domingo, 28 de janeiro de 2018

ARIANO SUASSUNA E O ARISTOCRATA PELO ESPÍRITO

Ariano Suassuna

* Honório de Medeiros

Acabei de ler a apresentação que Ariano Suassuna, fez da obra de um seu parente, Raimundo Suassuna, acerca da genealogia da família que lhes deu o sobrenome ("Uma Estirpe Sertaneja Genealógica da Família Suassuna"; A União; 1993; João Pessoa). 


Ariano, a quem Raimundo Suassuna pedira que fizesse uma apresentação "simpática", de seu livro, praticamente escreveu um ensaio onde, entre outras coisas, abordou duas coisas que me chamaram a atenção: seu orgulho por ser um "Suassuna"; e o seu conceito de "aristocracia". 

É preciso que se diga que o orgulho de Ariano com o fato de pertencer a essa lendária família nordestina é decorrente da intensa, profunda, ligação que ela tem com o Sertão. 

Ariano Suassuna entende que existe uma aristocracia pelo espírito, que é profundamente diferente daquela resultante de títulos nobiliárquicos. 

Ele estabelece essa diferença confrontando o "homem", com o "cortesão". Neste caso, chega a manifestar, implicitamente, um verdadeiro asco dos títulos comprados, recebidos por favores prestados através de subserviência, barganhados, ou oriundos de qualquer outra forma utilizada por serviçais do poder que caracterizam, em última instância, o comportamento dos alpinistas sociais. 

A verdadeira aristocracia, para Ariano, é aquela adquirida pelo espírito. Essa nobiliarquia é decorrente de uma postura moral ilibada, aliada a um exponencial senso de honra e vocação pública. Aristocrata, então, seriam Albert Schweitzer, Gandhi, Albert Sabin, entre outros.

Titãs morais, verdadeiros cavaleiros da távola redonda, homens sem mácula e sem medo, sempre à disposição dos injustiçados ou a serviço de causas mais que nobres. Individualidades poderosas, que se recusaram ser conduzidas, cooptadas, amordaçadas.

Não aceitam ser a folha que o rio leva para o mar; muito antes, pelo contrário, assemelham-se às represas que domam a marcha das águas.

Essa aristocracia pelo espírito de Ariano é fecundada, em termos ideológicos, por um socialismo que lembra o cristianismo primitivo em sua perspectiva ética.

É como se ele acreditasse que a verdadeira revolução seria aquela promovida através da encampação da dignidade como único fulcro da conduta humana, legitimando-a.

É um contraponto dialético à ética burguesa que exposta a olho nu por suas contradições básicas, mostra a conduta humana amesquinhada por obra e graça da lógica do capitalismo. Esse burguês, caricato, cortesão, jamais diria: "ao Rei tudo, menos a honra", mas, sim, "à elite tudo, até o bolso".

Trata-se de uma crítica ética ao capitalismo. A busca do lucro, revestida pelo fetiche ideológico da "competição", da "livre concorrência", amesquinha o homem que aceita participar de tal jogo.

Um aristocrata pelo espírito, cuja conduta é calcada na honra, no senso de justiça pública, recusa-se a aceitar uma competição cujo resultado final seja a obtenção de um ideal tal como, por exemplo, a obtenção de lucro.

Talvez haja algo de quixotesco na dimensão humana de Ariano Suassuna. É interessante, entretanto, observar o quanto sua concepção filosófica, nesse aspecto, aproxima-se daquela professada por Saint-Exupèry, aristocrata pelo espírito e por genealogia, em seus escritos de "Cidadela", livro póstumo.

E, por outra, do "bushido", o caminho do samurai. Note-se que Yukio Mishima, em seu comentário acerca do "Hagakure", um manual escrito por um samurai, para samurais, critica asperamente os nobres por ele chamados de "aristocratas de contas de despesas". 

Ou seja, tanto para Ariano, quanto para Saint-Exupèry e Mishima, o homem, assim considerado, é aquele que transcendeu o apequenamento, o amesquinhamento inerente à ética do capitalismo, da qual nos fala Max Weber, e tornou-se um aristocrata pelo espírito.

Aristocrata pelo Espírito: Não considerei correto o título "aristocrata do espírito". Difícil dizer por quê. Acho que "aristocrata pelo espírito" expressa com maior clareza a idéia de uma nobreza obtida através do espírito - tudo aquilo que caracteriza o humano, como a razão, incluindo, inclusive, o seu pendor místico. 


* Arte em Poemia - wordpress.com

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

BALADA DO ABISMO, A QUEDA



* Honório de Medeiros

Nada espere de mim:
sou todos, sou ninguém.
De mim colherá um instante, apenas um instante.

Nele, o que há?

O sopro de um Deus;
A gota de chuva na tempestade,
A cinza, do fogo-vento.

Frases pinçadas ao léu;
No abismo, a queda,
Na morte, a evanescência.

Não esqueça jamais:

Todos homens são Um,
Um homem é Todos.
Tudo espere de mim.

Arte em don-aleksander.blogspot.com

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O TRIBUNAL DE CONTAS DO RN E SUAS CONTRADIÇÕES

* Honório de Medeiros

Diz-se que nas crises abundam as contradições. E que as contradições expõem a verdade.

Trazem, à luz, tudo quanto as aparências escamoteiam do nosso conhecimento.

Revelam, pelo sim ou pelo não, como de fato são os fenômenos e as coisas.

É o que se percebe a partir da atual conjuntura político-econômica no Rio Grande do Norte.

Uma crise implacável em expor as entranhas das relações de domínio que entrelaçam e conduzem os homens. Ou seja, o Estado, essa hipostasia.

Pois desde há algum tempo que as instituições e o homens, no nosso Estado, em agindo, parecem mostrar, à Sociedade, não os véus, a cortinas, as máscaras, mas a verdade nua e crua que mesmo demorando em aparecer, e aparecendo de forma canhestra, é percebida senão por todos, mas pela grande maioria, ao longo do seu processo histórico.

Tomemos um exemplo dentre os muitos que estão à nossa disposição. 

Trata-se do comportamento do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte enquanto instituição co-responsável pela conjuntura acima mencionada.

Os mais entendidos - e como os há aqui na província - dizem que a atual crise remonta ao Governo Garibaldi Alves.

Se o é, não importa. O que importa é que é antiga, e o Tribunal de Contas nada fez para evitá-la, mesmo sendo de sua competência fazê-lo.

E poderia? Sim, a julgar por sua dura e imediata reação ao Projeto de Lei apresentado pelo Governo para liberar o restante do saldo do FUNFIR.

Restante do saldo que podendo pagar o presente, sequer pagará o futuro dos aposentados do Estado que padecem a muito tempo com o atraso no pagamento dos seus proventos.

Atraso que gerou e tem gerado histórias horríveis de sofrimento e desespero.

Pergunta-se: por qual motivo o TCE não agiu com a mesma dureza e rapidez ao longo dos governos Garibaldi, Wilma, Fernando Freire, Iberê, e Rosalba?

Não adianta "comunicar" que houve advertências e mais advertências. Por que não agiu antes como o fez hoje?

O comportamento do TCE é, sem dúvida, questionável. 

Não por outro motivo o Procurador Geral de Contas da União a ele fez duras críticas em relação ao não cumprimento de seu papel institucional.

Leia: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/procurador-de-contas-da-unia-o-critica-governo-e-tce/400817.

Se há uma contradição no comportamento do TCE neste período de crise, existem, também, teorias para explicá-las. 

Uma delas é duríssima, e foi desfechada pelo Deputado Federal Fábio Faria, filho do Governador Robinson Faria, e pode ser lida "au complet" em conhecido blog deste Estado, o do BG:

"“Os aposentados poderiam acordar amanhã com seus salários na conta".  "Não irão por causa dessa decisão”, escreveu o deputado, anotando achar “estranho o Conselheiro do TCE Paulo Roberto Alves bloquear o dinheiro da Previdência dos aposentados do RN”.

Fábio historiou o posicionamento do conselheiro em matéria semelhante em tempos recentes.

“Em 2014, o governo Rosalba usou o FUNFIR para pagar novembro, dezembro e o décimo-terceiro. Paulo Roberto Alves não foi contra. Em 2015, de novo, o FUNFIR foi usado. E Paulo Roberto Alves também não se posicionou contrário”, lembrou o deputado.

Fábio aproveitou para questionar: “Por que só agora o conselheiro foi contra? Qual posicionamento vale? Por que antes valia e agora não pode? Por que não alegou impedimento pra votar? Alguém explica? O conselheiro é contra o Rio Grande do Norte, contra os aposentados, ou contra ambos?”"

Pois bem, contradição como essa, apontada pelo Deputado, somam-se às críticas de instituições sérias, tal qual a Transparência Brasil, entidade cuja principal bandeira é o combate à corrupção.

Esta, em estudo recente, revelou que 62% dos 238 conselheiros de tribunais de contas conquistaram os cargos depois de exercer mandatos políticos ou posições em governos.

De acordo com o relatório, os tribunais são caros, altamente politizados e “desenhados para não funcionar”.

Leiam mais em:
https://www.transparencia.org.br/downloads/publicacoes/TBrasil%20-%20Tribunais%20de%20Contas%202016.pdf.

Também permitem a jornalistas antenados como Alex Medeiros, atenta testemunha dos fatos do cotidiano, dizer o seguinte, em seu twitter:

"Procurem coincidências. O ato do TCE (o cabide luxuoso) proibindo o pagamento dos salários de aposentados  pelo fundo previdenciário dos próprios aposentados, foi protagonizado pelo irmão do senador Garibaldi Filho."

Essas contradições expõem a verdade?

sábado, 20 de janeiro de 2018

ALGEMAR DESNECESSARIAMENTE É TORTURA

* Honório de Medeiros

O ex-Governador Sérgio Cabral deve ser punido por seus erros, todos eles. Todos. 

Isso é óbvio.

Mas algemá-lo não é exemplo de outra coisa senão do quão opressor o Estado pode ser quando ultrapassa seus limites.

Pobre ou rico, ninguém deveria ser algemado, exceto em situações excepcionais. Muito excepcionais.

Ao algemá-lo como a Polícia o fez legitimamos o excesso estatal, a tortura que seus agentes - não todos, claro - cometem, a humilhação desnecessária.

Esmagar o espírito de um homem revela quanto somos bestiais, uma vez jogada fora a tênue casca que aprisiona nosso íntimo.

ESQUERDA NACIONALISTA E DIREITA AUTORITÁRIA

* Honório de Medeiros

Um "meme", quando surge, impacta e sobrevive aos trancos e barrancos.

Uma vez estabelecido, retro-alimenta-se e se expande qual vírus, ao ponto de seu surgimento cair no domínio da lenda, da fantasia.

Vem o tempo da manipulação.

É o que acontece com as teorias conspiratórias, muito em uso por grande parte da direita nacionalista e esquerda autoritária.

Irmãos siameses.