sábado, 16 de junho de 2012

TODA IDADE É A MELHOR IDADE



Nada mais dissimulado que esse gueto para o qual encaminham os idosos, ao qual denominam de "melhor idade", enquanto os confinam em um espaço geográfico e cultural específico, como o fazem com os negros e os homossexuais, diferenciando-os, especificando-os, para melhor manipulá-los.

Os detentores do capital agem como os grandes predadores o fazem quando caçam: isolam a presa do restante do bando para melhor abatê-la.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

NÃO SEGUIMOS À TOA


“VOLTE PARA O SEU LAR”
Marisa Monte
Aqui nessa tribo
Ninguém quer a sua catequização
Falamos a sua língua,
Mas não entendemos o seu sermão
(...)
Aqui nesse barco
Ninguém quer a sua orientação
Não temos perspectivas
Mas o vento nos dá a direção
A vida que vai à deriva
É a nossa condução
Mas não seguimos à toa
Não seguimos à toa

domingo, 10 de junho de 2012

GRACILIANO RAMOS E O CANGAÇO


Graciliano Ramos

Por Honório de Medeiros                     

                  Graciliano Ramos e o Cangaço.
Ricardo Ramos ao ouvir seu pai contar acerca de quando Palmeira dos Índios se armara para enfrentar Lampião, ficara fascinado:
“Passara a meninice acalentado pelas estropolias dos cangaceiros, da polícia volante, duas pestes que nos assolavam.”
“E (lhe) contei de uma noite, após a ceia, em que, atraído por foguetes, sai à calçada e vi os caminhões, as cabeças cortadas, espetadas em estacas, de Lampião, Maria Bonita e mais dez outros, os soldados empunhando archotes, gritando vitoriosos, um cortejo macabro pelas ruas de Maceió”.
Graciliano lhe diz:
“- Eu escrevi sobre isso”.
                   “Não havia lido, era pequeno e estava fora do Rio. Bem depois, ao se reunirem as crônicas de Viventes das Alagoas (título sugerido por Jorge Amado), afinal encontrei “Cabeças”. Ou reencontrei minha antiga visão, bárbara, mas transporta no sarcástico perfil do tenente Bezerra, que se reformou coronel, o falante matador de Lampião, versado em frases feitas, sua retórica elementar de glorificado primário.”
                   “Havia mais, bem mais. O Fator Econômico no cangaço, crônica da propriedade que se mantém e cresce pela força, com pequenos exércitos de senhores rurais, sedentários, enquanto os cangaceiros se distinguem dos outros facínoras apenas por serem nômades, no regime de produção agrícola da caatinga.”
                   Corisco, uma crônica do diabo louro, seu conterrâneo de Viçosa, filho de decadente família de donos de engenho, forçado a decair, enlouquecido, o pequeno monstro baleado e decapitado, morto quase inédito porque havia a guerra na Europa, tantos crimes. Dois Cangaços, a crônica dos matutos indefesos diante de dois poderes, a volante e o cangaceiro, a primeira muitas vezes obrigando-os à segunda opção, ou o seu reverso, em todo o caso forçando-os a escolher, pela imposição sócia, ou pior ainda, pela econômica.”
                   “E Lampião e Virgulino, que buscam o perfil. Necessariamente fincado no agreste.”
                   “Graciliano nunca idealizou Lampião. Desde 1926, ao escrever do assédio a Palmeira dos Índios, sem mencionar a sua participação pessoal. Chama-o ‘bicho montado’, ‘horrível’, ‘sanguinário’, diz dele o animal ‘cruel’, que ‘queima fazendas’, capaz ‘de violar mulheres na presença de maridos amarrados’, e ‘se conservara ruim, porque precisa conservar vivo o sentimento de terror que inspira’, enfim ‘vemos perfeitamente que o salteador cafuzo é um herói de arribação bastante chinfrim’”.
                   “Por outro lado, não desconhecem a sua projeção lendária. ‘Lampião nasceu há muitos anos, em todos os estados do Nordeste’. E se refere à nossa tradição bandoleira, do remoto Jesuíno Brilhante ao envelhecido Antônio Silvino, para concluir: ‘Resta-nos Lampião, que viverá longos anos e provavelmente vai ficar pior. De quando em quando, noticia-se a morte dele com espalhafato. Como se se noticiasse a morte da seca e da miséria. Ingenuidade.’”
                   Obra citada: “Graciliano RETRATO FRAGMENTADO”; RAMOS, Ricardo; Globo; 2ª edição; 2011; São Paulo.

DOS LIVROS

Do O Santo Ofício

Por Franklin Jorge

Disse Georges Bataille que a literatura é uma força essencialmente contestadora, uma presença confrontada em “medo e tremor”, capaz de nos revelar a verdade da vida e suas possibilidades excessivas, que só se realiza quando escrever deixa de ser uma arte da livre vontade para tornar-se uma questão de sobrevivência.


Bataille faz uma oportuna distinção entre livros escritos à guisa de experiência e livros que nascem da necessidade. E nos interroga de maneira apaixonada e parcial, como devem interrogar os artistas. Bataille é desafiador: — Como podemos perder tempo com livros que sentimos que o autor não foi compelido a escrever?


Eis porque ainda se lê Marx e Engels. Eles escreveram, por uma necessidade visceral inexplicável, porque tinham de fazê-lo. E o fizeram, como puderam fazer. Aqui, no entanto, a grande produção de títulos leva à vulgarização e nos faz ponderar sobre a gratuidade do ato de escrever, usado, abusado e colocado quase sempre à serviço da vaidade provinciana que busca auto-satisfação na logorréia.


Montaigne condena essa produção estéril e apressada. E defende a criação de uma lei capaz de exemplar com os rigores incautos e reincidentes, semelhante à velha lei que punia por vadiagem. Alguns séculos depois, o brasileiro Gustavo Barroso diria que um grande contingente de poetas seria sintoma infalível de decadência de uma cultura.


Há, por toda parte, gente escrevendo e produzindo livros em excesso. Escritores que prescindem do convívio dos livros. Seja-nos suficiente a vistoria diária da página de Opinião – a mais nobre de todas – dos nossos jornais. São tantos os articulistas que já constituem um pagode. Porém, apesar desse afã de nos fazermos reconhecidos como escritores, faltam-nos os autênticos homens de letras de que carece uma literatura vitaminada.


Escrever tornou-se um exercício de frivolidade que apetece a todo mundo, inclusive aos ágrafos. Resulta quase sempre em ejaculação precoce, masturbação, goga… Beira a irresponsabilidade, como fruto do desfastio, do tédio e da vaidade que a todos contamina e agrada. Enfim, uma contravenção simpática que pode ser praticada impunemente.


Diante deste quadro, faz-se necessário e urgente que as nossas instituições promovam o hábito da leitura como tática de preservação da cultura das belas letras, despertando os jovens para a convivência com os livros, fornecendo-lhes o arsenal de informação básico para que eles possam escolher suas leituras com altivez e competência.


É preciso ampliar em caráter permanente e sem lapso o acervo das nossas bibliotecas públicas, reforçando a verba para a aquisição de livros, inclusive dos lançamentos que muitos querem ler e poucos podem comprar… E sem deixar de fora as bibliotecas escolares que precisam não apenas de manuais e de livros didáticos, mas da grande literatura. Somente depois desse processo é que teremos leitores capazes de distinguir o excelente do apenas bom ou razoável.