindo-se, então, um permanente e denso saber.
 Experimentem teclar, por exemplo, no Google, o verbete “marxismo”, e constatar a quantidade de textos ao qual o leitor tem acesso!
                   Assim, em consequência, encastelados em nichos de saber, seremos cada vez mais manipuláveis, posto que os fundamentos do conhecimento que alicerçam nossa compreensão acerca do que nos cerca, como a questão da liberdade, está se esgarçando rapidamente.
                   Acaso as novas gerações se dão conta das causas e do contexto no qual surgiu a discussão acerca da liberdade? Sabem do titânico choque de ideias entre Platão e os Sofistas no que diz respeito à relação entre o Homem e sua Realidade Moral? Entendem que a vitória de Platão e o consequente exílio intelectual dos sofistas conduziu a civilização ocidental a um longo período de trevas no que diz respeito à liberdade?
Esgarçar que ocorre, também, em decorrência da necessidade inexorável de vivermos vertiginosamente uma realidade que não compreendemos, de tão fugaz e complexa, e não podemos parar para compreendê-la, o que torna possível a reconstrução diária, por parte de quem controla a mídia, por exemplo, do sentido do que seja liberdade. Tal é o processo do qual são criadores e criaturas as elites dominantes.
                   Não vivemos, pois; sobrevivemos enquanto espasmos. Somos iludidos e nos auto-iludimos. Estamos hoje tão nus quanto nossos ancestrais mais remotos, quando lutavam em meio hostil, caçando e coletando, muito embora as selvas, os desertos e o gelo, onde nos debatemos hoje, sejam de outro tipo.
                   Como não podemos Conhecer, com C maiúsculo, somos manipuláveis.
Somos crianças com os conhecimentos específicos necessários para sobrevivermos e alimentarmos a realidade que nos nutre e da qual nos alimentamos. Sabemos, como dito acima, cada dia mais acerca de cada dia menos. Sabemos quase tudo, certo dia, sobre quase nada. Este é nosso destino, nossa glória, nosso ocaso...
                   E como sabemos cada dia mais acerca de cada dia menos, e somos impelidos a tal, e aceitamos, para sobrevivermos na superfície da realidade, com uma extrema especialização decorrente da divisão do trabalho que nos é imposta, perdemos o contato com o restante do todo, e, em nossa ignorância quanto a esse fato, nos curvamos aos que vêm nos dizer o que nós somos e como devemos fazer em relação às pessoas e às coisas e fenômenos.
                   Somos instados, manipulados, a não perguntarmos acerca do que nos dizem ou escrevem, para não escutarmos que se não nos perguntam acerca do que conhecemos, porque devemos indagar acerca do que não conhecemos? Cada qual com seu cada qual... É dessa forma que as finanças públicas, constituídas pelo nosso suor, às vezes nosso sangue, são um verdadeiro mistério. Razões de Estado, diriam...
                   Viveremos, no futuro, como os seres humanos de Matrix, sonhando que viviam, quando viviam para sonhar, enquanto a máquina que os mantinha imersos em sonhos, e que é uma alegoria do Estado, se nutria desse sono eterno?

sábado, 7 de abril de 2012

JUCA KFOURI: "O PIOR DO BRASIL É A IGNORÂNCIA"


Juca Kfouri
Do ventosulazul.blogspot.com 

Sexta-feira, 06 de Abril de 2012 
Jornal de Debates
ENTREVISTA / JUCA KFOURI
“O pior do Brasil é a ignorância”
Por Marcos Caldeira Mendonça em 20/03/2012 na edição 686
Reproduzido de O TREM Itabirano nº 77, fevereiro/2012; título original “Juca Kfouri: ‘O pior do Brasil é a ignorância da população’”
         Um dos jornalistas esportivos de maior credibilidade no Brasil, o paulistano Juca Kfouri é um inflamado informador sobre a corrupção no esporte brasileiro. Formado em ciências sociais pela Universidade de São Paulo (USP), pertenceu ao Partido Comunista Brasileiro, militou na Aliança Libertadora Nacional e trabalhou nos jornais O Globo, na revista Placar, na TV Globo e TV Cultura, entre outras importantes redações. Atualmente, está no canal ESPN-Brasil, na rádio CBN e mantém o blogdojuca.uol.com.br e é colunista da Folha de S.Paulo.
O TREM, que segue a linha, hoje quase exótica, de só entrevistar quem tem o que dizer, puxou papo com ele. Juca Kfouri revela que tem vontade de ir embora do Brasil, explica por que não o faz e responde a indagações como esta: “O que faz mais mal ao país: a emissora da família Marinho, na qual o senhor trabalhou, o narcotráfico, os políticos corruptos ou a ignorância da população?”
Perguntado sobre o motivo por que os times de Minas Gerais, Nordeste e Sul são sempre prejudicados em jogos decisivos contra paulistas e cariocas, foi curtinho, mas ao busílis: “Porque os rios correm para o mar”.
A seguir, com exclusividade, JK.

Pesando tudo, o futebol mais ajuda o Brasil ou mais atrapalha o país?

Juca Kfouri – Nem ajuda, nem atrapalha. Só o faz mais feliz.

Clubes do exterior compram jogadores brasileiros ainda nas fraldas, empobrecendo muito nosso esporte. Como evitar essa evasão absurda de pé-de-obra?

J.K. – Somos exportadores de pé-de-obra porque ainda não entendemos que devemos exportar o espetáculo, não o artista. Simples assim.

Você leu Quando é Dia de Futebol, de Carlos Drummond de Andrade? Quem são os escritores que mais bem escreveram sobre o futebol brasileiro?

J.K. – Li, é claro. Carlos Drummond de Andrade é um deles. Paulo Mendes Campos é outro. Para ficar nos mineiros, por mais cariocas que pareçam, Estrela Solitária, de Ruy Castro [sobre a trajetória do jogador Mané Garrincha], é um dos melhores livros sobre futebol escritos no Brasil.

Graciliano Ramos escreveu em jornal que o futebol não teria sucesso no Brasil e defendeu que o brasileiro praticasse a capoeira e outros esportes mais nossos. O futebol é bem retratado pela literatura brasileira ou é tratado como tema menor por nossos escritores.

J.K. – Na literatura propriamente dita, ainda não tem o tratamento que merece. Mas hoje em dia temos uma biblioteca futebolística pra lá de respeitável, de excelência mesmo. E se Graciliano deu uma bola fora, fez por ter crédito para dar mil.

O que achou de a Academia Brasileira de Letras – casa mais estéril que útero de mula, segundo o polemista Fernando Jorge, colaborador dO TREM– homenagear o jogador Ronaldinho Gaúcho?

J.K. – Uma demagogia barata de um presidente da ABL [Marcos Vilaça] que adora bajular cartolas nefastos e que prometeu, e jamais entregou, quando membro do Tribunal de Contas da União, um parecer final demolidor sobre os Jogos Pan-Americanos no Rio, em 2007.

Como a rivalidade no Brasil é acirrada, seria espetacular um campeonato de seleções estaduais, com esta condição: o jogador teria de defender o estado no qual nasceu. Assim, o futebol seria descentralizado dos principais eixos. Formar-se-iam grandes seleções no Nordeste, por exemplo. Para tanto, teríamos de ter organização e calendário muito bem planejado. O senhor considera interessante um campeonato assim?

J.K. – Não mais, infelizmente. O espaço tem de ser dos clubes, que investem demais para viverem sendo desfalcados por seleções.

No Brasil, se um time vai mal em três ou quatro partidas, a cobrança por bons resultados é imediata. Ou o time começa a vencer ou o treinador, sob protestos intensos, perde o cargo. Se igual cobrança fosse feita na política, que Brasil seríamos?

J.K. – Ah, se protestássemos diante dos palácios, como fazemos nos clubes de futebol, o país seria quase o que sonhamos que seja.

Por que os times de Minas Gerais, Sul e Nordeste, quando disputam partidas decisivas contra os do Rio de Janeiro e São Paulo, sempre são prejudicados por árbitros e auxiliares. Não há na história sequer um campeonato vencido por clubes de fora do Rio e São Paulo com erro capital do trio de arbitragem.

J.K. – Porque os rios correm para o mar...

Se o futebol adotasse a regra do futebol de salão, em que o jogador pode entrar na disputa e sair quantas vezes o treinador quiser, a durabilidade de um atleta seria ampliada para até uns 45 ou 50 anos. Temos craques com mais de 40 anos, mas que não jogam mais porque não suportam a correria do futebol moderno. Imagine, por exemplo, poder ter no banco um Zico cinquentão só para cobrar falta, ou um Éder. O que pensa dessa proposta, para privilegiar a habilidade e estender a carreira dos gênios?

J.K. – Considero uma boa ideia, dessas que o conservadorismo do futebol jamais adotará.

Copa do Mundo no Brasil: já calculou a conta da corrupção, do superfaturamento, da desonestidade?

J.K. – Nossos netos a pagarão.

Em todos esses anos de estrada jornalística, qual foi a melhor história que presenciou numa redação?

J.K. – Estava na redação da Globo em Barcelona, esperando com todos para botar no ar a chegada da tocha olímpica, que vinha de navio, na cidade. Eis que de repente um dos produtores escalados para vigiar o monitor que trazia imagens do porto catalão grita da sala de edição: “A xota está chegando, a xota está chegando!”. Ao cabo da gargalhada geral e irrestrita, ouviu-se a voz tranquila e sarcástica do saudoso Hedyl Valle Júnior: “Calma, pessoal, calma...”

Você trabalhou na TV Globo, conhece-a por dentro. O que faz mais mal ao Brasil: a emissora da família Marinho, o narcotráfico, os políticos corruptos ou a ignorância da população?

J.K. – A ignorância da população que elege os políticos que elege, que alimenta o tráfico e que confere hegemonias a quem não deve.

Por favor, fale sobre este assunto: a importância para um jornalista de que ele seja respeitado, tenha credibilidade.

J.K. – É só o que vale. O resto, como já disse o escritor Millôr Fernandes, é armazém de secos e molhados.

O senhor é conhecido pelo empenho jornalístico em favor da ética no esporte e na política. Ao jornal O Pasquim21, em 2002, disse que o Brasil é invivível. Já teve vontade de largar este torrão e morar em um país com menor grau de canalhice?

J.K. – Vontade já tive sim, mas tinha os filhos e era difícil. A vontade se mantém, mas agora tem as netas e ficou impossível.

Digamos que inventaram um equipamento pelo qual é possível falar e ser escutado simultaneamente por todos os brasileiros. Se fosse usar essa estrovenga para falar duas importantes verdades sobre o Brasil, o que escutaríamos?

J.K. – Que não temos, felizmente, o monopólio da corrupção, mas parecemos ter, infelizmente, o da impunidade.

***

[Marcos Caldeira Mendonça é editor de O TREM Itabirano]

sexta-feira, 6 de abril de 2012

BASTIDORES POLÍTICOS DA INVASÃO DE MOSSORÓ POR LAMPIÃO E DO "FOGO DE PAU DOS FERROS"

Escritor Marcos Pinto


Amigo HONÓRIO,

Bom-dia.

                    Garimpando novidades no vetusto jornal "O MOSSOROENSE", edição de 18.03.1914, encontrei os laços de grande amizade entre FELIPE GUERRA e BENÍCIO FILHO, sendo certo que FELIPE GUERRA foi padrinho de casamento de BENÍCIO FILHO, ocorrido em 14 de Março de 1914, em Mossoró.

Escoimando-se o ocorrido antes e depois do ataque de Lampião à Mossoró, o fato de que o BENÍCIO FILHO era o Diretor Geral da Segurança Pública do RN (cargo que corresponde ao atual Secretário de Segurança), depreende-se que o mesmo deveria ter tido todo o empenho em enviar força policial para guarnecer Mossoró.

 Não o fez, de sorte que o nosso bravo RODOLFO FERNANDES defendeu a cidade convocando amigos e civis voluntários.

 Ora, se FELIPE GUERRA era compadre e amigo íntimo do JERÔNIMO ROSADO, e exercia influência sobre BENÍCIO FILHO, deve-se atribuir, dentre outros fatores, a essa relação, que FELIPE GUERRA, já Desembargador desde 1919 e residente em Natal, tenha traficado influência para que BENÍCIO FILHO adotasse a posição pusilânime, e que deixou muito a desejar, em relação à defesa de Mossoró.

                  Qualquer novidade enviarei pra Vosmincê.

                  Abraço.

Lembrei-me de outra particularidade: O Desembargador HORÁCIO BARRÊTO era sobrinho da esposa (Dona. ALEXANDRINA BARRÊTO) do Governador do Rio Grande do Norte JOAQUIM FERREIRA CHAVES, que deu apoio integral à perseguição policial ao Cel. JOAQUIM CORREIA DE MELO[1] e aos AIRES em Pau dos Ferros (Fogo de Pau dos Ferros, em 1919[2]), sendo certo que tanto HORÁCIO BARRÊTO como FELIPE GUERRA foram indicados e nomeados Desembargadores pelo Governador em 1919.

Outra particularidade: FELIPE GUERRA foi candidato e eleito Deputado Estadual em 1934 na chapa dos Pelabuchos, na qual constava, também, BENEDITO SALDANHA, que foi eleito, mas que, devido a um sério entrevero com o Deputado “cabra macho” PEDRO MATOS, de Santana dos Matos, em plena Assembleia Legislativa, renunciou à Deputação, temendo por sua vida, que lhe dissera em alto e bom tom que toparia qualquer parada, a qualquer hora, de homem pra homem.

Raibrito (RAIMUNDO SOARES DE BRITO) me falou que a morte de PEDRO MATOS, atribuída a uma fatalidade, se dera na ocasião em que ele retornava para Natal, quando parou em Santa Maria ou Lajes (me falha a memória) e um soldado, disfarçando que estava a limpar sua arma, permitiu um disparo que atingiu de forma certeira e fatal o Deputado “cabra macho”.

 O pior é que na hora do ocorrido só estavam na calçada PEDRO MATOS e o dito Soldado que, de forma calma e sem alarde, alegou disparo acidental. Como não havia qualquer testemunha do episódio, ficou mesmo por tiro acidental.

 Averiguemos, pois.  Ah, sim!  Em 1918 já tinha havido a ruptura do FERREIRA CHAVES com TAVARES DE LIRA, e daí em diante o Dr. ZÉ AUGUSTO BEZERA DE MEDEIROS andou vendo e sentindo veementes sinais de traição de FERREIRA CHAVES em atos governamentais, que culminou com a ruptura em 1922 (leia-se livro “OCASO E FASTÍGIO DE FERREIRA CHAVES” - escrito pelo Dr. GIL SOARES).  Sugiro-lhe, também, a leitura do livro "VERTENTES", do Dr. JOÃO MARIA FURTADO, pai do ex-deputado ROBERTO FURTADO.

                Boa tarde.  INTÉ!

                   Marcos Pinto





[1] De BARTOLOMEU CORREIA DE MELO recebi (Honório de Medeiros), em seis de abril de 2009, às 22h29min, o seguinte e-mail:
Lourenço Correia, jovem português de Braga, exilado político, chegou ao Brasil por Fortaleza e desceu mascateando até Pau dos Ferros, onde se fixou como comerciante e depois pequeno agricultor. Nesse tempo envolveu-se com a irmã do amigo Padre Pinto, daí nascendo Joaquim Correia que, tendo a mãe morrido no parto, foi criado e educado pelo tio padre. Após estes fatos, saiu Lourenço de Pau dos Ferros para Macaíba, onde progrediu como comerciante de secos e molhados e, já quarentão, casou com Idalina Jacinta Emerenciano (irmã do Professor Zuza), com quem teve mais cinco filhos, sendo os homens: Pedro, Francisco e João Correia. Tendo seu armazém saqueado na revolta do “quebra-quilos”, quando quase foi linchado, mudou-se com a família (filhos ainda crianças) para o Ceará-Mirim onde tinha propriedades rurais e poucos anos depois faleceu. Pedro Correia foi senhor de engenho e Prefeito do Ceará-Mirim, Francisco, foi comerciante, e João (meu avô materno), oficial do Exercito.
Joaquim Correia foi deputado por mais de três décadas (considerado por Câmara Cascudo o maior tribuno do seu tempo). Não se enquadrava muito no perfil clássico de Coronel nordestino; sempre teve apenas médias posses, havendo morrido na pobreza. Era sim, dono de carisma político e senso de conciliação, somente vencidos pela violência. A versão de sua história, contada por minha avó (cunhada e confidente) confere com fontes e fatos aqui citados. Neste comentário esclareço a relação entre os Correia de Paus dos Ferros e do Ceará-Mirim pouco conhecida pelos não parentes.

[2] Episódio relatado em “Massilon”, de Honório de Medeiros. Diz respeito a como os FERNANDES, liderados pelo Cel. ADOLPHO FERNANDES, tomaram o poder em Pau dos Ferros, pela força das armas, do Cel. JOAQUIM CORREIA que, com sua vida ameaçada, se foi da cidade e nunca mais voltou.