quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

VOLUNTARIADO


As crianças, amontoadas, olhavam-me curiosas. Vestiam roupas rotas, amassadas, sujas, mas estavam vestidas. Várias delas, a maioria, traziam as marcas da ausência de banho. Quase todas eram mirradas; seria desnutrição? Mas nos deram um bom dia alegre e uníssono a mim e meu amigo que estávamos conhecendo o trabalho voluntário que as reunia naquele local.

Ah, o local... Uma espécie de pequeno espaço vazio, ladeado por paredes de tijolos desnudos e escuros, de tão velhos, com algumas poucas, muito poucas carteiras, encantoadas em uma quina. Ali elas brincavam enquanto algumas outras, em um mezanino para o qual nos dirigimos com alguma dificuldade, tendo em vista a estreiteza da escada, estavam tomando a lição.

A idéia que agrupara aquelas crianças fora a de encontrar algum meio de ocupar o tempo vazio que lhes sobrava quando voltavam da escola municipal. Não é preciso mencionar que essa escola municipal deveria albergar essas crianças durante o dia inteiro dando-lhes três refeições, atendimento médico, dentário, psicológico. O mínimo, portanto. Nada disso acontecia. Elas, quando muito, recebiam uma merenda por turno. E, agora, por força desse trabalho voluntário do meu amigo, passaram a ter outro turno de estudo onde, sob a idéia de terem aulas de reforço, recebiam roupa, alimentação, assistência social, brincavam e, mais importante que tudo, saíam das ruas do morro de Mãe Luiza, onde a proximidade do céu e a vizinhança do mar não afastavam alcoolismo, as drogas, a pobreza, o abandono do Estado.

Esse meu amigo conseguiu, com uma filha, o dinheiro suficiente para a compra de um terreno no qual ele pretende construir um ambiente apropriado para essas crianças. Não se trata de uma escola. Ele pensa que não é correto querer substituir, em tudo e por tudo, a presença do Estado, mas, também, acredita que devemos tomar partido e fazermos algo. Nesse ambiente haverá aulas de reforço, fardas, limpeza, assistência social, médica, dentária, psicológica e lazer, muito lazer voltado para a construção da cidadania. Lazer com educação. Trata-se de um sonho, claro, mas ele está envolvido até a medula nele.

A força do seu sonho nos comove e incentiva. Até então eu e alguns amigos ajudamos algumas instituições com alguma contribuição financeira. Agora parece que algo diferente nos atrai e encanta – ver o resultado do nosso trabalho voluntário e, melhor, conviver com ele. Não se trata de ceder ao pieguismo, à nossa tendência de mexicanizar a dor. Nada disso. É algo como ver o que está errado e meter a mão na massa para corrigir o erro da melhor forma possível.

E, depois, muito depois, cansados e anônimos, sempre anônimos, sentir prazer em observar o resultado do esforço desprendido. É o voluntariado, em sua acepção mais correta, que também nos ensina e nos prepara para a cidadania.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

HÁ UM IPÊ AMARELO EM MEU CAMINHO


Há um ipê amarelo em meu caminho. Sim, no meu caminho diário há um ipê amarelo em flor. Não que eu passe por ele com o vagar que sua beleza exige, a se derramar por sobre os olhos de quem vai e vem sem qualquer pudor. Ao contrário. Postado dentro de um jardim de Colégio, deixando ver apenas sua parte superior, mantém oculta sua plenitude, e se eu me aproximasse caminhando, o muro que o contém tomaria minha visão. Posso vê-lo enquanto passo ao largo, reduzindo a velocidade do meu carro, e me contendo para não parar, descer do carro, ir até o motorista que buzina impaciente atrás de mim e lhe perguntar se é insensível a tanta beleza. Melhor não, digo cá aos meus botões. Ele pensaria que sou louco.

Pensei em pedir ao porteiro para invadir a quietude do recanto onde reina solitário, esse ipê amarelo, e lhe levar minhas homenagens. Desisti. Primeiro por que eu teria que vencer a burocracia da identificação, o Colégio tem fama de muito rígido principalmente com visitas masculinas: “quem é o senhor? Deixe sua identidade, por favor”, ou coisa parecida. Ele, o porteiro, não se quedaria vencido pela singularidade da minha proposta: “meu senhor, eu quero apenas cumprimentar o ipê amarelo!”. Segundo por que, com certeza, o porteiro também não me consideraria, assim como o motorista que buzinava impaciente atrás do meu carro, completamente são, se eu mudasse o discurso e lhe dissesse: “olhe, eu vinha passando, e arrebatado pela beleza desse ipê amarelo, queria entrar no jardim, me aproximar dele, contemplá-lo, tocá-lo, ficar um bom pedaço de tempo em sua companhia...”

Claro que eu poderia envergar minha mais séria máscara de cidadão respeitável e dizer a esse porteiro-cérbero sucintamente: “posso ver o ipê amarelo?” Mas não seria a mesma coisa. Não é correto, fere a ordem natural das coisas poéticas e românticas. Não podemos ver algo tão belo e tratá-lo como quem trata um mero jardim bem-feito. Não é de outra forma que agimos quando queremos acariciar a criança que a mãe orgulhosamente exibe pelos cantos? Não lhe dizemos: “que criança linda!”, comentamos acerca da beleza dos seus olhos ou do cacheado dos seus cabelos, e lhe fazemos um carinho?

Como não fui até o ipê amarelo para render-lhe, qual fã incontrolável, minhas homenagens silenciosas e merecidas, bem diferentes daquelas que os homens atribuem uns aos outros em solenidades chatíssimas, pus-me a falar dele. A todos quanto eu julguei merecedor de participar de minha descoberta lhes falei do amarelo vivo tomando-o por inteiro, e o destacando contra o opaco do muro que o contém e o cinza urbano que lhe serve de entorno; falei-lhes em que ponto da cidade ele reina absoluto; falei-lhes de como ele desperta, em nós, tal sua presença, o senso de sua majestade.

Talvez não tenhamos merecido, eu e o ipê amarelo, a atenção devida. Não importa. Se somente um dos que me ouviram, dentre todos, se lembrar e quedar-se a contemplá-lo, quando passar por perto, me dou por satisfeito. Ele terá sido, então, verdadeiramente homenageado por mim.

PROIBIÇÃO DE CARNAVAL EM MARTINS VAI À GLOBO

Do blog de Carlos Santos

http://www.blogdocarlossantos.com.br/

Quarta - 10/02/2010 - 08h30

"Uma equipe da Rede Globo de Televisão aporta hoje em Martins.
 
Segundo uma fonte do Blog, a pauta é produzir matéria para o Fantástico, programa dominical da emissora.

Em foco, a proibição da prefeita Maria José de Oliveira, "Mazé" (PP), à realização de Carnaval na cidade.

O assunto tem rendido muita polêmica e vai gerar muito mais."

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

AGU X MP

Por Joaquim Falcão

Blog do Noblat

Logo que concedida, nestes últimos dias, a licença para a licitação da hidroelétrica de Belo Monte, Pará, alguns procuradores vieram a público. Ameaçam acionar a Justiça para impedir a construção da usina.
 
O novo Advogado Geral da União (AGU), Luis Inácio Lucena Adams, imediatamente demonstrou sua insatisfação com essa atitude que acredita precipitada.

Mencionou que no caso do complexo hidroelétrico do Rio Madeira a mesma tática teria sido usada por aqueles que são contra decisões legítimas de competência do Poder Executivo: a tática de ajuizamento de ações carentes de qualquer plausibilidade e fundamento.

Muitas dessas ações não chegaram, sequer, a serem admitidas na Justiça Federal. O Advogado Geral da União disse mais. Disse que não relutaria em processar esses procuradores por improbidade administrativa.

Diante da reação, o Ministério Público Federal reagiu também. Afirmou que estava apenas exercendo sua função de fiscal da atividade estatal, como lhe compete constitucionalmente. O que, de resto, inclui a competência para peticionar, ir à justiça em defesa de interesses da sociedade.

Essa eventual divergência não pode ser reduzida a mera disputa entre instituições indispensáveis à democracia. Ela extrapola a licença do Ibama para a construção da hidroeletrica.

Na verdade, a AGU traz ao debate uma questão há muito latente e importante para o estado democratico de direito, que é a seguinte: existiram limites para o direito de peticionar do Ministério Público (MP)?

Esse direito é absoluto?

Ou seja, o que está em jogo é bem mais amplo do que as circunstâncias de Belo Monte e do Rio Madeira.

Não se trata de discutir o papel e a importância do Ministério Público. Isto está determinado na Constituição. É dever constitucional do MP promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.

Mais ainda. O MP é a instituição judicial com maior crescimento em seu grau de confiança popular desde l988. A questão é saber se ao exercer sua fundamental função para a democracia, deve respeitar outros padrões constitucionais também.

A AGU acredita que sim, e cita o art. 37 §4 que cuida dos atos de improbidade administrativa e de sua responsabilização, segundo ela, incluindo até mesmo o MP.

Mas além haveria outros limites? Muitos acreditam que sim.

A questão toda é identificar se em nome de proteger o patrimônio público o procurador não poderia acabar causando dano a este. Fazer, por exemplo, o patrimônio público, o Tesouro, incorrer em evitáveis desperdícios.

O Código de Processo Civil determina alguns deveres que as partes, sejam públicas ou privadas, devem obedecer. O MP também pois é parte processual. Deve, por exemplo, evitar a litigância temerária, aquela que não tem a menor plausabilidade. Aquela que não traz dados, argumentos suficientes para que o juiz considere e aceite a ação.

Não são poucos os magistrados que estão cada dia mais aplicando multas e penalidades às partes por lide temerária e litigância de má-fé. É uma espécie de auto defesa dos próprios magistrados para que não seja a justiça usada contra a justiça.

Aliás, alguns juízes já têm, diante de petições superficiais e não documentadas, quase ideológicas, intimado o Ministério Público para que adéquem os fundamentos da petição inicial. Ou dela desista. Do contrário, considera-a inepta. Para ali. Encerra-se o processo. Ou seja, o procurador tem a obrigação de não ser temerário.

Quando se inicia uma ação, seja procurador ou advogado, a máquina da justiça é acionada.

Esta máquina é um serviço público. Este serviço custa dinheiro. Custa salários, tecnologia, material, espaço físico. Quem custeia esses gastos é o patrimônio público. E quem custeia o patrimônio público é o contribuinte. Recursos de impostos.

Todo servidor tem que zelar por tal patrimônio. Evitar que corra risco. Desperdício. Daí por que não se pode ser temerário. Não se pode com a res publica, e neste caso a res publica é o direito de peticionar, ser arriscado, imprudente, perigoso.

Assim como o engenheiro público sofreria uma ação do MP se gastasse mais cimento do que o necessário em sua obra, assim também o procurador não pode gastar o seu direito de peticionar indevidamente. Pois implica em custos injustos para as partes, para a outra parte, para o Poder Judiciário, e para o próprio Ministério Público.

Não fazer juízos temerários, que impliquem em gastos públicos desnecessários, é, sem dúvida, um dos limites legais do MP enquanto parte processual.

Situações como essas, em vários países, resultam em paralização do processo e condenação da parte por sua imprevidência. Quando a parte é privada, a condenação por litigância de má-fé recai sobre o advogado ou seu representado.

No processo onde a parte é pública, a responsabilidade, isto é, a multa a ser paga, recai sobre o Estado, ou melhor, sobre o Tesouro Nacional. Somente posteriormente recairá sobre o agente responsável pela temeridade.

Essa é uma lacuna que estimula o servidor a assumir mais riscos nos ajuizamentos. Esse debate é do interesse da sociedade. É o debate do aperfeiçoamento das instituições democráticas. E por ser do interesse da sociedade, é do interesse do próprio Ministério Público.



PATOS, ONDE HAVIA UMA LAGOA (3)

Santa Terezinha, Pb

Escrever acerca do Homem e das Coisas e de suas relações. Existirão Coisas ou tudo, além do Homem, nada mais é que um sonho seu? E se este Universo nada mais for que um átomo dentre ilimitados outros de um Universo inconcebível que, por sua vez, é um átomo de outro Universo inimaginável, tudo isso em escala infinita?

Enquanto o carro avançava Sertão adentro, no rumo de Cajazeiras, nossa próxima etapa, ladeado pela vegetação típica do semi-árido aqui e acolá matizada por um ipê-roxo ou juazeiro ou quixabeira especialmente frondosos, e pelos serrotes despidos e enfeitados com pedras esculpidas aleatoriamente que faziam ondular a paisagem, divagávamos acerca da relevância da pesquisa que fazíamos e mergulhávamos na Metafísica.

Mas a metafísica cansa e deprime, o mais das vezes, tamanha a vastidão daquilo que ela contém e tamanha nossa incapacidade. Voltamos ao concreto. O oceano bravio de questões que se tornou nosso assunto de viajem fez-nos correr em busca de um Porto Seguro: o dia-a-dia, o cotidiano, o detalhe mágico do andar felino do camponês que se prontificou, sem nos conhecer, a ir conosco em busca de um ex-vereador que, segundo ele, “sabia tudo” acerca de Santa Terezinha, Município a vinte quilômetros de Patos, onde tínhamos ido procurar o rastro de um tio de Massilon. Nada encontramos. Somente esse andar felino, o português arcaico, a cidadezinha pequeníssima, a sensação de absoluta irrelevância de qualquer pressa. Não por outra razão ao falar em pressa diz o sertanejo que “o apressado é agoniado do juízo”.

O “sabe-tudo” nada sabia. Ouvira falar que, antigamente... E coçava o rosto, empurrava o chapéu de couro para trás da cabeça e deixava o olhar vagando pelo cercado onde um menino tangia cabras para algum destino incerto.

Até logo, até logo, muito obrigado. Muito obrigado ao pessoal do Cartório que nada encontrando do que nos procurávamos fez encontrar outra pista. Muito obrigado a Dona Madalena, da Secretaria da Diocese de Patos. A senhora é tão boa, tão gentil, tão atenciosa, quanto é magra, pequenininha, delicada. E perfumada – a “Alma de Flores” – e elegante, naquela elegância anacrônica de moça velha que dedicou sua vida a secretariar Sua Excelência Reverendíssima, o Bispo Diocesano. E organizada, com seu birô impecável, onde duas caixetas, uma para “recebido”, outra para “devolvido”, cumpria a burocracia temporal da Igreja, sua face terrena e humana, a “Cidade dos Homens” que se contrapõe à “Cidade de Deus” da qual nos deu a conhecer o grande Santo Agostinho.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"PARIS REVIEW PERGUNTA, HEMINGWAY RESPONDE

Entrevista com Ernest Hemingway


Escrito por George Plinton

Trechos da entrevista foi concedida a George Plinton da revista Paris Review e publicada no Brasil pela Companhia das letras no volume 2 do livro Os escritores (1989), que reúne as entrevistas históricas da revista francesa com vários escritores de primeira linha.

Pergunta: As horas que o senhor dedica à escrita propriamente dita são agradáveis?

Hemingway: Muito.

Pergunta: Poderia falar um pouco sobre esse processo? Em que período trabalha? O senhor segue uma programação estrita?

Hemingway:Quando estou trabalhando em um livro ou um conto, escrevo diariamente de manhã, a partir da hora em que surge a primeira luz. Não tem ninguém para perturbar, é fresco, ou mesmo frio. Começo a trabalhar e vou esquentando conforme escrevo. Leio o que fiz no dia anterior e, como sempre paro num trecho a partir do qual sei o que vai acontecer, prossigo desse ponto. Escrevo até chegar a um momento em que, ainda não tendo perdido o gás, posso antecipar o que vem em seguida; paro e tento sobreviver até o dia seguinte, para voltar à carga. Se começo às seis da manhã, digamos, posso ir até meio-dia, ou interromper o trabalho um pouco antes. A interrupção dá uma sensação de vazio, como quando se faz amor com quem se gosta. E ao mesmo tempo não é um vazio, mas um transbordamento. Não há nada que o atinja, nada acontece, nada tem sentido até o dia seguinte, quando você faz tudo de novo. Difícil é viver a espera até o dia seguinte.

Pergunta: Consegue tirar da cabeça um projeto, seja ele qual for, quando está longe da máquina?

Hemingway:Claro. Mas é preciso disciplina para se fazer isso, e essa disciplina se conquista. Tem de ser assim.

Pergunta: O senhor reescreve alguma coisa ao reler o que escreveu no dia anterior? Ou isso vem depois, quando já está tudo pronto?

Hemingway:Eu sempre reescrevo, na manhã seguinte, o trecho do dia anterior. Naturalmente, quando acabo, repasso tudo outra vez. E tem-se mais uma chance de corrigir e reescrever quando outra pessoa datilografa, e se vê o texto passado a limpo, datilografado. A última oportunidade é nas provas. É bom ter tantas chances diferentes.
Pergunta: Quantas vezes reescreve um texto?

Hemingway: Depende. Reescrevi o final de A farewell to arms, a última página, trinta e nove vezes, até ficar satisfeito.

Pergunta: Por quê? Havia algum problema técnico? O que o preocupava?

Hemingway: Pôr as palavras do jeito certo.

Pergunta: Essa releitura que recupera a "seiva" o "gás"?

Hemingway:A releitura me coloca no ponto exato onde tem que haver a continuação, dando a noção de que tudo está tão bom quanto possível. A seiva sempre está em algum lugar.

Pergunta: Mas existem momentos em que a inspiração não vem de jeito nenhum?

Hemingway: Sem dúvida. Mas ao parar num ponto em que sabia o que viria depois, posso ir em frente. Desde que consiga começar, tudo bem. O gás aparece.

Pergunta: Thornton Wilder fala de recursos mnemônicos que ajudam o escritor a saber a quantas anda o seu dia de trabalho. Ele diz que uma vez o senhor contou que apontou vinte lápis.

Hemingway:Acho que nunca cheguei a ter vinte lápis ao mesmo tempo. Gastar sete lápis n. 2 é um bom dia de trabalho.

Pergunta:Pode citar alguns dos lugares que considera mais propícios para trabalhar? O hotel Ambos Mundos deve ter sido um deles, a julgar pelo número de livros que escreveu lá. Ou, na sua opinião, o ambiente tem pouca influência sobre o trabalho?

Hemingway: O Ambos Mundos, em Havana, foi um lugar muito bom para se trabalhar. O Finca é um lugar fantástico, ou melhor, foi. Mas eu trabalho bem em qualquer lugar. Quer dizer, consigo trabalhar tão bem quanto me é possível nas circunstâncias mais variadas. Telefone e visitas são inimigos mortais do trabalho.
Pergunta: É necessário ter estabilidade emocional para se escrever bem? O senhor me disse uma vez que só conseguia escrever bem quando estava apaixonado. Poderia se estender um pouco mais nesse assunto?

Hemingway:Mas que pergunta! Nota dez pela tentativa. Você consegue escrever sempre que as pessoas deixam você em paz e não interrompem. Quer dizer, consegue se for duro o bastante com relação a isso. Mas, com toda certeza, escreve-se melhor quando se está apaixonado. Se você estiver de acordo, prefiro não me estender sobre esse assunto.

Pergunta: E a questão da segurança financeira? Pode prejudicar a qualidade do que se escreve?

Hemingway: Se ela vem relativamente cedo e você ama a vida tanto quanto o seu trabalho, é preciso ser muito forte para resistir às tentações. Uma vez que escrever tenha se tornado seu maior vício e seu maior prazer, só a morte pode acabar com isso. A segurança financeira, então, é uma grande ajuda, já que evita que você fique se preocupando. A preocupação destrói a capacidade de escrever. Uma doença incomoda, na medida em que gera uma preocupação subconsciente, minando suas reservas.

Pergunta: Na sua opinião, qual o melhor treino intelectual para o aspirante a escritor?

Hemingway:Digamos que ele estivesse pensando em sair e se enforcar, porque chegou à conclusão de que escrever bem é tremendamente difícil. Neste caso, deveria cortar a corda sem piedade, de forma a se ver obrigado, pelo seu próprio eu, a escrever o melhor possível pelo resto da vida. Pelo menos teria a história do enforcamento para começar.

Pergunta: E sobre as pessoas que seguem a carreira acadêmica? Acha que os muitos escritores que mantêm cargos acadêmicos comprometeram suas carreiras literárias?

Hemingway: Depende do que você considera comprometer. Tem o mesmo sentido de "uma mulher comprometida"? E o compromisso de um estadista? Ou é o compromisso que você firma com o dono da mercearia ou com o alfaiate, no qual se estabelece que você paga um pouco mais daqui a alguns dias? O escritor que consegue escrever e lecionar deve ser capaz de fazer as duas coisas. Muitos escritores competentes provaram que isso é possível. Eu não conseguiria, sei disso, e admiro aqueles que têm capacidade para tanto. Mas acho que a vida acadêmica pode pôr um ponto final na experiência mais ampla, externa, e que provavelmente isso limitaria o conhecimento do mundo. O conhecimento, no entanto, exige responsabilidade do escritor, e faz com que escrever se tome ainda mais difícil. Tentar escrever algo que tenha valor permanente é uma ocupação que exige péríodo integral, mesmo que no processo em si sejam gastas apenas apenas algumas horas por dia. Pode-se comparar o escritor a um poço. Existem muitos tipos de poços, como de escritores. Mas o importante é que o poço tenha uma água boa, e é melhor tirar um pouco todos os dias do que esvaziá-lo de uma só vez, e ficar esperando que ele se encha novamente. Sei que estou fugindo da pergunta, mas essa pergunta não era muito interessante.

Pergunta: Recomendaria o trabalho jornalístico aos escritores jovens? A sua experiência no Kansas City Star foi útil?

Hemingway:No Star se era forçado a aprender a escrever sentenças informativas simples. Isso é útil para qualquer um. O trabalho jornalístico não prejudica o jovem escritor e pode até vir a ajudá-lo se ele cair fora a tempo. Esse é um dos clichês mais velhos que conheço e peço desculpas por isso. Mas quando se fazem as velhas perguntas de sempre, deve-se estar preparado para receber as velhas respostas de sempre.

Pergunta: Escreveu uma vez no Transatlantic Review que a única razão pela qual trabalhou com jornalismo era por ser bem pago. E disse: "E quando se destroem coisas importantes, escrevendo-se sobre elas, é preciso receber um bom dinheiro por isso". Acha que escrever é uma espécie de autodestruição?

Hemingway: Não me lembro de ter escrito isso algum dia. Mas me parece idiota e violento o bastante para eu ter dito, só para não ter que ficar roendo as unhas e dar uma declaração sensata. Com toda certeza eu não acho que escrever seja uma espécie de autodestruição, se bem que o jornalismo, depois de um certo ponto, pode vir a se tornar uma autodestruição diária para um escritor sério e criativo.

Pergunta: Na sua opinião, o estímulo intelectual da companhia de outros escritores contribui de alguma forma para o escritor?

Hemingway:Sem dúvida.

Pergunta: Na Paris dos anos 20, o senhor tinha algum "sentimento de grupo" com relação aos outros estritores e artistas?

Hemingway:Não. Não existia nenhum sentimento de grupo. Sentíamos respeito uns pelos outros. Eu respeitava muitos pintores, alguns da minha idade, outros mais velhos - Gris, Picasso, Braque, Monet, ainda vivos na época e escritores: Joyce, Ezra Pound, o que havia de bom em Stein...

Pergunta: Quando está escrevendo, alguma vez já se viu influenciado pelo que estava lendo na época ?

Hemingway:Não, desde a época em que Joyce estava escrevendo Ulysses. Não foi uma influência direta. Mas naqueles dias, quando as palavras que conhecíamos nos eram interditas, e tínhamos que brigar por uma única palavra, a influência do trabalho de Joyce mudou tudo, e fez com que pudéssemos nos livrar das restrições.

Pergunta: Outros escritores lhe ensinaram alguma coisa sobre a arte de escrever? Ainda ontem o senhor estava me dizendo que Joyce, por exemplo, não suportava falar sobre o assunto.

Hemingway:Junto a pessoas de seu próprio ramo, você normalmente fala dos livros de outros escritores. Quanto melhores forem os escritores menos vão falar sobre o que eles mesmos escrevem. Joyce era um grande escritor e só explicava o que estava fazendo a imbecis. Acreditava que os outros escritores que respeitava eram capazes de entender o que ele fazia no momento em que o lessem.

Pergunta: Parece que o senhor tem evitado a companhia de outros escri tores há anos. Por quê?

Hemingway: Isso é mais complicado. Quando se escreve, quanto mais fundo se vai, mais sozinho se fica. A maioria dos antigos e melhores amigos morre. Outros se mudam.. Você não os encontra mais a não ser em raras ocasiões, mas escreve e mantém o mesmo contato de antes, como se estivessem juntos num café, como nos velhos tempos. Trocam-se cartas cômicas, às vezes descaradamente obscenas e irresponsáveis, e é quase o mesmo que conversar. Mas você fica mais sozinho, porque é assim que tem de trabalhar, e o tempo para trabalhar fica cada vez menor, e, se você desperdiça esse tempo, sente que cometeu um pecado para o qual não existe perdão.

Pergunta: Já tocou algum instrumento musical?

Hemingway: Costumava tocar violoncelo. Minha mãe me tirou da escola um ano inteiro, para que eu estudasse música e contraponto. Achava que eu tinha jeito, mas eu não tinha o menor talento. Tocávamos música de câmara ­ alguém tocava violino; minha irmã tocava viola e minha mãe, piano. Eu tocava violoncelo pior que qualquer outra pessoa na face da Terra. E claro, naquele ano fiquei livre para fazer outras coisas também.

Pergunta:Relê os escritores de sua lista? Twain, por exemplo?

Hemingway: É preciso dar um prazo de uns dois ou três anos com Twain. Você grava muito as histórias. leio um pouco de Shakespeare todo o ano.Sempre Lear. É só ler i fico mais estimulado.
Pergunta: A leitura é, então, uma ocupação e um prazer constantes?

Hemingway:Vivo lendo livros - todos que aparecem. Faço um certo racionamento, de forma a ter sempre algum de reserva.

Pergunta: Quer dizer então que um conhecimento profundo das obras das pessoas em sua lista ajuda a preencher o "poço" de que falou há pouco? Ou foram uma ajuda consciente no desenvolvimento das técnicas de redação?

Hemingway:Fizeram parte do aprender a ver, a ouvir, a pensar, a sentir e a não sentir, e a escrever. O poço está onde está seu gás. Ninguém sabe do que ele é feito, muito menos você. Você já sabe se está com ele ou não, se vai ter que esperar até que ele venha novamente.

Pergunta: O senhor admitiria a existência de símbolos em seus romances?

Hemingway:Acredito que existam símbolos, já que os críticos continuam a encontrá-los. Se não se importa, não gosto de falar sobre símbolos, e nem que me façam perguntas sobre isso. Já é bastante difícil escrever livros e contos, e ainda por cima lhe pedem para ficar explicando o sentido. Isso também acaba tirando o emprego dos explicadores. Se cinco ou seis, ou mais explicadores profissionais podem dar conta da coisa, por que eu iria me meter? Leia tudo que escrevo só pelo prazer da leitura. Qualquer outra coisa que venha a encontrar será a medida daquilo que você trouxe à leitura.

Pergunta: Essas perguntas que abordam a criação artística são realmente uma chateação.

Hemingway:Uma pergunta inteligente não deve ser nem um prazer nem uma chateação. Mas ainda acho que é muito desagradável para o escritor falar sobre como ele escreve. Escreve para ser lido com os olhos e nenhuma explicação ou dissertação deveria ser necessária. Pode ter certeza que existe muito mais no que se escreve do que aquilo que se lê numa primeira leitura e, por ser assim, não é função do escritor explicar o que escreve ou organizar excursões, como um guia turístico, através da região mais difícil de sua obra.

Pergunta:Poderia dizer quanto de esforço consciente de elaboração entrou no desenvolvimento do seu estilo pessoal?

Hemingway: Essa é uma pergunta cansativa e exige muito tempo para ser respondida. Se você passasse dois dias respondendo, ficaria tão consciente de si mesmo que não conseguiria mais escrever. Eu diria que aquilo que os amadores chamam de estilo geralmente é apenas a inevitável falta de jeito da piimeira tentativa de se fazer algo que até então nunca havia sido feitô: Quase nenhum dos novos clássicos se parece com os antigos. No início, as pessoas só consegem ver a falta de jeito. Depois isso não é mais tão perceptível. Quando se revela uma falta de jeito ímpar, as pessoas pensam que isso é estilo e muitas passam a copiar. O que é Jamentável.

Pergunta: Como se apresenta em sua mente a concepção de um conto? O tema, o enredo, algum personagem muda conforme vai escrevendo?

Hemingway: As vezes sei a história. As vezes vou compondo conforme escrevo e nem tenho idéia de como vai ficar. Tudo muda conforme o desenroIar. É isso que faz o movimento, que faz a história. As vezes o movimento é tão lento que parece que não há movimento algum. Mas sempre há mudança e sempre há movimento.

Pergunta: É assim também com o romance, ou o senhor elabora todo um plano antes de começar e segue rigorosamente esse plano?

Hemingway:For whom the bell tolls foi um problema que tive de enfrentar diariamente. Em princípio sabia o que ia acontecer. Mas inventava o que acontecia a cada dia.

Pergunta: The green hills of Africa, To have and have not e Across the river and into the trees começaram todos como contos e acabaram se transformando em romances? Se foi esse o caso, essas duas formas são tão semelhantes que o escritor pode passar de uma para a outra sem ter que rever por completo o tratamento dado?

Hemingway:Não, isso não é verdade. The green hills of Africa não é um romance, foi uma tentativa de escrever um livro absolutamente fiel à verdade, para ver se o contorno de uma região e o esquema de um mês de ação poderiam, se apresentados de maneira verídica, se equiparar a uma obra fictícia. . Depois de tê-lo escrito, escrevi dois contos, "The snows of Killimanjaro" e "The short happy life of Francis Macomber". Esses contos, inventei com base no conhecimento e na experiência que havia adquirido naquele mesmo mês de longas caçadas do qual tentei dar um relato fiel em The green hills. To have and have not e Across the river and into the trees começaram, os dois, como contos.

Pergunta: Acha fácil passar de um projeto literário para outro, ou o senhor segue direto num só projeto, para acabar o que começou?

Hemingway: O fato de estar interrompendo um trabalho sério para responder a essas perguntas prova que sou tão idiota que merecia receber um castigo terrível. E vou receber. Não se preocupe.

Pergunta: Vê-se competindo com outros escritores?

Hemingway:Nunca. Costumava tentar escrever melhor do que certos escritores já falecidos, aqueles que julgava terem realmente valor. Já há um bom tempo venho apenas tentando fazer o melhor que consigo. As vezes tenho sorte e escrevo melhor do que posso.

Pergunta: Acha que a força de um escritor diminui conforme ele envelhece? Em The green hills of Africa o senhor diz que os escritores norte-americanos com uma certa idade se transformam em "vovozinhas".

Hemingway:Não sei de nada disso. Pessoas que sabem o que fazem deveriam permanecer em atividade desde que suas cabeças continuassem em atividade. Nesse livro a que se referiu, se você olhar direito, vai ver que eu estava falando horrores sobre a literatura norte-americana com um austríaco completamente sem humor, que estava me forçando a conversar, quando o que eu queria era fazer outra coisa. Fiz um relato exato dessa conversa. Não para fazer pronunciamentos imorredouros. Uma boa porcentagem das opiniões é bem razoável.

Pergunta: Até agora não discutimos personagens. Os personagens de suas obras são, sem exceção, tirados da vida real?

Hemingway:Claro que não. Alguns vêm da vida real. A maioria você inventa a partir do conhecimento, da compreensão e da experiência com pessoas.

Pergunta: Poderia dizer alguma coisa sobre o processo de transformar um personagem real num personagem fictício?

Hemingway: Se fosse explicar como isso às vezes é feito, ia parecer um manual para advogados de acusação.

Pergunta:Faz alguma distinção - como faz E. M. Forster - entre personagens "planos" e "redondos"?

Hemingway: Se você descreve alguém, é plano, é como uma fotografia, e, no meu ponto de vista, uma falha. Se você cria esse alguém a partir daquilo que você conhece, ele terá todas as dimensões.

Pergunta:Dos seus personagens, quais são os que vê com um carinho especial?

Hemingway:Isso daria uma lista enorme.

Pergunta: Então gosta de reler seus próprios livros -sem sentir que existem coisas que gostaria de mudar?

Hemingway:Leio, às vezes, para me sentir incentivado quando está difícil escrever; então me lembro que sempre foi difícil e de como às vezes era quase impossível.

Pergunta: Como dá nome aos personagens?

Hemingway: O melhor que posso.

Pergunta: Os títulos lhe ocorrem enquanto está no processo de criação da história ?

Hemingway:Não. Faço uma relação de títulos depois que termino o conto ou o livro - às vezes chega a uns cem. Então começo a eliminar alguns, às vezes todos.

Pergunta:Faz isso até mesmo com uma história cujo título foi sugerido pelo próprio texto -"Hills like white elephants", por exemplo?

Hemingway:É. O título vem depois. Conheci uma garota em Prunier, onde eu tinha ido para comer ostras antes do almoço. Fiquei sabendo que ela havia abortado. Me aproximei e conversamos, não falamos sobre o aborto, mas no caminho de volta para casa fui pensando na história, não almocei, e passei a tarde escrevendo o conto.

Pergunta:ArchibÍlld MacLeish falou de um método de transmitir experiência que, segundo ele, o senhor desenvolveu quando cobria jogos de beisebol nos dias do Kansas City Star. O método consistia simplesmente na transmissão da experiência através de pequenos detalhes que, relatados tintim por tintim, acabavam dando a idéia do todo, fazendo com que o leitor ficasse consciente daquilo que ele já sabia, mas em seu subconsciente...

Hemingway:Essa historinha é apócrifa. Nunca cobri beisebol para O Star. O que Archie tentava se lembrar era de como eu estava tentando aprender, em Chicago, por volta de 1920, e de como eu procurava pelas coisas despercebidas, que revelavam a emoção, coisas como o jeito pelo qual o jogador de beisebol jogava a luva para trás sem olhar onde ela havia caído, o chiado da sola do lutador sobre a lona encerada, a tonalidade cinzenta da pele de Jack Blackburn assim que ele saía de uma luta, e outras coisas que eu anotava, como um pintor faz esboços. Você via a cor estranha de Blackbum, as cicatrizes de navalha e o jeito como ele acertava um homem, antes de saber a sua história. Eram essas as coisas que lhe davam emoção antes que você soubesse da história.

Pergunta: Já descreveu algum tipo de situação do qual não tivesse nenhum conhecimento pessoal?

Hemingway:Essa é uma pergunta muito estranha. Por conhecimento pessoal você quer dizer experiência? Nesse caso, a resposta é sim. Um escritor, se tem algum valor, não descreve. Ele inventa ou cria a partir do conhecimento pessoal e impessoal, e às vezes parece ter um conhecimento inexplicado que poderia vir da experiência familiar e racial já esquecida. Quem ensina o pombo­correio a voar como ele voa; de onde o touro tira a sua bravura, ou o cão de caça o seu faro? Isso é uma elaboração, ou uma condensação, daquilo que conversamos em Madri, quando a minha cabeça não estava muito confiável.

Pergunta: Poderia dizer até que ponto, na sua opinião, o escritor deve se preocupar com os problemas sócio-políticos de sua época ?

Hemingway:Cada um tem sua própria consciência, e não deveriam existir regras sobre como a consciência deve funcionar. Tudo que você pode ter cer teza a respeito de um escritor com preocupações políticas é que, se a obra dele permanecer viva, você vai ter que ignorar a política quando o ler. Muitos dos chamados escritores engajados mudam de ideologia a toda hora. Isso é muito estimulante para eles e para suas resenhas político-literárias. As vezes têm até que reescrever seus pontos de vista e na maior pressa. Talvez dê para se respeitar esse tipo de atitude como uma forma de se buscar a felicidade.
Pergunta:Existiria alguma intenção didática em sua obra?

Hemingway: Didática é palavra que tem sido usada erroneamente e se estragou. Death in the afternoon é um livro instrutivo.

Pergunta: Tem-se falado que os escritores trabalham apenas com uma ou duas idéias no decorrer de suas obras. Diria que a sua obra reflete uma ou duas idéias?

Hemingway: Quem disse isso? Parece simples demais. O homem que disse isso provavelmente tinha só uma ou duas idéias.

Pergunta: Bem, talvez fosse melhor colocar as coisas da seguinte maneira: Graham Greene disse que existe uma paixão predominante, que confere a um conjunto de obras a unidade de um sistema. Se não me engano, o senhor mesmo disse que grandes textos nascem de um senso de injustiça. Considera isso um fator importante, que o romancista seja dominado dessa maneira por tal senso de injustiça?

Hemingway: Graham Greene tem uma facilidade para fazer declarações que eu não tenho de modo algum. Para mim seria impossível tecer generaliza.; ções sobre um conjunto de obras, um bando de perdizes ou um pelotão de gansos. Mesmo assim, vou arriscar uma generalização. Um escritor sem senso de justiça e injustiça ganharia mais editando o anuário de uma escola para crianças excepcionais do que escrevendo romances. Outra generalização. Viu só? Até que elas não são tão difíceis, quando são óbvias o suficiente. O dom mais importante para um bom escritor é um detector interno de baboseiras à prova de choque. Esse é o radar do escritor e todos os grandes escritores ti veram um.

Pergunta: Para encerrar, uma pergunta essencial: como escritor criativo que é, qual considera ser a função da sua arte? Por que a representação do fato, em vez do fato em si?

Hemingway:Por que ficar quebrando a cabeça com isso? De coisas que aconteceram, de coisas que estão acontecendo, e de todas as coisas que você conhece e de todas aquelas que não pode conhecer, você cria algo com a jmagi­nação, algo que não é uma representação, mas sim uma coisa inteiramente nova, mais real do que qualquer coisa viva e real, e você dá vida a essa coisa, e se fizer isso bem o bastante, você lhe confere imortalidade? por isso que se escreve, não por qualquer outra razão que possa vir a conhecer. Ma!' e todas aque­las razões que ninguém conhece?

VIDA CARA!

Do blog do Nassif:

07/02/2010 - 09:43

A vida cara das metrópoles.

Por Fernando Augusto – RJ.

Moradores de SP e Rio perdem poder de compra em dez anos, diz pesquisa.

Evolução da renda não acompanhou aumento do preço dos produtos.

iPod custa 56 horas de trabalho no Rio; em NY, valor equivale a 10 horas.

Paula Leite.

Do G1, em São Paulo.

Quem já não teve a sensação de que as coisas estão ficando cada vez mais caras, mesmo quando os dados oficiais de inflação indicam que os preços não subiram tanto assim? Ou que muita coisa é bem mais barata quando comprada no exterior? Esse sentimento do brasileiro tem razão de ser, dizem especialistas.

Dados mostram que o poder de compra em São Paulo e no Rio de Janeiro teve queda nos últimos anos, ou seja, as pessoas têm que trabalhar mais para comprar os mesmos produtos.

O banco suíço UBS faz a cada três anos uma pesquisa comparando o custo de vida em mais de 70 cidades do mundo. Mas, além de converter o preço de vários produtos e serviços para dólar e fazer um ranking das cidades mais caras, a pesquisa também faz comparações levando em conta quanto os trabalhadores do local ganham, em média. Assim, conseguem comparar o poder de compra dos cidadãos das várias cidades.

“Os preços medidos em reais subiram consideravelmente nos últimos dez anos em São Paulo e no Rio de Janeiro. O preço da nossa cesta de bens e serviços subiu aproximadamente 135% entre 2000 e 2009”, diz Thomas Berner, economista norte-americano que faz parte do grupo de pesquisa do UBS.

“Como o rendimento médio não acompanhou a velocidade do aumento de preços, o poder de compra doméstico caiu e ainda está abaixo do que era em 2000, ou seja, as pessoas têm que trabalhar mais para comprar a mesma cesta de produtos. O Rio e São Paulo ficaram mais caros do ponto de vista de seus cidadãos”, explica o especialista.

Comparando o poder de compra nas diferentes cidades, São Paulo ficou em 45º lugar no ano passado, entre 73 cidades, enquanto o Rio de Janeiro ficou em 48º. Usando o poder de compra em Nova York como referência, com o valor de 100 pontos, em São Paulo esse número é menos da metade: 45,2 pontos.

No Rio, o valor encontrado é 38,6 pontos. Isso significa que um paulistano médio consegue, com seu rendimento, consumir menos da metade do que um nova-iorquino consegue.

Outra comparação famosa feita pelo UBS é o chamado “índice Big Mac”, que mede quanto tempo uma pessoa tem que trabalhar para comprar o famoso sanduíche. Em Nova York, esse tempo é de 14 minutos; em São Paulo, são necessários 40 minutos, e no Rio, 51 minutos.

O UBS também fez uma comparação semelhante, calculando o tempo necessário para comprar um iPod Nano. Para o novaiorquino médio, são 9 horas de trabalho, enquanto o paulistano precisa de 46,5 horas e o carioca, 56 horas.

Crescimento:

Os economistas acreditam que o próprio crescimento econômico é um dos vilões dos preços. “O crescimento econômico geralmente leva a preços mais altos. Então, a expansão forte da economia brasileira nos últimos anos deve ser uma das principais explicações para a alta dos preços”, diz Berner.

Para Robson Gonçalves, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio, um dos fenômenos que explica o fato de muitos produtos serem caros no Brasil é uma mudança no patamar de desenvolvimento do país. “Quando os países chegam a um nível médio de desenvolvimento, a vida urbana fica mais cara”, diz ele. “Muitos itens ainda são elitizados no Brasil. Um exemplo é o vinho, visto como um produto de elite, que por isso tem um sobrepreço.”

O especialista explica que isso acontece porque, com o crescimento econômico e uma maior mobilidade social, há um aumento rápido da demanda, já que as pessoas querem consumir produtos a que não tinham acesso antes.

A tendência, porém, é que isso mude conforme o país continuar crescendo. “Vai quebrar esse consumo esnobe. As pessoas vão passar a exigir qualidade e preço baixo”, diz Gonçalves.

No entanto, o economista faz a ressalva de que, nos grandes centros urbanos, os serviços são muito caros. “Essa pesquisa tem um viés, é muito influenciada pelo fato de São Paulo e o Rio serem cidades muito grandes. A pesquisa não retrata as cidades médias, no interior de São Paulo e norte do Paraná, por exemplo, que têm renda elevada e onde o custo de vida é muito mais baixo.”

Otto Nogami, professor do Insper (ex-Ibmec São Paulo), concorda que a vida nos grandes centros é mais cara. “Nas metrópoles existe um excesso de demanda e poucos produtos, porque falta infraestrutura”, diz ele.

O economista do Insper acredita que uma das causas dos preços altos no país é o chamado “custo Brasil”. Para ele, as empresas brasileiras são muito menos produtivas que as estrangeiras e por isso o custo dos produtos é maior. Outros fatores como alta carga tributária e alto custo da mão-de-obra (devido a encargos trabalhistas) também influenciam, diz ele.

“Nos Estados Unidos, por exemplo, um Honda Civic custa em torno de US$ 15 mil. Aqui custa R$ 65 mil. Existe uma desproporcionalidade que é reflexo desses fatores”, diz ele.

Compras lá fora:

Muitos brasileiros já perceberam há tempos os preços bem mais baixos de certos produtos no exterior e tratam de fazer compras lá fora quando possível.

A securitária Flávia Lopes Pereira, 33 anos, foi aos Estados Unidos em setembro e comprou todo o enxoval de sua filha, que deve nascer no próximo dia 20. “Mega vale a pena. Comprei coisas lindas e baratas”, diz ela, que estima ter gasto cerca de US$ 3.500.

“Comprei roupinhas para quando a bebê tiver 3 meses até os 2 anos, além de carrinho com bebê conforto, brinquedos, acessórios”, conta ela. “Lá você compra um kit com macacão, babador, várias peças, por US$ 17, ou as peças avulsas por US$ 3, US$ 5. Aqui uma roupinha bonita custa R$ 80”, diz Flávia. O carrinho de bebê que ela queria custa cerca de R$ 2.000 aqui; ela achou por US$ 199 nos EUA.
 
O fisioterapeuta David Homsi, 33 anos, gosta de comprar roupas, sapatos, relógios e eletrônicos quando vai aos EUA, o que costuma fazer duas vezes ao ano. “Aqui custa cerca de 300% mais caro. Da última vez comprei dois sapatos Prada. Uma calça jeans, que você paga US$ 140 no SoHo, em Nova York, aqui custa R$ 1.200.”

Homsi diz que já comprou roupas e sapatos de grife no Brasil, mas só “na liquidação da Daslu”. Se não pudesse comprar no exterior, ele diz que consumiria os produtos de que gosta em menor quantidade.

"IDIOTA IMPERFEITO"

mariafro.wordpress.com

José Roberto Arruda

Comentário de Ricardo Noblat em seu blog:


"Idiota imperfeito
 
A essa altura, por tudo que se sabe, é quase irresistível a tentação de chamar de corrupto o governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal.
 
Ele foi apontado pela Polícia Federal como “chefe de uma organização criminosa” responsável pelo mensalão do DEM. Mas a polícia diz o que quer, escreve o que quer e não vai presa. No meu caso...
 
Nunca fui preso pelo que escrevi. Muito do que escrevi foi censurado na época da ditadura militar de 64. Quanto a ser processado, o depoente reconhece que foi mais de uma dezena de vezes.

Condenado? Só uma – e por negligência do meu advogado. Paguei R$ 20 mil como forma de reparar a honra de um ex-deputado distrital de Brasília preso mais tarde por grilagem de terra.

Outro dia, Arruda distribuiu nota afirmando que me processará por que eu o acusara de oferecer R$ 4 milhões para cada deputado disposto a votar contra seu impeachment.
Leu errado.

Publiquei no blog que a oferta partiu do “esquema interessado” em mantê-lo no cargo. Fazem parte do “esquema” empresários de Brasília que lucraram milhões com obras superfaturadas.

Acho até que Arruda não sabia...

Se cedesse à tentação de taxá-lo de corrupto seria processado na hora. Como só cabe à Justiça resolver essa parada - se quiser e quando quiser -, por ora prefiro me referir a Arruda como um idiota.

Um rematado idiota. Ou melhor: um idiota imperfeito.

Idiota é quem comete uma burrice por descuido ou ignorância. O imperfeito idiota comete a burrice porque se julga inteligente demais, esperto demais.
Logo depois de se eleger governador em 2006, Arruda soube que havia sido filmado recebendo dinheiro vivo durante a campanha.
Quem lhe contou?

Durval Barbosa, o autor do filme, responsável pelo pagamento de despesas da campanha de Arruda. Na ocasião, Durval se desculpou: “Eu tenho de me defender...” O filme permaneceria inédito se ele ganhasse um cargo no futuro governo.
 
Não um cargo qualquer. Mas um com direito a foro privilegiado. Durval coleciona processos desde o governo de Joaquim Roriz, seu mentor. Quem tem foro privilegiado costuma escapar mais facilmente de condenações. Daí...

Daí que Arruda nomeou Durval secretário de Relações Institucionais. E ao invés de isolá-lo em seguida, deixou-o cuidar do pagamento do mensalão. Durval passou então a filmar todo mundo.

Em setembro último, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal aceitou mais um processo contra Durval. Arruda prometera dar um jeito para que o processo fosse recusado.

Sentindo-se traído, Durval abriu sua filmoteca, sacou de lá 30 vídeos e estragou para sempre a vida de Arruda. Foi a primeira idiotice cometida pelo governador - confiar em quem o chantageara antes e estocava munição para detoná-lo.

A segunda monumental idiotice: tentar se entender com o jornalista Edson Sombra, o amigo de Durval que mais o incentivou a despachar Arruda para o inferno.
Sombra diz que Arruda lhe ofereceu R$ 3 milhões. Em troca, ele deveria desqualificar os vídeos dizendo que foram adulterados.

Arruda alega que foi procurado por Sombra atrás de favores, e que se recusou a atendê-lo.

Ambas as versões podem conter furos – mas a de Arruda é uma peneira.

O deputado Geraldo Naves (DEM) confirma que visitou Sombra a pedido de Arruda. Confirma também que entregou a Sombra um bilhete escrito por Arruda onde ele suplica a certa altura: “Quero ajuda”.

Wellington Moraes, secretário de Comunicação do governo, confirma que Arruda e Sombra conversaram por telefone.
Que Arruda aja como um idiota imperfeito é problema dele. Mas que queira nos fazer de idiotas, alto lá!

Primeiro o dinheiro filmado com ele era para a compra de panetones. Agora, tudo não passou de mais uma armação de Durval.
 
Foi o sobrinho e secretário-particular de Arruda que providenciou o dinheiro entregue a Sombra.

Corrupção, não, mas idiotice é crime imprescritível. Só por isso Arruda merecia estar preso.



domingo, 7 de fevereiro de 2010

"A PRIMEIRA DAMA DE NATAL"


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Maria Boa

Por José Correia Torres Neto

Natal, década de 40 - A cidade fervilhava de militares americanos e brasileiros. Aviões, hidroaviões, Catalinas e Jeeps patrulhavam a vida dos natalenses.
Instalava-se na cidade a paraibana de Campina Grande, Maria de Oliveira Barros (24/06/1920 - 22/07/1997). Começava neste ínterim a história da mais conhecida casa de tolerância do estado (do país ou do mundo?).



Entre as movimentações na Ribeira, nas pedidas de Cuba Libre no saguão do Grande Hotel, nas notícias pelas Bocas de Ferro, na Marmita, em Getúlio e em Roosevelt e na nova geração de meio americanos e meio brasileiros, lá estava Maria Barros enaltecendo-se na Cidade do Natal como a proprietária do melhor (ou maior) cabaré.



Tornou-se conhecida como Maria Boa. Mesmo com pouco estudo ela despertou o gosto por música, cinema e leitura. O seu "estabelecimento" era o refúgio aos homens da cidade, com residência fixa ou, simplesmente, por passagem por Natal e servia de referência geográfica na cidade.



Jovens, militares e figurões acolhiam-se envoltos as carnes mornas das meninas de Maria Boa. Muitas mães de família tiveram que amargar, em silêncio, a presença de Maria Boa no imaginário de seus maridos em uma época de evidente repressão sexual.



Vários fatos envolveram a personagem. Um episódio muito comentado foi a pintura realizada pelos militares em um avião B-25. Um dos mais famosos aviões da 2a Guerra Mundial, os B-25 eram identificadas com cores características de cada Base Aérea. Os anéis de velocidade das máquinas voadoras da Base Aérea de Salvador eram pintados com a cor verde. Os aviões de Recife, com a cor vermelha, e os de Fortaleza, com a cor azul. Para a Base de Natal foi convencionada a cor amarela.



Os responsáveis pela manutenção dos aviões em Natal imaginaram também que deviam ser pintados no nariz do avião, ao lado esquerdo da fuselagem, junto ao número de matricula, desenhos artísticos de mulheres em trajes de praia. Autorizada pelo Parque de Aeronáutica de São Paulo, a idéia foi colocada em prática. Pouco tempo depois, os B-25 de Natal surgiram na pista com caricaturas femininas e alguns até com nomes de mulheres. Alguns militares da Base escolheram o B-25 (5079), cujo desenho se aproximava mais da imagem de Maria Barros. Outras aeronaves também receberam nomes como "Amigo da Onça" e "Nega Maluca".



Quem custou a acreditar neste fato foi a própria Maria. Até que alguns tenentes decidiram levá-la até à linha de estacionamento dos B-25 logo após o jantar para não despertar a atenção dos curiosos. Ela constatou o fato. As lágrimas verteram de seus olhos quando viu à sua frente, pintada ao lado do número 5079, a inscrição "Maria Boa".



O mito "Maria Boa" rendeu trabalhos acadêmicos o de Maria de Fátima de Souza, intitulado: "A época áurea de Maria Boa (Natal-RN 1999)". O trabalho aborda o "fenômeno da prostituição infanto/juvenil, suas conseqüências e causas no desenvolvimento físico e psicossocial de crianças e adolescentes (...). Com o aprofundamento dos estudos percebemos o importante papel dos bordéis na prostituição, bem como o fechamento dos mesmos (...). Chegamos então ao cabaré de Maria Boa, já fechado.



Tivemos, assim, a oportunidade de conhecer um pouco da saga da Sra. Maria de Oliveira Barros, uma profissional do sexo, com grande importância na história da prostituição de adultos, ou ainda, tradicional; das histórias contadas a seu respeito chamou-nos atenção para sua representação social, seu "mito" e sua ligação com o imaginário masculino. Com isso, passamos a averiguar mais profundamente uma participação na sociedade da época e buscamos reconstruir parte de sua história enquanto meretriz, cafetina, e proprietária da mais famosa casa de prostituição que o RN já conheceu."



O Professor Márcio de Lima Dantas publicou 2002 o texto "Retratos de silêncio de Maria Boa". "(...) Para além da atitude ética de proteger sua família, o que faz parecer um jogo com a hipocrisia da sociedade, penso que, na atitude de se manter reservada, se inscreve outro aspecto digno de ser ressaltado. Falo do mito que entorna a personagem Maria Boa, de certa maneira, criada e ritualizada por ela mesma, dimensão de fantasia para além do empírico vivenciado. (....) Astuciosamente se fez conhecer por "Maria", o antropônimo mais comum no universo feminino, genérico e pouco dado a divagações semióticas. Ironicamente é o nome da mãe de Jesus... Quem não tinha conhecimento no Estado de uma proprietária de um requintado lupanar, e que se chamava Maria, a Boa. O mito, da constituição do éter, era aspirado por todos, preenchendo necessidades, ocupando lugares no espírito, imprimindo fantasias nos adolescentes, despertando em jovens mulheres às aventuras da carne, engendrando adultérios imaginários. Integrava, assim, o patrimônio individual e coletivo. (...)"



Eliade Pimentel, no artigo "E o carnaval ficou na memória" destaca a presença de Maria Barros nos carnavais de Natal: Lá pela década de 50, os desfiles passaram a acontecer na avenida Deodoro da Fonseca. Maria Boa desfilava com Antônio Farache em carros conversíveis, "



Em 2003 o cantor Valdick Soriano, quando entrevistado por Everaldo Lopes, registrou que quando esteve em Natal, pela primeira vez, cantou até para as meninas de "Maria Boa".



Maria Barros é história. Mesmo sendo paraibana é a Primeira Dama (ou anti-Dama) de Natal. Impera nas lembranças dos seus contemporâneos e se faz presentes nos prostíbulos que ainda resistem nas periferias da cidade ou travestidos de casas de "drinks" nos bairros mais nobres.



Ela é citada no filme For All - O Trampolim da Vitória (vencedor do Festival de Gramado em 1997) de Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz. O filme retrata a cidade do Natal em 1943 quando a base americana de Parnamirim Field, a maior fora dos Estados Unidos, recebe 15 mil soldados, que vão se juntar aos 40 mil habitantes da cidade.



Para a população local a guerra possuiu vários significados. A chegada dos militares americanos alimentou fantasias de progresso material, romance e, também o fascínio pelo cinema de Hollywood. Em meio aos constantes blecautes do treinamento antibombardeio, dos famosos bailes da base aos domingos, dos cigarros americanos, da Coca-Cola e do vestuário estavam os sonhos natalenses. Sem questionamentos, "Maria Boa" foi uma das principais atrizes no elenco desse belicoso teatro. A Primeira Dama Maria Boa...

A ÁRVORE DO CONHECIMENTO


O conhecimento pode ser imaginado como uma árvore cujo tronco repouse no chão ancestral onde o homem pré-histórico caçava, coletava e, graças à primitiva linguagem junto à incipiente capacidade cooperativa, se tornou uma espécie apta a sobreviver. Não é uma imagem precisa, tampouco absolutamente correta, mas cumpre seu propósito de ser assimilada.

Os problemas com os quais aqueles nossos antepassados se depararam e as soluções engendradas para ultrapassá-los formaram galhos, ramos, folhas, em ritmo cada vez maior e mais denso, em uma escala inimaginável. Cada folha, como se há de perceber, avança rumo ao infinito desconhecido por um rumo que sugere uma proporcionalidade inversa: quanto mais específico o conhecimento por ela simbolizada, mais ampla e profunda a vastidão a lhe servir de contraponto.



Se focarmos essa imagem em busca de nitidez podemos acompanhar o desenvolvimento da Matemática, como exemplo, desde os primitivos números naturais até o cálculo, hoje, de tensores hiperespaciais, essas projeções hipotético/geométricas interdimensionais. Podemos acompanhar, também, a evolução da linguagem como lembrada acima até a Babel dos tempos modernos, constituída de signos bem diferenciados – desde os sinais utilizados pelos surdos-mudos, passando pelo informatiquês e o idioma dos guetos, presídios, e subúrbios, até a lógica do sub-universo computacional.



Aliás, o mundo da informática é muito exemplificativo dessa teoria da árvore do conhecimento. No início, meados do século XX, um computador ocupava salas; hoje, os “chips” guardam quantidades colossais de informações. Que revolução não há de ser o surgimento do “chip” quântico!



A imagem da árvore do conhecimento é possível graças à Teoria da Evolução de Darwin. É, digamos, um corolário. Podemos perceber que o Conhecimento diferencia-se e se especializa na medida em que avança. Sabemos, hoje, quase tudo acerca de quase nada em cada “nicho” do conhecimento, embora tudo quanto descartado por não ter sobrevivido ao choque entre idéias forme uma contrapartida em negativo da realidade. Contrapartida que agrega: aquilo que descartamos não precisa ser outra vez cogitado.



Assim essa árvore é finita e limitada (conceitos distintos) no espaço e tempo conhecidos, mas infinita e ilimitada quanto as suas possibilidades de crescimento. O futuro, para onde ela avança é construção do passado, e como cada estrada amplia a quantidade de lugares onde se há de chegar, cada problema resolvido no processo civilizatório implica na ampliação de universos de saber. Ou seja, o tempo, cada vez mais, dá razão a Darwin.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

OPERAÇÃO SATIAGRAHA

Do blog do Nassif

06/02/2010 - 09:53


A visão sobre o STF

Por Fabio

Há uma noticia do ESTADO revelando que quase 40% dos brasileiros acharam que o STF foi tendencioso (não foi neutro) no julgamento do Palocci.


Por que não tem uma pesquisa como essa com relação às liminares que o Gilmar Mendes deu para livrar o Daniel Dantas da cadeia?

Comentário

Não se tenha dúvida. A Operação Satiagraha entrará para a história como um divisor de águas, tanto na imagem do Supremo – com o relevante tema dos direitos individuais sendo avacalhado pela atuação de Gilmar Mendes – quanto na da velha mídia.