Por Danillo Ferreira
Existe uma construção no imaginário de alguns policiais que
pretende simplesmente acusar as pessoas como culpadas por más práticas nas
organizações policiais. Para eles, “a instituição é perfeita, as pessoas é que
a distorcem”. Trata-se de um argumento curioso, que possui consequências ainda
mais inusitadas.
Se o problema está nas pessoas, não há motivo para
diferirmos, por exemplo, uma ditadura de uma democracia, pois qualquer um dos
regimes pode ser igualmente bom, se temos pessoas boas. Como meus colegas
defendem que o Brasil, por sua cultura, é um exemplo de país com pessoas “más”,
parece que a Suécia, ou o Japão, teria sucesso ao implementar uma Ditadura.
Este raciocínio, que pretende conservar estruturas
institucionais existentes, terceirizando o problema para “as pessoas”, acaba
mesmo por extinguir a necessidade de quaisquer instituições. Ora, se todo o
nosso problema é moral (poucas pessoas “boas” e muitas pessoas “más”), não há
necessidade de instituição alguma. É só aguardar até que tenhamos mais “bons”
do que “maus” no mundo para que tudo dê certo.
Poucos teriam esta ingenuidade quase infantil, embora
defendam o argumento apontado no início deste texto.
É preciso observar que instituições são feitas para resolver
problemas, devendo se ajustar sempre que os problemas mudam ou se tornam mais
complexos. Se deixa de resolver os problemas, deixa de fazer sentido enquanto
instituição, na medida da quantidade de problemas que deixa de sanar.
É óbvio que a cultura local deve ser considerada nos
mecanismos institucionais de resolução de problemas. E aí deve-se atentar para
a formação dos profissionais e para a estrutura correcional, que também são
problemas que se referem ao modelo de instituição adequado. Ou a formação
policial não serve para modificar, em certo grau, os indivíduos? Orientá-los
para determinados tipos de prática, em detrimento de outras? Estamos condenados
à “educação que vem de berço”?
Existem, sim, elementos institucionais que,
independentemente de quem os esteja operando, são ineficientes, ineficazes.
Alguns gargalos são insuperáveis pela maior boa vontade que exista, algumas
perversões permanecerão existindo enquanto determinada arquitetura institucional
prevalecer.
Defender a conservação de uma instituição dizendo que o
problema são as pessoas é infantil e até ridículo. Observemos os resultados:
sua instituição resolve os problemas que se dispõe a resolver? Se sim, ela é
perfeita. Se não, precisa enfrentar o desafio da mudança.
Autor: Danillo Ferreira - Tenente da Polícia Militar da
Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em
Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com