sábado, 13 de julho de 2013

DESABAFO DE UM ESTUDANTE DE MEDICINA

Diogo Medeiros


Chamo-me Diogo. Diogo Mizael Bessa de Medeiros. Nascido em Pau dos Ferros/RN, filho de Mossoró/RN e adotado por Natal/RN. Brasileiro, sempre com muito orgulho. No momento não estou muito certo se tenho tanto orgulho assim. Tenho 24 anos e sou aluno do curso de Medicina da UFRN. Sou e sempre serei um eterno sonhador. Acredito que meu primeiro sonho tenha sido o de ser médico. Sonho antigo, desde criança bem pequena...
 
 Sempre quis isso. Nunca me vi fazendo outra coisa. A gratidão do sorriso de cada paciente e os seus “obrigados” tem um valor inestimável. Não tenho e nem nunca tive o desejo de fortuna. Desejo apenas uma vida digna com o ganho da minha profissão, como todos desejam em qualquer profissão. Não me considero pecador e nem mercenário por isso. Até porque não tenho e nem nunca tive vocação para a santidade.
 
 Amo o que escolhi para fazer pelo resto da minha vida. Sinto-me muito feliz por poder viver o meu sonho. No entanto, diante dos últimos acontecimentos sinto como se a essência dos meus sonhos estivesse se esvaindo. Vou realizar o meu sonho, vou ser médico... Mas meu sonho não será completo se eu não puder estar com as pessoas e ajudá-las. Esse é o meu maior sonho, e acredito que da maioria daqueles que escolhem casar com a medicina.
 
 Como já citei, preciso sobreviver. Preciso me sustentar. E para isso, preciso trabalhar. Eu me sentiria completamente realizado atendendo àqueles que realmente precisam e sendo pago para isso. No entanto, vejo que isso se torna cada vez mais distante.
 
 As últimas ações da Presidente da República para com a classe da qual eu farei parte, daqui a um ano, só afastam os médicos da população carente. Primeiro, importar estrangeiros; e agora o ato médico foi vetado. Diante disso, só consigo entender que a Senhora Presidente quer pagar uma mão de obra barata e desqualificada para atender a população mais necessitada. Ou seja, na verdade ela não liga nem um pouco para a qualidade, apenas para números.
 
 Deixo claro, todavia, a importância de toda e qualquer profissão para a prestação de um serviço de qualidade. É essencial uma cooperação de todos os profissionais. Afinal, médico não faz fisioterapia, não dá diagnóstico nutricional, não entende a mínima de exercícios de fonoaudiologia e nem exerce as funções de um enfermeiro. Agora dar diagnóstico é trabalho do médico. Somos nós que passamos anos estudando para tentar entender um pouco dessa máquina tão perfeita que é o corpo humano e perceber quando ela não está funcionando bem. Somos nós que aprendemos a examinar, a palpar e a associar às doenças. Nenhuma outra profissão estuda para isso. Por isso, vetar o ato médico é um verdadeiro crime. Mostra que mais uma vez, a Presidente não liga a mínima para a saúde da população. Afinal, o que ela pretende é colocar mão de obra barata para exercer a função do médico. Ela quer tapar buraco. Mas isso não dará certo. Afinal, quem teria coragem de embarcar em um avião cujo piloto fosse um motorista de ônibus, e não um piloto de avião de verdade?
 
 O que mais me dói é saber que o meu sonho não será completo. O que mais me dói é saber que aqueles que mais sofrem são os que mais irão sofrer. Vou me formar, vou fazer minhas especializações e vou atender àqueles que terão condição de pagar pelo meu trabalho. Trabalho não irá faltar. Tenho certeza disso. Mas e aqueles que mais precisam? E aqueles que mais necessitam? Serão atendidos por estrangeiros ou por alguém que não estudou para isso.
 
 Como sempre nesse País quem mais sofrerá serão os que já mais sofrem. Como sempre nesse País a segregação de classes marca as nossas vidas e nos obriga a ver e viver cenas cruéis. Tudo isso, devido a atos irracionais, impensados e eleitoreiros que têm como único objetivo a alienação. Alienação de um povo sofrido, porém lutador, que não merecia nada disso.
 
 E é por esse povo, pelos meus princípios e pela essência do meu objetivo que digo que eu não vou descansar enquanto não realizar o meu sonho, que é o de dia um dia ver um serviço de saúde de qualidade sendo fornecido à população e fazendo parte desse serviço. E esse sonho não é só meu... É de muitos estudantes e de muitos profissionais que estão por aí.
 
Não nasci para atender somente àqueles que tenham condição de pagar pelo meu trabalho. Não nasci para ter sonhos incompletos. Lutarei pelo que eu acredito até o fim. E tenho certeza de que um dia ainda terei muito orgulho do meu País, quando tivermos um serviço de saúde de qualidade.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A HORA DO JUÍZO FINAL

 

Por Carlos Santos
http://blogcarlossantos.com.br/



A elite política brasileira não entendeu ou não quer aceitar o recado que vem das ruas. Nosso futuro está em xeque.
 
Há semanas uma massa crescente tem dito o que deseja, mesmo que de um jeito disforme. Não tem corpo ou face. Mas revela força.
 
Entre a maioria de manifestantes pacíficos, temos uma minoria hidrófoba.
 
Vândalos e delinquentes profissionais aproveitam a onda.
Mas o cinismo e a miopia seletiva dos donos do poder, da esquerda à direita, são piores do que eles.
 
Quando os protestos fugirem ao controle do Estado e parte desse mesmo Estado aderir à força da massa-gente, talvez seja tarde. Muito tarde.
 
Ninguém ache estranho se a turba invadir palácios, símbolos do fausto e egoísmo dessa elite, arrancando de lá, a fórceps, alguns engravatados.
 
Esse não é meu desejo, mas uma premonição diante do que testemunho, do Palácio do Alvorada ao Congresso Nacional, da Governadoria às nossas prefeituras.
 
Está chegando a hora do juízo final.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

REPETEM-SE AS VAIAS EM DILMA


 

Coluna do Augusto Nunes 

A reação às manifestações de rua escancara o abismo existente entre um estadista francês, uma comandante sem rumo e um Lincoln que tem medo de crise. 

Durante a crise de maio de 1968, Charles de Gaulle mostrou que o presidente da República, aos 78 anos, continuava tão lúcido, destemido e coerente quanto o general que comandara a luta pela libertação da França na Segunda Guerra Mundial. Confrontado com o que começou como rebelião estudantil e se transformou em insurreição de dimensões nacionais depois da adesão dos sindicatos, entendeu a mensagem remetida das barricadas em Paris. Se os jovens combatentes exigiam mudanças radicais no país e num regime político moldados por De Gaulle, estava claro que o inimigo principal e imediato era ele. 
O chefe de Estado poderia ter tentado vencer os rebeldes pelo cansaço. Também poderia ter dividido responsabilidades com o primeiro-ministro George Pompidou, chefe de governo. Em vez disso, preferiu apanhar sozinho a luta atirada pelos líderes do movimento e amparar-se na arrogância formidável. “A França sou eu, a República sou eu”, reiterou em 30 de maio, quando anunciou a dissolução da Assembleia Nacional e a convocação de eleições gerais. No dia seguinte, cantando a Marselhesa, 1 milhão de partidários do presidente se juntaram à passeata que parou Paris, liderada pelo escritor André Malraux, herói da resistência à ocupação nazista e ministro da Cultura. 
Vitorioso na eleição de 23 de junho, De Gaulle encerrou democraticamente a rebelião de 1968. Mais uma vez, mostrou que, sobretudo quando o horizonte está nublado, estadistas devem pensar nos interesses do país e nas próximas gerações. Passados 45 anos, os pais-da-pátria que infestam a República brasileira confirmam a lição fazendo o contrário do que fez Charles de Gaulle. Governantes de quinta categoria só conseguem pensar nos próprios interesses e na próxima eleição, reitera a reação dos sacerdotes do lulopetismo à onda de manifestações de protesto que começaram em 6 de junho. 
A revolta da rua escancarou o abismo que separa o Brasil Maravilha inventado por Lula e aperfeiçoado por Dilma do Brasil real onde vive a gente comum. Lá, tudo anda tão bem que, se melhorar, estraga. Aqui, o que se vê é a corrupção impune, a Copa da Ladroagem, a educação e a saúde em frangalhos, a litania das promessas jamais cumpridas, o cinismo exasperante dos políticos ─ a procissão de afrontas parece fila em posto de saúde. O país que presta perdeu a paciência de vez. Cansou-se de ser tratado como um viveiro de imbecis resignados. E reduziu a farrapos a fantasia tecida desde janeiro de 2003. 
Tanto o ex-presidente que não desencarna quanto a sucessora que nunca exerceu de fato a chefia do governo já entenderam que estão muito mal no retrato redesenhado pelas multidões inconformadas com a duração da farsa. Em queda livre nas pesquisas de popularidade, Dilma foi vaiada na abertura da Copa das Confederações e não apareceu na final no Maracanã para escapar da reprise constrangedora. No encontro de prefeitos em Brasília, a plateia vaiou a convidada ausente na sessão de abertura e vaiou a governante que resolveu dar as caras no dia seguinte. Lula emudeceu e saiu de circulação no primeiro minuto da primeira passeata. Só recuperou a voz para contar lorotas na África. Ambos sabem que estão na origem das manifestações. Mas fingem que não. 
As imagens da revolta em curso neste inverno brasileiro são mais perturbadoras, muito mais agressivas e menos românticas que as produzidas na primavera europeia de 1968. Tal constatação ganha contornos sombrios quando se compara os atores em cena. A França tinha De Gaulle na presidência e George Pompidou na chefia de um governo que incluía homens como Malraux. O Brasil tem no Palácio da Alvorada uma inquilina sem juízo e sem rumo. E o Planalto continua assombrado por um Lincoln de galinheiro que vive de bravatas e morre de medo na hora do perigo. Nesta terça-feira, Lula e Dilma se encontraram secretamente em Brasília “para trocar ideias”. Como se tivessem alguma para trocar. Ele tem soluções para tudo, menos para problemas que o afetam. Ela não consegue formular sequer uma frase com começo, meio e fim. 
Também parecem ter sumido da paisagem a tribo dos políticos que, armados apenas de sensatez, ajudaram a debelar tantos incêndios semelhantes. Em contrapartida, nunca se viu tamanho ajuntamento de ineptos, vigaristas e farsantes fantasiados de conselheiros do reino. Sozinha, Dilma já admitiu que é capaz de fazer o diabo. Com Lula soprando ordens e mercadantes sussurrando palpites, tem provado que é uma incapaz capaz de tudo, menos de fazer o precisa ser feito. Multidões exigem em coro, por exemplo, o fim das bandalheiras. Dilma oferece uma Constituinte natimorta e um plebiscito de múltipla escolha, com questões aparentemente extraídas de uma assembleia no hospício. 
A redescoberta da rua avisa que milhões de brasileiros enfim passaram a enxergar as coisas como as coisas são. O palavrório triunfalista virou coisa de senador do Império. A Praça dos Três Poderes ficou mais antiga que as pirâmides do Egito. O monarca e a rainha estão nus no trono em ruínas. A farsa acabou, mas os canastrões seguem recitando o script que pareceu funcionar direito até maio. Aliviados com a pausa enganosa, a turma acampada no coração do poder está cochilando. Como nenhum dos motivos da revolta foi removido, pode ter o sono interrompido pelo primeiro estrondo de agosto.