sábado, 20 de outubro de 2012
DO OFÍCIO DE ENSINAR
Do falaarapiraca.blogspot.com
Honório de Medeiros
De todas as atividades profissionais que exerci, nenhuma me deu tanto
prazer quanto a de ensinar. Não por outro motivo continuo ensinando, e até
diria que o afeto pelo ensino me levou, incontáveis vezes, a construir
inconscientemente obstáculos que me impediram de aceitar outros compromissos profissionais
mais rentáveis ou mesmo de maior projeção curricular.
Assim, nada me deu tanto orgulho quanto a obtenção, com louvor, do
título de Mestre, através da defesa de Dissertação acerca do tema “Poder
Político e Direito”, ante uma banca de examinadores formada por dois doutores e
um livre-docente, este último, inclusive, visceral adversário da minha linha de
pensamento no âmbito do Direito, claramente externada antes em memorável prova
oral de admissão ao Curso de Mestrado que durou quase quarenta e cinco minutos!
Contou-me depois o Professor Doutor Paulo Lopo Saraiva, meu orientador,
a quem presto as homenagens merecidas, em jantar comemorativo, que ele, o
Professor Doutor e Livre Docente da Universidade Federal do Ceará, autor
renomado, insistira em compor a “minha” Banca. Uma honra, com certeza.
A vida acadêmica seria, portanto, uma opção natural quando terminei o
curso de Direito em Natal. Seria, eu o digo, se já naquele tempo do qual os
professores universitários de hoje têm saudade, a profissão não fosse tão mal
remunerada. E eu não precisava fazer muitas indagações para constatar essa
realidade. A professora Elza Sena, minha tia, com quem eu morara durante meus últimos
anos de curso secundário, ainda era viva, estava no penúltimo degrau de sua
carreira, e ganhava muito mal.
Tomei, portanto, outros caminhos, mas não escondia de mim, nem de
ninguém, meu desejo de ensinar. Em 1999, finalmente entrei, através de processo
simplificado, na Universidade Potiguar, onde, desde então, ensino Filosofia do
Direito, com raras incursões em outras disciplinas, quase sempre da área
propedêutica, por opção própria.
Tenho ensinado, desde então, às vezes com sacrifício pessoal, mas sempre
com renovado prazer. E tenho encontrado, sempre, compensações para o parco
salário que nos é pago: as controvérsias em sala-de-aula, que enriquecem o
conhecimento; a descoberta de talentos fulgurantes entre os alunos; a
convivência com a diversidade de opinião entre colegas, no ambiente acadêmico;
os laços de afeto que se formam entre professores e alunos; a criação do hábito
de estudo para a preparação das aulas.
Mas tenho sentido, na própria pele, dia após dia, o pouco compromisso da
grande maioria dos nossos políticos com a educação, e percebido, por intermédio
da constatação da falta de investimentos em recursos humanos, seja quanto ao
básico - a parca remuneração dos professores, seja quanto ao complexo, o
distanciamento da opção pelo ensino crítico e a pesquisa científica.
Pedindo desculpas pelo texto autorreferente, concluo observando que é
inacreditável termos, no Brasil de hoje, mesmo com todas essas adversidades, ilhas
de excelência na área de educação, resultado da abnegação, do sacrifício, da
determinação de uns poucos.
São estes poucos verdadeiros sacerdotes do saber, heróis anônimos, para
recuperar uma definição surrada, batida, estropiada, mas absolutamente
verdadeira.
A eles, a minha sincera homenagem.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
ALDO MEDEIROS À FRENTE DA CORRIDA PARA A OAB/RN
19 de outubro
Na disputa pela presidência OAB quem aparece na
frente é o candidato da oposição Aldo Medeiros. O advogado teve 50% das
intenções de votos, de acordo com a pesquisa Start/BlogdoBG, divulgada hoje.
Seu adversário, Sergio Freire, teve 34,8% da preferência.
Exatos 11,6% ainda estavam indecisos ou não
quiseram responder. 3,1% disseram que votariam em branco.
Para a presidência da OAB, a Start não fez a
pesquisa espontânea, apenas a estimulada.
No total foram 319 entrevistas realizadas entre os dias
17 e 18 de outubro em Natal e Mossoró. A margem de erro é de 5,5%.
O resultado, aliás se repetiu nas duas cidades em
que as entrevistas foram realizadas.
KYDELMIR LANÇA "LUIZ GONZAGA E O RN" EM NATAL
Editora QUEIMA-BUCHA
Conhecido nacionalmente por suas pesquisas acerca de cultura popular, bem como por seus cordéis, o poeta, cangaceirólogo e estudioso de Luiz Gonzaga Kydelmir Dantas, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) lança, em Natal, "LUIZ GONZAGA E O RIO GRANDE DO NORTE", durante a FEIRA DE LIVROS E QUADRINHO (FLIQ), às 19:30 de 26 de outubro, na Praça Cívica do Campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Escritor Kydelmir Dantas
VAN GOGH E EU
Starry Night, Van Gogh
Bárbara de Medeiros
Meus sentimentos em relação à
obra de Van Gogh são os mesmos que a maioria das pessoas sente diante do
enigmático sorriso da Monalisa: a necessidade de descoberta de um mistério. Mas
enquanto a Gioconda é uma só, todos os quadros de Van Gogh me fazem sentir o
mesmo.
O que
mais me fascina, entretanto, é a pergunta que permanece sem resposta enquanto
observo seus quadros. A paleta de cores
é representada, em sua grande maioria, por cores vivas e brilhantes, cores
alegres: azul, amarelo vivo, laranja... Cores que, sozinhas, ou em conjunto,
mas separadas, indicam felicidade.
Se pararmos para pensar, os
próprios quadros também não podem ser descritos como tristes. Um quarto, um
bistrô, seu autorretrato, uma noite estrelada, o famoso vaso de girassóis...
Quando observamos a cena inteira, não podemos descrevê-la como suscitando um
sentimento de infelicidade.
Mas aí é que está a grande
pergunta: se não são as cores nem os quadros em si, porque em todos os quadros
de Van Gogh há algo que me transmite melancolia, depressão, desespero...? O que
é que há, em sua pintura, que me faz sentir tudo isso?
Não estou afirmando que eu me
sinta, aos contemplá-los, melancólica, deprimida, nem muito menos infeliz. O
que digo é que é isso que eu sinto que ele está querendo transmitindo. E não
consigo colocar o dedo na causa de tudo isso.
Eis o
motivo da minha fascinação por Van Gogh, como pessoa, e pela sua obra.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: QUARTA E ÚLTIMA TEORIA, PRIMEIRA PARTE
Honório de Medeiros
Quarta teoria: o ataque
a Mossoró resultou de um plano político (primeira parte)
QUESTÕES SEM RESPOSTA
Essa teoria vem sendo
construída lentamente, ao sabor do tempo, pelos estudiosos do assunto,
perplexos ante a imensa quantidade de fatos inexplicados alusivos ao ataque a
Mossoró, aguardando quem se habilite a relacioná-los e, a eles, dar unidade, ou
seja, coerência e completude.
Antes, entretanto, é
necessário que sejam elencadas algumas indagações, até hoje não respondidas,
acerca do episódio, para construir-se o contexto adequado à entrada na questão,
melindrosa e complexa por sua própria natureza, tendo em vista os personagens
que dela fazem parte direta ou indiretamente.
São
elas:
Primeiro: estamos na última
quinzena de abril de 1927. Argemiro Liberato, de Pombal, Paraíba, escreve a seu
compadre Coronel Rodolpho Fernandes, e lhe põe a par da pretensão de chefes de
bandidos daquela região de atacar Mossoró. Que chefes de bandidos seriam esses?
Como Massilon era chefe de
bandidos, haja vista o ataque a Brejo do Cruz, no mesmo estado, e ligado aos
detentores do poder na Região que incluía Pombal, teria ele essa pretensão[1]?
Haveria relação entre essa pretensão de atacar Mossoró e o interesse de
coronéis paraibanos, associados a norte-rio-grandenses, em relação a Apodi,
Mossoró e o Rio Grande do Norte? Saberia a oposição ao Coronel Rodolpho
Fernandes, que era ligada à oposição ao Coronel Francisco Pinto (líder político
e Prefeito do Apodi), esta, por sua vez, ligada aos coronéis paraibanos, da
existência dessa pretensão?
Coronel Chico Pinto
Segunda: por qual razão, Massilon
não matou o Coronel Chico Pinto quando atacou Apodi, se aparentemente era esse
o intuito? Bronzeado[2] não soube explicar.
Bronzeado
O objetivo de Massilon,
acertado com seus verdadeiros chefes e desconhecido de seus parceiros, teria
sido apenas desmoralizar o Coronel Chico Pinto, preparando-se o caminho para se
criar, na imprensa e população, a noção, a consciência da presença corriqueira
do cangaço e cangaceiros no Rio Grande do Norte[3], banalizando possíveis
homicídios por eles realizados, algo até então inexistente no estado, como
preparativo para alguma ação específica a ser realizada durante o ataque a
Mossoró?
Terceira: por qual razão o
Coronel Rodolpho Fernandes estava em franco dissídio com o Governador José
Augusto e seu chefe de polícia Manoel Benício de Melo[4], ao ponto de alertá-lo
acerca de sua crescente impopularidade, tendo, inclusive, lhe ameaçado por duas
vezes com um rompimento político, e quais as consequências desse litígio na
política mossoroense e oestana?
Governador José Augusto Bezerra de Medeiros
Por qual razão foi
sustado, na última hora, o embarque de policiais natalenses escalados para defenderem
Mossoró[5]?
Quarta: quem era a
oposição ao Coronel Rodolpho Fernandes que, na última quinzena de abril de
1927, em reunião por ele convocada, enquanto Prefeito, para expor o problema da
futura invasão da cidade, desfruta do seu receio[6], ridiculariza suas
advertências à população, critica suas providências tomadas, chama-o de velho
medroso, semeia boatos e intrigas políticas na cidade, principalmente ameaças
de que o Governo do Estado cogitava desarmar os civis que lhe eram afeiçoados?
Quinta: de quem teriam
sido as “murmurações tendenciosas” que se seguiram ao discurso do médico José
Fernandes Gurjão, orador que sucedeu Rodolpho Fernandes no dia 12 de junho, em
reunião ao meio-dia, no salão da Prefeitura de Mossoró, mencionadas por Raul
Fernandes[7], filho do Prefeito?
Sexta: por qual razão a
edição de 15 de maio de 1927, quase um mês antes do ataque, do jornal “O
Mossoroense[8]”
insinua, sem rodeios, que a invasão a Mossoró, a ocorrer em dias vindouros,
integra empreitada de grande vulto?
Sétima: saberia Lampião
que sua incursão ao Rio Grande do Norte, Estado onde nunca estivera, a
percorrer região plana, descampada, larga e extensa[9], sem elevações
importantes desde Luis Gomes até Mossoró, tirante a Serra do Martins, feita com
barulho, saques, depredações, tiros, mortes, contrariando toda sua experiência
anterior, contaria com a omissão do Governo estadual?
Oitava: por qual razão o
valor do “pedido” de Lampião ao Coronel Rodolpho Fernandes, quatrocentos mil
réis[10], foi irreal, de tão
exorbitante, induzindo a crença de que teria sido mera “cortina de fumaça”?
Nona: por qual razão
Lampião não atacou a agência do Banco do Brasil em Mossoró, onde eram feitos os
depósitos em dinheiro grosso de toda a região, e que no dia da invasão contava
com mais de novecentos contos de réis em depósitos?
Décima: por qual razão Lampião
não atacou o rico comércio da cidade, localizado em área razoavelmente distante
da residência do Coronel Rodolpho Fernandes[11], conhecido por Massilon
desde seus tempos de almocreve?
Décima-Primeira: por qual
razão a residência do Coronel Rodolpho Fernandes foi o ponto preferencialmente
visado pelos cangaceiros[12]?
Residência do Coronel Rodolpho Fernandes, durante a invasão, vendo-se, ao fundo, a Igreja de São Vicente
Décima-Segunda: por qual razão Massilon ficou
responsável por atacar a residência do Coronel Rodolpho Fernandes pelos fundos
(garagem), onde supostamente estava o ponto mais frágil da defesa do palacete,
enquanto o grupo de Jararaca distraía, pela frente, os defensores, e Lampião,
no cemitério, com o grosso do bando, apenas dava cobertura, ao invés de atacar
o centro da cidade, onde se localizava o comércio?
--- X ---
PARA
ENTENDER O QUÊ SE EXPÕE AQUI, É CONVENIENTE LER OS TEXTOS ANTERIORES POSTADOS
EM www.honoriodemedeiros.blogspot.com
PROCURE Cangaço, DENTRE OS Marcadores, E LEIA TUDO QUANTO FOI
ESCRITO ACERCA DO TEMA.
[1]
O episódio do ataque de Massilon a Brejo do
Cruz, na Paraíba, foi explicado em textos anteriores desta série.
[2] “LAMPIÃO EM MOSSORÓ”; NONATO, Raimundo; sexta
edição; Coleção Mossoroense; 2005; Mossoró. No famoso relatório da agência do
Banco do Brasil em Mossoró referente ao primeiro semestre de 1927, da lavra de
Jaime Guedes, então seu gerente, encontramos um trecho que traduz sua
perplexidade com esse fato: “O assalto visava a morte e aplicação de surras em
determinadas pessoas que o chefe do grupo, não se sabe por que, não levou a
efeito” (“LAMPIÃO EM MOSSORÓ”; NONATO, Raimundo sexta edição; Coleção
Mossoroense; 2005; Mossoró).
[3] Em tática de guerrilha esse tipo de ação se
denomina “manobra diversionista”.
[4] Mirabeau Melo, chefe do telégrafo em Mossoró e irmão de Manoel Benício de
Melo, atuava como informante local e porta-voz do governo, e era um medíocre
intrigante, nos diz Paulo Fernandes, filho do Coronel Rodolpho Fernandes, em
carta a Nertan Macedo, neste livro parcialmente reproduzida. Acerca de Manoel
Benício de Melo nos informa o escritor Marcos Pinto: “Amigo HONÓRIO. Bom dia.
Garimpando novidades no vetusto jornal "O MOSSOROENSE", edição de
18.03.1914, encontrei os laços da grande amizade entre FELIPE GUERRA (Felipe
Guerra era casado com uma irmã de Tylon Gurgel) e BENÍCIO FILHO, sendo certo
que o FELIPE foi padrinho de casamento do Benício que ocorreu em 14 de Março de
1914, em Mossoró. Escoimando-se os fatos ocorridos antes e depois do ataque de
Lampião à Mossoró, o fato de que o Benício era o Diretor Geral da Segurança
Pública do RN (cargo que corresponde ao atual de Secretário de Segurança),
depreende-se que o mesmo deveria ter tido todo o empenho para o envio de força
policial para guarnecer
Mossoró. Não o fez, de sorte que o nosso bravo Rodolfo Fernandes
defendeu a cidade convocando amigos e civis voluntários. Ora, se o FELIPE
GUERRA era compadre e amigo íntimo do Jerônimo Rosado, e exercia influência
sobre o Benício Melo Filho, deve-se atribuir, dentre outros fatores, que o
Felipe Guerra, já Desembargador desde 1919 e residente em Natal tenha traficado
influência para que o Benício Filho adotasse posição pusilânime e que deixou
muito à desejar, em relação
à defesa de
Mossoró. Qualquer novidade
enviarei pra Vosmincê. Abraço. Marcos Pinto.”
[5][5] Gil Soares nos conta esse episódio (“O PASSADO
VISTO POR GIL SOARES”; MUINIZ, Caio Cézar; Coleção Mossoroense; Série “C”; V.
1.477; 2005; Mossoró): “Mas Cascardo preferiu manter à frente da Municipalidade
o jovem médico Paulo Fernandes, já estudioso de problemas econômicos da região.
Nomeado na segunda fase política da Interventoria Aluísio Moura, começara
destinando à Associação de Damas de Caridade os subsídios do cargo. Quatro anos
antes, seu pai, esse admirável Prefeito Rodolfo Fernandes – depois de sustado
inexplicavelmente, à última hora, na estação ferroviária de Natal, o embarque
de contingente da Política para enfrentar o numeroso bando de cangaceiros
chefiado por Lampião (grifei) – organizara e dirigia, com recursos locais e
a decisiva cooperação de numerosos habitantes, a defesa de sua cidade, sendo
rechaçada, dentro das ruas, a horda invasora.” Raimundo Nonato: “No dia 13 de
junho, Mossoró contava só com 22 soldados” (“LAMPIÃO EM MOSSORÓ”; Sexta edição;
Coleção Mossoroense; 2005; Mossoró).
[6] Raul Fernandes em “A MARCHA DE LAMPIÃO”; Paulo
Fernandes em carta a Nertan Macedo.
[7] Raul Fernandes em “A MARCHA DE LAMPIÃO”.
[8] Jornal dirigido por Rafael Fernandes, principal
líder político situacionista mossoroense desde o falecimento do Coronel
Francisco Pinheiro de Almeida Castro, e primo de Rodolpho Fernandes.
[9] Em quatro dias os cangaceiros cobriram
aproximadamente 900 quilômetros entre ida e volta. Raimundo Nonato observa:
“Constituída, em menor parte, de vasto descampado e larga área de terreno plano,
quase sem outras elevações importantes, depois dos prolongamentos subordinados
às ramificações e contrafortes das Serras de Luis Gomes e Martins, a região era
precariamente escassa de abrigos e desprotegida aos elementos essenciais de
amparo, defesa e esconderijos naturais” (“ LAMPIÃO EM MOSSORÓ”; Sexta edição;
Coleção Mossoroense; 2005; Mossoró).
[10] Para se ter
uma idéia do valor do montante, em 1927, 1 (hum) mil-réis valia US$ 8.457 (oito
mil, quatrocentos e cinquenta e sete dólares). Portanto Lampião exigiu US$
3.382.800 (três milhões, trezentos e oitenta e dois mil dólares) ao Coronel
Rodolpho Fernandes. Esse valor, corrigido pela inflação da moeda americana
implicaria, hoje, maio de 2012, em U$ 43.130.700 (quarenta e três milhões,
cento e trinta mil dólares). O cálculo foi feito de acordo com a TABELA DE
CONVERSÃO DE MIL-RÉIS EM DÓLARES constante de “OS CANGACEIROS” (PERICÁS, Luiz
Bernardo; Boitempo; 1ª edição; 20120; Rio de Janeiro) e http://www.dollartimes.com/calculators/inflation.htm
[11] Rodolpho Fernandes residia no “Bairro Novo”,
distante do centro da cidade, quase deserto, nas vizinhanças da Igreja de São
Vicente e próximo ao Cemitério.
[12] Jornal “O NORDESTE”, e Jornal “A REPÚBLICA”, este
último colhendo depoimento do Professor Eliseu Viana (“LAMPIÃO EM MOSSORÓ”; NONATO,
Raimundo; Sexta edição; Coleção Mossoroense; 2005; Mossoró): “O Sr. Prefeito da
Cidade, Cel. Rodolfo Fernandes, a entidade mais visitada pelos bandidos (...)”.
O próprio Rodolpho Fernandes assim aludiu ao assunto em correspondência a seu
Compadre Almeida Barreto: “Pelos jornais terá lido que a 13 de junho, Lampeão
atacou Mossoró, tendo de preferência cercado minha residência pela frente, pelo
lado da casa de Alfredo e pelos fundos” (“RODOLPHO FERNANDES”; GASTÃO, Paulo;
Coleção Mossoroense; Série “B”; nº 1.637; 1999; Mossoró.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
ALDO MEDEIROS GANHA APOIO DE PROFESSORES DE DIREITO
PROFESSORES DE
DIREITO DECLARAM APOIO À CANDIDATURA ALDO MEDEIROS/LÚCIA JALES PARA A OAB/RN
Os professores e
advogados ALEXANDRE PINTO (UNP/IAP), HONÓRIO DE MEDEIROS (UNP), VLADIMIR FRANÇA
(UFRN), JULIANA ROCHA (UNIFARN), JOSÉ MARCELO (UNP), FERNANDO GABURN (UERN),
SANDERSON MENEZES (UNIFARN) e TACIANA JALES (UNP), além de outros, declararam
seu apoio à candidatura Aldo Medeiros/Lúcia Jales, e participam do movimento
autônomo de professores universitários que sendo advogados, resolveram se posicionar
ante a próxima eleição para a OAB/RN.
Aldo Medeiros e Lúcia
Jales têm propostas específicas para os advogados que são professores
universitários. Dentre elas se destaca a constituição de uma COMISSÃO composta
por advogados professores que terá, além de outras atribuições, a de acompanhar
o ensino jurídico e a missão de lutar para a fixação de um piso salarial digno para
os docentes dos cursos de Direito do Rio Grande do Norte
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
UMA CERTA FOTOGRAFIA NA PAREDE
"American Girl in Italy", 1951, by Ruth Orkin
Eu e a garçonete de olheiras profundas
concordamos quanto à fotografia na parede. A noite apenas começava. Mas ela já
parecia estar muito cansada. Fiquei tentado a lhe perguntar se dormira nas
últimas vinte e quatro horas. “Melhor não”, disse aos meus botões. A fotografia
- melhor dizendo, a reprodução dividia com outras, em preto e branco, a atenção
dos freqüentadores. “É a que chama mais atenção”, disse-me ela, enquanto me
servia uma taça de vinho. “Por que será?”, perguntei-lhe. “Sei lá; porque é
bonita”. Furtei-me à tentação de lhe indagar em que ela se baseava para achar
uma reprodução mais bonita que a outra.
Olhei novamente a fotografia. Nela, uma
americana de mais ou menos vinte anos, na década de cinqüenta, atravessa um
grupo de rapazes italianos postados aleatoriamente em uma esquina de Roma.
Malgrado o nariz empinado e as passadas rápidas há algo de aflito no seu olhar,
causado talvez pela vergonha de tão exacerbada atenção. Bela obra de arte. Ruth
Orkin, que a fez, nos contou que não foi difícil convencer a americana que
conhecera em uma pensão para turistas a servir de modelo. Tampouco houvera
produção. Exceto a idéia apresentada à moça, todo o restante foi espontâneo.
Contei tudo isso à garçonete de olheiras e
seios fartos. Ela me pareceu interessada. Comentei como não deveria estar,
hoje, a modelo, se fosse viva. “Velha, enrugada, feia...”, me respondeu, “como
eu vou ficar, você vai ficar, todos nós ficamos com o passar dos anos”.
A noite começava a ficar febril. Casais
entravam, mulheres e homens desacompanhados, a maioria turista. Quando ela me
trouxe a massa, já éramos quase amigos. Tínhamos ficado cúmplices observando
tudo o que se passava ao nosso redor: a solidão do rapaz da mesa vizinha a
dialogar constantemente com seu celular; o casal de “gringos” que nunca trocava
uma palavra um com o outro; as amigas que se namoravam às escondidas; o louro
quase albino - talvez escandinavo - e sua acompanhante morena quase negra. Cada
vez que ela ia, eu perscrutava ao meu redor o próximo capítulo da novela que
extraíamos da noite; e ela me chegava com novidades da periferia do
restaurante, onde meu olhar não alcançava.
“Você não se preocupa com sua beleza?”, lhe
perguntei. “Como assim?” “Essa história de você trabalhar a noite toda”. “Olhe,
eu não me considero feia, embora não seja nenhuma “miss”; o problema é que não
adianta ficar pensando em levar uma vida de dondoca quando se nasceu pobre.
Lógico que eu gostaria de ter tempo pra me cuidar. Mas até acho que beleza hoje
é algo muito comum. Todo mundo é bonito. O difícil é ter charme”. “Mulher
bonita os homens estão comprando aí fora a preço de banana”.
“Quanto você ganha aqui, por mês?” “Uns mil”.
As meninas, aquelas adolescentes das quais os jornais e as teses de mestrado em
sociologia e a televisão e o congresso falam, continuam passando em frente ao
restaurante. São alegres, palradoras, pelo que se vê e ouve. Ganham em torno de
cem reais por programa. E fazem dois ou três por dia. Dá uns quatro mil por
mês.
A conta chega.
“Posso lhe perguntar outra coisa?” “Claro”,
ela me diz. “Quando você olha para a reprodução da fotografia, qual é a
primeira coisa que lhe vem à cabeça?” “Uma sensação de que tudo passa, mas
permanece. Ontem, era aquela americana e os rapazes italianos; hoje é qualquer
outra... A vida continua, mas é como se fosse sempre a mesma”. Ela não esperou
qualquer comentário meu à resposta. Talvez já lhe tivessem perguntado isso. Ou,
quem sabe, sequer teve tempo para se perguntar por que eu lhe fizera tal
pergunta. Apenas respondeu. Mecanicamente.
Desço a escada e ganho a rua. Procuro o carro
lembrando um romance que fez furor quando eu era adolescente: “Sidarta”, de
Herman Hesse. Em um certo momento da estória, o protagonista observa para um
seu amigo e discípulo mais ou menos aquilo que a garçonete havia me dito,
contemplando as águas de um rio. Para ele, Sidarta, assim como para a
garçonete, embora as águas estejam sempre indo a busca do oceano, o rio
continua no mesmo lugar. A vida passa mas está. O homem vai mas a humanidade
permanece. Fim de noite.
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