quarta-feira, 15 de junho de 2011

KYDELMIR DANTAS FAZ PALESTRA SOBRE LUIZ GONZAGA

Luiz Gonzaga
mlb.com
 
 
Do Cariri Cangaço:
 
Será aberto nesta quarta-feira, 15/06 o XI Seminário de Cultura Popular, coordenado pela Secretaria Municipal da Cidadania através das Gerências de Educação e Cultura. O evento acontecerá às 19h no Teatro Municipal Dix-Huit Rosado, dentro da programação do Mossoró Cidade Junina. A cerimônia de abertura contará com a presença da Prefeita Fafá Rosado, do Secretário da Cidadania Francisco Carlos Carvalho, além das Gerentes de Educação Ieda Chaves e de Cultura Clézia Barreto.

Este ano, o Seminário de Cultura Popular terá como tema a ‘Música Nordestina’ e em função disso, a programação está totalmente voltada para o estilo musical e sua influência na cultura popular e nordestina. “A escolha do tema do seminário fluiu principalmente pelo fato das escolas da rede municipal de ensino começar esse ano a incluir obrigatoriamente a temática da música no currículo escolar, então decidimos aproveitar o momento para refletir sobre a música nordestina, a nossa cultura”, comentou a Gerente Ieda Chaves. Para este seminário estão sendo esperados cerca de 730 participantes. A orquestra Sanfônica de Mossoró recepcionará os convidados e também fará a apresentação de abertura. O evento segue até a quinta-feira (16/06) e todos os participantes receberão certificados.

VEJA A PROGRAMAÇÃO DO SEMINÁRIO

· DIA 15/06- 19h
Palestra- A Relevância da Obra de Luiz Gonzaga como composição do Cancioneiro Popular Nordestino
Palestrante- Cláudio Henrique Pereira de Araújo- Maestro da Orquestra Sanfônica
Apresentação artística- Orquestra Sanfônica de Mossoró
· DIA 16/06- 19h
Palestra- A Influência de Luiz Gonzaga para a Consolidação do Forró enquanto Gênero - do Forró Pe-de-Serra ao Forró Eletrônico
Palestrante- Escritor Antônio Kydelmir Dantas de Oliveira
Apresentação Artística- Caçula Benevides e o Forró Pé-de-Serra
 

UM HERÓI MOSSOROENSE

Manoel Duarte

Honório de Medeiros

Um preciso tiro de fuzil ecoou no final de tarde nublado do dia 13 de junho de 1927 e, aproximadamente cem metros além, a bala atingiu o meio-da-testa de um caboclo puxado para o negro aparamentado com a indumentária típica do cangaceiro, prostando-o na terra nua, de barriga para cima, a olhos fixos e vazios voltados para o céu acima, bem ali onde a Avenida Rio Branco cruza a Rua Alfredo Fernandes, onde, na esquina, fica a famosa Igreja de São Vicente cuja imagem, do seu nicho decenal, tudo contemplava.

 Era o começo do fim. No alto da casa do Prefeito Municipal - o líder que começara a epopéia -, no telhado, o atirador viu quando outro cangaceiro, de um trigueiro carregado se aproximou, rastejando e disparando, da vítima, e começou a rapiná-lo, retirando freneticamente, de seus bolsos, munição, dinheiro e jóias. Calmamente, mirou e aguardou. Pressentindo o perigo iminente o bandido ergueu o tronco elevando os olhos até o telhado da casa cuja frente fora tomada por fardos de algodão prensados para servirem de barreira. Foi apenas um momento, mas foi fatal. Outro tiro de fuzil ecoou e, no mesmo local onde seu companheiro jazia sem vida o cangaceiro foi atingido. O violento impacto da bala derrubara-o momentaneamente e desenhara, em seu tórax, uma rosa de sangue. Seus parceiros, paralisados, perplexos, observavam incrédulos. Começou a debandada.

Enquanto os resistentes percebiam que a ameaça fora sustada e o recuo dos cangaceiros era generalizado, o atirador recolhia o fuzil e fitava a cidade no prumo que tinha a Igreja de Nossa Senhora da Conceição como limite. Olhava e pensava. Ele tinha morto um cangaceiro e ferido mortalmente outro. Não havia dúvida quanto à importância desse fato para a vitória. Mas cangaceiros são vingativos, cangaceiros são ferozes, cangaceiros são cruéis. Cangaceiros são dissimulados e não esquecem nunca, matutava ele com seus botões. Se ele aceitasse passivamente as homenagens que lhe seriam tributadas a partir daquele momento tudo poderia, no futuro, desandar no gosto amargo causado pela retaliação de algum anônimo, talvez até mesmo em algum parente, como era prática comum na vida cangaceira. Não que fosse medroso. Ao contrário. Todos quantos lhe conheciam podiam atestar sua coragem e perícia com as armas, que já ficavam lendárias. Mas era melhor se precaver. Era melhor silenciar. Não seria o caso de negar veementemente, por que não era homem para esse tipo de extroversão mentirosa. Mas ia silenciar. Não ia comentar nada. O que estava feito, estava feito, e era de acordo com seu temperamento reservado. Se lhe perguntassem, mudaria de assunto. Se comentassem em alguma roda da qual estivesse fazendo parte, sairia de mansinho. Guardaria a verdade consigo, por muito e muito tempo, e a contaria apenas para alguns escolhidos.

Naquele dia banal, muito tempo depois, sozinho com seu neto de dez anos de idade, sentiu vontade de contar aquilo que nunca contara a ninguém. Era uma necessidade da alma, um anseio de perpetuar um feito honroso, um gesto de heroísmo que o mostrava tão diferente dos que tinham fugido em direção ao mar quando os cangaceiros ciscavam nas portas de Mossoró, um gesto que lhe orgulhava por que defendera sua família e sua cidade a um custo alto, que era o de tirar a vida de alguém. Olhou para o neto e compreendeu que ali estava o interlocutor perfeito. Não questionaria, não interromperia, não esqueceria. Guardaria a lembrança do dia e do relato. Assim sendo começou a lhe contar todo o episódio, detalhe por detalhe. O neto apenas olhava intensamente e sentia que estava sendo transmitido, para ele, algo muito importante e que somente no futuro seria plenamente entendido. Acalmou sua inquietude de menino. Não desgrudou o olho do seu avô, aquele homem reservado e pouco propenso a confidências. No final, quando toda a história havia sido contada, compreendeu que devia guardá-la consigo, até mesmo esquecida, por algum tempo.

Em um final de tarde tipicamente mossoroense, de muito calor, em um café, o neto se aproximou de uma roda de estudiosos do cangaço e percebeu que discutiam a participação do seu avô na invasão da cidade pelo bando de Lampião. Uns diziam que havia sido ele o autor dos disparos. Outros negavam e apontavam nomes. Quase oitenta anos haviam se passado do episódio. O neto, agora, era cinqüentão. Sentiu que ali estava o momento certo para contar a história, a sua história, a história do seu avô. Aquela platéia saberia ouvi-lo e entenderia plenamente as razões do silêncio da família. Contou tudo. Fechou-se o ciclo. Dezenas de anos depois já não há mais dúvidas. O atirador postado no alto da casa de Rodolpho Fernandes, o homem que praticamente abortara a invasão lampiônica, o herói entre heróis fora Manoel Duarte. Esta é a verdade, como o sabe sua família e a contou seu neto, Carlos Duarte, jornalista, muitos anos depois, a mim, que registro, aqui, a história, e a Kydelmir Dantas e Paulo de Medeiros Gastão, estes últimos dirigentes da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC.

terça-feira, 14 de junho de 2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011

NOTIFICADO POR UM FISCAL, O POETA CONSULTA UM CONTADOR

"Seu" Chico Honório e a neta, Bárbara

NOTIFICADO POR UM FISCAL DE IPTU, “SEU CHICO HONÓRIO” CONSULTA O AMIGO E CONTADOR “ZEZITO” A RESPEITO DA NOTIFICAÇÃO (27.07.1982): 

Caro Zezito: eu não sei
Serviço de Contador;
Apenas sou Cantador,
Por isso é que ignorei
Quando recebi, pasmei,
Esta Notificação.
Pus a mão no coração,
Me senti baratinado,
Como quem está agarrado,
Nas munhecas de um ladrão.

Quem fez foi um camarada
Que ao fazer ficou gozando.
Por isso é que estou pensando
Que essa “Bicha” está errada;
Olhe, não é caçuada,
Desse jeito não se agüenta,
Com mais uma me arrebenta,
Me joga contra o Brasil,
Se eu pagar dezoito mil
Setecentos e sessenta.

O assunto eu já lhe expus,
Dê um jeito nesse troço.
Pagar tudo isso, não posso.
Pelo amor de Jesus,
Tire de mim essa cruz,
Haverá compensação.
Você que é um bom cristão,
Não pense em muito ganhar:
É só prá verificar
A “Bicha” tá certa ou não?

VEJAM AS ESTRATÉGIAS USADAS PARA MANIPULAR A SUA OPINIÃO

Noam Chomsky
tabacco.blog-city.com


De Pedro Simões recebi o texto abaixo:

"Recebi da amiga Monara Bittencourt, uma postagem que explica, de modo racional e convincente, de que modo somos manipulados pelos veículos de formação de opinião, em favor de interesses contrários à sociedade. O texto é baseado em Chomsky, ninguém menos que Avram Noam Chomsky, lingüista, filósofo e ativista político americano, que se define como “socialista libertário”.

A matéria é devastadora, não apenas porque expõe as estratégias utilizadas para manipulação da opinião pública, mas porque é incontroversa, já que é baseada em fatos e no raciocínio lógico, e não em especulações e factóides, como agora é moda.

Já me posicionei algumas vezes contra o chamado “jornalismo opinativo”, que nos retira a capacidade de formar a nossa própria crítica a respeito dos fatos. E agora, como os meus amigos e as minhas amigas do Fb vão comprovar, constata-se que esse viés serve a interesses espúrios, contrários aos da sociedade.

Em sucessivas análises dos meios de comunicação de massa, Chomsky elaborou, em parceria com Edward Herman, uma teoria que explica a manipulação midiática, hoje conhecida como “Teoria da Propaganda de Chomsky e Herman”. Ele é também conhecido por sua “Gramática Transformacional” que explica as propriedades matemáticas da linguagem.

Assegurada a credibilidade e desenvoltura intelectual do autor americano, vamos às suas conclusões. Segundo o analista, a manipulação da opinião pública se dá através da utilização de 10 estratégias, a saber":

1.     Estratégia da Distração – Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, atraída por temas sem importância real. Manter o público ocupado, sem nenhum tempo para pensar.

2.     Criar problemas e depois oferecer soluções - Se cria um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o suplicante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o requerente de leis de segurança e políticas, em prejuízo da liberdade.

3.     Estratégia da gradualidade - Para fazer que se aceite uma medida inadmissível, basta a aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, num prazo ampliado. Dessa forma, as novas condições impostas, as mudanças radicais são aceitas sem provocar revoltas.

4.     Estratégia do adiamento - Outra maneira de provocar a aceitação de uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e necessária”, obtendo aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro que um sacrifício imediato.

5.     Dirigir-se ao público como criaturas de pouca idade - A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonações particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma criatura de pouca idade ou um deficiente mental.  Por quê? Porque dirigir-se a uma pessoa como se tivesse 12 anos ou menos, tenderá, por sugestão, a adotar respostas ou reações mais infantis e desprovidas de sentido crítico.

6.     Utilizar a emoção mais do que a reflexão - Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para provocar um curto-circuito na análise racional, e neutralizar o sentido critico dos indivíduos.  Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir a determinados comportamentos

7.     Manter o povo na ignorância e na mediocridade - Fazer com que o público seja incapaz de compreender a tecnologia e método sutilizados para seu controle e escravidão. A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distancia entre estas e as classes altas permaneçam inalteradas no tempo e seja impossível alcançar uma autêntica igualdade de oportunidades para todos.

8.     Estimular o público a ser complacente com a mediocridade - Fazer crer ao povo que está na moda a vulgaridade, a incultura, o ser mal falado ou admirar personagens sem talento ou mérito algum, o desprezo ao intelectual, o exagero do culto ao corpo e a desvalorização do espírito de sacrifício e do esforço pessoal.

9.     Reforçar o sentimento de culpa pessoal - Fazer crer ao individuo que ele é o único culpado de sua própria desgraça, por insuficiência de inteligência, de capacidade, de preparação ou de esforço. Assim, em lugar de rebelar-se contra o sistema econômico e social, o indivíduo se desvaloriza, se culpa, gerando em si mesmo um estado depressivo que inibe a sua capacidade de reagir.

10.  Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem - Nos últimos 50 anos, os avanços da ciência geraram uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, a neurobiologia e a psicologia aplicada, o Sistema tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicológica. O Sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele se conhece. 


domingo, 12 de junho de 2011

CARLOS SANTOS LANÇA "SÓ RINDO 2"

O VELHO TINHA RAZÃO

cantodecontarcontos.blogspot.com


Honório de Medeiros


                        Numa roda em que se discutia o pouco respeito que nós, contemporâneos, tínhamos pelos mais velhos, alguém contou uma história acontecida alguns anos atrás, para ressaltar a importância que eles têm como memória viva de uma comunidade.

 A história aconteceu em uma cidade do Sertão aqui próxima, aquela mesma que você, caro leitor, está pensando.

                        “Disseram-me”, disse ele, “que o homicida se aproximara por trás da vítima, na esquina das “Quatro-Bocas” com o Açougue Público, no pino do meio-dia e lhe chamara pelo nome. Ao engatar seus olhos nos olhos do outro deixou cair o pano grosseiro que encobria a lambedeira de doze polegadas e lhe dera um golpe rápido e certeiro na boca do estômago, logo seguido de outro que foi meio que aparado com as mãos, e um último – esse fatal – no pescoço, mesmo na jugular, de onde o sangue jorrou aos borbotões. Tudo isso aconteceu quando o movimento era o maior possível por causa da feira do Sábado.

 Quem me contou, por exemplo, estava a poucos passos do acontecido e viu tudo, tim-tim por tim-tim. Percebeu, inclusive, que todo mundo ficou meio como que congelado no tempo e no espaço enquanto o agressor, calmamente, pegou o pano que escondera a faca-peixeira, limpou o sangue do braço, e deixou ambos largados por sobre o corpo do já defunto e se esgueirou multidão a dentro.

                        Mesmo assim, me disseram, não demorou a ser pego. Aliás, até parece que quando saiu do local do crime apenas estava querendo tomar distância. Não era uma fuga. Tanto que seus passos, ao sair, não eram rápidos, eram enérgicos. E não houve resistência à voz de prisão. Ao contrário. Parecia até que, com a polícia, tinha um encontro marcado para o qual compareceu, como esperado, embora silencioso, e assim se manteve mesmo quando lhe perguntavam com ares ameaçadores seu nome, de onde era, e o motivo daquilo tudo.

 Não houve como fazê-lo falar. Bem que o Delegado pensou em lhe dar umas bolachas destravadoras de língua, mas esbarrou na sua aversão a esses métodos e no medo ao juiz novo, que tinha fama de exigente. Sendo assim, apenas o trancafiou e determinou que começassem os procedimentos de praxe.

                        Na cidade, o zum-zum era grande. Quem seria aquele homem que surgira do nada e matara a vítima? As especulações eram de todo o tipo e as mais fantasiosas, começando com intrigas amorosas e terminando em questiúnculas políticas. A polícia não informava nada. Limitava-se a dizer que o homem tinha uns quarenta anos, vestia-se como qualquer um, sem nada que chamasse a atenção para si.

 Era, o tal, enfim, alguém inexpressivo, que passaria totalmente despercebido no local onde cometera o crime.

 Quando o falatório, qual o vento Nordeste, começou a açoitar as casas do arrebalde, trazido pelos que voltavam da feira, encontraram Mestre Zé Vidal sentado em sua cadeira de balanço, na sombra da oiticica que praticamente escondia a frente de sua casa. A cadeira ficava em um lugar estratégico: quem passava tirava dois dedos de prosa e abastecia a reserva de Mestre Zé Vidal contra o tédio de uma aposentadoria compulsória que o afastara da escrivania do Cartório Criminal da cidade.

 Ele ficava ali, gordo, uma perna sobre o braço da cadeira, sandália de rabicho, calça de mescla, camisa de manga curta de algodão fechada até o pescoço, respondendo pilhérias, tirando outras, puxando assunto com quem passava. Alguém lhe levou a notícia. Aliás, vários.

Formou-se uma roda no seu entorno. Ele escutou, escutou, até que se levantou e olhando para todos e nenhum em particular lembrou que há uns tantos anos atrás, quase quarenta, mais ou menos, a vítima tinha uma tenda na feira para vender frutas. Em um Sábado, um menino pelos seus dez anos se aproximou trazendo uma lata mais ou menos do tamanho da metade de uma de querosene e mandou encher de cajarana.

Ato feito olhou para a vítima e lhe disse, apontando para trás dele, que tinha alguém o chamando. A vítima se voltou para trás. O menino desandou a correr. Mas não teve sorte. Tropeçou e caiu. A vítima lhe agarrou pelo cabelo e pegando uma corda lhe deu uma surra tremenda. O menino não chorou nada. Cada vez que tentava se levantar, levava um empurrão. Apanhou calado. Quando a vítima cansou o menino se levantou, arrumou os farrapos de sua dignidade, olhou fixamente para a vítima e lhe disse que quando crescesse iria matá-lo. E foi embora.

                        Podem ir atrás. O homicida é o menino.” 


sábado, 11 de junho de 2011

MANUEL SEVERO, "O CORPO E A ALMA" DO CARIRI CANGAÇO

Manuel Severo

Manuel Severo é um gentil-homem empreendedor de alto nível. Do nada, à custa de disciplina e talento, criou esse evento acerca do Cangaço, Coronelismo e Misticismo, que é referência no Brasil. Este ano, em Setembro, estaremos todos juntos lá, no Cariri, sob sua batuta.
Ao blog, gentilmente, Severo concedeu esta entrevista: 

Blog: tudo pronto para o Cariri Cangaço deste ano? Quando será, quantos palestrantes, os temas...


Severo: Na verdade, o Cariri Cangaço não pára, é encerrando uma edição e já começando a formatar e preparar a próxima; entretanto, para um evento desta natureza e com abrangência e capilaridade que ele acabou assumindo, temos dedicado, neste último mês, mais atenção à finalização de sua programação.

 Este ano o Cariri Cangaço terá como sub tema “Da Insurreição a Sedição”, trazendo para nossos convidados dois episódios marcantes da história de nosso Cariri: a Insurreição de 1817, onde irão despontar personagens como Bárbara de Alencar, Martiniano de Alencar e Tristão Gonçalves, e a Sedição de Juazeiro, quando Padre Cícero e Floro Bartolomeu se levanta contra o governo de Franco Rabelo, protagonizando um dos épicos da história de nosso Ceará.

 Teremos 16 Conferências seguidas de Mesa de Debates, com temáticas versando não apenas acerca do Cangaço, mas temas nordestinos, passando pelo Messianismo, Coronéis, Arte, Música, Fotografia, Cinema, dentre outros.



Blog: Quantos municípios estão envolvidos no evento? O Estado participa?


Severo: o evento que iniciou com quatro municípios, Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha, agora conta com mais três importantes cidades: Aurora, Barro e Porteiras, cenários também de importância ímpar dentro do contexto do ciclo do cangaço do inicio do século passado.

 O governo do estado do Ceará ainda não confirmou sua participação, mas não temos dúvidas que teremos o apoio do senhor secretário da cultura, Professor Pinheiro e do senhor governador Cid Gomes.


Blog: Qual a previsão de público?


Severo: Já temos a confirmação de 118 pesquisadores e escritores de todo o Brasil. Serão representações de 14 estados da federação, além de um público participante nas sete cidades anfitriãs, de cerca de 1.300 pessoas, entre estudantes, professores, curiosos, público em geral.


Blog: abra o jogo e diga quais os maiores problemas que vc enfrenta para montar um evento dessa natureza!


Severo: sem dúvidas, e não é privilégio do Cariri Cangaço, o maior problema é a questão financeira, pois o evento exige uma infra-estrutura muito pesada, em todos os sentidos, só para os amigos terem uma idéia, no ano passado acolheu com hospedagem, alimentação e transporte, 104 personalidades do universo da pesquisa de temas nordestinos; ainda temos toda parte de mídia, de infra-estrutura dos espaços, enfim, o custo é considerável, e este ano já temos confirmados 118 convidados especiais. Considerando essa questão como a primordial, o resto fica por conta do empenho e dedicação de uma equipe formada por mais de 120 profissionais de todos os municípios, universidade, institutos culturais, enfim, que é a alma do Cariri Cangaço.


Blog: ainda há muita coisa a ser conhecida em relação ao Cangaço, em termos de fatos, ou o tema já se esgotou?


Não vejo o Cangaço como um tema estático ou mesmo esgotado em suas possibilidades de pesquisa, entendimento e ou aprofundamento. A enorme influência que o fenômeno acabou determinando às sociedades rurais em sua área de atuação e hoje difundidas na música, na poesia, na estética, na arte, na culinária, na medicina sertaneja, no entendimento da relação do homem com seu habitat, enfim, nos remetem a um universo inesgotável, inclusive vindo agregar ainda mais valor ao trabalho dedicado desses grandes vaqueiros da história, pesquisadores, memorialistas, escritores... Por isso não vejo o cangaço como algo que já não tenha o que comentar, estudar, discutir.

Blog: em termos de avanço no estudo do Cangaço, o que vc pode apontar de novo?


Justamente o que nosso amigo Honório de Medeiros provoca, rsrsrsrs: a Nova Onda do Cangaço; com um olhar diferenciado, analítico e sem preconceitos, contando com a participação das academias, dos centros culturais, das sociedades literárias, enfim; o que vejo de novo nesta seara do estudo e pesquisa do tema é justamente esse novo viés, ou seja, a partir das várias áreas do conhecimento humano, se criar um ambiente favorável para se entender melhor esse que foi sem dúvidas um dos mais marcantes episódios de nosso sertão.

Ao final é deixar um grande abraço e convidar a todos para nos dá o prazer de compartilhar conosco momentos inesquecíveis em nosso Cariri Cangaço 2011, entre os dias 20 e 25 de setembro, no Cariri do Brasil.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

UM BANCO DE IDÉIAS DO SERVIDOR PÚBLICO



Honório de Medeiros

                   Quando aceitei o convite do governo passado (Wilma de Faria) para ser Secretário de Estado da Administração e dos Recursos Humanos, uma das primeiras questões à qual nós nos propusemos foi o que fazer com o imenso capital humano composto pela massa de servidores públicos estadual até então totalmente inaproveitado.

 Nós sabíamos que era necessário, possível e desejável fazer algo com esse capital humano que alavancasse não somente a carreira do servidor público, mas, também, significasse uma forte presença do Governo na sociedade, evidentemente a médio e longo prazo, no que diz respeito à qualidade do serviço prestado pelos órgãos que o compõem.

                   De um lado tínhamos aproximadamente 100.000 servidores cuja potencialidade era plenamente desconhecida, aos quais vinha sendo negado, desde há muito, até mesmo o mínimo, ou seja, um Plano de Cargos e Remuneração. Do outro, uma sociedade que demandava serviços até então prestados de forma precária, quando não equivocada, em virtude do inexpressivo investimento em recursos humanos feitos pelos governos que nos antecederam.

                   Apresentei, na primeira reunião do secretariado, o esboço de um projeto denominado “Banco de Idéias”, a ser desenvolvido e gerido pela Secretaria de Administração e Recursos Humanos.

 Consistia no seguinte: os servidores públicos seriam estimulados a se cadastrarem em um ambiente virtual apresentando todo seu potencial informal, em termos de idéias e currículo, até então ignorado pela Administração Pública.

Por exemplo, na nossa própria Secretaria existia um ASG com doutorado em Tecnologia da Alimentação. Apareceriam, assim, especialistas, pós-graduados, graduados em áreas distintas daquelas nas quais eles trabalhavam. Apareceriam idéias importantes em relação à gestão pública estadual que permaneciam desconhecidas por não encontrarem interlocutores apropriados.

                   Constituído o Banco ele seria colocado à disposição, em ambiente virtual, dos gestores do Estado, através de um moderno sistema de busca.

 Caso um Secretário de Agricultura precisasse de algum especialista em “Tecnologia da Alimentação” digitaria esses termos e a ficha cadastral do ASG da Secretaria de Administração apareceria na sua frente. O Secretário de Agricultura nomearia o ASG para um cargo em comissão bem remunerado de uma reserva criada exatamente para ser preenchida em situações específicas iguais a essa, ou obteria sua cessão e lhe atribuiria uma gratificação apropriada, e o seu problema estaria resolvido sem que fosse necessário importar “consultoria” de fora.

Caso o Secretário necessitasse de idéias acerca de um problema qualquer, o acervo do Banco também lhe seria extremamente útil – ele disporia de uma consultoria de alto nível, potencializada pela experiência de quem vive a Administração Pública Estadual.

                   Esse Banco funcionaria em uma Escola de Gestão cujo programa resultaria da capacitação em torno da demanda do Governo. Essa demanda: o quê precisamos, quanto, quando, onde e por que, nortearia uma política de recursos humanos em termos de treinamento de servidores para ser possível, em um prazo de tempo razoavelmente curto no que tange às políticas públicas, darmos um salto de qualidade em termos de gestão administrativa.

                   O espaço é curto para maiores exposições acerca do Banco de Idéias do Servidor Público. Do ponto de vista estratégico, entretanto, é possível oferecer a noção daquilo que está envolvido no programa/projeto: aproveitar o potencial oculto e inerte de 100.000 servidores que perplexos, vêem o tempo passar e não conseguem crescer enquanto profissionais nem têm a oportunidade de se colocar, concretamente, a serviço do seu Estado.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

ENTREVISTA COM MANUEL SEVERO SAI SÁBADO


MANUEL SEVERO, O IDEALIZADOR E CURADOR DO "CARIRI CANGAÇO", FOI ENTREVISTADO POR ESTE BLOG.

SAIBA, ENTRE OUTRAS COISAS, COMO SERÁ ESSE GRANDIOSO EVENTO NACIONAL EM 2011.

E O QUE PENSA SEU CURADOR, HOJE, ACERCA DE COMO SE DISCUTE O CANGAÇO.

XIII FÓRUM DO CANGAÇO EM MOSSORÓ, RIO GRANDE DO NORTE

XIII Fórum do Cangaço

Tema: A arte comanda o cangaço

Mossoró/RN

13 a 16 de junho de 2011

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN

OBS: As atividades foram transferidas para a Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA

Local: Auditório Amâncio Ramalho – Auditório da Reitoria


Informações e inscrições:
Museu Municipal Lauro da Escóssia
Fone: 3315-4778

Horário: 07h00 as 11h00 e 14h00 as 17:00





"DISCURSO SOBRE A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA", POR LA BOÉTIE

La Boétie


Honório de Medeiros

                   Leiam isso: “Aqueles a quem o povo deu o poder deveriam ser mais suportáveis; e sê-lo-iam, a meu ver, se, desde o momento em se vêem colocados em altos postos e tomando o gosto à chamada grandeza, não decidissem ocupa-lo para todo o sempre. O que geralmente acontece é tudo fazerem para transmitirem aos filhos o poder que o povo lhes concedeu. Ora, tão depressa tomam essa decisão, por estranho que pareçam, ultrapassam em vício e até em crueldade os outros tiranos; para conservarem a nova tirania, não acham melhor meio que aumentar a servidão, afastando tanto dos súditos a idéia de liberdade que estes, tendo embora a memória fresca, começam a esquecer-se dela”.

                   E isso: “Os teatros, os jogos, as farsas, os espetáculos, (...) as medalhas, os quadros e outras bugigangas eram para os povos antigos engodos da servidão, o preço da liberdade que perdiam, as ferramentas da tirania”.

                   Parece recente? Não o é. Trata-se, tanto um quanto o outro, de excertos da excepcional obra “Discurso Sobre a Servidão Voluntária”, de La Boétie, escrita entre 1546-1548. Esse francês, nascido em 1º de novembro de 1530, no condado de Périgord, França, e morto em 1563, perto de Bordéus, aos trinta e três anos, foi o maior dos amigos de Montaigne, que lhe era mais novo dois anos. Dessa amizade o próprio Montaigne deixou registro emocionante: “Vindo a durar tão pouco e tendo começado tão tarde, pois éramos ambos homens feitos e ele mais velho do que eu alguns anos, não tínhamos tempo a perder, nem tivemos de nos ater aos modelos de amizade moles e regulares que necessitam de precauções e conversações prévias”.

                   Quanto à genialidade de La Boétie é bastante o depoimento do seu tradutor, o português Manuel João Gomes na edição Antígona, de Lisboa, Portugal, 1997: “Para La Boétie é ilegítimo o poder que um só homem exerce sobre os outros; (...) O Discurso afirma a liberdade e a igualdade absolutas de todos os homens; Indo mais longe do que Maquiavel (o primeiro que reconheceu o poder efetivo das massas), La Boétie incita os povos a desobedecerem aos príncipes (governantes) e, com uma clareza até então nunca vista, põe em evidência a força da opinião pública”. Tudo isso aos dezoito anos de idade!

                   Ler La Boétie é, principalmente, perceber quão antiga permanece a luta do homem para não ser completamente subjugado pelo Estado. Ela começou na longínqua Idade Antiga, quando os maravilhosos gregos inventaram a Democracia. Prossegue até hoje, apesar dos percalços. Mas está cada dia mais difícil: no Oriente Médio disputa-se o poder à custa do sangue de inocentes. Israel, secundado pelos Estados Unidos e sua doutrina da “guerra preventiva”, mata, como os nazistas faziam aos serem atacados pela resistência, a dez por um. E assim vamos marchando rumo à barbárie, inexoravelmente, e à tirania, sob o pretexto de combater o terrorismo, como quem está com um encontro marcado com o final de tudo.