Do Último Segundo / Escândalo no DF – IG
Matheus Leitão e Rodrigo Haidar, iG Brasília
BRASÍLIA – Documentos apreendidos pela Polícia Federal, aos quais o iG teve acesso, revelam que a tentativa do governador José Roberto Arruda de forjar uma imagem incorruptível para sua equipe e a administração de Brasília aumentou a irritação do jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Edson Sombra, e apressou a deflagração do escândalo do DF. De fato, antes de os vídeos feitos por Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais e pivô das denúncias no Distrito Federal, virem à tona, Arruda começava a preparar sua campanha à reeleição, tentando firmar-se como um político limpo e exímio administrador. Chegou a obter índices de aprovação semelhantes aos do governo Lula.
No gabinete de Durval Barbosa, a PF encontrou as páginas de duas reportagens sobre Arruda na imprensa, as duas com anotações de Sombra. Em uma delas, publicada pela revista Veja em julho do ano passado, o jornalista sublinhou um trecho da entrevista onde Arruda fala de ética e de como não permite atos de corrupção em seu governo. “No canto superior esquerdo da página observa-se uma anotação feita por Sombra de caneta azul, no dia 14 de agosto de 2009, direcionada a Durval dizendo o seguinte: “Durval, só hoje me dispus a ler essa entrevista e vi a contradição da história, de ontem e de hoje’”, registra a PF na análise do material apreendido.
Na revista, Sombra sublinha uma pergunta e a resposta do governador: “Qual é o seu limite?”. Arruda responde: “É o limite ético. É não dar mesada, não permitir corrupção endêmica, institucionalizada. Sei que existe corrupção no meu governo, mas sempre que eu descubro há punição. Não dá para entregar um setor de atividade do governo para que um grupo político cuide dele por interesses escusos. Se peço para um parlamentar eleito para me ajudar a administrar sua base eleitoral, isso é política. Mas, se entrego a esse parlamentar a empresa de energia elétrica, isso não é aceitável”.
Em nota publicada sobre Arruda no jornal Tribuna do Brasil no dia 16 de outubro de 2009, cerca de um mês antes de o esquema de corrupção montado no governo ser revelado pela operação Caixa de Pandora há outra anotação de Sombra. Na nota, Arruda afirma que a partir de 2010 tomará medidas para que todos os membros de seu governo tenham ficha limpa. Ou seja, não aceitaria quem tivesse processos ou condenações judiciais. O curioso é que o dono do jornalonde saiu a notícia , Alcir Collaço, aparece em vídeo gravado por Durval colocando dinheiro na cueca.
No jornal, Sombra faz outra anotação endereçada a Durval Barbosa: “Durval, é muito engraçado. Ele quer ser o puro enquanto isso vc não passa de um bandido eu agora sou visto por ele como picareta e ainda conto contra mim da desconfiança do MP. Não vou deixar. Edson Sombra, 16/10/09″. Na análise da busca e apreensão, a PF descreve que a anotação “demonstra a insatisfação de Edson Sombra em relação às atitudes de Arruda em representar o papel de um político íntegro e deixar que ele, Edson, e Durval passem por desonestos”. Pouco mais de um mês depois do bilhete ser escrito, a operação da Polícia Federal foi deflagrada.
O jornalista Edson Sombra foi quem encorajou Durval Barbosa a fazer a delação premiada e divulgar os vídeos nos quais deputados, empresários, secretários de governo e o próprio governador Arruda aparecem pegando dinheiro no gabinete de Durval. Os vídeos foram divulgados em primeira mão pelo iG no fim do ano passado. Sombra também informou à Policia Federal da tentativa de suborno, a qual culminou com a prisão do governador Arruda na tarde de ontem. Informou todos os passos para a Policia Federal e o Ministério Público do Distrito Federal, que prendeu também em flagrante o ex-servidor Antonio Bento da Silva, intermediário do governador nas negociações.
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