sexta-feira, 23 de agosto de 2013

OS MÉDICOS CUBANOS E OS GROTÕES

Honório de Medeiros


Consta que estão vindo por aí os tais médicos cubanos para trabalhar nos grotões. Segundo alguns, um bom número, aliás, viriam para fazer proselitismo político para o PT, nos mesmos moldes acontecido na Venezuela enquanto parte da estratégia de Chávez para se perpetuar no Poder. O PT e o Governo negam, claro. Só o tempo dirá quem tem razão.
 
Se o projeto do PT é, realmente, utilizar os médicos cubanos para fazer proselitismo político nos grotões, sejam esses rurais ou urbanos, sejam nas grandes ou pequenas cidades, eu, particularmente, não acredito que seja bem sucedido.
 
Esses grotões, eu os conheço bem. Meus pais são de lá. Meu pai nascido em São João do Sabugi, minha mãe em Pau dos Ferros. Alguns anos atrás coordenei uma campanha para Governador no Alto Oeste, a de Geraldo Melo, e duas para Prefeito de Pau dos Ferros. E perdi as contas das campanhas das quais participei em Natal, indo aos seus grotões, lidando com seus eleitores e líderes.
 
Pois bem, há dois obstáculos, e grandes, a serem destruídos ou contornados, para que esse projeto de proselitismo, se é que ele existe, possa ser bem sucedido. O primeiro é quanto à infraestrutura para o atendimento do povo que será consultado pelos cubanos. Hoje não existem remédios, exames laboratoriais, seringas, gazes, algodão, fio cirúrgico, luvas, e fico por aqui que é até onde sei, nos grandes hospitais, quanto mais nos postos de saúde, pequenos hospitais, casas de saúde, maternidades, espalhados por esse Brasil afora e adentro.
 
O cubano vai examinar, depois receitar ou encaminhar, ou os dois, e então? O que se segue? Das duas uma: o paciente procura a liderança a quem é vinculado, seja vereador, seja líder comunitário, seja Prefeito, seja qual liderança seja, e há de se repetir o mesmo processo que acontece no Brasil desde os tempos coloniais, qual seja a liderança condicionar a liberação do pedido à votação em seus candidatos, ou o paciente busca resolver seu problema gastando do próprio bolso. Nesta hipótese do paciente bancar suas despesas do próprio bolso duvido muito que ele vincule seu voto a qualquer liderança da qual não depende.
 
E o segundo obstáculo diz respeito a como a "política" é concretamente realizada no Brasil, hoje, em seus grotões. Em uma ponta está o eleitor fragilizado economicamente; na outra, aquele do qual depende para a solução dos seus problemas de saúde, que é a liderança local, base de uma estrutura que se estende até o topo, e que detém, em suas mãos, a possibilidade de lhe conseguir ambulância, caixão-de-defunto, remédio, internação, exames, cirurgias, e assim por diante.
 
Esse eleitor vota em quem sua liderança pedir, digamos assim, eufemisticamente. E essa liderança segue, visceralmente, o Prefeito, nas pequenas cidades, ou o Vereador/Deputado, nas grandes. E os Prefeitos e Vereadores/Deputados não necessariamente acompanham o PT. Nem permitirão, em qualquer momento, que haja proselitismo político, em suas bases, contrário aos seus interesses político-partidários.
 
E lá vem a consequência: os tais cubanos serão monitorados dia-a-dia, hora-a-hora pelas lideranças que são a base do "edifício" político-partidário brasileiro nos grotões. Se não se adequarem, adeus! Tudo vai dar errado para eles, literalmente tudo...
 
É uma questão de sobrevivência. Sei como acontece. Vi acontecer.
 
Portanto...
 
No mais é somente dizer o que até as pedras sabem: o SUS é uma farsa. E onde é seu elo mais frágil? Nos grotões. Se o SUS funcionasse como planejado, não haveria esse encurralamento do eleitor mais frágil. Ele não dependeria do seu "coronel". É por essa razão que os municípios dos grotões não acabam, nunca, com a "ambulancioterapia".
 
É simples assim.
 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

CAMINHO SÓ!

 
Honório de Medeiros
 
Aos desavisados desse mundaréu sem eira nem beira: escrevo por prazer ou indignação. Prazer ou Indignação! E não tenho compromisso algum com qualquer religião ou ideologia. Ou com quem quer que seja. Não sou instrumento de qualquer credo ou facção política. Tampouco quero instrumentalizar. Se alguém caminha ao meu lado, o faz por livre e espontânea vontade. Caminho só.

MUNDO PEQUENO, PEQUENO MUNDO

Honório de Medeiros


Lá pelos meados do século XIX, Nadeja Nárichkina, aristocrata russa fascinante, que casara muito jovem com Alexander Nárichkin, herdeiro de uma das mais ilustres e nobres famílias da Rússia e de quem tinha um filho, começou um caso com um belo e abastado aristocrata chamado Alexander Sukhovo-Kobilin, talentoso dramaturgo.
 
Esse adultério foi descoberto e Nadeja se viu, então, envolvida no assassinato da amante francesa de Sukhovo-Kobilin, crime pelo qual seu amante acabou na prisão.
 
Grávida de um filho do seu amante, a bela e adúltera russa de cabelos ruivos fugiu para Paris às pressas e escondida. Em lá chegando logo passou a reinar nos salões famosos da cidade, da mesma forma que reinara nos salões de São Petersburgo.
 
Em Paris Nadeja conheceu Alexandre Dumas, filho, já famoso com a publicação de "A Dama das Camélias" e se envolveram. Nadeja passou a ser seguidamente adúltera. Dumas somente pode casar-se com ela em 1864, após a morte do seu esposo. Tiveram uma filha.
 
Um fato ocorrido em Paris, naquela época, chamou a atenção da Europa: um determinado cidadão, já divorciado, ao saber que sua ex-esposa passara a ter um outro relacionamento, a assassinou.
 
A lei francesa era leniente em casos como esse, e pouco importou a maciça campanha contra o homicida e a lei, desencadeada pela imprensa parisiense.
 
Dumas reagiu se posicionando contra a imprensa e dando razão ao assassino. Foi além. Escreveu um ensaio, "L'Homme-Femme', que fez furor na França. No ensaio o escritor, mesmo a par do passado de Nadeja, ou talvez por isso mesmo, defendeu que o marido é, em última instância, o árbitro moral do casal, e justificou o assassinato.
 
Além de "L'Homme-Femme", e "A Dama das Camélias", esta sua obra mais conhecida, Dumas filho também escreveu uma semi-biografia bastante aclamada, "L'Affaire Clemenceou". Frasista admirado, certa vez se perguntou: "Como é possível que sendo as criancinhas tão inteligentes, a maioria das pessoas sejam tão tolas? A educação deve ter algo a ver com isso!"
 
Consta, também, que esse ensaio influenciou Tolstoi quando este escrevia "Anna Kariênina". Uma interessante triangulação: São Petersburgo, Paris, São Petersburgo.
 
Segundo Rosamund Bartlett, autora de uma louvada biografia do Conde escritor, e fonte deste texto, é esse sentimento "que Tolstoi exprime por meio de sua pouco celebrada heroína Dolly em "Anna Kariênina", talvez sua obra mais controversa, tirante os textos místicos.
 
Tólstoi morava em Moscou na época do crime no qual Nadeja foi envolvida, e, enquanto aristocrata, conhecia todos os envolvidos no episódio.
 
E até o final da vida, mesmo imerso em apurado misticismo do qual decorria sua revolucionária postura, por exemplo, contra a propriedade privada, bem como a defesa intransigente de que nunca se deveria reagir à violência, jamais deixou de considerar correta essa posição de árbitro moral do casal como algo inerente ao homem.
 
Mundo pequeno, pequeno mundo...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

DE COMO UM AMIGO ENCONTROU A FÉ

Honório de Medeiros
 
Certo amigo meu, até recentemente ateu, me contou acerca de sua conversão. Disse-me ele que na meia-idade, a qual chegara por tortuosos caminhos, após perambulações de toda a ordem no universo dos livros, deu-se conta que chegara o momento de fazer um balanço em regra de sua vida passada para fazer um planejamento, mesmo que capenga, do resto dos seus dias. Um assunto, em especial, assim pensava ele, clamava por sua atenção: sua relação com a Fé. Após esse primeiro ponto firmado, pôs-se a examinar o tema por um viés, digamos assim, oblíquo: entendeu que o importante era pensar acerca do mundo tal qual o estava encontrando, naquele momento. Colocou as mãos à obra. E, em sua procura, olhando para os lados, e em frente, por todos os ângulos, de todas as formas, somente encontrou o horror, a escuridão mais negra, uma história de sangue e dor, excetuando-se um ou outro ponto de luz a sobreviver sabe-se lá como, nem porquê. Fez-me um paralelo: imagino o milagre da sobrevivência da Igreja no auge da Alta Idade Média, após a queda de Roma, quando iniciou o período que os historiadores antigos chamavam de "Idade das Trevas". O mundo se transformara, ali, em um caos. Mas a Igreja sobreviveu graças aos monges irlandeses, que no silêncio e na solidão de seus monastérios, copistas que eram, crentes integrais, legaram ao futuro a doutrina de Cristo. É como se hoje em dia vivêssemos um período semelhante. Horror e escuridão, novamente, ou sempre, e o mal lutando com unhas-e-dentes para dominar, para ser hegemônico. Guerras, genocídios, estupros, roubos, torturas, infanticídios... A lista é infindável. Se há o mal, disse-me ele, à guisa de conclusão, então há o Bem. Se há o Bem, então há Deus. E, assim, via essa conclusão estranha, mas de forma alguma absurda, ele chegou à Fé. Deus o tenha.

domingo, 18 de agosto de 2013

FALAR MAL DOS POLÍTICOS, ESSA CONDUTA UNIVERSAL...


Cemitério Judeu de Praga


Honório de Medeiros


Flanando pela Europa, mais precisamente no Leste Europeu, em abril deste, fiz uma anotação na minha agenda que tomo a liberdade de repassar para vocês:
"Todos os guias que contratamos nesta viagem, e foram quatro, falaram mal dos políticos de seus países. Será um fenômeno universal?
 Às vezes tenho a sensação de que algo está para acontecer, ou seja, o desprezo, a impaciência, do povão vai se transformar em revolta - mesmo no Brasil, covarde, atoleimado - e muita desgraça acontecerá.
Nossa guia tcheca, quando lhe perguntei acerca do seu novo Presidente, respondeu: "vocês conhecem o modelo: é ignorante, demagogo e beberrão". Eu quis esboçar um protesto, mas deixei para lá em homenagem ao filho que ela teve com um nordestino.
A guia austríaca apontou-nos um belo prédio e comentou: "esta é a Casa do Absurdo, mais conhecida como Parlamento".
O guia português, extremamente formal - usava o vós majestático de quando em vez - era mais sutil, mas desceu a peia verbal nos governos europeus, generalizando.
E a guia húngara, uma bela balzaquiana de pele de criança, loura, nariz afiladíssimo, olhos azuis, azuis, nos apontou a sede permanente do Circo Húngaro e nos apresentou a sua vertente irônica: "este é o segundo maior circo do País." "Qual é o primeiro", perguntei. "O Parlamento", respondeu.
Percebam que aqui as instituições funcionam, mesmo assim há essa irritação, esse desprezo, achaque constante em relação aos políticos. E esses sentimentos existem no Brasil, agravados pelo absoluto descompasso entre nossa elite dirigente, a se comportar como predador esfaimado ante o patrimônio público, e o resto do povo.
Desprezo, essa é a palavra chave. Irritação é o sentimento que está surgindo, lento, firme e constante. Tomara que toda essa carga negativa não se transforme em ódio, mas é difícil acreditar que tanto descaso possa durar para sempre, mesmo em ditaduras..."