sábado, 8 de agosto de 2020

VERDADE: ASSIM, NINGUÉM ENSINA NADA A NINGUÉM

 

São Miguel do Gostoso, RN, 31 de dezembro de 2015

* Honório de Medeiros

Assim, ninguém ensina nada a ninguém quanto ao que ele ou ela são, muito menos ao que podem ou devem ser, pois a verdade de cada um brota, solitária, de dentro para fora, é uma conquista pessoal, e toda a tentativa de ensinar acerca de tudo quanto nos cerca e envolve, sem que os outros o busquem, é uma invasão, uma tentativa de colonização, uma miséria da alma.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

DESTINO: NÃO HÁ OUTRA OPÇÃO, NÃO HÁ OUTRO CAMINHO.

 

La Creuse. La Roche-Posay. France. 3 de junho de 2018.

* Honório de Medeiros

Eu, pelo meu lado, sou daqueles que meio levemente faço cá comigo mesmo minhas avaliações e sonho algumas coisas, mas desde há muito não sou radical.

Ao longo do tempo, e das cicatrizes que a vida deixou, aprendi que somos como folhas que somente são livres para flutuar no espaço que a água do rio que as levam lhes deixa de lambuja.

Seu destino é mesmo parar em algum canto inesperado e ali aguardar que o eterno processo de vida e morte ocorra mais uma vez. 

Não há outra opção, não há outro caminho.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

VIDA: DE LIVES

* Honório de Medeiros

A pandemia suscitou as "lives". São de todo o tipo e modelo. Abordam desde culinária a física quântica. Acrescentou a possibilidade de visualizar os debatedores, e isso é significativo. Tornou o debate mais fragmentado, curto (tempo), democrático e raso. Bastante raso. Golpeou fundo esse velho companheiro, o livro, principalmente aquele que expressa o pensamento vertical, difícil de ser horizontalizado, próprio dos livros canônicos.

C'est la vie, c'est la belle vie, c'est la vraie vie, c'est ça la vie...

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

POLÍTICA: DE BUROCRATAS

* Honório de Medeiros

Consta que o secretário de Tributação do nosso Estado afirmou que o déficit previdenciário de R$ 150 milhões “poderia estar sendo aplicando em maior investimento em saúde pública, maior investimento em educação. Todo mês a gente tem que tirar esse valor do orçamento para arcar com esse déficit”.

Seu comentário foi feito em entrevista ao Jornal "Na Hora 95", nessa terça-feira (04).

Estão dizendo que o Secretário não pretende se aposentar. Faz sentido.

Será que ele esqueceu que aposentado vota? E faz campanha, pelo celular e no boca-a-boca? Uma campanha visceral?

Eu mesmo não votaria nele: chamar a contrapartida do Estado ao servidor que se aposenta de déficit!

Os burocratas são terríveis...

terça-feira, 4 de agosto de 2020

POLÍTICA: DA DEMOCRACIA



* Honório de Medeiros

Jorge Luis Borges, o genial argentino autor de “História Universal da Infâmia”, disse, entre irônico e sério, que “a democracia, como se sabe, é uma superstição baseada na estatística”, em uma entrevista concedida à revista “IstoÉ”, dia 6 de outubro de 1982. Lendo acerca da conduta dos nossos homens públicos, quase todos agindo ou deixando de agir tangidos pela ânsia do Poder e paixão pelo vil metal, é difícil não dar razão ao genial argentino.


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

SOLIDÃO: A SOLIDÃO QUE NOS DEFINE




Imagem do Autor
* Honório de Medeiros

No final das contas essa entrega às redes sociais é mais uma declaração pungente da solidão que nos define.
 Somos, em essência, solitários. Incapazes de estabelecer pontes entre nós, conseguimos dialogar virtualmente sem olhar nos olhos reais do nosso interlocutor.
Um biombo imaginário nos protege do olhar do outro.
 Assim perdemos a possibilidade de sermos ternos, cúmplices, amorosos, partícipes de um projeto comum que resgate o imenso abismo que separa um do outro desde que nascemos.

domingo, 2 de agosto de 2020

CULTURA: A BANALIDADE E DECADÊNCIA DA CULTURA ATUAL

  * Honório de Medeiros         

Em 23 de novembro de 2015, causou celeuma uma "performance", denominada "Macaquinhos", na qual os atores exploravam os ânus uns dos outros, apresentada em uma unidade do Sesc em Juazeiro do Norte, no Ceará. Foi notícia nacional.

"A performance mostrava um grupo composto por homens e mulheres totalmente nus, em círculo, explorando com as mãos o ânus do companheiro a frente. De acordo com os artistas Caio, Mavi Veloso e Yang Dallas, idealizadores do projeto, a apresentação tem o intuito de 'ensinar que existe ânus, ensinar a ir para o ânus e ensinar a partir do ânus e com o ânus'." 

Em agosto de 2017, o Santander Cultural abriu suas portas para a primeira exposição “queer” realizada no Brasil. De origem inglesa, o termo é utilizado para designar pessoas que não seguem o padrão da heterossexualidade ou de gênero definido - notadamente gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros.

Choveram denúncias nas redes sociais de pedofilia e zoofilia, principalmente para duas obras em especial: “Cenas do Interior II” (1994), de Adriana Varejão, que teve uma cena em que um homem penetra uma cabra, e “Travesti da Lambada e Deusa das Águas” (2013), de Bia Leite, que faz referência ao meme da internet “criança viada”. 

Também há menção a um vídeo que mostrava um homem recebendo um jato de sêmen no rosto. A obra é intitulada “Come/Cry” e é assinada pelo “artista” Maurício Ianes. 

O nome do artista consta na lista entregue ao Ministério da Cultura como um dos autores das obras expostas no Queermuseu. 

Mais recentemente, em uma performance na abertura do 35º Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo, o artista fluminense Wagner Schwartz se apresentou nu, no centro de um tablado. Em vídeo que circula nas redes sociais, sob fortes críticas, uma menina que aparenta ter cerca de quatro anos aparece interagindo com o homem, que estava deitado de barriga para cima, com a genitália à mostra. 

Agora, recordo Bárbara Tuchman, em A Prática da História: 

"O maior recurso, e a realização mais duradoura da humanidade, é a arte. O domínio da linguagem demonstrado por Shakespeare e seu conhecimento da alma humana; a complicada ordem de Bach, o encantamento de Mozart". 

Serão, esses, sintomas da decadência da cultura? O decadente, na arte, o banal, o medíocre, o aviltante, exerce sua tirania destruidora tanto quanto a proibição da liberdade de expressão estética. 

Entretanto não é somente a possibilidade da presença permanente do fenômeno da decadência, a ser questionado. É sua banalização. A banalização da decadência. 

O livro de Llosa, Mário Vargas Llosa, A Civilização do Espetáculo, cujo título foi calcado no A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord, um dos mais originais pensadores do século, deixa confortável quem procura um texto, de melhor qualidade, que dê respaldo a essa sensação permanente de estranhamento e solidão, vivenciada por muitos, originada pelo descompasso entre a “cultura” na qual fomos criados e a realidade que encontramos nos dias de hoje. 

Não é, portanto, “saudosismo”, o que sentimos. 

Há, de fato, um progressivo e profundo processo de banalização dos valores fundantes da cultura, entendidos como pressupostos da construção do processo civilizatório. 

Cultura como a pensou, por exemplo, T. S. Elliot, citado por Llosa, em Notas para uma definição de cultura, de 1948, tão atual, posto que, por exemplo, lá para as tantas, expõe: “E não vejo razão alguma pela qual a decadência da cultura não possa continuar e não possamos prever um tempo, de alguma duração, que possa ser considerado desprovido de cultura.”

É bem verdade que em ensaios tais como A civilização do espetáculo, e Breve discurso sobre a cultura, Vargas Llosa não nos aponta as causas do surgimento desse fenômeno, muito embora aluda, de forma enfática, à “necessidade de satisfação das necessidades materiais e animada pelo espírito de lucro, motor da economia, valor supremo da sociedade”, como a força motriz que que conduz o processo de destruição da cultura tradicional. Llosa não nos oferece uma teoria que explique tudo.

Para Llosa, por exemplo, civilização do espetáculo é "a civilização de um mundo onde o primeiro lugar na tabela de valores vigentes é ocupado pelo entretenimento, onde divertir-se, escapar do tédio, é a paixão universal.". Trata-se de uma constatação. 

Como não lembrar do personagem de O Lobo da Estepe, de Herman Hesse, em seu permanente solilóquio: "O que chamamos cultura, o que chamamos espírito, alma, o que temos por belo, formoso e santo, seria simplesmente um fantasma, já morto há muito, e considerado vivo e verdadeiro só por meia dúzia de loucos como nós? Quem sabe se nem era verdadeiro, nem sequer teria existido? Não teria sido mais que uma quimera tudo aquilo que nós, os loucos, tanto defendíamos?" 

Entendo, embora possa estar enganado, que Zygmunt Bauman e sua obra acerca da “vida líquida”, “modernidade líquida”, também não o conseguiu. Sua preocupação era descrever um fato, ou melhor, um fenômeno social, o processo civilizatório por nós vividos hoje.

Bauman disse: "a vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante"; nas quais "as realizações individuais não podem solidificar-se em posses permanentes porque, em um piscar de olhos, os ativos se transformam em passivos, e as capacidades, em incapacidades." 

Eu me pergunto, então, em relação a Bauman: não há um padrão, uma lei geral que origine esse processo? Não seria essa "vida precária" em "condições de incerteza constante" uma fase do processo evolucionário acerca do qual teorizou Darwin? 

Somos hoje, ainda, devedores, nesse aspecto de tentar entender o padrão oculto que rege os fenômenos, de Freud, Marx e Darwin, por assim dizer.

Mas não é o caso de abordar esse tópico por aqui. Aqui apenas registro o alívio em constatar que não estamos errados quando nos sentimos órfãos de uma cultura, uma “Paideia” que, desde os meados do século XX, vem sendo deixada, cada dia mais velozmente, e de forma mais radical, para trás. 

Que o digam, como pálido exemplo, a música, o teatro e a literatura contemporânea. 

É a banalização da cultura...