sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O RIO GRANDE DO NORTE NOS TEMPOS DOS CORONÉIS - IX

CONTINUAÇÃO...
 
Estamos em 1927. O Coronel Rodolpho Fernandes é o Prefeito de Mossoró, segunda maior cidade do Rio Grande do Norte. Mossoró rivaliza com Natal, a capital. Sua população, incluindo a do município, era de 20.300 habitantes. Natal alcançava 30.600, nos diz Raul Fernandes em “A Marcha de Lampião”; Editora universitária; Universidade Federal do Rio Grande do Norte; 1981; 2ª edição; Natal, Rn. A ascensão ao poder do Coronel revela o predomínio político que sua família, descendente de um português casado com uma filha do fundador de Martins, Francisco Martins Roriz, adquirira ao longo do tempo, e que se baseava, fundamentalmente, na exploração industrial da cultura do algodão.
 
Aqueles eram novos tempos, o Coronel o pressentia. O Sertão, através de José Augusto Bezerra de Medeiros granjeara, para si, o poder que os Maranhão, ricos usineiros do açúcar, entregaram lentamente aos coronéis proprietários de terra onde o algodão brotava e enriquecia. Mas esse mesmo poder, calcado na terra, cedia, agora, pro sua vez, espaço a uma burguesia que se firmava por intermédio da industrialização e do comércio em larga escala. Os Fernandes estavam à frente desse processo de mudança e iriam viver seu apogeu logo mais, após a vitoriosa campanha do Partido Popular contra Mário Câmara, com a eleição do médico Rafael Fernandes para dirigir os destinos do Rio Grande do Norte.
 
Enquanto não se consolidava de vez o poder nas mãos dos Fernandes, na capital seguidores de José Augusto olhavam com preocupação esse avanço político da família alto-oestana em Mossoró, líder inconteste do Oeste Potiguar, sob o comando de Rodolpho, e no Alto Oeste, cuja cidade principal, Pau dos Ferros, já era dominada pelo Coronel Adolpho Fernandes, seu primo. De Mossoró para dentro, até a fronteira com a Paraíba, portanto de Martins a Luis Gomes, os Fernandes dominavam. Em Apodi, embora o Coronel Chico Pinto não fosse Fernandes, era correligionário e amigo pessoal do Prefeito de Mossoró.
 
A oposição não descansava, era aguerrida e chegava até os salões do Palácio do Governo, onde auxiliares diretos de José Augusto o intrigavam junto a Rodolpho Fernandes e vice-versa. Em carta dirigida ao escritor Nertan Macedo, Paulo Fernandes, filho de Rodolpho, chega a ser enfático quanto a essa intriga entre os dois líderes políticos: “O Governador do Rio Grande do Norte, Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros e o seu chefe de polícia, Desembargador Manoel Benício de Melo, estavam à época, em franco dissídio com o prefeito de Mossoró (meu pai); O Sr. Mirabeau Melo, chefe da repartição do telégrafo em Mosssoró era irmão do chefe de polícia, e atuava como informante das coisas locais e porta voz do governo era um medíocre intrigante, inadequado para a missão que o destino lhe reservou pois tanto o governador do estado e seu chefe de polícia como o prefeito de Mossoró eram homens de bem e do mesmo partido político de modo só se compreende o dissídio entre eles em torno do problema de interesse público em virtude da ação maléfica de mexeriqueiros ” (...).
 
Tal oposição chegou ao cúmulo de tentar levar o Coronel Rodolpho, um homem sério, respeitado, ao ridículo, como nos lembra Paulo Fernandes na mesma carta: “As advertências à população e providências tomadas por meu pai eram exploradas pela oposição até com o ridículo. Chamavam-no, por exemplo, de velho medroso, por se preocupar com um possível ataque de Lampião à cidade” (...). Raul Fernandes confirma: “Adversários políticos e maledicentes desfrutavam, com vantagem, o receio do Prefeito.”
 
A par dessa situação política tensa, na qual vivia o Prefeito, o futuro parecia promissor: sua liderança em Mossoró era inconteste, a cidade crescia a olhos vistos sob sua administração, dois dos seus três filhos homens faziam medicina fora e voltariam, brevemente, para dar continuidade a seu legado político, e sua família era, naquele período, uma das mais ricas do Estado.
 
Mesmo assim o Coronel Rodolpho não descuidava. Conhecia bem os meandros da política interiorana. Não saía de sua lembrança a forma violenta através da qual seus parentes de Pau dos Ferros tomaram o poder naquela cidade. As histórias acerca do cangaço corriam de boca-em-boca pelas praças e ruas da cidade, sempre envolvendo coronéis e disputas políticas como pano-de-fundo. Notícias vindas do Acre davam conta das aventuras de Childerico Fernandes, o Guerreiro do Yaco, irmão do Coronel Adolpho Fernandes, repletas de violência. O Coronel Chico Pinto lhe punha a par dos desmandos de seus adversários que iriam redundar na invasão da cidade por Massilon e em seu assassinato anos depois. As estripulias de Massilon em Brejo do Cruz, agindo a mando de pessoas que também tinham interesses políticos em Apodi; as histórias oriundas do Cariri cearense, de deposição de Coronéis por outros Coronéis através das armas, tudo isso lhe trazia profunda preocupação.
 
Assim, pareceu-lhe particularmente preocupante algumas informações que pessoas a si ligadas por laços comerciais e afetivos lhe fizeram chegar aos ouvidos por aqueles dias do começo do ano de 1927. É como nos diz seu filho Raul Fernandes, na obra mencionada acima: “Na última quinzena de abril, de 27, a notícia veio à luz de modo concreto. Argemiro Liberato, de Pombal , escreveu ao compadre Rodolpho Fernandes sobre a pretensão dos chefes de bandidos. Dos remotos sertões de Pernambuco, da Paraíba e do Ceará surgiam indícios dos agenciadores da vergonhosa empreitada.”
 
Raul Fernandes diz mais a frente, em nota: “Ouvi de meu pai referências à missiva”. Quem agenciava essa empreitada? A mando de quem? Com qual objetivo oculto, escondido por trás da cortina de fumaça que era a invasão da cidade em busca de suas riquezas, agiam seus autores intelectuais? Com certeza Lampião não sabia do que se tramava contra Mossoró ou contra o Coronel Rodolpho Fernandes. Sérgio Dantas, em “Lampião e o Rio Grande do Norte”; Cartgraf Gráfica Editora; 1ª edição; 2005; Natal, Rn, é enfático quanto a isso, transcrevendo testemunho de Jararaca que ouvira as conversas do cangaceiro com o Coronel Isaías Arruda acerca do plano de invasão de Mossoró: “Lampião nunca tencionara penetrar nesse Estado porque não tinha aqui nenhum inimigo e se por acaso, para evitar qualquer encontro com forças de outros Estados, tivesse que passar por qualquer ponto do Rio Grande do Norte, o faria sem roubar ou ofender qualquer pessoa, desde que não o perseguissem.”
 
O Coronel Rodolpho Fernandes sabia mais que deixou transparecer naquele momento. Não falou a seus filhos acerca de tudo quanto estava por trás desse agenciamento que acontecia no Sertão paraibano e cearense; tampouco disse qualquer coisa a seus interlocutores, nas reuniões onde expôs a possibilidade de invasão da cidade por Lampião e os convocou para a defesa, que tenha sido registrado para a história. Pressentia, entretanto, que o ataque à cidade, se viesse a acontecer, ocultava outro plano, cujo objetivo era ele. Que outra explicação pode ser dada, se não essa, para a excessiva concentração de forças defensoras no entorno de sua residência, quando era sabido que ele, individualmente, jamais teria, consigo, dinheiro suficiente para qualquer resgate que valesse a empreitada do ataque a Mossoró?
 
CONTINUA...












quinta-feira, 5 de novembro de 2009

FRAGMENTO

“Iluminar a realidade”, disse-me Gilson Ricardo de Medeiros Pereira, apontando o horizonte, quando lhe pedi ajuda. Ah, a poesia – como ela transfigura e sintetiza o comum, o banal, apesar de até mesmo no comum e banal, dependendo do contexto, haver beleza. Muitas palavras lavradas em tecniquês diriam o mesmo, até de forma mais precisa, reconheçamos. Entretanto essa frase descerrou véus e eu pude enxergar claramente, pois há sempre uma nesga, um fragmento de realidade a ser iluminada, revelada, exposta.

HÁ OS QUE DEIXAM AS GRANDES CIDADES

Montaigne, Salinger, Hemingway, Kant, Musashi, Lao Tsé, brasileiros que vão morar no interior, são exemplos de alguns que deixaram as grandes cidades. Albert Schweitzer, Saint Exupèry. Vejam esse trecho da obra "O Segrêdo do Padre Brown", de G.K. CHESTERTON (Francisco Alves, 1.980, pág. 1): "O caso era que Flambeau, depois de todas as suas aventuras violentas, ainda possuia aquilo que é comum em muitos latinos, mas que não se encontra, por exemplo, em muitos norte-americanos, e que é a energia suficiente para se aposentar. Isso pode ser constatado em muitos proprietários de grandes hotéis, cuja única ambição é largar tudo para ser um pequeno agricultor. Isso é encontrado em muitos pequenos negociantes das províncias francesas, que se detêm no momento exato em que poderiam se transformar em detestáveis milionários comprando uma cadeia de lojas, mas, em lugar disso, preferem o conforto doméstico e os dominós com os amigos."

ARGUMENTO DA AUTORIDADE

“Santo Tomás notava que, salvo no domínio da Revelação, o argumento de autoridade era o mais fraco de todos. Temos sempre o direito de pedir as fontes e os fundamentos das asserções” (A Arte de Pensar; Pascal Ide; Martins Fontes; 1995; pág. 37).

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O RIO GRANDE DO NORTE NO TEMPO DO CORONELISMO - VIII

O ATAQUE A MOSSORÓ

Continuação...

Começo de 1926. Como em todos os finais-de-tarde em Brejo do Cruz, no Sertão paraibano, formar-se-ia uma roda na calçada na frente da casa de Antônio Dutra de Almeida. Doutor Joca Dutra (João Minervino de Almeida), Paulino Dutra de Morais, José Targino, Doutor Francisco Augusto de Resende (Juiz Distrital) se fariam presentes. As cadeiras, dispostas dia-a-dia nos mesmos lugares, eram, pelo hábito, marcadas: receberiam sempre os mesmos ocupantes. Em certo momento daquela tarde José Targino e Doutor Joca Dutra, que já haviam chegado, levantam-se e vão tomar água no interior da casa. Nas cadeiras nas quais eles estavam sentados, inexplicavelmente sentam-se Paulino Dutra de Morais e Doutor Francisco Augusto de Resende que acabavam de chegar. Escurece. Um atirador solitário toma posição a alguma distância, do outro lado da rua, e, de rifle, depois de fazer mira cuidadosamente, atira nos ocupantes das duas cadeiras que lhe tinham sido previamente assinaladas, em conversa anterior. Doutor Francisco Augusto de Resende tomba morto. Paulino Dutra de Morais, ferido, faz menção de se levantar. O atirador aproxima-se e desfecha várias facadas em Paulino Dutra. Ao terminar observa atentamente o semblante do homem morto e grita: “matei um inocente”. Recolhe as armas, monta a cavalo, pica o flanco do anima com as esporas e some na escuridão da noite. Era Massilon.
 
Termina, ali, o domínio político dos Dutra. O poder migra para as mãos dos Maias e Saldanha. Massilon, que era comprador/vendedor de gado quando entrou no cangaço, ao voltar do Sítio Japão, para onde o pai emigrara, vindo de Pombal, na Paraíba, matara, em Belém do Brejo do Cruz, um soldado que fora mandado pelo pretendente ricaço de uma moça por quem se enamorara, e que gostava do rapaz claro, de cabelo fino, vaidoso, trabalhador, já conhecido na Região, para lhe tomar a arma e lhe desmoralizar no dia da feira . Essa morte teria sido depois de 1924, talvez 1925, antes de sua família ir para Luis Gomes, o que ocorreu em 1925. Tércia Guedes de Araújo, tia de Massilon, em entrevista gentilmente cedida pelo pesquisador e escritor Sérgio Dantas, afirma tê-lo visto em Pombal, Paraíba, depois do episódio.
Massilon sabia que na Paraíba não havia mais lugar para ele. Dos beneficiários dos seus crimes obteve passaporte e amparo para começar outra vida longe dali. Cortou o território do Alto Oeste potiguar e reapareceu no Ceará, mais precisamente em Alto Santo, sob a proteção de Benedito Saldanha, grande proprietário rural na Região, irmão de Quincas Saldanha, por sua vez latifundiário em Brejo da Cruz e Caraúbas, Rio Grande do Norte.
 
Alexandro Gurgel conta outra versão. Em artigo para o jornal mossoroense “A Gazeta do Oeste” acerca de Massilon, louvando-se em entrevista feita com Pedro Dantas Filho, falecido em 2002 com 88 anos, natural de Belém do Brejo do Cruz, que afirmava ter conhecido o cangaceiro, diz-nos que o Delegado dessa cidade, homem valente e hostil, havia proibido o povo de andar armado. Nada teria acontecido com Massilon se alguém não tivesse ido à polícia denunciá-lo. Cercado por trás da igreja local e segurado por um seu amigo chamado “Mané Forte”, que pretendia convencê-lo a se entregar, mesmo assim Massilon trocou tiros e atingiu um policial matando-o. A partir de então enveredou pelo crime.
 
Raimundo Nonato lembra que Jararaca dissera ter Massilon Leite declarado serem suas as mortes de Brejo do Cruz, o que corrobora o relato feito acima. Sérgio Augusto de Souza Dantas nos lembra que Massilon foi almocreve. É verdade. Entretanto, quando da morte do policial em Belém do Brejo do Cruz já era comprador/vendedor de gado. É o que nos relata o Capitão Viana, bem como os irmãos de Massilon Tércia e Zé Leite, em entrevista que o escritor gentilmente nos cedeu.
 
Fomos em busca de uma “memória viva”, para escrever a saga de Massilon. Quando chegamos à residência do Capitão Viana – Francisco Viana – em Macaíba, Rn, encontramos um velhinho seco de carne e temperamento, vestido com um pijama azul claro à antiga, daqueles cujas camisas são de manga comprida, sentado em uma cadeira de balanço e lendo a Bíblia. Recebeu-nos muito bem e logo mandou servir café. O Capitão Viana tinha, na data da entrevista, noventa e três anos muito bem vividos. Longa prole, alguns poucos bens, saúde saltando à vista, memória fantástica. Durante a entrevista em nenhum momento titubeou quanto as informações prestadas. Ao tentarmos falar acerca de sua atuação como policial em alguns casos mais escabrosos fechou a cara e disse, abruptamente: “isso é segredo de polícia, não posso dizer nada”. Foi delegado, entre outras cidades, de Apodi, Macau, Açu, Caraúbas, Nova Cruz, São Tomé, e Areia Branca.
 
Pois bem, o Capitão Viana, quando menino lá em Alto Santo, então distrito de Limoeiro do Norte, conheceu Massilon – embora de longe, só de vista, como se diz no Sertão. Mas fornece vários dados importantes acerca do cangaceiro: “Massilon, depois do ataque a Apodi, nunca mais voltou lá. Em 1940, quando fui Delegado de Apodi, já não se falava mais nele. Massilon era jagunço de Décio Hollanda, lá de Pereiro, e foi jagunço de Benedito Saldanha. Antes de Apodi Massilon morava com Décio Hollanda, no Pereiro, Fazenda Bálsamo. Ele vivia de comerciar gado, era marchante, não tem cabimento essa história de sapateiro que o cangaceiro Bronzeado que você falou conta. Eu sou testemunha de tudo isso por que morei em Alto Santo até os quinze anos, quando fui para São João do Jaguaribe. Na época da invasão de Apodi eu estava em Taboleiro do Norte. De lá fui para São Paulo. Em 1934 voltei para o Rio Grande do Norte e sentei praça na polícia.”
 
Esse mesmo Massilon que foi apontado pelo Capitão Viana como tendo sido jagunço de Benedito Saldanha, era protegido de Quincas Saldanha, seu irmão, a quem chamava de “Padrinho”, segundo Deusdedite Fernandes Pimente, a quem entrevistei, juntamente com Franklin Jorge e Kydelmir Dantas, em Março de 2009, na sua Caraúbas natal. Conta-nos Franklin em seu “Blog”: “CARAÚBAS – Passei a tarde de sábado em Caraúbas, para onde fui a convite de Honório de Medeiros e Kydelmir Dantas, que iam com a missão de entrevistar Deusdedite Fernandes Pimenta. Ele nos recebeu em sua casa em animada “sessão nostalgia”, quando recordou que estivera nos braços do famoso Massilon Leite, incentivador de Lampião no ataque a Mossoró, fato ocorrido em 1927. Em voz clara e cheia de energia, evocou ainda outras figuras populares de Caraúbas, entre as quais a não menos famosa de Quincas Saldanha que há mais de cinqüenta anos aterrorizou uma vasta região, cuja casa forte, um digno exemplar da arquitetura rural sertaneja, centro político da sua propriedade rural retalhada por seus herdeiros, ainda continua de pé, incorporada já ao perímetro urbano do município. Homem corpulento e cordial, de 83 anos, Deusdedite tinha apenas alguns meses de vida quando a fazenda Timbaúbas, do seu avô Hipólito Fernandes, foi invadida por Massilon que se fazia acompanhar por oito ou dez cabras armados, onde pernoitou e trocou uma sela nova pela velha que trazia. Na saída, vendo-o nos braços da babá, tomou-o nos próprios braços e depois de alguns minutos o devolveu à negra que, assustada, tremia.”
 
Vamos encontrar o rastro de Massilon em São Miguel, Rio Grande do Norte, em 1926, conforme nos conta Zenaide Almeida Costa: “Eram quatro horas da tarde do dia 2 de fevereiro, quando João Grosso chegou correndo, esbaforido. Vinha de cima da serra, na estrada da vila, de onde avistara o mar de gente que se aproximava.”
 
“Na vila os Revoltosos abriram algumas portas de casas comerciais, tirando delas apenas os mantimentos necessários à sua alimentação naquele dia. Saíram à tarde, deixando somente o medo e alguns cavalos estropriados, trocados por cavalos sadios que, apesar de escondidos nas matas dos sítios, com os focinhos amarrados e de cabaça para cima, foram encontrados e surrupiados. Baixaram as águas, mas como sói acontecer, a epidemia chegou no dia seguinte muito cedo e sem aviso! Um marginal, alcunhado de ‘Sargento Preto’, embriagado, desgarrado da Coluna e em companhia de indivíduos da mesma estirpe, arrombou casas comerciais, distribuindo mercadorias com pessoas que estavam regressando à vila, despejando gêneros, tecidos, miudezas e bebidas no meio da rua. Saiu de porta em porta chamando quem ainda não tinha se apresentado (por timidez ou honestidade) para receber seus ‘donativos’. Abriu o cartório e em frente ao prédio, fez uma pilha de todos os livros e documentos, despejou querosene por cima, ateou fogo. Desapareceu depois do saque. Dois dias após chegou outro grupo vestido de mescla azul, com bonés do mesmo pano, dizendo-se ‘patriotas’. novo saque em todas as casas comerciais e de residência. tomaram armas, munições, animais, o que sobrou de víveres, provocaram brigas nas ruas. Era o grupo de Massilon, semelhante ao de Lampião, que imperava naquelas quebradas de serra e nos sertões, armado, fardado, e segundo eles próprios afirmavam, autorizados pelo Padre Cícero Romão Batista, do Juazeiro, a combater a coluna prestes. saíram deixando a desolação, o pânico, tudo depredado, arrasado!”
 
O que uniu Massilon, assassino confesso dos Dutra em Brejo do Cruz; contratado para matar o Coronel Francisco Pinto, de Apodi, Rn; lugar-tenente de Lampião na invasão de Mossoró, quando tentou entrar na casa do Coronel Rodolpho Fernandes pelos fundos; o Coronel Isaías Arruda, financiador da invasão a Mossoró e os Coronéis Quincas e Benedito Saldanha? Que foi Júlio Porto e qual sua participação nesses fatos históricos?

Estamos em 1927. Rodolpho Fernandes é o Prefeito de Mossoró, segunda maior cidade do Rio Grande do Norte. Sua ascensão ao poder revela o predomínio político que sua família, descendente de um português casado com uma filha do fundador de Martins, Francisco Martins Roriz, adquirira ao longo do tempo, e que se baseava, fundamentalmente, na exploração industrial da cultura do algodão.
 
Aqueles eram novos tempos. O Sertão, através de José Augusto Bezerra de Medeiros granjeara, para si, o poder que os Maranhão, ricos usineiros do açúcar, entregaram lentamente aos coronéis proprietários de terra onde o algodão brotava e enriquecia. Mas esse mesmo poder, calcado na terra, cedia, agora, espaço a uma burguesia que se firmava por intermédio da industrialização e do comércio. Os Fernandes estavam à frente desse processo de mudança e iriam viver seu apogeu logo mais, após a vitoriosa campanha do Partido Popular contra Mário Câmara, com a eleição de Rafael Fernandes para dirigir os destinos do Rio Grande do Norte.
 
Enquanto não se consolidava de vez o poder nas mãos dos Fernandes, na capital seguidores de José Augusto olhavam com preocupação esse avanço político em Mossoró, líder inconteste do Oeste Potiguar, sob o comando de Rodolpho, e no Alto Oeste, cuja cidade principal, Pau dos Ferros, era dominada pelo Coronel Adolpho Fernandes, seu primo. De Mossoró para dentro, até a fronteira com a Paraíba, portanto de Martins a Luis Gomes, os Fernandes dominavam. Em Apodi, embora o Coronel Chico Pinto não fosse Fernandes, era correligionário e amigo pessoal do Prefeito de Mossoró.
 
A oposição não descansava, era aguerrida e chegava até os salões do Palácio do Governo, onde auxiliares diretos de José Augusto o intrigavam junto a Rodolpho Fernandes. Em carta dirigida ao escritor Nertan Macedo, Paulo Fernandes, filho de Rodolpho, chega a ser enfático em relação a essa intriga entre os dois líderes políticos: “O Governador do Rio Grande do Norte, Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros e o seu chefe de polícia, Desembargador Manoel Benício de Melo, estavam à época, em franco dissídio com o prefeito de Mossoró (meu pai); O Sr. Mirabeau Melo, chefe da repartição do telégrafo em Mosssoró era irmão do chefe de polícia, e atuava como informante das coisas locais e porta voz do governo era um medíocre intrigante, inadequado para a missão que o destino lhe reservou pois tanto o governador do estado e seu chefe de polícia como o prefeito de Mossoró eram homens de bem e do mesmo partido político de modo só se compreende o dissídio entre eles em torno do problema de interesse público em virtude da ação maléfica de mexeriqueiros ” (...).
 
Tal oposição chegou ao cúmulo de tentar levar Rodolpho, um homem sério, respeitado, ao ridículo, como nos lembra Paulo Fernandes na mesma carta: “As advertências à população e providências tomadas por meu pai eram exploradas pela oposição até com o ridículo. Chamavam-no, por exemplo, de velho medroso, por se preocupar com um possível ataque de Lampião à cidade” (...).
 
A par dessa situação política tensa, na qual vivia o Coronel Rodolpho Fernandes, o futuro parecia promissor: sua liderança em Mossoró era inconteste, a cidade crescia a olhos vistos sob sua administração, dois dos seus três filhos homens faziam medicina fora e voltariam, brevemente, para dar continuidade a seu legado, e sua família era, naquele período, uma das mais ricas do Estado.
 
Mesmo assim o Coronel Rodolpho não descuidava. Não saía de sua lembrança a forma violenta através da qual seus parentes de Pau dos Ferros tomaram o poder naquela cidade. As histórias acerca do cangaço corriam de boca-em-boca pelas praças e ruas da cidade. Notícias vindas do Acre davam conta das aventuras de Childerico Fernandes, o Guerreiro do Yaco, irmão do Coronel Adolpho Fernandes, todas repletas de violência. O Coronel Chico Pinto lhe punha a par dos desmandos de seus adversários que iriam redundar na invasão da cidade por Massilon e em seu assassinato anos depois. As estripulias de Massilon em Brejo do Cruz, agindo a mando de pessoas que tinham interesses políticos em Apodi; as histórias oriundas do Cariri cearense, de deposição de Coronéis por outros Coronéis através das armas, tudo isso lhe trazia profunda preocupação.
 
Assim, pareceu-lhe particularmente preocupante algumas informações que pessoas a si ligadas por laços comerciais e afetivos lhe fizeram chegar aos ouvidos por aqueles dias do começo do ano de 1927.

Continua...




















AÉCIO NEVES BATEU OU NÃO NA NAMORADA?

É impressionante.

Ailton Medeiros, Juca Kfouri e o Blog do Paulinho dizem que sim.

Noblat, Paulo Henrique Amorim e Lauro Jardim dizem que não.

Nesse embate, algo chama atenção: fotos do governador com sua namorada, Letícia Weber, posteriores à surra, numa praia de Floripa, liberadas pela assessoria do Governador, e publicadas num site, eram de 2008, segundo Ailton, citando o Blog do Paulinho.

E agora?

ANAMNESE

“A teoria de Platão da anamnese, isto é, de que todo o conhecimento é recognição ou recordação do conhecimento que tivemos em nosso passado pré-natal, faz parte da mesma concepção: no passado reside não só o que é bom, nobre e belo, mas também a sabedoria” (A Sociedade Aberta e Seus Inimigos; Sir Karl R. Popper; v. 1; 1974, Itatiaia/Edusp; pág. 238).

SÃO PAULO, RUA SÃO JOÃO COM A IPIRANGA

“Para se conhecer uma cidade, é necessário viver nela três dias ou trinta anos. Ao final dos trinta anos, verifica-se que o julgamento apos os três dias é que é o bom” (JEAN COCTEAU, Citado em “A biblioteca e seus Habitantes, de AMÉRICO DE OLIVEIRA COSTA).

À noite, todos os nuances da escuridão são ameaças, no centro de São Paulo. Os passos de quem lá aporta, por esse ou aquele motivo, desenham incompreensíveis percursos aos olhos de quem os observa. Mas não é embriaguez (ou é); não é o resultado de alguma droga (ou é). É a distância calculada que se toma de qualquer outro transeunte - esse desconhecido, o perigo.

Os bares da São João. Pequenos. Quase todos lotados apenas de homens. O cheiro de fritura no ar.

Os habitantes: bêbados, drogados, prostitutas, traficantes, decaídos, mendigos, travestis, menores, andarilhos, e a polícia, sempre a polícia...

Os hotéis e sua aparência. Qual aparência?

No meio da rua, noite alta, o adolescente franzino, entre muitos outros, de cabelos lisos e compridos incessantemente afastados dos olhos, vestido com uma irreal calça “jeans” extremamente folgada, cujos bolsos dianteiros e traseiros batiam-lhe nos joelhos, revoluteava, borbolético, entre um bar e uma casa de diversão de jogos eletrônicos. No dia seguinte, pela manhã, e já tarde da noite, novamente, lá estava ele, ininterrupto, como se ali fosse seu mundo ou então fizesse ele parte da paisagem local. Onde moraria? Quem seriam seus pais? Teria irmãos? Ninguém sequer aprisionava-lhe o olhar...

“Recanto dos Amantes”. Um nome em contraste com a cinza selva de pedra em plena transversal da São João. Ela me disse, olhando para algum ponto indefinido, enquanto segura o copo de conhaque: “talvez não nos vejamos nunca mais”. Havia melancolia nas suas palavras. Eu me dispus a lhe contar como encarava esses desencontros da vida: um imenso pátio, vazio, folhas secas pelo chão, uma rajada de vento, a dança delas no ar, o encontro, logo desfeito, casual entre uma e outra - eis como tudo ocorria. Não o fiz. Como ela engordara muito, esse tom não combinava com sua nova estampa.

A São João, à noite, causa medo aos que não lhe são íntimos. Além de curiosidade e repulsa durante o dia. Quando o sol se põe ela vira uma selva, onde cada um com o qual se cruza pode ser um predador - aquele que o destino lhe reservou. São os freqüentadores de bares suspeitos, inferninhos, prostíbulos disfarçados, pontos de droga... É o submundo vindo a tona.

Com a luz do sol, a vida surge frenética. Há um vai-e-vem intermitente, irritante. Uma profusão de cores e barulho e os incontáveis odores de frituras e churrascos infestam cada espaço da rua. Tipos exóticos fazem “performances”. Há desde o comuníssimo tocador de viola, até o singular dançarino imensamente feio que ostenta, como insígnia de sua estranheza, duas inacreditáveis marias-chiquinhas.

Nada diferente, ao que consta da realidade de toda grande cidade, mundo afora: Nova Iorque, Tóquio, Cidade do México... Nada diferente, em menor escala, em cada pequena cidade?









terça-feira, 3 de novembro de 2009

CANGACEIROS COR DE ROSA?

Deu no http://www.fatorrrh.com.br/, de Ricardo Rosado:

03/11/09




Honório vai responder

Aviso pros veadinhos de Serra Talhada, em Pernambuco, que lançaram o movimento 'Cangagay" e para o professor Rinaldo Barros:

O professor e pesquisador Honório Medeiros, estudioso do cangaço, nem bem chegou de São Paulo, ligou pro Fator RRH informando que ia responder aos provocadores.

Um grupo gay de Pernambuco estrelou uma peça de teatro, todos vestidos de cangaceiros, em tons rosa, conforme post publicado anteriormente aqui no Fator RRH.

Os gays pernambucanos garantem que o grupo de Lampeão tava assim de veadinhos.

Vou aguardar as respostas do professor Honório Medeiros.
 
VEJAM A RESPOSTA EM  http://www.fatorrrh.com.br/





ALIENAÇÃO

Do alemão “Entfremdung”: "Tornar-se estranho a si mesmo" (Karl Marx).

JABOR CONTRA BLOGS, TWITTERS, ORKUTS E OUTROS

Arnaldo Jabor no Estadão, hoje:

"Comunicar o quê? Ninguém tem nada a dizer. Olho as opiniões, as discussões 'on line' e só vejo besteiras, frases de 140 caracteres para nada dizer. Vivemos a grande invasão dos lugares-comuns, dos uivos de medíocres ecoando asnices para ocultar sua solidão deprimente.

O que espanta é a velocidade da luz para a lentidão dos pensamentos, uma movimentação 'em rede' para raciocínios lineares. A boa e velha burrice continua intocada, agora disfarçada pelo charme da rapidez."

A IGREJA COR-DE-ROSA NA FREI CANECA, EM SÃO PAULO

Por Bárbara Lima.


O RIO GRANDE DO NORTE NO TEMPO DO CORONELISMO - VII

O ATAQUE A MOSSORÓ PELO BANDO DE LAMPIÃO

CONTINUAÇÃO...


Nos anos vinte ocorreram várias mudanças significativas em termos de poder político no Rio Grande do Norte. José Augusto Bezerra de Medeiros, do Seridó, herdeiro político do Coronel José Bernardo de Medeiros, transferiu o centro das decisões para o Sertão, correspondendo, quanto ao econômico, à ascendência da cultura algodoeira no Estado. É o que lemos em “História do Rio Grande do Norte”, de Luiz Eduardo Brandão Suassuna e Marlene da Silva Mariz; Sebo Vermelho; 2ª. Edição revisada; 2005; Natal, Rn.



José Augusto e Juvenal Lamartine de Faria, seu sucessor e herdeiro político, com o apoio do Presidente Artur Bernardes, conseguiram impedir Joaquim Ferreira Chaves, da oligarquia Maranhão, de chegar ao poder pela terceira vez, e, assim, praticamente decretaram seu fim. “A linha política do governo José Augusto insere-se na conjuntura nacional, com a oligarquia local em plena harmonia com a oligarquia que detém a hegemonia nacional. Um exemplo desse entrosamento é a visita de Washington Luis, em 1926 (após ter sido eleito Presidente da República), ao Rio Grande do Norte”, diz-nos Suassuna e Mariz, acima citados. O poder de José Augusto virá a ser bruscamente interrompida pela Revolução de 1930, embora venha a estar no cerne da vitoriosa campanha do Partido Popular contra Mário Câmara, tão cuidadosamente retratada por Edgar Barbosa em “História de Uma Campanha”.



No que diz respeito a Mossoró a historiografia é avara em relação a essa época, excetuando-se as obras de Raul Fernandes e Raimundo Nonato, que tratam do episódio específico da invasão da cidade por Lampião. Não há, como se constata, mesmo quando consultamos “Notas e Documentos para a História de Mossoró”, de Luis da Câmara Cascudo, ou “História de Mossoró”, de Francisco Fausto de Souza, nada alusivo aos anos vinte.



Sabemos, entretanto, com Cascudo, que o começo da ascendência dos Rosados nasce como século XX, como nos mostra a constituição da Intendência Municipal de Mossoró entre 1917 – 1919, “Presidente da Intendência, ou seja, da Câmara dos Vereadores: Jerônimo Rosado; Vice, doutor Antônio Soares Junior. Intendentes: Sebastião Fernandes Gurgel, Francisco Xavier Filho, Francisco Borges de Andrade, Raimundo Leão de Moura e Camilo Porto de Figueiredo”. “Em 1917 a população do município era de cerca de 16.000 pessoas, 13.000 com residência dentro do perímetro urbano ”, prossegue Cascudo. Observe-se a importância de Jerônimo Rosado em Mossoró, na qual chegara em 1890 a convite do Dr. Almir de Almeida Castro, líder político já nos idos de 1917. Em 1920-1922 Jerônimo Rosado foi intendente (vereador).



1926-1928: Presidente, Rodolpho Fernandes de Oliveira Martins; Vice, Hemetério Fernandes de Queiroz. Intendentes: Luís Colombo Ferreira Pinto, Francisco Clemente Freire, Antonio Teodoro Soares Frota, Manuel Amâncio Leite e Francisco Borges de Andrade ”.



Assim descreve Raul Fernandes a Mossoró da segunda metade dos anos vinte:



“Nos idos de 1927, Mossoró competia com a capital do Estado do Rio Grande do Norte. A população, incluindo a do município, somava 20.300 almas. A de Natal alcançava 30.600. (...) Ligada ao litoral por estrada de ferro que se estendia ao Povoado de São Sebastião, atual Dix-Sept Rosado, na direção oeste, percorrendo quarenta e dois quilômetros. Estradas de rodagem convergiam de vários recantos, sulcadas por caminhões que, aos poucos, substituíam as bestas de carga.”


“Possuía o maior parque salineiro do país. Três firmas descaroçavam e prensavam algodão. Centro comprador de peles, algodão e cera de carnaúba. Exportava pelo porto de Areia Branca. Longos comboios de mercadorias chegavam pelo interior da Paraíba e do Ceará. Voltavam levando sal e variados produtos. A energia elétrica alimentava várias indústrias nascentes. Havia repartições públicas federais e estaduais. A agência do Banco do Brasil era o único estabelecimento de crédito da região.”


“Circulavam três jornais: “O Correio do Povo”, o “Nordeste”, e “O Mossoroense”, o mais antigo do município, fundado em 1872. Existiam dois estabelecimentos para ensino secundário – a Escola Normal e a de Comércio. Dois colégios com internato – o Diocesano Santa Luzia para rapazes, e o Sagrado Coração de Mari, dirigido por religiosas franciscanas, portuguesas, para moças.”



“No “Cine-Teatro Almeida Castro”, rodavam filmes mudos, acompanhados ao piano e ao violino. Dois clubes de futebol – Humaitá e Ipiranga – nas suas disputas e festas, apaixonavam e dividiam a cidade. O folclore mantinha presente fatos distanciados que impressionavam a região. A canção Corujinha evocava o lendário e romântico cangaceiro Jesuíno Brilhante, dos idos de 1876. A música mais conhecida era a melodia Vassourinha, com letra adaptada à campanha política contra a oligarquia dos Maranhão .”



Entrevistei, acerca dos anos vinte em Mossoró, Dona Bernadete – Maria Bernadete Leite Duarte – que guarda, aos oitenta e cinco anos, a beleza dos traços que a fotografia – tirada no verdor de sua mocidade - pousada em cima de uma cristaleira antiga, muito bem conservada, revela. Ela nos recebeu a mim, Carlos Duarte e Cleilma Fernandes, estes do jornal mossoroense “Página Certa”, e Paulo Gastão, fundador da Sociedade Brasileira de Estudo do Cangaço – SBEC, em sua residência, no dia 18 de dezembro de 2006, em um final de tarde tipicamente sertanejo, tornado mais fresco pela presença do vento Nordeste e mais agradável pelo lanche com o qual nos brindou após a entrevista. Dona Bernadete é filha de Manoel Duarte, um dos heróis da resistência a Lampião.



“Nasci em Mossoró”, diz-nos ela, “em 1921, e aqui morei até 1950. Quando completei quinze anos fui estudar na Escola Doméstica em Natal. Minha mais antiga lembrança em Mossoró é dos meus pais. Minha infância foi igual à de todas as crianças daquela época: pulei corda, brinquei de roda, de boneca, gostava de bonecas de pano, fazia teatrinhos, aperreava o pavão de Dona Filomena de Seu João Carrilho.”

“Dormíamos cedo, às 19:00 horas. Tomávamos café da manhã às 7:00 horas, almoçávamos às 11:00 e jantávamos às 17:00. Comíamos pão, biscoito, leite de vaca, ovos, cuscuz, coalhada no café da manhã; feijão de arranque temperado com carne, cebola, alho, coentro, cominho, arroz, farofa no almoço; mucunzá, cuscuz, coalhada no jantar. Comíamos frutas e bolachas pretas.”



“Já mocinha escutávamos, enquanto arrodeávamos a praça do Pax, a banda no coreto. Os rapazes ficavam em pé, de frente para a parte interior da praça. Às 21:00 horas todo mundo ia embora. Freqüentávamos o Clube Ipiranga e íamos ao cinema diariamente com meu pai, Manoel Duarte. Eu adorava os musicais. Gostava também muito de ler historinhas, o Tesouro da Juventude.”



“Quando eu estudei em Natal, na Escola Doméstica, saia nos finais-de-semana para a casa da esposa de Rodolpho Fernandes. Lembro-me da passagem do Zeppelin e do Hindenburgo por Natal. O Hindenburgo, que era mais grosso, ficava parado, suspenso no ar e soltava malas para o pessoal da terra.”



“Quando da invasão de Mossoró papai levou a família para Tibau e voltou para participar da resistência. Rodolpho Fernandes era compadre de papai, padrinho de meu irmão Antônio Leite Duarte. Nunca ouvi falar na história de Massilon ser apaixonado por Julieta, filha de Rodolpho. Papai ficou na casa de Rodolpho, na parte de cá (que dava para a Igreja de São Vicente) e havia outros na Igreja. Estes não alcançavam os cangaceiros postados na parede lateral da casa de Alfredo Fernandes, esquina com a Avenida Alberto Maranhão, mas apontaram Colchete que já estava com uma garrafa de querosene na mão para jogar nos fardos de algodão. Papai atirou em Colchete e Jararaca. Muita gente correu da luta.”



Dona Iracema – Iracema de Assis Duarte – com seus oitenta e poucos anos, magra, espigada, alerta, faz coro ao depoimento de Dona Bernadete. Estamos na calçada em frente à casa na qual ela mora sozinha. Não quer sair de lá e render-se ao chamado dos filhos em hipótese alguma. É o dia 19 de dezembro de 2006 e estamos quase ao lado da histórica sede da Prefeitura Municipal de Mossoró, antiga residência de Rodolpho Fernandes, na Avenida Alberto Maranhão, cujo tráfego, mesmo àquela hora crepuscular, não esmorece. Passantes vão e vêm. Não se dão conta de que há setenta e nove anos atrás o movimento, naquela avenida, deu-se por motivos bem diferentes dos habituais.



“A casa em frente à de Alfredo Fernandes era de João Hollanda. Os fundos davam para a casa de João Marcelino – o médico que cuidou de Jararaca. Naquele tempo, no entorno da Igreja de São Vicente havia a casa da esquina da Rua Francisco Ramalho com a Alberto Maranhão do lado de cá (no alinhamento da Igreja); havia a minha casa (várias geminadas vizinhas ao palacete de Rodolpho), a de seu Artur Paula (palacete cuja frente dava para a lateral da casa em frente aos fundos da Igreja) , a casa onde hoje funciona a Escola 13 de Junho, outra de umas catequistas.”


“Não havia pudim, bolo, doces na minha infância. Era rapadura, cocada, pão doce, bolacha preta. Galinha aos domingos. Coalhada de manhã para o pai. Não havia o hábito da verdura. A hora das refeições era essa mesma que Bernadete falou. E as brincadeiras também. Meninos não participavam. As brincadeiras: escravos de Jó, tique, esconde-esconde, teatro infantil (representavam contos de fadas). O cinema era o Almeida Castro, no Grande Hotel. Esse Grande Hotel concentrava a nata da sociedade nos grandes eventos. Os filmes eram mudos.”



“Manoel Duarte, um homem muito sério, achava graça com os retratos dos heróis nas trincheiras. Dizia que a máquina fotográfica era muito boa, pegava fulano e sicrano em Areia Branca... Zé Otávio – o que fotografou as trincheiras – era o fotógrafo da época. Os Fernandes eram os ricos de Mossoró. Dizia-se que Tertuliano era o mais rico.”



É dezembro de 2006. Irmã Aparecida nos recebe, a mim e a Carlos Duarte, em seu gabinete no Colégio Sagrado Coração de Maria – o Colégio das Freiras, onde estudavam as filhas das elites de Mossoró, geração após geração. Tem o mesmo tipo físico de Dona Bernadete e Dona Iracema. Nela, entretanto, o hábito de comandar deixa-se perceber através das frases pontuadas de forma mais incisiva, como a evitar contestações. Irmã Aparecida, apesar da idade, ainda comanda o Colégio. Nada leva a crer, observando-se sua agilidade física e mental, que a aposentadoria esteja próxima.



“Merendávamos às 9:00 horas: coalhada, copo de leite, ovos batidos, fubá de milho com mel, ou gema de ovo com mel de abelha. Almoçávamos às 11:00 horas. Não se conhecia feijão preto e não se comia bode por que fedia. Comia-se melhor no campo que na cidade. Nas refeições, silêncio: era preciso manter-se o respeito.”



“À mãe competia a educação. O pai quase nunca se metia. Os castigos: ficar atrás do guarda-roupa e a palmatória. A educação era feita através da tradição oral: não mentir, por exemplo. Rezava-se o ofício, particularmente, todos os sábados. Mas não se misturava moral com religião.”



“A diversão dos homens era jogar sueca. A dos meninos ir para o terreiro. Líamos, quando muito, os livros didáticos. Assistíamos filmes mudos pelo menos duas vezes por semana.”


“As grandes famílias de Mossoró eram os Fernandes, os Leite, os Duarte. Ainda não havia Rosado. Não se sabia quem eles eram. Os ricos eram Costinha Fernandes, João Marcelino, Miguel Faustino, Tertuliano Fernandes...”



Entretanto nada tão instigante a respeito da Mossoró da década de 20 do século passado quanto a leitura das “Memórias” de Sebastião Gurgel . Em seu diário do ano de 1927, no qual começa, no ano da invasão de Mossoró, escrevendo em Março, alude, desde logo, à inauguração, em 1º de novembro de 1926, ao serviço da estrada de ferro Mossoró/São Sebastião (atual Governador Dix-Sept Rosado). Informa que o inverno está sendo bom e que a estrada de ferro progride até Caraúbas. Em Julho noticia a invasão de Apodi por Massilon, a 10 de maio, e a de Mossoró, a 13 de junho, por Lampião e seu bando. É avaro nas informações e mais ainda na análise do fato. Convém, segundo ele, consignar um voto de louvor “aos srs. Cel. Rodolfo Fernandes, prefeito da cidade, Julio Maia, que melhor que outro qualquer dirigiu a defesa, Mirabeau Melo que como encarregado do telégrafo, prestou enormíssimo serviço, Dr. Gilberto Studard Gurgel, tenente Abdon Nunes, Cornélio Mendes, João Fernandes, etc.”. E acrescenta, irônico: “Eu, já se sabe, nestas ocasiões, sou sempre o herói da retirada.” Ainda em Julho relata um acontecimento “sensacional – o casamento de Monsenhor Almeida Barreto com a senhorita Maria Nazareth de Oliveira”. Imaginemos o impacto que esse acontecimento deve ter ocasionado na provinciana Mossoró do início do século XX!



Somente em Outubro de 1927 Tião Fernandes volta a escrever em seu diário. Critica o governo do Ceará por não tomar providências contra o cangaço. Registra ter deixado suas duas filhas em Natal, para estudarem na Escola Doméstica. Em Dezembro, no dia 4, lembra que “Em virtude de uma lei séria que garante o voto a mulher, nesta semana (passada) requereu o título de eleitora do município, a professora dona Celina Viana, sendo ela a primeira eleitora do Brasil.” E, também, que “Em substituição do presidente da intendência Rodolfo Fernandes que morreu no dia 10 de setembro, foi eleito para o mesmo lugar Luiz Colombo Ferreira Pinto.”



CONTINUA...













































domingo, 1 de novembro de 2009

FEIRA DE ANTIGUIDADES

Feira de antiguidades sob a marquise do MASP, na Paulista. Antiguidades com certificação. Moedas gregas, romanas, fenícias, uma fortuna.

É 1º de novembro, faz sol, o paulista está na rua. Dois jogos de xadrez em madeira, do Marrocos, para uso durante viagens atrai minha atenção.

Miniaturas. Uma bailarina de porcelana que estende a mão para o infinito. Um porta-pílulas ingles vitoriano.

Bengalas e mais bengalas. Faz sentido. Idosos são os maiores compradores.

Uma mulher imensamente gorda anda na minha frente. Anda, não, bamboleia. Aos arrancos percorre seu caminho.

Dona Betsabá embrulha os jogos de xadrez e ri quando lhe digo que ela é mais nova que as filhas. "Já percebi que o senhor é do Norte".

O QUE É O JUSTO

Na lateral de um Land Rover:

"Justo é o sutiã:
Oprime os grandes,
Ampara os caídos,
Eleva os pequenos."

AUTO-AJUDA

Humor negro:

"Não perca seu tempo,
Querendo triunfar.

Sob qualquer aspecto,
Vc vai fracassar."

ACERCA DO TRABALHO

Em uma camiseta de um adolescente:

"O trabalho danifica o homem".

COMO PODE ME SER ÚTIL A FILOSOFIA

Ricardo Sérgio, Curso de Direito da Unp, 2VB:


Ainda no período clássico na história da humanidade, observava-se o surgimento daqueles que influenciariam aquela época e seus ideais juntamente com as formas de pensamento iriam repercutir até os dias atuais. Eles eram os filósofos.

Estes eram dedicados ao estudo do homem e da natureza ao seu redor, que posteriormente nos fariam entender ou mesmo duvidar das idéias, por nós apresentadas, sobre o certo e o errado.
 
Com os vários estudos sobre tais filósofos e suas idealizações, pode-se chegar a um maior entendimento do espaço em que vivemos além das múltiplas vias de raciocínio que nos levariam a determinado assunto.
 
As questões com as quais tratamos como a política, costumes ou religião são fruto de um desenvolvimento arcaico e filosófico que muitas vezes são recorridos a pensamentos, há muito, formados para uma melhor aplicação.





sábado, 31 de outubro de 2009

FORMIGUEIRO HUMANO

No Brás, na José Paulino, na 25 de Março, é impossível andar sem esbarrar nas pessoas. É um formigueiro humano.

No "Nonna", a moça do café me diz: nas madrugadas, mesmo no Domingo, as calçadas das lojas fechadas estão cheias de ambulantes e compradores".

Quando desço percebo a moça que segura um encerado de lona fechado como se fosse uma trouxa. Dentro, baganas. Pergunto: "é o rapa?" Ela nem olha e me responde por cima do ombro, todos os sentidos atentos: "é".

Ah, São Paulo...

COMO PODE ME SER ÚTIL A FILOSOFIA




Por Pablo Trajano Pinheiro da Silva, Curso de Direito da UnP, 2VB



"O Homem sem a capacidade de acumular conhecimento certamente não estaria aqui e nem muito menos praticando a ciência da filosofia.



Nesse processo de acumulação do conhecimento, o humano conseguiu distinguir-se da natureza, dos outros homens e a si mesmo. Provocando, então, um processo filosófico natural, onde, a partir do conhecimento acumulado, possibilitou perguntar-se a si próprio o seu papel na natureza e consigo mesmo.



A partir das perguntas, o homem passou a pensar e buscar suas respostas, onde as ciências acríticas (religião, mitologia e senso-comum) não conseguiram suprir essa necessidade de buscar explicações para as suas angustias.



Então, nesse processo de evolução, surgiram a filosofia e a ciência que pode ser testada em que se busca respostas a partir de métodos críticos. Onde, este pode ser provado e aquele apenas ser compreendido à base de retóricas.

Por fim, nesse emaranhado de perguntas e respostas a ciência proporcionará ao homem respostas vinda de teorias testadas e comprovadas. E a filosofia sempre possibilitará o seu sujeito ir além dos conceitos pré-estabelecidos. Onde a filosofia por mais que busque a razão nas suas questões críticas, irá deixar o homem livre para aderir ou não em suas teorias. Finalmente, a filosofia pode ser útil ao homem po deixa-lo alcançar voos além daqueles pré-estabelidos senso-comum e das ciências acríticas.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

UMA IGREJA COR DE ROSA

Em frente ao hotel no qual estou hospedado, na Frei Caneca, Centrão de São Paulo, uma Igreja consagrada ao Sagrado Espírito Santo se destaca do cinza geral: é toda cor-de-rosa.


COLAPSO NO TRÂNSITO EM SÃO PAULO

Puxo converso com motoristas de taxi em São Paulo. Estão estressadíssimos. Sonham com a aposentadoria.

Todos dirigem ligados em alguma FM que noticia, de instante em instante, a situação do trânsito. É uma neurose.

Eles dizem que haverá um colapso em breve. Simplesmente grande parte do dia está tomada pela tentativa de se deslocar. A situação está no limite. Não há onde estacionar, não há como se locomover com rapidez.

A idéia de controlar o fluxo de veículos através do número da placa é motivo de chacota. "Somente deu certo para os vendedores de carro", dizem eles. Quem tinha um carro com placa terminando em número ímpar, comprou outro com placa terminando em número par.

Na verdade esse problema não é apenas de São Paulo. É mundial. E não há solução à vista.

É a lei da entropia: estamos, lentamente, indo no rumo do caos.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O RIO GRANDE DO NORTE NO TEMPO DO CORONELISMO - VI


O FOGO DE APODI


CONTINUAÇÃO...
 
“A empreitada, organizada e dirigida de longe, por pessoa ligada a importante família do Apodi, tinha uma terrível missão a cumprir na cidade. Em primeiro lugar figurava, no plano sinistro, o assassinato do então chefe político Francisco Ferreira Pinto, para cuja residência se dirigiram os bandidos , prendendo-o imediatamente. O vigário da paróquia, que naquele instante acabara de celebrar a santa missa, foi chamado às pressas, para salvar o chefe político, em poder dos cangaceiros, que já se preparavam para eliminá-lo.”
 
“Enquanto permanecia preso o chefe local Francisco Pinto, por cuja liberdade o bandoleiro Massilon exigia vultosa quantia em dinheiro, elementos do grupo terrorista praticavam na cidade, atos de violência, e assassinato. Tomada de terror, ante a ação dos cangaceiros, quase toda a população abandonou a cidade, buscando refúgio na zona rural, nos sítios e fazendas.”
 
“Desta cidade os cangaceiros se retiraram pela manhã do mesmo dia 10, entre as nove e dez horas, rumo ao distrito de Itaú, neste município.
 
"Frustrado o assassinato do Coronel Francisco Pinto em 1927, mesmo assim não serenou o ânimo dos seus inimigos políticos. Em 1934, durante o Governo Mário Câmara, novo atentado pôs fim a sua vida e trouxe, ao poder, aqueles que combatiam, sem êxito, sua liderança. Acerca desse episódio nos conta o historiador Válter de Brito Guerra, em seu “Apodi, sua História”, acima mencionado:
 
“Assaltada de surpresa, a cidade não teve condições de reagir ao premeditado ataque, sob o comando do temível Massilon, famoso por suas façanhas na história do crime e banditismo no Nordeste, onde se criou na época, um ambiente propício ao cangaceirismo.”

“Os ânimos serenaram e houve um período de relativa calma. Porém as marcas e os resquícios daqueles dramáticos acontecimentos, permaneceram vivos no espírito de muitos, sempre sequiosos de represálias.”

“O movimento revolucionário de 1930 veio reavivar os graves acontecimentos do passado. Não só em Apodi, mas em todo o Rio Grande do Norte, o panorama sofreu radical transformação, com o advento da revolução vitoriosa de 1930. Iniciou-se então, neste Estado, o mais revoltante período de hostilidade e humilhações contra adversários políticos decaídos. Com a vitória da revolução, a família Pinto em Apodi perdeu o mando político e administrativo, conquistando novamente o poder em 1935, com a vitória do Partido Popular.”

“Realmente, a Revolução de 1930 não cumpriu a missão a que se propusera. Os seus princípios, seus postulados e ideais, que serviram de alento àquela arrancada cívica, caíram por terra ou foram esquecidos. Prevaleceu, acima de tudo, a vontade dos oportunistas, que a tudo custo, queriam encastelar-se no poder, à sombra do governo revolucionário.”

“Instalou-se então no estado, o terrorismo político que tomou vulto a partir de 1933, com a designação do quinto Interventor Federal, filho da terra, nomeado pelo presidente revolucionário, Getúlio Vargas.”
 
“Incutira o novo governante em sua cabeça, a idéia de candidatar-se à sua própria sucessão, na eleição que se aproximava para governador do Estado. A partir desse momento, e com o objetivo de ganhar eleitores e conquistar chefes políticos, o interventor pôs em jogo a máquina administrativa do Estado, desencadeando-se, então, a mais violenta e desastrosa campanha política de que se tem notícia no Rio Grande do Norte.”
 
“A série de atos de suborno, coação e violências, segundo os depoimentos da história, preparada pelo partido do governo, espalhou-se por todos os recantos do Estado.”
 
“Nenhum município ficou livre das arbitrariedades que atingiram o Rio Grande do Norte em todas as direções, sob a conivência das autoridades governamentais.”
 
“Ao aproximarem-se as eleições de 14 de outubro de 1934, em plena campanha política, contingentes policiais foram destacados para cidades, vilas e povoados, com a finalidade de coagir os adversários do governo, generalizando-se o pânico e o medo entre as populações. Populações que se dividiam em duas facções partidárias: o Partido Popular, de oposição ao governo; e a Aliança Social ou Liberal, partido governista. Perrepista ou perré, era a denominação dada ao partidário da oposição, liberal ou Pela-Bucho, era o correligionário do Governo ou a pessoa filiada da Aliança Liberal.”
 
“A proporção que se aproximava o dia das eleições, a onda de crimes aumentava assustadoramente, sob as mais diversas formas. Prisões ilegais, espancamentos de adversários do governo. Assassinatos eram presenciados a todo o instante, ficando os criminosos livres de qualquer punição.”
 
“Em Apodi, onde o chefe político Francisco Ferreira Pinto liderava a corrente de oposição ao governo, as perseguições políticas alcançaram o seu ponto culminante. Sucediam-se as prisões, intimidações a adversários do partido governista, surras e ameaças de toda a ordem.”
 
“O esquema de opressão posto em prática, estarrecendo a opinião pública, não se limitou apenas às agressões físicas e desmoralizadoras, pelos agentes do partido revolucionário, de que foram vítimas chefes políticos de prestígio e respeito. O processo de violência evoluía a todo momento, amedrontando as famílias e eleitores oposicionistas.”
 
“Acontecimentos de maior gravidade começaram a surgir em diversos municípios do Estado; o assassinato de chefes políticos do Partido Popular. Isso devia fazer parte do plano preestabelecido, com o objetivo de aterrorizar o eleitorado e afastá-lo do pleito que se aproximava.”
 
“Incluído na lista negra da Aliança Social, comandada neste município pelos senhores Luis Ferreira Leite e Benedito Dantas Saldanha, estaria o líder Francisco Ferreira Pinto, ou Chico Pinto, como era chamado, assassinado nesta cidade no dia 02 de maio de 1934. O crime, praticado às caladas da noite, teve grande repercussão em todo o Estado, principalmente no seio do Partido Popular, onde o falecido gozava de elevado conceito. Era um dos chefes políticos de maior prestígio desta região. Não só pela expressão do colégio eleitoral que comandava, mas também pela sua bravura cívica e qualidades morais, que caracterizavam sua personalidade. Desenvolveu no município intensa atividade político-partidária, ao lado de João Józimo de Oliveira Pinto e João de Brito Ferreira, tendo sido eleito Prefeito Municipal e Deputado à Assembléia Legislativa Estadual.”
 
“Os métodos postos em prática pelo Governo e seus partidários com a finalidade de ganhar a eleição, não arrefeceram o ânimo dos eleitores populistas, que se mantiveram firmes nos momentos mais difíceis, quando sofriam as mais absurdas perseguições. A eleição de 14 de outubro de 1934, deu ao Partido Popular a mais consagradora vitória. Com a eleição de Dr. Rafael Fernandes ao Governo do Rio Grande do Norte, pela Assembléia Constituinte, o Estado voltou à sua normalidade. A paz voltou a reinar entre as famílias potiguares.”
 
CONTINUA...




































COMO PODE ME SER ÚTIL A FILOSOFIA

Marília Araújo Rocha, Curso de Direito, Unp, 2VB

A prática da vida cotidiana exige ao ser humano o raciocínio e a reflexão de seus atos. Para entender o processo das ações e reações da vida é necessário o conhecimento de algumas teorias da Filosofia.

O termo – embora tenha conceito antigo – pode determinar a maneira como os indivíduos se comportam. A Filosofia nada mais é do que seguir princípios e agir de acordo com a moral subjetiva, própria de cada um.

O homem pratica a Filosofia quando se relaciona com outros homens e situações não controladas por ele. Dessa forma, a Filosofia é útil na realização de atividades corriqueiras e como princípio norteador de comportamentos, resultando em ações direcionadas a quem se relaciona, podendo ter resultados positivos ou não.

PELAS RUAS DE HAVANA, DE RUBENS COELHO

A gentileza de Clauder Arcanjo, autor de Licânia, e um dos proprietários da editora "Sarau das Letras", fez chegar às minhas mãos, trazido pelo cangaceiro Kydelmir Dantas, "Pelas Ruas de Havana", de Rubens Coelho, um diário de viagem a ser lido com muito prazer.

Obrigado, amigo.

NUNCA TÃO POUCOS DEVERAM TANTO A TANTOS

Aos poucos, mais uma vez, a estrutura do Carnatal privatiza o espaço público no entorno do Machadão.

O topo da pirâmide se regozijará enquanto a base padece.

Nunca, em Natal, tão poucos deverão tanto, a tantos.

ABSTRAÇÃO

“É o processo da inteligência que extrai (do latim ABSTRAHERE) das realidades sensíveis, materiais, sua essência inteligível e universal” (A Arte de Pensar; Pascal Ide; Martins Fontes; 1995).