sexta-feira, 28 de setembro de 2018

NO TEMPO DOS CANGACEIROS E DOS CORONÉIS

NO TEMPO DOS CANGACEIROS E DOS CORONÉIS: CANGACEIRO MOITA BRAVA DELATA O ENVOLVIMENTO DE IMPORTANTES CORONÉIS PARAIBANOS EM ASSALTOS NA REGIÃO DE POMBAL


* José Tavares de Araújo Neto

O Dr. José Ferreira de Queiroga, deputado estadual, chefe político que comandava Pombal desde 1915, mantinha estreitas ligações com o coronel José Pereira, líder da cidade de Princesa, também com assento na Assembleia Legislativa da Paraíba. José Pereira e José Queiroga integravam, na condição de primeiro e segundo vice-presidentes, a “Chapa dos Três Jotas”, encabeçada por Júlio Lyra, e que apresentada em 1928 pelo Presidente do Estado Joao Suassuna para sua sucessão, mas que foi vetada pelo todo poderoso ex-presidente da República Epitácio Pessoa.

Inimigo declarado do coronel José Pereira, o Presidente João Pessoa se incomodava com essa relação de compadrio entre os dois coronéis, não dispensando o menor sentimento de confiança ao pombalense. Em 1929, na tentativa de indicar o prefeito de Pombal, Dr. José Queiroga teve três nomes rejeitados pelo Presidente João Pessoa, que nomeou para o cargo Elias Camilo de Sousa, sugerido por seu cunhado, o Procurador Geral do Estado Dr. Mauricio de Medeiros Furtado, pai do economista Celso Furtado.

Em 1930, a Paraíba se encontrava no estágio máximo de sua efervescência política. Sob o pretexto de manter a ordem e garantir lisura na eleição presidencial, marcada para dia 1º de março, o Presidente do Estado João Pessoa, candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada por Getúlio Vargas, enviou à cidade de Teixeira um forte efetivo da polícia militar, comandado pelo tenente Ascendino Feitosa, que determinou a prisão de importantes figuras da oligarquia Dantas, aliada do Coronel José Pereira Lima, e este, por sua vez, em face dos acontecimentos, tinha se feito inimigo político e pessoal do Presidente do Estado.

Sabedor da prisão dos seus correligionários, o coronel José Pereira mandou um recado para o tenente Ascendino Feitosa: Se não soltasse os presos, ele mesmo iria libertá-los e não sobraria um só soldado para contar a história. A princípio o tenente resistiu, porém cedeu quando soube que as tropas do coronel, em grande quantidade e bem municiada já se dirigia a Teixeira. Percebendo a grande desvantagem numérica, o tenente não viu outra saída a não ser ordenar aos seus comandados a imediata retirada. Este evento marcou o início do sangrento conflito que ficou conhecido como “A Guerra de Princesa”.

Para enfrentar os sediciosos de Princesa, o Presidente João Pessoa havia disposto o efetivo policial da Paraíba sob três comandos: um com o Coronel Comandante da Polícia Militar da Paraíba, Elísio Sobreira; outro com o Delegado Geral do Estado, Severino Procópio; e, o terceiro, com o Secretário de Interior e Justiça, José Américo de Almeida. Enquanto os combates com as forças paraibanas centralizavam-se na região de polarizada por Princesa, o coronel José Pereira formou grupos armados destinados a buscar meios para financiar a guerra nas regiões de Coremas, Malta, Pombal, Catolé do Rocha, Brejo do Cruz e São Bento. Os locais de apoio se concentravam no município de Pombal, nas Fazendas Oriente e Olhos D’água, propriedades dos irmãos Dr. José Queiroga e Coronel Manuel Queiroga, ambos filho do Coronel Benedito Queiroga, conhecido coiteiro do cangaceiro Antonio Silvino, falecido em 1921. Os jagunços do coronel José Pereira haviam recebido ordem expressa para atacarem a fazenda Conceição, do Coronel José Avelino de Queiroga, abastado fazendeiro, principal adversário político de Dr. José Queiroga. A rota de fuga seria na direção de cidade de Serra Negra, no vizinho Estado do Rio Grande Norte.

O Grupo, comandado pelo ex-cabo João Paulino, desertor da Polícia Militar do Estado da Paraíba que se aliou ao Coronel José Pereira, tinha como pontos de apoio as Fazendas Oriente e Olhos D’água, propriedades dos irmãos Dr. José Queiroga e Coronel Manuel Queiroga, ambos filho do Coronel Benedito Queiroga, conhecido coiteiro do cangaceiro Antonio Silvino; falecido em 1921. O grupo havia recebido ordem expressa para atacar a fazenda Conceição, do Coronel José Avelino de Queiroga, que apesar de primo, era o principal adversário político de Dr. José Queiroga. Avisado que a força volante se dirigia a Fazenda Aliança, onde o bando se encontrava acoitado, João Paulino juntou seus homens, montaram em seus cavalos e partiram em desenfreada disparada na direção fa Fazenda Olho D’água. Ele, como uma pessoa bastante experiente, sabia que era preciso esquivar-se de embates com a polícia a fim de evitar perdas desnecessárias de homens e, principalmente, economizar munição. Além desses motivos, havia a recomendação de fazer o máximo possível para não comprometer a respeitável figura do deputado Dr. José Queiroga. Na pressa, o cangaceiro Moita Brava sofre uma queda do cavalo, não suportando as dores, sendo deixado aos cuidados de um sertanejo amigo de Dr. Queiroga, enquanto o bando se divide em três subgrupos, que tomam diferentes direções.

Sob a coordenação do Secretário José Américo, a tropa governista impõe uma intensa perseguição. Em 08 de julho, localiza e prende Moita Brava. No dia 10, cerca e mata Candido Honorato, no sitio Pau Ferrado. No dia seguinte, a volante comandada pelo tenente José Guedes ataca o grupo no Sitio Almas, matando uma pessoa, e fazendo apreensão de dois fuzis e recuperação de vários objetos roubados. No dia seguinte, o bando com invade a fazenda Ipueiras, de propriedade de Pedro Marques de Medeiros, roubando dinheiro, objeto e incendeia a fazenda, logo após fugindo na direção vizinha cidade de Serra Negra, no Rio Grande do Norte.

Preso, o cangaceiro Moita Brava é levado para à cadeia da cidade de Brejo do Cruz, onde no dia 10 de julho presta um bombástico depoimento (v. anexo), no qual delata o envolvimento do coronel José Pereira e do Dr. José Queiroga nos fatos acontecidos em Pombal. Quatro dias depois, ou seja, no dia 14 de julho, Moita Brava falece na prisão, acometido por uma pneumonia dupla, cujo diagnostico foi assinado pelo médico Dr. Américo Maia, primo e cunhado dos futuros governadores João Agripino (PB) e Tarcísio Maia (RN).

(*) TERMOS DO DEPOIMENTO DO CANGACEIRO MOITA BRAVA PRESTADO AO SUBDELEGADO DE BREJO DO CRUZ

Aos dez dias do mez de julho do anno de mil novecentos e trinta, nesta Villa de Brejo do Cruz, na cadeia pública, presente o subdelegado de polícia, sargento Delmiro Pereira da Silva, foi ouvido Euclydes Bezerra, que respondeu as perguntas que foram feitas pela dita autoridade, pelo modo seguinte: Perguntado qual o seu nome, filiação, idade, profissão, estado, nacionalidade, residência e se sabia ler e escrever, respondeu chamar-se Euclydes Bezerra, vulgo “Moita Brava”, filho de José Bezerra, com vinte e cinco annos de idade, solteiro, Josécultor, brasileiro, no Espírito Santo, Estado de Pernambuco, não sabe ler nem escrever. Perguntado mais como se passado o facto de ter elle sido preso, respondeu que foi preso pelo dr. secretário de segurança, no logar cujo nome elle ignora, sabendo, entretanto, ter sido o município de Pombal, devido fazer parte do grupo que vinha de Princeza, chefiado por João Paulino, Abilio e Rogério de tal; que ficou em sua casa doente, por não poder seguir com seus companheiros; que faz uns dezoito ou vinte dias que fazia parte do grupo, tendo entrado no grupo no logar Barra, do município de Princeza; que de Barra seguiu para Olho d’Água, dahi dirigiram-se para a fazenda do coronel João Alves, onde houve um tiroteio de dez minutos mais ou menos, tendo o grupo roubado, incendiado e feito outras depredações; dahi da propriedade de João Alves foram para a propriedade do subdelegado de Malta, que reside no município de Piancó, de nome Tota Assis, onde o prenderam e o conduziram, fazendo ali pequeno roubo; que dahi seguiram para o “Oriente” do dr. José Queiroga, onde passaram três dias, onde não fizeram nenhuma depredação, por terem ordem do coronel José Pereira para ali não tocarem em nada; que sahiram do oriente, porque foi um portador de Pombal avisar que ia uma força em perseguição e levava um dinheiro que foi entregue a João Paulino, cuja quantia elle ignora; que lá no “Oriente” receberam quatro animaes de presente, mandados por um senhor por nome de Cabeçudo e mais um rapaz para fazer parte do grupo, de nome José, que foi appellidado pelo grupo pelo nome de “Norato”, cujos signaes característicos são os seguintes: alto, alvarento, secco do corpo, cabello vermelho, faltando um dedo mínimo na mão esquerda; que logo depois da chegada do aviso de Pombal com algumas horas o grupo foi atacado, pela força, havendo um pequeno tiroteio, que dahi eles correram em direcção da rodagem de Malta a Pombal, onde fizeram alguns roubos e depredações; que o grupo era composto de quarenta e seis homens chefiadas por João Paulino, Rogério e Abilio, tendo outro grupo chefiado por José Joca, com perto de trinta e cinco homens, que se separou do grupo de João Paulino no logar Olho d’Água; que o grupo trazia ordem do coronel José Pereira de só passarem três semanas, voltando novamente para Princeza, mas o chefe do grupo disse que passava até três mezes se pudesse; que o grupo tinha ordem do coronel José Pereira de saquear e fazer depredações e não atirarem para não estragar a munição, que o grupo falava em atacar Pombal, Brejo do Cruz, Curema, Catolé, Conceição do Coronel José Avelino, Catingueira, e Serra Negra, não sabendo se nesta era para atacar ou descansar; que o producto do roubo os cabras entregaram ao chefe do grupo; que elle interrogado fez parte do grupo por ter se desgostado com a família; que os nomes do pessoal do grupo e seus apellidos de guerra eram os seguintes: João Paulino, Rogério, Abillo, Adaucto, José Joca, que ficou em Olho d’Água; Adalberto, Sebastião Engraxate, Arthur, cícero Fernandes, Briba, nome de guerra que ignora o nome; Garrincha, Euclydes de Goes, Lino, Norato, José Caetano, Manoel Rocha, Felix Raymundo, Leopoldo e outros que não sabe do nome nem do apellido. E como nada mais foi perguntado, deu a autoridade o auto por findo, mandando lavrar o presente auto, que depois de lido e achado conforme, assigna com Ildefonso Chaves e Octávio Olympio Maia, por não saber o interrogado escrever, commigo Urbano Maia, escrivão que o escrevi, Delmiro Pereira da Silva, Ildefonso Chaves e Octávio Olympio Maia.


(*) Depoimento Transcrito do Diário de Pernambuco, edição de quinta-feira, 24 de julho de 1930, página 3. (edição 00168).

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

MAS, NUM POSTE, VOTO NÃO! (POETA RAMIM ALEIJADO, SANTA CRUZ-RN

E SE TODAS AS CAMPANHAS POLÍTICAS NO BRASIL FOSSEM DISPUTADAS NA VIOLA E NO VERSO?

Autor: poeta Ramim Alejado /Sta Cruz-RN


Eu voto numa gazela

Num pedaço de imbira
Numa espinha de traíra
Na tampa de uma panela
Eu voto numa suvela
Num pedaço de carvão
Voto num pano de chão
Numa cadela com xanha
Voto na mãe de pantanha
Mas num poste, voto não!

Voto num galo goguento
Apoio até João badalo
Voto na tampa de um ralo
Num cachorro bem sarnento
Voto em qualquer lazarento
Na zuada de um trovão
Eu voto num gavião
Mas não voto num fantoche
Dou meu voto ate num broche
Mas num poste, voto não!

Eu voto num carroceiro
Numa velha maltrapilha
Mas não elejo quadrilha
Pra roubar nosso dinheiro
Não dou voto a cachaceiro
Que vive numa prisão
Eu voto até num furão
Voto num arroto xôco
Voto na bucha de um côco
Mas num poste, voto não!

Por ser um bom eleitor
Voto numa muriçoca
Voto numa franga choca
Na carroça de um trator
Num avião sem motor
Numa casca de limão
Voto na irmã do cão
Numa quenga depravada
Voto num cabo de enxada
Mas num poste, voto não!

Pra mudar este pais
Eu voto até numa muda
Não voto em cobra barbuda
Que tem nome de Luiz
Voto numa meretriz
Dou meu voto a safadão
Mas gigolô de ladrão
Nessa terra eu não aceito
Dou meu voto num confeito
Mas num (POSTE) voto não!