quarta-feira, 17 de agosto de 2011

II CONGRESSO NACIONAL DO CANGAÇO E III SEMANA REGIONAL DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

Programação do II Congresso Nacional do Cangaço e III Semana Regional de História do CFP/UFCG – 2011

Dia 24/outubro/2011 (segunda-feira)

08:00 às 11:00 Credenciamento

Inscrições (encerramento)

19:30 às 21:30 Cerimônia de Abertura

Conferência de Abertura: Profª Drª Luitgard Oliveira Cavalcanti Barros (UERJ)

Dia 25/outubro/2011 (terça-feira)

08:00 às 09:30 Minicursos

09:30 às 12:00 Apresentação Cultural

14:00 às 17:00 Grupos de Trabalho (GT)

19:00 às 21:00 Mesa Redonda 1 - A representação do cangaceiro nos livros de história

Profª Ana Lúcia Granja de Souza

Prof. Ms. Emanuel Pereira Braz

Profa. Dra. Maria Lucinete Fortunato

21:00 às 22:30 Minicursos

Dia 26/outubro/2011 (quarta-feira)

08:00 às 09:30 Minicursos

09:30 às 12:00 Encontro com autores Alcino Alves Costa (SE) e Honório de Medeiros (RN)

14:00 às 17:00 Grupos de Trabalho (GT)

19:00 às 21:00 Mesa Redonda 2 – Identidades constitutivas do ser nordestino

Profa. Dra. Mariana Moreira Neto

Prof. Ms. Joel Carlos de Souza Andrade

Juliana Pereira Ischiara

21:00 às 22:30 Minicursos

Dia 27/outubro/2011 (quinta-feira)

08:00 às 09:30 Minicursos

09:30 às 12:00 Apresentação Cultural

14:00 às 17:00 Grupos de Trabalho (GT)

19:00 às 21:00 Mesa Redonda 3 – As reações da igreja romanizada sobre a atuação de beatos e conselheiros

Prof. Dr. Lemuel Rodrigues da Silva

Prof. Ms. Marcílio Lima Falcão

Prof. Dr. Elri Bandeira de Sousa

21:00 às 22:30 Minicursos

Dia 28/outubro/2011 (sexta-feira)

08:00 às 09:30 Minicursos

09:30 às 12:00 Conferência – Nordeste e nordestinidades.

Profa. Dra. Rosa Maria Godoy Silveira (UFPB)

14:00 às 17:00 Grupos de Trabalho (GT)

Assembleia Geral da SBEC

19:00 às 20:30 Minicursos

20:30 às 22:00 Cerimônia de Encerramento

Apresentação Cultural

terça-feira, 16 de agosto de 2011

SÓ RINDO 2 EM NATAL


Carlos Santos lança SÓ RINDO 2 em Natal, no La Tavola, no dia 25 de agosto.

Para quem não sabe, o La Tavola fica na Avenida Rodrigues Alves, 44

Bem no coração de Petrópolis.

O lançamento é às 19:00 hrs.

domingo, 14 de agosto de 2011

O QUE RESTARÁ AOS VELHOS

sairagontijo.blogspot.com


Honório de Medeiros

Todos os dias nos quais caminho vejo sentado, em uma pequena praça ao lado do percurso, um velhinho solitário a olhar para o tempo.

Às vezes, ao seu lado, fica sua acompanhante, uma moça, que o trás e o leva de volta, também em silêncio.

Breve restará, aos que não são jovens, esse silêncio eloquente, o murmúrio dos iguais, a palavra paga.

Ou, quem sabe, saber ouvir.

"SUA EXCELÊNCIA É O RÉU, E NÃO O JUIZ"

Marcelo Gomes e Rafael Galdo, O Globo
"O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Calandra, chegou, no fim da manhã de [ontem], à Divisão de Homicídios (DH), na Barra da Tijuca, para acompanhar a investigação da morte da juíza Patrícia Acioli, assassinada na madrugada de sexta-feira quando chegava em casa, em Niterói . Ele estava acompanhado do presidente da Associação de Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (AMAERJ), o desembargador Antônio Siqueira. Calandro revelou que 12 pessoas são suspeitas de envolvimento com o crime:

- Desses 12 suspeitos de participar do atentado à nossa colega, com certeza, grande parte deles deve ter condenações anteriores.
(...) Mais cedo o desembargador Calandra criticou as leis penais brasileiras:
- A juíza Patrícia Acioli é uma vítima das organizações criminosas, de um sistema processual penal onde a Sua Excelência é o réu, e não o juiz, onde as pessoas cometem um crime de morte e saem pela porta da frente junto com a família da vítima. As pessoas só são punidas quando o Supremo Tribunal Federal (STF) chega".

UM MOTIM DE CONSUMIDORES EXCLUÍDOS EM LONDRES



'Foi um motim de consumidores excluídos', diz sociólogo Zygmunt Bauman
Publicada em 12/08/2011 às 22h29m
Fernando Duarte (fduarte@oglobo.com.br) 
LONDRES - Um dos mais influentes acadêmicos europeus, já descrito por alguns comentaristas mais entusiasmados como o mais importante sociólogo vivo da atualidade, o polonês Zygmunt Bauman viu nos distúrbios de Londres uma aplicação prática de suas teorias sobre o papel do consumismo na sociedade pós-moderna. Um assunto que o acadêmico, radicado em Londres desde 1968, quando deixou a Polônia após virar persona non grata para o regime comunista e por conta de uma onda de anti-semitismo no país, explorou bastante em conjunção com as discussões sobre desigualdade social e ansiedade de quem vive nas grandes cidades.
Aos 85 anos, autor de dezenas de livros, como "Amor líquido" e "O mal-estar da pós-modernidade", Bauman não dá sinais de diminuir o ritmo. Há cinco anos, no lançamento de "Vida para Consumo", uma de suas obras mais populares, fez uma turnê por vários países. Em entrevista ao GLOBO, por e-mail, ele afirma que as imagens de caos na capital britânica nada mais representaram que uma revolta motivada pelo desejo de consumir, não por qualquer preocupação maior com mudanças na ordem social.
- Londres viu os distúrbios do consumidor excluído e insatisfeito.
O GLOBO: O quão irônico foi para o senhor ver os distúrbios se concentrando na pilhagem de roupas e artigos eletrônicos?
ZYGMUNT BAUMAN: Esses distúrbios eram uma explosão pronta para acontecer a qualquer momento. É como um campo minado: sabemos que alguns dos explosivos cumprirão sua natureza, só não se sabe como e quando. Num campo minado social, porém, a explosão se propaga, ainda mais com os avanços nas tecnologias de comunicação. Tais explosões são uma combinação de desigualdade social e consumismo. Não estamos falando de uma revolta de gente miserável ou faminta ou de minorias étnicas e religiosas reprimidas. Foi um motim de consumidores excluídos e frustrados.
O GLOBO:Mas qual a mensagem que poderia ser comunicada?
BAUMAN: Estamos falando de pessoas humilhadas por aquilo que, na opinião delas, é um desfile de riquezas às quais não têm acesso. Todos nós fomos coagidos e seduzidos para ver o consumo como uma receita para uma boa vida e a principal solução para os problemas. O problema é que a receita está além do alcance de boa parte da população.
O GLOBO:Trata-se de um desafio a mais para as autoridades na tarefa de acalmar os ânimos, não?
BAUMAN: O governo britânico está mais uma vez equivocado. Assim como foi errado injetar dinheiro nos bancos na época do abalo global para que tudo voltasse ao normal - isso é, as mesmas atividades financeiras que causaram a crise inicial - as autoridades agora querem conter o motim dos humilhados sem realmente atacar suas causas. A resposta robusta em termos de segurança vai controlar o incêndio agora, mas o campo minado persistirá, pronto para novos incêndios. Problemas sociais jamais serão controlados pelo toque de recolher. A única solução é uma mudança cultural e uma série de reformas sociais. Senão, a mistura fica volátil quando a polícia se desmobilizar do estado de emergência atual.
O GLOBO:Jovens de classe baixa reclamam demais da falta de oportunidades de trabalho e educação. O senhor estranhou não ter visto escolas pegando fogo, por exemplo?
BAUMAN: Qualquer que seja a explicação dada por esses meninos e meninas para a mídia, o fato é que queimar e saquear lojas não é uma tentativa de mudar a realidade social. Eles não se rebelaram contra o consumismo, e sim fizeram uma tentativa atabalhoada de se juntar ao processo. Esses distúrbios não foram planejados ou integrados, como se especulou no início. Tratou-se de uma explosão de frustração acumulada. Muito mais um porquê que um para quê.
O GLOBO:Mesmo o argumento de protesto contra os cortes de gastos do governo não deve ser levado em conta?
BAUMAN: Até agora, não percebi qualquer desejo mais forte. O que me parece é que as classes mais baixas querem é imitar a elite. Em vez de alterar seu modo de vida para algo com mais temperança e moderação, sonham com a pujança dos mais favorecidos.
O GLOBO:Mais problemas são inevitáveis, então?
BAUMAN: Enquanto não repensarmos a maneira como medimos o bem-estar, sim. A busca da felicidade não deve ser atrelada a indicadores de riqueza, pois isso apenas resulta numa erosão do espírito comunitário em prol de competição e egoísmo. A prosperidade hoje em dia está sendo medida em termos de produção material e isso só tende a criar mais problemas em sociedades em que a desigualdade está em crescimento, como no Reino Unido.

sábado, 13 de agosto de 2011

A VIDA DÁ E A VIDA TIRA



Bárbara de Medeiros

A vida dá e a vida tira. Não abra a boca para reclamar das situações, das perdas, das ironias do destino. Situações vividas, por pior que sejam nunca serão esquecidas, e todas as experiências vividas nessa vida hão de nos tornar pessoas melhores. Para cada perda, há um ganho, nem sempre igual ou equivalente, mas um ganho. As ironias do destino, ah, o destino… Aquele filho da mãe que pensa que pode nos convencer a burlar cada uma e todas as regras de Deus… As ironias do destino são como o hálito de um homem pela manhã após uma noite de festa. Os dissabores da vida, pois, apesar de bela, há dissabores na vida, são o que tornam a vida, na falta de palavra melhor, mais saborosa. E veja! O destino há de mudar. E não há ninguém melhor para mudá-lo que você, você mesmo. Você, com todos os seus erros e defeitos, com suas causas, culpas e esperanças. Você é poderoso. Basta acreditar, e, assim, realizar.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

"É PRECISO DUVIDAR DE TUDO", SOREN KIERKEGAARD

Honório de Medeiros

“Na cidade de H... viveu há alguns anos um jovem estudante chamado Johannes Climacus, que não desejava, de modo algum, fazer-se notar no mundo, dado que, pelo contrário, sua única felicidade era viver retirado e em silêncio”.


Assim começa “Johannes Climacus”, ou “É preciso duvidar de tudo”, delicioso texto do escritor – meio esquecido – Soren Kierkegaard, nascido em 1813, e morto quarenta e dois anos depois, em 1855, um típico excêntrico pensador do século XIX.

O pequeno livro que tenho em mãos é da Martins Fontes, Coleção “Breves Encontros”, que vem publicando opúsculos de autores variados, como Schopenhauer, Cícero, Sêneca, Schelle, dentre outros menos conhecidos, como o Abade Dinouart e Tullia D’Aragona.



O prefácio e notas, cuidadoso no que diz respeito ao levantamento da história da produção do texto e a um leve perfil do autor, está assinado por Jacques Lafarge – me é desconhecido – e a tradução por Sílvia Saviano Sampaio professora da PUC/SP, doutora em filosofia pela USP com a tese “A subjetividade existencial em Kierkegaard”, e membro da AMPOF – Associação Nacional de Pós-graduandos em Filosofia.


“É preciso duvidar de tudo” é dividido em três partes: Introdução, Pars Prima e Pars Secunda. A parte primeira contém três capítulos e o primeiro é uma afirmação: “A filosofia moderna começa pela dúvida”. A segunda parte, contendo somente um capítulo, Kierkegaard lhe nomina interrogando: “O que é duvidar?”



A mim, particularmente, interessou a seguinte proposição: “a filosofia começa pela dúvida”, que é o Capítulo II, da Pars Prima. A conclusão de Kierkegaard, falando por intermédio de Clímacus é de que essa proposição se situava fora da filosofia e a ela era uma preparação. De fato.

No próprio texto Kierkegaard alude ao fato de os gregos ensinarem, aludindo a Platão, no Teeteto, que a filosofia começa com o espanto. Eu traduziria espanto por perplexidade, mas talvez haja diferenças sutis entre os dois termos que não valem a pena serem esmiuçadas.



Muito mais recentemente Karl Popper propôs que o conhecimento novo – não apenas a filosofia – começasse por problemas. Esses problemas surgiriam do contraste entre o conhecimento antigo, a expectativa de que regularidades, padrões, se mantivessem, inclusive em relação a nós mesmos. Ao nos depararmos com algo que o nosso conhecimento antigo não explica, há uma fragmentação nas nossas expectativas e surge, então, o problema a ser solucionado. Observe-se que tal teoria pressupõe a existência do conhecimento inato adquirido geneticamente, no que é referendada pela teoria da seleção natural de Darwin.



Em certo sentido estão certos não somente os gregos, como Kiekergaard e Popper. Resta saber se, no início, há o espanto com a dúvida, ou a dúvida com o espanto.

Cabe também observar que Johannes Climacus é um típico caso de personagem acometido da Síndrome de Bartleby, algo que, com certeza, interessaria bastante à Enrique Vila-Matas.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O ESTADO DE PROCUSTO

Procusto e Teseu


François Silvestre


 Foi nesta Quarta-Feira, dia 03 de Agosto, que o Senado da República cumpriu o ritual de sabatinar o indicado Procurador Geral. Que no presente caso é a recondução do atual ocupante da insigne função.

 Acompanhei com interesse pela TV-Senado, pois hoje eu sou quase especialista em Ministério Público. Tudo que diz respeito à instituição merece o meu atento, pois somos velhos conhecidos de embates opostos. Desde os tempos da Ditadura, quando um deles me acusou num julgamento da Auditoria Militar do Recife, ali perto do Cais de Santa Rita, e dos confrontos do Tribunal do Júri, ainda como estudante de Direito. Lembro-me daquele Promotor Público lambendo as estrelas dos oficiais, brilhosas pelo kaol. E “provando” juridicamente que um discurso meu na Casa do Estudante de Natal causara sério risco à Segurança Nacional. Fui condenado.

 Voltemos à sabatina. Dentre as queixas dos sabatinadores, houve uma de um Senador que deu conta de várias ações movidas contra ele por um Promotor Público e alguns colegas deste, resultado de vingança pessoal. É que o Senador, quando Presidente da Assembleia Legislativa do seu Estado, demitira a mulher do Promotor.

 Dentre falas claras e insinuações, houve de tudo um pouco. Sempre preservando a figura do nosso conterrâneo, que será reconduzido ao posto.

 Então foi a vez do Senador Demóstenes Torres, que é membro do Ministério Público. Ainda da ativa, apenas licenciado.

 Esperei uma defesa ostensiva e furiosa por parte do Senador. Demóstenes Torres dispensa apresentação. Político conservador, que se define à Direita, merece o respeito dos pares e eleitores. Sério, honesto, dotado de bagagem jurídica, ele é uma referência na luta contra a corrupção. Isso é notório.

 E aí ele abre sua fala. “Senhor procurador. Está difícil defender o Ministério Público”. Assim mesmo. Ipsis verbis. Fez a ressalva que todos fazemos. Preservar a instituição. Mas não estender essa defesa a todos os seus membros. Ainda minoria. O talibanato do MP.

 E debulhou as causas desse açodamento, que vai da politização, retaliações e busca de notoriedade. O mesmo que eu já venho dizendo há muito tempo. E que depõe contra a Instituição, merecedora do nosso respeito.

 Procusto era um hospedeiro de Ática. Ao levar para sua estalagem o hóspede desavisado, oferecia-lhe uma cama de ferro para o descanso. Só que ele adaptava o hóspede ao leito. Se fosse menor, esticava-lhe as pernas com uma máquina de tortura. Se fosse maior, cortava-lhe as pernas. E tinha duas camas. O que nunca deixava um hóspede naturalmente acomodado.

 É o Estado que nós temos. Cama curta da segurança, saúde, educação. Cortam nossas pernas ou esticam ao tamanho do desespero. Os promotores adaptam os processos ao sabor da patologia social por holofotes. Se as informações forem muitas, ao ponto de beneficiar o acusado, eles cortam parte das provas. Mesmo que omitam a verdade. Se as informações forem insuficientes, eles esticam a prova, mesmo no estuário da mentira. O Estado Procusto do fascismo.

Té mais. 

A ACADEMIA CEARAMIRINENSE DE LETRAS E ARTES CONVIDA

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

DE FÁTUOS E FÚTEIS



Honório de Medeiros


                                      Um certo conhecido meu confunde necessidade de auto-afirmação com vaidade. E, dessa forma, por banalizar aquilo que o recato considera mal-gosto, pretende não somente o beneplácito de todos quantos instados a lhe dar a atenção da qual é tão carente, como – suprema ousadia – transformar sua atitude em algo perfeitamente natural.

                                      Não por outra razão sua própria mentira terminou sendo, por ele mesmo, acreditada. Aquilo que é pura e simplesmente necessidade de alto-afirmação passa, por vaidade, e esse, digamos assim, pequeno desvio de conduta - segundo os padrões morais dos discretos - por algo até mesmo louvável.

                                      No final das contas, aquilo que para meu conhecido é vaidade termina sendo para os outros – não todos, é pena, por que alguns sucumbem ao modelo que ele exporta – pura chatice. Somos condenados a ver e ouvir demasiadamente as firulas da astúcia de sua pacholice quando gostaríamos, isso sim, de deixarmos o ambiente ser preenchido pela suave diversidade da contribuição, na conversa, de cada um.

                                      Esse tipo de chato, em dias como os de hoje, são quase onipresentes: a nossa realidade é, em decorrência da lógica do capital, excessivamente competitiva, e os homens, surpreendidos com o excesso de competidores nos ambientes sociais, tendem ao artificialismo da sofisticação para demarcar seu espaço, agindo como ansiosos pavões emplumados, por não saberem o que é requinte. Ao silêncio, optam pelo barulho; à discreção, preferem o exibicionismo; à gentileza, escolhem a arrogância.

                                      Assim é que nos tempos de hoje os homens se comportam cada vez mais como caricaturas de si mesmos. Exibem ostensivamente os sinais de sua ascensão social e se tornam plenos de vulgaridade em seu habitat superlotado. Tornou-se comum, por exemplo, a exibição grosseira do hábito de fumar charutos, quando tal não faz parte de nossa cultura; discutem vinhos, quando o costume de bebê-los não tem sequer uma geração em suas próprias famílias; expõem carros, roupas, festas e jóias, sem que sejam capazes de estabelecer a diferença entre o infinitivo e o gerúndio. Querem parecer "cidadãos do mundo" anunciando viagens à Europa e emudecem quando, em conversas, por essa ou aquela razão, lhes é exigido mais conhecimento do que a leitura de algumas orelhas de livros ou a leitura de jornais e blogs.

                                      Essa futilidade paga um preço – o desdém dos poucos para os quais eles nada mais são que atores de quinta categoria em uma peça de mau gosto em um teatro mambembe. E, embora pareçam ou não se incomodar, ou depreciem os críticos, a verdade é que a simplicidade de quem estabelece distância desse modus vivendi os desarma e desconserta.

 Dia desses um deslumbrado qualquer, ao chegar a uma roda, soube que comentavam acerca de um churrasco ao qual ele não se fizera presente. Imediatamente disse: “não sou homem de freqüentar churrascos, acho deselegante”. Alguém que escutava o ir e vir da conversa solta se virou para ele e retrucou: “meu caro, não há churrasco elegante ou deselegante, pela simples razão de uma coisa não ser feia ou bonita em si mesma; somos nós que damos elegância ou deselegância às coisas; tanto o é que cachaça, por exemplo, até pouco tempo, era bebida degradante, mas hoje é artigo de primeira grandeza na mesa de pessoas como você”. “Na verdade", continuou, "se você for elegante, torna igual o ambiente para o qual se destinou; se não o é, apenas se amolda ao ambiente e toma sua forma, como a água assume a do recipiente onde foi vertida”.


                                      E o nosso conhecido vaidoso, fátuo e fútil, sequioso de ser o centro das atenções, recolheu suas plumas de pavão sofisticado e murchou vencido pela simplicidade do argumento inesperado.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

ANTÍGONA E O DIREITO NATURAL

armonte.wordpress.com


François Silvestre

         Todos os mitos possuem várias versões. Assim como as lendas vão por veredas diferentes até o miolo da chegada ao quengo da imaginação.
         Na mitologia caldaica, bela e pouco conhecida, a deusa do amor, Ihsthar, ameaça Anhur, deus dos céus, de cortar por um segundo o condão do afeto, criando um hiato na sinfonia do erotismo universal. E com a ameaça consegue o benefício reivindicado.
         O mito de Antígona não foge à regra. São inúmeras versões. Porém todas, sem exceção, preservam o fato principal que move Sófocles no contexto da sua tragédia, onde o alvo é a pertinência ou não da desobediência ao tirano quando sua ordem se confronta com o Direito Natural.
         Fica no campo secundário a origem bastarda de Antígona, da união incestuosa de Édipo e Jocasta. Mais que incestuosa, relação que desafia todos os limites do puritano. Ou se os irmãos dela se mataram num conluio de terrível acerto macabro. Ou se eram mesmo inimigos, sendo Etéocles aliado do tirano Creonte, seu tio, e Polinice inimigo figadal do tio tirano. O certo é que se mataram.
         A Etéocles Creonte ofereceu funeral honroso, com todo o aparato que cabe ao enterro dos heróis. O tirano assim homenageava o sobrinho leal.
         Mas deixou ao relento, insepulto, o corpo de Polinice. E determinou, como ordem de Estado, que a ninguém era dado o direito de sepultar o sobrinho opositor.
         Não apareceu nenhum aliado de Polinice para desobedecer a ordem do tirano. Era Lei e tinha de ser cumprida. Até por que cada Lei se legitima na fonte de sua feitura. Nas tiranias o tirano é o constituinte. Nas democracias o constituinte é o Parlamento. Mesmo com toda a esculhambação das democracias. Como diz Vicente Pentelho de Alma “quanto mais esculhambada melhor democracia é”.
         Apareceu Antígona, irmã dos dois mortos. E decidiu que a lei do seu tio não poderia prevalecer sobre a ordem natural das coisas. O enterro comum dos mortos não se rege pela lei dos vivos. E só tiranos e ditadores ferem a determinação natural desse Direito que tem leis não escritas. Por isso a história nunca vai deixar em paz a memória de quem “desapareceu” corpos de oponentes políticos.  
         Antígona sepulta o irmão odiado. E vai pagar o preço da sua rebeldia, geradora de ódio muito maior contra si do que a ira do tirano ao rebelde morto.
         O Direito Natural independe da inscrição na palavra da lei. Mas acaba se transformando em norma por imposição das conquistas humanas nas lutas libertárias.
         É por isso que há direitos indisponíveis. Onde o indivíduo não pode abrir mão do que julga ser um direito seu. Não é. Não pode machucar-se nem no físico nem na honra. E exerce legítima defesa ao repelir qualquer dessas agressões.
         Cada um há de ser, no confronto com o Estado estúpido, a reencarnação de Antígona. E jogar o próprio risco na cara do tirano. Té mais.

sábado, 30 de julho de 2011

ASSIM É SE LHE PARECE



Honório de Medeiros 

                                      Alexandre, o Grande, tinha duas opções: tentar desatar o famoso “nó Górdio” e, em o tentando, jogar as regras do jogo até então existentes, ou fazer como ele fez: criar novas condições através das quais fosse obtido um resultado aceitável. Não houve hesitação. Com um golpe de espada o conquistador do mundo cortou o nó ao meio.

                                      Colombo colocou a questão: como fazer para colocar um ovo em pé? Mais uma vez era necessário que as regras do jogo, como postas, fossem transcendidas. Caso contrário, o problema persistiria “ad aeternum”. Ninguém conseguiu, mas ele mostrou como: quebrou o ovo e o colocou em pé.

                                      Se você é convidado a entrar em uma situação na qual as regras do jogo estão definidas e as aceita tal e qual lhe foram apresentadas, do ponto de vista estratégico seu adversário está com a iniciativa e dita o ritmo da partida. Não há como ser diferente. E essa vantagem é tão significativa, principalmente por que a maioria das vezes ditada por especialistas, que é difícil não acreditar na própria derrota.

                                      No mundo da política os atos e fatos acontecem como se todos os envolvidos estivessem jogando um jogo. Na realidade, é um jogo. E existem profissionais altamente capacitados nesse jogo, como em qualquer outro. E o jogo é tão duro, tão inclemente, tão complexo, que não é para qualquer um.

                                      Em certas situações, os perdedores de um determinado embate eleitoral em pouco tempo assenhoreiam-se da vitória do adversário. É quando o vencedor, embora vitorioso, cai no canto de sereia que seus adversários preparam e em pouco tempo está dançando a música que eles querem, no ritmo que desejam.

                                      Pense bem, amigo leitor: com a vitória eleitoral de Lula, o que as elites brasileiras perderam? Os tubarões financeiros internacionais deixaram de receber os mega-juros da dívida externa brasileira? Os bancos deixaram de obter lucros estratosféricos? Os verdadeiramente pilantras endinheirados estão pagando impostos ou na cadeia? Agora conclua: é ou não é verdade que Lula ganhou a eleição e os tubarães do capital financeiro continuam no Poder?

                                      A saída é agir como Alexandre, o Grande. Ou como Colombo. Embora em casos assim, no concreto, se torne mais difícil realizar esse salto de qualidade por que é preciso ser possuidor – o líder – de uma idéia de onde e como se chegar. Guardando as proporções, é algo como uma revolução: o líder diria – não aceito que me imponham essas regras, por que o povo me elegeu para criar outras!

                                      A verdade é que, no caso de Lula, por exemplo, ele não tem qualquer grandeza. Deram-lhe as roupas de rei, mas em pouco tempo ficou provado que elas eram muito, mas muito maior que a maior das esperanças a seu respeito. Ele apenas quis o Poder e sequer soube como mantê-lo decentemente. Lula poderia ter feito as grandes reformas que o Brasil clama há tanto tempo. Mas não. Optou, por um misto de esperteza de botequim misturada com filosofia de para-choque de caminhão, em apoiar uma única política pública consistente – o pagamento dos juros escorchantes da dívida externa. Mostrou-se pequeno, muito pequeno. Tão pequeno que chega a ser ridícula sua forçada comparação com JK que, para o bem ou para o mal, ousou criar as regras do jogo.


                                      Vamos ver o que dirá a história.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

FRANÇOIS VILLON (1431 - 1463?)


Sou coisa leve,
Como a folha da qual zomba o furacão.

...



Como o batel vagando sem piloto,
Como um pássaro errante pelos caminhos do ar,
Não me fixam nem as tintas nem as cordas.

...

A beleza das moças feriu meu peito.
As que não posso tocar, eu as possuo de coração.




sábado, 23 de julho de 2011

DE FALSOS SABICHÕES



Honório de Medeiros


                                 O brasileiro é folgado, sabemos.  Põe-se a pontificar acerca de qualquer assunto que lhe caia nas mãos. Não todos brasileiros, evidentemente. Alguns ficam chocados com essa atitude “chopp-com-batata-fritas”, essa persistência na superficialidade.

 Como um conhecido meu que observava, aturdido, em uma roda de bebidas, uma discussão travada a respeito de um assunto de natureza jurídica. Questão complexa, de Direito Constitucional. O bate-boca esquentava e esfriava e ele não entendia por que não lhe perguntavam como resolvê-la. Nada mais óbvio, tratava-se de um professor da disciplina.

                             No Brasil, com as exceções de praxe, ninguém quer ser tomado por ignorante, mesmo que o seja.  Evidente que há as exceções: alguns chegam até a se orgulhar de jamais ter lido nada, mas essa é a alternativa que lhe sobra para chamar o holofote para si.

Todos sabem tudo. E falam acerca de qualquer assunto com tal ar pontifical que deixaria um transeunte menos avisado perplexo com tamanha sabedoria.

Mecânica quântica? Controle difuso de constitucionalidade? O efeito do príon na interrupção do processo sináptico no Mal de Alzheimer? Favas contadas! Cada um dos integrantes da roda é capaz de falar horas acerca do assunto.

                             É bem verdade que esse mal acomete com mais profundidade bacharéis em Direito, políticos e jornalistas. Não os publicitários – o problema deles é outro, é acreditarem que são inteligentes.

 Tanto uns quanto outros, insignes leitores de capas de livros, desenvolvem, ao longo do tempo, uma rara capacidade de discorrer tudo acerca de nada. Uma palavra aqui, outra acolá, ambíguas, de conteúdo indeterminado, engatadas vagamente através de silogismos de pé quebrado, e eis o discurso pronto. 

E não adianta a contestação. Ela não é bem vinda. Pode até levar o contestador ao isolamento sob a pecha de chatice. O máximo que se pode fazer, e o que todo mundo faz, é manter fixo o olhar sobre o pontificador enquanto a mente divaga.

                             Evidente que esse discurso é secundado por uma perfomance corporal. E por testemunhos de ausentes em espírito. Leitor de capa de livro exige platéia. Quer ser o centro das atenções. Quer o holofote totalmente voltado para si. E assume, ao falar, os trejeitos próprios, naquilo que eles têm de caricaturesco, dos grandes mestres. E tome citação.

Pegam uma frase de Shakespeare, colhida no “Dicionário de Citações”, tirada do seu contexto, e vão embora com ela enfadar os outros. Alguns não sabem, sequer, o título do drama ou comédia de onde a frase foi pinçada.

                             Assim foi que certa vez um amigo meu conhecido por seu sarcasmo se aproximou de uma roda de Bacharéis quando um pontificador desses da vida citava Lênin – ora vejam só, Lênin – e uma sua obra denominada “Teses de Abril”.

 Meu amigo interrompeu: “você leu?” “Claro!”, respondeu o sabichão. “Naquela edição volumosa, de quase quinhentas páginas, traduzida do alemão?”, tornou a perguntar. “Exatamente ela.” “Bem que eu desconfiava”, disse, e se afastou com um sorriso irônico.

Para quem percebeu o sorriso e lhe procurou depois ele explicou: “nosso colega deve ter se enganado; o livro é fino, não fica em pé, e a tradução é do francês”.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

DA ARTE DE ROMPER UM GRANDE AMOR



Honório de Medeiros

Muito tempo depois a encontrei em um café, contemplando o mundo lá fora com aqueles seus olhos azuis maravilhosos através das volutas da fumaça do cigarro.

Após os cumprimentos de praxe, não resisti e lhe perguntei como sobrevivera ao fim do seu casamento, tão minuciosamente condenado ao fracasso, segundo sua própria avaliação, quando nos vimos pela última vez.

Ela sorriu, se espreguiçou como uma gata, tomou lentamente um gole de café e me perguntou se eu queria saber a história toda ou somente o desfecho, com algumas pinceladas óbvias como arremate.

Antes de lhe dizer que não dispensava os detalhes me lembrei que parte do seu fascínio era a administração do silêncio, e este nos induzia a supor regiões misteriosas do seu pensamento onde a fantasia bordava, junto com a realidade, situações fascinantes para quem soubesse ousar e tivesse coragem de receber.

Já naquele tempo ela reinava impune, a tripudiar das vãs tentativas dos conquistadores ávidos e tímidos admiradores, sem que as recusas constantes diminuíssem a admiração que granjeava.

Nela, nada se eximia de seduzir, mas mesmo assim um dia sucumbira a uma paixão inesperada e violenta, que a retirara do circuito das festas e badalações.

Desde o começo nós, seus amigos, percebêramos que não daria certo. Sutilmente sua liberdade fora sendo restringida – logo a dela, tão essencial a si.

Aos poucos, milímetro por milímetro, fora cedendo sem notar, encantada por uma proposta enleadora de construção do futuro a dois, mão a mão, através da imagem de uma ponte afetiva que terminaria no infinito.

Embora apaixonada foi através da persuasiva magia da visualização da fantasia de um amor único, daqueles que nutrem uma alma só em dois corpos distintos, que ocorrera a derrubada das suas últimas resistências.

Finalmente despertou e a ânsia de viver livre, solta, cobrou sua fatura.

Passou a sentir-se sufocada e a perceber as invisíveis amarras que lhe prendiam o vôo.

Queria ir embora, queria sumir, queria desaparecer, mas havia um obstáculo, um sério senão a impedir sua liberdade: o orgulho desmedido, o egocentrismo concentrado, a incontida auto-imagem que seu companheiro fazia de si mesmo. Não era possível que o relacionamento fosse desfeito sem que a explicação a ser dada para isso preservasse sua posição social e o alto conceito que fazia de sua própria imagem.

“Eu não podia dizer-lhe que ia embora por que o amor acabara; seu orgulho não aceitaria ser trocado por nada, por coisa alguma."

"Ele não admitiria nunca que não fora capaz de segurar-me e apaixonada, que eu nada mais sentia exceto um afeto meio dependente do alívio do afastamento definitivo."

"Tive, então, que criar uma paixão inexistente por outro e, pior, por alguém abaixo da escala de valores que ele prezava."

"Assim, me libertei, e ele pode dizer por aí, quando questionado, que eu havia sido uma aposta perdida porque mal avaliada; que eu fora incapaz de perceber a qualidade do sentimento que despertara; que eu fora levada a um nível incompatível com minha ausência de sofisticação; e, assim, depois, com o tempo, retornara, através de um "qualquer", ao mundo ao qual realmente pertencia”.

Disse isso e sorriu como se buscasse um cúmplice, algo para o qual eu já me destinara muito antes.