Guweiz (*)
Essa madrugada me toquei da
verdade de duas frases distintas sobre a profissão de escritor:
1. Escrever é se apaixonar.
Constantemente. O tempo todo. Por todos, por tudo, por qualquer coisa, por nada
em particular.
2. Escrever é necessidade, não
lazer ou ganha-pão. Descobri que escrever não é o remédio para as minhas noites
insones, mas a causa delas, porque se não consigo dormir é porque algo me
incomoda, e se algo me incomoda, é porque ainda não escrevi a respeito.
Eu tenho muitas noites
insones, e estranhamente me pego desejando para que elas sejam infinitas.
Eu amo dormir.
Sempre me disseram que os
escritores são todos loucos, afinal (número três).
Essa madrugada quero falar
sobre os quase amores.
Você sabe do que estou
falando.
Aqueles que nunca chegaram a
ser apresentados como namorados ou namoradas, aqueles que nunca chegaram a ter
o prazer – e o desafio – de explorarem cada centímetro do seu corpo e mente,
aqueles que, afinal, não tiveram o tempo ou a oportunidade, ou a vontade,
Bárbara, lembre-se disso, de se tornarem algo mais.
Mas você se pega desejando,
na calada da noite, pelo “e se” e pelo “quase”,
e por aquele que nunca será nada mais do que um desconhecido, porque ele
nunca se permitiu ser visto. E eu, que sou A Mais Curiosa Das Curiosas, analiso
todas as mensagens trocadas por olhares, toques superficiais (que atingiam até
os nervos mais profundos) e whats app, porque quem sabe explicar o que se
esconde por trás da mente de outro ser humano?
Eu insisto e pergunto a
todos o que eles escondem, sutilmente, mas acabo tendo de completar a história
deles na minha mente. Ninguém nunca confiou em mim o suficiente pra me dizer.
Eu nunca confiei em ninguém
o suficiente pra dizer que, todas as noites, deito na cama e contemplo o
abismo.
Tenho certeza que alguns
sabem, outros desconfiam, mas de que adianta se eu nunca pronunciei as
palavras?
Mais cedo, assisti à noite
cair e as luzes da cidade se acenderem, três ao mesmo tempo em um prédio, duas
se apagaram em outro, e a sinfonia silenciosa continuou tocando por horas, tão
ensurdecedora que eu pensei que estava, realmente, surda.
É melhor partir – penso eu –
do que viver me perguntando o que se esconde na casa ao lado.
É melhor fugir, insisto
comigo mesma, porque você nunca vai descobrir o medo mais profundo do seu
professor de matemática da sétima série.
É melhor desistir, porque
ela disse isso pra você e aos onze, você achou que era verdade.
JÁ FAZ SETE ANOS.
ESQUECE ISSO.
Porque tem tanta gente
sofrendo no mundo, e eu sinto tudo, e eu quero chorar.
E é tanta solidão, tanta
confusão, eu não sei nem por onde começar.
E eu tento ser feliz, eu
juro.
Eu tento ser otimista, é
sério.
Mas é tão, tão difícil
quando você olha pra todos os carros passando depressa, sentada na beirada do
último andar do seu edifício.
Arte: https://guweiz.deviantart.com/