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domingo, 6 de agosto de 2023

ANDRÉ PIGNATARO: Comitiva do IHGRN - Nos Passos de Leão Veloso

 


Imagem: Bárbara Lima


DIÁRIO DE VIAGEM – NÚMERO 1


Macau, 27 de julho de 2023.

Após quase 3 horas de viagem, com uma rápida parada em João Câmara, a Comitiva do IHGRN chegou em Macau. Passava pouco das 11 horas da manhã, quando eu, Gustavo Sobral, Honório de Medeiros e sua esposa Michaella Lima (nossa fotógrafa), subimos a escadaria da igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição para encontrarmos nossos anfitriões, o poeta Horácio de Paiva Oliveira, presidente da Academia Macauense de Letras e Artes (AMLA) e sua esposa Rosália.

A calorosa recepção foi feita pela Orquestra Filarmônica Monsenhor Honório, formada por talentosos jovens macauenses. Também estavam presentes Sebastião Alves Maia, acadêmico da AMLA, e Max Kennedy, secretário adjunto da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Macau.

Conhecemos a aconchegante igreja e vimos a antiga cruz trazida da Ilha de Manoel Gonçalves, em 1825, antes que a ilha fosse engolida pela força da natureza.

Pausa para almoço no restaurante M Marias. Em seguida, visitamos o antigo porto de embarque e desembarque das barcaças que traziam passageiros e mercadorias dos navios maiores, como explicou Horácio, e fomos à belíssima e abandonada Ponta de Camapum.

Por volta das 15h, despedimo-nos de Horácio, dona Rosália e Tião. Cruzamos a estreita e mal-cuidada Macau, avistando a Praça da Conceição e seu obelisco. Antes de sairmos da histórica cidade, cruzamos a ponte que leva para a Ilha de Santana, apenas para contemplarmos o Rio Piranhas/Assu, já próximo de fazer barra com o mar.

Uma rápida parada no moinho de vento e despedimo-nos de Macau, para seguirmos no rumo do Assu.


DIÁRIO DE VIAGEM – NÚMERO 2


Vale do Assu, 27 de julho de 2023.

Saindo de Macau, seguimos para Pendências. O objetivo era alcançar o Distrito de Pedrinhas, local atual da Fazenda Morros, por onde a Comitiva de Leão Veloso fez pouso. No entanto, não achamos seguro seguir pela estrada de terra. Recuamos. Fomos, então, conhecer aquela modesta cidade. Era, aproximadamente, 15:30h, e poucas pessoas se aventuravam a andar pelas ruas.

Descemos na Praça Levani de Freitas e caminhamos no sentido da praça da igreja de São João Batista, onde quatro estátuas de cimento, muito bem feitas, repousavam sob o forte sol da tarde. Três delas, ficavam logo no início da praça: Jesus Cristo, ao centro, Pôncio Pilatos, à direita, e um soldado romano, à esquerda. Todas elas estavam sem as mãos, provavelmente por algum ato de vandalismo. Mais próximo da igreja, fica a estátua do padroeiro de Pendências. A igreja estava fechada. Abastecemos 
o carro e seguimos viagem.

Na entrada de Alto do Rodrigues, devido a um erro de navegação, deixamos de cruzar o Rio Assu e seguir pelas RN 404 e RN 016, que nos levaria a Assu, passando por Carnaubais e pela Fazenda Poço Verde. Desse modo, continuamos seguindo pela RN 118, passando por toda a extensão da próspera Alto do Rodrigues e por Ipanguaçu, até chegarmos na BR 304, para tomarmos o rumo do Assu.

Esse erro de navegação em Alto do Rodrigues terminou sendo providencial, pois o que seria uma rápida passagem por algum lugar aproximado da Fazenda Poço Verde, e com uma fotografia sem qualquer exatidão registrando nossa presença, deu lugar a uma visita, no dia seguinte, ao local específico da Fazenda Poço Verde, o que será tratado no próximo relato da viagem.

Chegamos ao Hotel União às 17h. Passava das 19:30h quando fomos ao restaurante Coité, nas cercanias do centro histórico de Assu, onde nos aguardava o nosso anfitrião Ivan Pinheiro, sócio da Academia Assuense de Letras (AAL), e sua esposa Ceiça, além de Francisco de Assis Medeiros e Fernanda da Sá Leitão, também integrantes da AAL.

Após o jantar, combinamos de nos encontrar às 08h, na igreja matriz, para darmos seguimento aos trabalhos da Comitiva do IHGRN.


André Felipe Pignataro Furtado de Mendonça e Menezes

GUSTAVO SOBRAL: Caderno de Viagem

 


Imagens: Gustavo Sobral

Caderno de Viagem

O escritor Gustavo Sobral embarcou numa aventura. Juntamente com Honório de Medeiros e André Felipe Pignataro Furtado de Mendonça e Menezes, acompanhados por Bárbara Michaela Ferreira Lima, seguiu numa comitiva do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte para refazer, em três etapas, o trajeto pelo sertão do Rio Grande do Norte que a comitiva do presidente da província Pedro Leão Veloso percorreu em 1861. Já foi à primeira das etapas, acabou de voltar e já publica, em primeira mão, este pequeno caderno preparado no calor da viagem, em versão digital, editado pelo Sertão, e disponível para download gratuito no site pessoal do autor gustavosobral.com.br

Caderno de Viagem. Sertão, 2023. 24p.

terça-feira, 11 de maio de 2021

UMA NOVA PERSPECTIVA PARA A HISTÓRIA: A TRILOGIA DE HONÓRIO DE MEDEIROS, CANGAÇO, PODER E CIÊNCIA

 

Ensaio publicado na Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras Nº66, jan-mar, 2021, p.191-199.

* Gustavo Sobral

                   Este trabalho é uma tentativa de leitura da trilogia de Honório de Medeiros. Trilogia que nasce com a publicação de Massilon, em 2010, perpassa a publicação de História de cangaceiros e coronéis, 2015, e tem o seu desfecho com a publicação de Jesuíno Brilhante, 2020.

                Honório de Medeiros propõe em sua obra um estudo histórico sobre o cangaço a partir das relações de poder, um estudo sobre as relações de poder e uma nova proposta para escrita da história ao considerar que a história deve ser entendida, escrita e explicada por uma perspectiva analítica e interpretativa.

                   Como condição necessária para o trabalho de pesquisa, o autor apresenta uma revisão da literatura preexistente acerca do cangaço, propondo uma classificação em fases, tipos de estudos e tipos de autores, procurando situar nesse contexto a sua proposta de abordagem.


                   
As fases, que trata por ondas, são três: a fase da produção dos fatos, quando se passaram os acontecimentos; a fase da coleta dos fatos, quando os fatos passam a ser registrados; e uma terceira fase, que deve ser a elaboração de teorias.

                   Três também são os tipos de texto: os que fantasiam, os que narram e os que pensam. E considera também a presença de zonas de interseção: narrações que analisam; fantasias que narram etc.

                   Quanto aos autores, reconhece três grupos distintos: um grupo que reúne cantadores de viola, cordelistas, contadores de estórias, xilogravuristas e poetas; um grupo que nomeia de pesquisadores do cangaço, que são aqueles que se debruçam 192 sobre o tema; e o grupo que congrega os pesquisadores acadêmicos sediados nas universidades.

                   A par desse contexto, elege, por sua vez, um caminho próprio de investigação que, considera, deve partir de uma leitura crítica das fontes, aplicando uma metodologia adequada e suportes teóricos condizentes.

                   É essa a proposta que desenvolve na construção da sua trilogia, o que se pode albergar em cinco vertentes de abordagem distribuídas nos três volumes publicados.

                   A primeira vertente é o que se pode considerar estudos sobre os estudos, que seriam os trabalhos em que o autor expõe uma reflexão e uma visão crítica sobre os estudos existentes acerca do cangaço.

                   No primeiro volume, Massilon, é possível identificar os seguintes textos nessa vertente: “Aplicação do método da ciência”; “O cangaço em nova onda”; “A nova onda do cangaço”. No segundo volume, História de Cangaceiros e Coronéis, os capítulos “Epifenômeno do cangaço”, “Tipos de textos sobre o cangaço” e “Sobre história e conhecimento escolar”.

                   Um segundo viés compreende estudos críticos mais aprofundados sobre as teorias e abordagens sobre o cangaço, quais sejam, a teoria do escudo ético, do estudioso Frederico Pernambucano de Melo — ensaio que integra o segundo volume, História de Cangaceiros e Coronéis —; e um estudo crítico sobre Câmara Cascudo e o cangaço, adendo a Jesuíno Brilhante, terceiro volume da série.

                   O terceiro viés se volta para as biografias e os perfis de cangaceiros, coronéis e outras figuras históricas do contexto.

                   Uma quarta abordagem se detém aos episódios e a outros aspectos. Em episódios, o ataque de Lampião a Mossoró; em aspectos, podemos elencar o pacto dos governadores e o Rio Grande do Norte no tempo dos coronéis.

                   A quinta perspectiva, que perpassa todas as anteriores, é o arcabouço metodológico e teórico.

                   A metodologia adotada é plurimetodológica, voltada para uma diversidade de fontes de pesquisa, e envolve levantamento bibliográfico; pesquisa documental, que resulta do acesso a fontes documentais diversas; e pesquisa etnográfica, que é a pesquisa de campo, que alberga a coleta de depoimentos, realização de entrevistas e visita aos locais dos acontecimentos.

                   A pesquisa e o levantamento bibliográfico se concentram em livros: obras gerais de história do Rio Grande do Norte, trabalhos monográficos sobre cangaceiros, biografias, memória, genealogia e estudos teóricos no campo da ciência, filosofia, biologia, sociologia, direito, ciência política etc.; cordéis diversos, que contam a história de cangaceiros e seus feitos; e revistas e jornais de ontem e de hoje.

                   Documentos diversos, compreendendo certidões de batismo e de óbito, inventários; peças jurídicas, como processos, representações, denúncias, pareceres, relatórios; cartas pessoais e cartas abertas (publicadas em jornais). Todos são fontes exploradas e, em sua maioria, reproduzidas a título de citação, adendo ou anexo.

                   Depoimentos, entrevistas e o “Diário de Viagem” — quarta parte do volume Massilon —, que relata o percurso da pesquisa de campo.

                   Há também toda uma preocupação em documentar o trabalho de pesquisa em notas de referência, aditivas e explicativas, em rodapé e/ou ao final de cada volume, referendando as fontes pesquisadas, os depoimentos colhidos e as entrevistas realizadas.

                   A título de anexo, o autor cuida da reprodução de documentos, seja em fac-símile, seja transcrito. Também há a menção, ao final de cada volume, das fontes bibliográficas consultadas.

                   A par de todo esse suporte metodológico, Honório de Medeiros desenvolve a sua teoria, o alicerce para observar e compreender o fenômeno do cangaço e o estudo das relações de 194 poder, e o faz ao apresentar os dados coletados, a análise e a interpretação, refutando hipóteses consagradas pela historiografia e propondo um novo olhar para a história.

                   A invasão de Lampião a Mossoró ganha uma nova proposta de análise que considera as relações de poder e interesse dos coronéis e refuta as premissas postas, construindo um novo paradigma para entender a história.

                   O mesmo acontece ao observar o pacto dos governadores como decorrência dessa relação de poder; e não é diferente quando se debruça sobre a dualidade “cangaceiro, herói ou bandido?”

                   Honório de Medeiros não se julga fiel da balança ou solucionador de questões históricas, mas apresenta prismas analíticos e interpretativos se fiando na base plurimetodológica que adota.

                   A sua tentativa de biografar Massilon esbarra em uma série de dificuldades oriundas dos desencontros e conflitos de informação que permeiam os textos sobre o cangaço e, também, na ausência de dados.

                   O nome é a primeira verdade a encontrar para contar Massilon. Com tantos nomes possíveis e pistas, Honório de Medeiros se encontra diante de um baralho embaralhado: Benevides, Massilon Leite, Massilon Diógenes, Antonio Leite?

                   Uma figura e tantos nomes, qual seria?

                   O pesquisador é aquele que sabe aonde deve ir. E Honório de Medeiros vai em busca dos registros de nascimento e batismo e nada encontra, até que uma pista o leva ao inventário do pai do cangaceiro e lá está o verdadeiro nome de Massilon: Macilon Leite de Oliveira.

                   Mas não se dá por satisfeito, pois sabe que pesquisar é entender as circunstâncias das fontes, e se faz a pergunta que deixa também para o leitor: como saber se o escrivão não se enganou?

                   Honório de Medeiros entende que encontrar uma possível resposta não é dirimir uma dúvida. Assim, o autor também revela mais uma faceta do seu trabalho: um projeto de como se deve construir a história.

                   Honório de Medeiros é aquele que compreende que fazer história é não se contentar com o que está posto e, dessa forma, parte numa viagem em busca de novas fontes, que alimentam novas versões da história, ciente de que só a par de todas elas, é possível analisar e interpretar.

                   O pesquisador é também, para Honório de Medeiros, aquele que reconhece a ausência de fontes de pesquisa e que desconfia, compara, checa e confronta todos os fatos.

                   A construção de Massilon, a biografia, obedece a uma forma de apresentação sistemática que nasce da divisão lógica do autor para a exposição do tema.

                   A primeira parte é dedicada ao motivo (capítulo “A busca por Massilon”) e ao contexto (capítulo “O Rio Grande do Norte e Sertão”).

                   A segunda parte se volta para a descoberta e a revelação do biografado: como se chamava, onde e quando nasceu, quais eram as suas feições — e nesse quesito há toda uma investigação para identificar e recuperar a presença de Massilon em uma fotografia, desvendando, assim, o único retrato possível do cangaceiro.

                   Além disso, o autor aborda temperamento, fatos da vida, registros outros e, por fim, o fim, a morte do biografado.

                   Outro não é o percurso que promove ao biografar Jesuíno Brilhante, tanto nos capítulos que lhe dedica na primeira parte de História de Cangaceiros e de Coronéis, quanto, cinco anos depois, no terceiro e último volume da trilogia, dedicado à história de Jesuíno Brilhante e ao aprofundamento da tese.

                   O ataque de Lampião a Mossoró também ganha contorno em História de Cangaceiros e de Coronéis, seguindo o mesmo caminho de explanação, passo a passo.

                   Honório de Medeiros introduz, apresenta e passa a considerar as hipóteses e os envolvidos, cangaceiros e coronéis, e chega ao campo de análise para, então, propor a sua própria tese para leitura e intepretação.

                   Para tanto, o autor trabalha a construção dos conceitos. É pelo capítulo “Do conceito de cangaço”, na terceira parte do volume Massilon, que ele começa contrapondo as definições de cangaço e de banditismo.

                   Importante nessa conceituação é a definição de Cascudo: “para o sertanejo [cangaço] é o preparo, carrego, aviamento, parafernália do cangaceiro, inseparável e característica, armas, munições, bornais, bisacos com suprimentos, balas, alimentos secos, mezinhas tradicionais, uma muda de roupa, etc.”

                   E também estabelece confrontos.

                   Honório de Medeiros refuta a concepção de bandido social proposta pelo historiador Eric Hobsbawm. E vai mais longe: é impossível conceituar e explicar o cangaço em razão das condições geográficas, sociais, econômicas etc.

                   Caldeirão que Honório de Medeiros resumirá como “hipóteses do ambiente social” no seu “Esboço de conclusão”, capítulo de Jesuíno Brilhante. Essa redução é simplista, considera, e não abarca toda a complexidade e singularidade do fenômeno.

                   Em Jesuíno Brilhante, o autor considera novos aportes para a construção do conceito de cangaceiro, levando em consideração que seriam figuras entre a santidade e o banditismo. E sustenta que a teoria do escudo ético, de Frederico Pernambucano de Mello, não é uma leitura que se aplica exclusivamente ao cangaço, e sim ao banditismo de forma geral.

                   Pernambucano teria partido, considera Honório de Medeiros, da noção de fator moral apresentada por Câmara Cascudo em Vaqueiros e Cantadores, que, por sua vez, teria bebido na fonte de Felipe Guerra, em Ainda o Nordeste.

                   Tanto a noção de escudo ético quanto a noção de fator moral consideram a justificativa moral do cangaceiro para aderir ao cangaço como fator determinante, hipótese que Honório de Medeiros propõe que possa ser substituída por uma teoria mais abrangente.

                   Já no estudo que empreende acerca de Câmara Cascudo e o cangaço — adendo do volume Jesuíno Brilhante —, investiga a construção e o molde do pensamento cascudiano acerca do tema.

                   A perspectiva da ânsia de grandeza e impulso à revolta pessoal, que serve para pensar o cangaço, lerá em Bertrand Russell; como colherá em Albert Camus a noção de homem revoltado, que é aquele que, inconformado, reage, para então propor a leitura da figura do cangaceiro a partir da noção de outsider proposta por Howard S. Becker e Norbert Elias.

                   O outsider é o transgressor, o desviante, o excêntrico que não espera viver com as regras estipuladas pelo grupo. Dessa maneira, Honório de Medeiros propõe entender a figura do cangaceiro pelo prisma do inconformismo.

                   Compreender, e não julgar, alerta o autor. E, assim, vai chegar ao conceito de cangaceirismo: é a história dos inconformados, revoltados, outsiders.

                   Outro conceito macro é o conceito de coronelismo, que está atrelado a uma compreensão da estrutura de poder feudal no Brasil monárquico e republicano. Honório de Medeiros se valerá do conceito de coronelismo traçado por Raymundo Faoro em Os Donos do Poder.

                   Seria o coronelismo aquela mesma estrutura de poder que se verifica na Europa feudal, um mundo de senhores arbitrários, cuja vontade era a lei, associados ao clero, proprietários de terras e do subjugo dos homens. O coronelismo é, portanto, uma forma de exercício do poder.

                   Outros aportes sustentam a construção do seu pensamento teórico. Honório de Medeiros parte da ciência por uma perspectiva ampla e transdisciplinar como caminho possível.

                   O autor considera o racionalismo crítico do filósofo britânico Karl Popper para construir uma abordagem científica e aplica as regras do método científico para propor uma lógica das informações como forma de validar ou não as hipóteses e, assim, escrever a história.

                   O autor também vai se valer da noção de campo social do sociólogo francês Pierre de Bourdieu, que compreende a realidade como uma malha aberta, cujos pontos de interseção, os atratores sociais, congregam fatos e ações semelhantes, formando uma malha social, ou seja, um campo.

                   Essa compreensão de campo social lhe permite observar cangaço e coronelismo como fenômenos do mesmo campo social, o campo social do poder.

                   Ao considerar o cangaço um fenômeno social, Honório de Medeiros parte do postulado do cientista político, sociólogo e antropólogo francês Émile Durkheim, em As Regras do Método Sociológico, e equipara fato social a fato natural, ou seja, considera os fatos sociais como passíveis de teste, comprovação e validação.

                   O fenômeno, portanto, pode ser comprovado pelas suas leis de recorrência, e as hipóteses levantadas podem ser testadas. Dessa forma, considera Honório de Medeiros, os fatos são passíveis de serem testados para serem comprovados ou não.

                   Outra contribuição importante no construto da sua proposta é a aplicação da teoria da evolução, do biólogo britânico Charles Darwin.

                   Honório de Medeiros se apropria do darwinismo ao compreender o comportamento humano como uma evolução constante, uma busca pela sobrevivência e adaptação ao meio, e se aproxima da corrente da bio-história.

                   No que tange ao estudo das relações de poder, o referencial é o cientista político, jurista e historiador italiano Gaetano Mosca e sua teoria de classe política. Mosca entende que um fenômeno não deve ser apenas estudado em sua forma concreta ou apenas nas suas manifestações formais. É preciso compreender a dinâmica que se esconde e sustenta as relações de poder e interesse e, assim, compreender que os grupos funcionam a partir dos seus interesses de poder. O cangaço, nessa leitura, apresenta-se como uma manifestação de poder e revolta dos excluídos.

                   É a partir dessa perspectiva e da junção dessas partes que o autor conecta cangaceiros e coronéis e estabelece o cangaço como resultado das relações de poder, e é assim que também escreve uma história do poder.

                   Honório de Medeiros lança nos três volumes de sua trilogia, e em quase duas décadas de pensamento e reflexão, uma nova perspectiva teórica, metodológica e conceitual para a pesquisa e a escrita da história, abrindo as portas da história no Rio Grande do Norte, dos estudos sobre o cangaço e sobre as relações de poder, para uma nova perspectiva no século XXI.

GUSTAVO SOBRAL é jornalista e escritor. Publicou e organizou diversos livros, dentre os quais “As Memórias Alheias” e “Os Fundadores”.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

ANJO AUGUSTO

 


Alex Medeiros

Um lampejo do talento de Alex Medeiros:


Anjo Augusto, bisneto do outro I

Eu nasci e cresci como um arbusto

na indiferença transeunte das estradas

um rebento do amor das empregadas

na prenhez ectópica de um susto

sou bisneto daquele outro Augusto

como aponta meu nome de batismo

não morri por um puro preciosismo

da genética e do jogo do destino

fiquei velho sem deixar de ser menino

sou a antítese de todo silogismo


Meu sangue formou-se em nebulosas

transfusões de uma suruba etnia

sou a soma carmática da anarquia

dois pedaços de raças raivosas

atavismo de almas poderosas

duas faces de pútridas feridas

uma vida lembrando de outras vidas

dois sabores de sucos genealógicos

eu sou claro e escuro, sou ilógico

a resposta de perguntas indevidas.


Tenho forte teor de panclastite

misturado no mijo e na saliva

gamogênese por força radioativa

condutora voraz de cervicite

sem antídoto algum pra que evite

minha ardente e sexual pantofagia

provocada por toda hebefrenia

alomórfica, caliente e pueril

tenho orgasmo vandálico e varonil

e amor quiasmático sem valia.


Nunca quis o equilíbrio, sou tumulto

não semeio a paz, eu planto guerra

sou da roda o ferrugem que a emperra

sou sem alma um cadáver insepulto

não me apraz o cortejo, sim o insulto

organizo a inércia num tormento

faço graça onde pede-se um lamento

prego horror onde impera mansidão

rasgo bíblias e incendeio alcorão

sou liberto de todo sentimento.


Anjo Augusto, bisneto do outro II

Há espectros de carnes apodrecidas

flutuando em minha sala de estar

e por estar nesta sala um pop star

não se assombram ninfetas raparigas

voluptuosas, são todas ensandecidas

trepadeiras em flor adolescente

e os fantasmas querendo virar gente

me imploram a mediúnica paixão

mas, sou ateu, prometeu, vate pagão

exorcizo uma gata em cama quente.


Há um odor de entranhas estelares

nos lençóis encardidos dessa moça

marcas de pus e de sangue, uma poça

entre anéis, algemas, cintos, colares

há vestígios de missas e altares

na fumaça de incenso de maconha

ao dormir a devassa morde a fronha

quando acorda se sente messalina

que mistério envolve essa menina

quando mata, morre e quando sonha?


Quis um dia encarnar Gregory Peck

pra beijar muitas divas do cinema

peguei negra, loura e morena

e tracei luluzinhas de pileque

ganhei calos na mão pelas chacretes

nos domingos de mil maracanãs

de quadrinhos, de janes e tarzans

de um Brasil ainda no sossego

sem TV de faustões e descarregos

de amassos inocentes nos divãs.


A Via Lactea é placenta dos planetas

asteróides são tumores pelos céus

poeira cósmica é cocaína de deus

fogo do inferno se exporta em cometas

buraco negro não tem trinco ou maçaneta

e os anjos se escondem nos quasares

no hiperespaço não há tempo ou lugares

não há minuto, não há dia, nem semana

pelo Universo toda a natureza humana

é resumida em micróbios estelares.


Anjo Augusto, bisneto do outro III

O poeta que respe jamais sacoleja

nem gnoma qualquer vai reprovar

ostiariato também não calará

e também governo, partido ou igreja

se vindo a mim o inimigo rasteja

nos meus versos de doce agonia

alquebrados em fina iconoclastia

soçobrando as alcovas ecumênicas

eu colho rimas ricas e blasfêmicas

no epitáfio do que serei um dia


Carraspana litúrgica de otários

patuléia hedionda de girinos

partogênese de burro nordestino

Ilusão maniqueísta de templários

parlamento fungo vivo do erário

baixarias de dogma evangélico

silogismos de mofo aristotélico

pardieiro do pensamento santo

uma santa enforcada pelo manto

na volúpia ecumênica de um clérigo


Discurso gaudério de um guerrilheiro

transmudo em transtorno de um ideal

o doutor milita na vara e no pau

rebelde passado de anti-usineiro

hoje mauricinho montado em dinheiro

vestal pós-burguês senhor veranista

a foice é chibata de neo-comunista

além da vitrine que o dinheiro imprensa

e a vida dilui-se em dogmas e crença

na falsa batalha de uma farsa revista


No meu livro “eu e outras putarias”

onde assisto o velório de um inseto

desmanchei um escriba analfabeto

que tornou-se cupim de livrarias

num futuro de tons de pandemias

tem morcegos vermelhos no inferno

o apóstolo João abre um caderno

revelando uma besta na fuligem

e um doido sem nome sem origem

que se chama influenciador moderno.

sábado, 12 de dezembro de 2020

MONTAIGNE E A POLÍTICA

By Gary Brown, in fineartamerica.com

* Franklin Jorge

Pensador e humanista, Michel de Montaigne escreve para o bem público. Fundador de uma tradição, concebe, exemplarmente, o ato de escrever como uma magistratura.

leitor@navegos.com.br

É possível que, quatro séculos depois, ao afirmar que um grande escritor é como um príncipe, Thomas Mann estivesse pensando no autor dos Ensaios. Levam ambos – o francês clássico e o moderno clássico de língua alemã – uma existência representativa, à maneira dos príncipes, e, como escritores, seus eventuais erros e equívocos teriam mais consequências negativas do que aqueles cometidos pelos políticos.

Poucos escritores, antes ou depois, encarnaram tão perfeitamente esse conceito manniano, que exalta e resume toda uma concepção ontológica do exercício intelectual.

Magistrado cioso do seu dever, assessor dignissumus do rei –sempre moderado e dependente da razão – alerta-o Montaigne, sem temer cair no desagrado real, quanto convém a um governante visitar e acatar os cidadãos em proveito dos negócios do Estado. É Montaigne, neste sentido, o anti-Maquiavel.

Conselheiro de Estado e, por algum tempo, prefeito de Bordeaux, a política, como um serviço prestado à Nação, mereceu dele, Montaigne, a mais alta e sensata consideração baseada no bom senso e na observação dos costumes.

Ao contrário de Maquiavel, valoriza e defende os direitos individuais, movido por uma surpreendente mistura de tato e convicção, pois crê, sobretudo, que um homem que leu e assimilou experiência e reflexão é mais capaz de grandes feitos do que os outros…

Em um ponto, porém, concorda, ao menos, com Maquiavel, ao afirmar que o interesse público, às vezes, exige do governante que traia e mate e até massacre no interesse público -frise-se- não para a satisfação do interesse individual do governante, como Maquiavel aconselharia ao Príncipe.

Precursor e patrono oficioso do Iluminismo, parece dizer-nos Montaigne que os erros dos políticos sejam frutos não dos interesses, mas das convicções.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

UMA CONVERSA SOBRE "CENAS NATALENSES"

 

Uma obra de arte!

Uma conversa sobre Cenas Natalenses

Gustavo Sobral é jornalista e escritor. Nasceu em Natal, onde vive e espia o mundo. Autor, dentre outros, de “História da Cidade do Natal”, agora aparece com “Cenas Natalenses” (Natal: 8 Editora/ Offset, 2020, 60p., R$ 25,00), seu novo livro, a venda na livraria Cooperativa Cultura (UFRN) e na Flora Cafeteria.

História, memória, literatura, jornalismo, crônica são os caminhos da sua escrita, em qual destas facetas se encontra o seu novo livro? Cenas Natalenses considero, como todos os meus trabalhos anteriores, um livro inclassificável, mas mesmo assim posso dizer que é um livro que, no mundo em que vivemos, o mundo imperativo da imagem, pretende ser uma coleção de pequenos e breves retratos da cidade em palavra e desenho. Um breve exercício de jornalismo visual, de ver e ouvir a cidade em movimento.

Qual o papel da ilustração neste seu novo trabalho? É uma forma de expressão. Para que descrever um edifício se posso rabisca-lo? Mas faço um traço apressado, sem retoques, e trago o desenho também a uma condição de protagonismo.

E como, quando e onde, e porque nasceu esta ideia de “rabiscar”? Sempre gostei dessa coisa de ilustração para livros e queria ilustrações para um livro meu, “Petrópolis”, mas não tinha quem fizesse, eu mesmo arrisquei e saiu. Ai, não deixei mais.

E porque estes lugares (a Fortaleza, o Farol, o Parque das Dunas, etc) e não outros? A sentença de Cascudo, que usei na epígrafe, me concedeu uma liberdade de escolha: “a cidade do Natal é uma perspectiva indefinida”. Fechei os olhos e pensei: que lugares da cidade caberiam numa cena? Procurei os cartões postais: Ponta Negra, a Fortaleza e o Farol; sai em busca do cotidiano, feira livre e o movimento na Praça do Relógio, a maternidade e o cemitério; e não podia deixar de falar da natureza, e fui em busca da flora do Parque das Dunas.

E que texto é este que você faz para o livro? Sempre procurei e busco uma escrita em voz alta, ou seja, aquela que preserve um tom de oralidade e um ritmo. Gosto quando as pessoas dizem: é como ouvir você falando! A forma é tão importante quanto é o conteúdo. É tudo uma parte do todo.

Um todo? O todo que nasce na proposta do livro passa pelo apelo visual e se transforma na junção de tudo isso em um projeto gráfico. Propus o desenho de todo livro, inclusive, a montagem, procurando uma fluidez na expressão do conteúdo e que o resultado fosse simples como aí está.

E por que escrever sobre Natal? Porque não sei ser de outro lugar. O escritor tem sempre uma forte ligação com a sua cidade, portanto, me volto para Natal nesta perspectiva meio quixotesca que Cascudo tratava por um provincianismo incurável.

Uma espécie de Dom Quixote tropical? Quem sabe?! (risos). A afirmação de Lygia Fagundes Teles para mim ainda é válida: há três espécies em extinção no Brasil: a árvore, o índio e o escritor.

E o que resta ao escritor, esta espécie em extinção, fazer? Escrever! Já dizia o poeta Ferreira Gullar a arte, a literatura, a poesia, tudo isso existe, porque a vida não basta. Escrever é a forma certa de não deixar tudo passar e basta.

VENDA

Flora Cafeteria, na Floricultura Flor de Algodão.

Av. Rodrigues Alves, 443 - A - Petrópolis.

Horário de funcionamento: segunda a sexta, 12h às 19h;

sábados 9h às 15h.

Telefone para contato (84) 2030-4090

Livraria Cooperativa Cultura, UFRN.

Horário de funcionamento: segunda a sexta, 9h às 16h.

Entrega pelo Delivery, telefone para contato e pedidos (84) 3211-9230

ou pelo WhatsApp (84)99864-1991.

Valor do livro R$ 25,00

Para ler este e outros inscritos, acesse: gustavosobral.com.br

domingo, 19 de maio de 2019

LIVROS: A PUBLICAÇÃO DOS PRÓPRIOS LIVROS


Do EL PAIS


Autores mais lidos de plataformas como o Kindle chegam a ganhar 50.000 reais em um mês.
 
Eles publicaram os próprios livros e descobriram não precisar de editoras.

RODOLFO BORGES

John Kennedy Toole ganhou o prêmio Pulitzer de ficção de 1981 por A Confederacy of Dunces (Uma confraria de tolos), mas não pôde celebrar. Doze anos antes, o autor do livro que se tornaria uma referência de Nova Orleans tinha tirado a própria vida, sem conseguir lidar com a rejeição do editor Robert Gottlieb a sua obra. A trágica história de Toole, conhecida porque sua mãe persistiu anos depois no projeto de publicar o livro, soa distante numa época em que é possível publicar livros por conta própria sem qualquer custo — e quando fazê-lo pode ser até melhor (e mais rentável) do que aguardar por editoras que possivelmente não teriam tempo ou dinheiro para sequer avaliá-los. 

A economista Eliana Cardoso, já com dois livros de ficção publicados pela Companhia das Letras, chegou a buscar uma editora para publicar o terceiro, Dama de paus. Diante da negativa, partiu para o Kindle Direct Publishing (KDP), plataforma de autopublicação da Amazon que chegou ao Brasil em 2012. Meses depois, a escritora recebeu a notícia de que tinha ganhado o concurso anual promovido pela gigante do varejo desde 2016 no Brasil. "É um luxo ter o livro revisto e editado por uma grande editora. Por outro lado, a autopublicação através do KDP é uma saída espetacular", celebra Cardoso, que embolsou o prêmio de 30.000 reais e verá seu livro impresso pela editora Nova Fronteira. Ela conta que o aplicativo de edição disponibilizado pela Amazon é muito fácil de usar, que o processo não apresenta nenhum custo para o autor e que cabe a ele definir o valor a ser cobrando, do qual ele pode ficar com até 70% do preço de capa — as editoras costumam repassar cerca de 10% para seus autores por livros físicos e 25% pelos digitais. 

O negócio é tão bom que até escritores de grande sucesso, como Paulo Coelho, publicam seus livros pela plataforma. Enquanto a Companhia das Letras distribui seus livros físicos no Brasil, os e-books são vendidos diretamente pela Amazon em todo o mundo (com exceção dos EUA), o que lhe permite ficar com 35% do valor de cada volume, já que a venda não é exclusiva da Amazon. Gerente para o KDP da Amazon no Brasil, Talita Taliberti destaca que outros sucessos literários, como Mário Sergio Cortella e Augusto Cury, também já publicaram pela ferramenta, e diz que da lista dos 100 livros mais vendidos pela empresa no Brasil, em torno de 30 costumam ser de autopublicação. 

Entre eles dificilmente não estará um livro de Nana Pauvolih, uma professora que trocou as aulas de história pelo sucesso literário (e financeiro) em 2013. Em seu segundo mês de KDP, a autora de literatura erótica já ganhava mais do que nos seus dois empregos como professora, nas redes pública e privada do Rio de Janeiro. O sucesso de livros como A coleira e de séries como Redenção acabou chamando a atenção da agente literária Luciana Villas-Boas, que fez a ponte da autora com editoras como Rocco e Planeta, que hoje publicam suas obras. Sete anos depois de começar a publicar suas histórias em blogs, Pauvolih conta 29 livros, 25 deles autopublicados, e mais de 100.000 e-books vendidos — além disso, a mencionada série Redenção está para virar minissérie da Rede Globo. 

Autores de sucesso como Nana Pauvolih podem ganhar até 20.000 reais mensais, com picos de 50.000 reais em um bom mês de lançamento, mas precisam se empenhar na divulgação das próprias obras, ressalva Janice Diniz, outra autora independente de sucesso. Ex-professora de português, a autora de livros sobre histórias com cowboys como Casamento sem amor calcula em cerca de 48 os seus títulos publicados. "Publico mês sim, mês não. Só no último ano [2018], quando tive de escrever para a Happer Collins, que eu fiquei três meses sem publicar", conta. 

Hoje, Diniz publica pelo selo Harlequin da editora, com quem tem contrato até 2020, mas diz que vive bem desde 2015 apenas com os rendimentos da autopublicação. “Peguei todas as fases do preconceitos. De autora independente, em relação à literatura erótica e ao livro digital”, lembra a autora, que começou sua carreira literária pagando para imprimir seus livros. "Era inviável. Não tinha lucros, só gastos. E eu ainda comecei com uma trilogia. Tinha de manter um estoque dos dois primeiros e ainda pagar pela impressão do terceiro", conta. Ela estava quase desistindo de se tornar escritora quando surgiu a possibilidade de publicar em meio digital. 

Hoje, Janice Diniz conta com o auxílio de três amigas para administrar os cerca de 100 grupos de Facebook utilizados para divulgar sua obra, que, para ela, está acomodada confortavelmente na plataforma de publicação da Amazon. A escritora diz que até tentou utilizar outra opção, a Kobo Writing Life, mas o fato de os valores das vendas serem repassados aos autores apenas duas vezes por ano a afastou — já o KDP repassa os valores mensalmente e ainda remunera os autores por página lida, a partir de um fundo global que hoje gira em torno de 88 milhões de reais. A eficiência da Amazon, cujo serviço de venda direta chegou ao Brasil neste ano, contrasta com a crise do mercado editorial brasileiro. 

Mercado editorial 

No ano passado, Saraiva e Livraria Cultura, duas da maiores redes de varejo de livros do país pediram recuperação judicial — a Cultura, aliás, é a representante da plataforma Kobo no Brasil. O mesmo ocorreu com a distribuidora BookPartners. Além disso, a rede de livrarias Laselva, que tinha pedido recuperação judicial em 2013, enfim decretou falência em 2018. A crise obviamente reverbera nas editoras, que não recebem os pagamentos devidos. Quando pediu recuperação judicial, a Saraiva informou à Justiça ter uma dívida de 675 milhões de reais. 

Foi nesse contexto que a editora Cosac Naify fechou as portas melancolicamente em 2015. Um ano depois, em mais uma demonstração de força, a Amazon comprou parte do passivo, de 230.000 livros, e poupou a falida editora do fardo de estocá-los, mas não do desconforto de lidar com as notícias de que a outra parte do acervo teria de ser destruída e transformada em aparas. 

Ao lamentar em seu blog os "dias mais difíceis" para os livros no Brasil, o presidente do Grupo Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, escreveu em novembro do ano passado que "as editoras ficaram sem 40% ou mais dos seus recebimentos" por conta da crise nas redes de livrarias. "Passei por um dos piores momentos da minha vida pessoal e profissional quando, pela primeira vez em 32 anos, tive que demitir seis funcionários que faziam parte da Companhia há tempos", escreveu o editor, acrescentando linhas depois: "Numa reunião para prestar esclarecimentos sobre aquele triste e inédito acontecimento, uma funcionária me perguntou se as demissões se limitariam àquelas seis. Com sinceridade e a voz embargada, disse que não tinha como garantir". 

Numa situação dessas, não é de se espantar que um autor estreante como J. L. Amaral tenha buscado refúgio na autopublicação. Após trabalhar 20 anos como bancário, esse publicitário por formação resolveu parar tudo para tentar uma carreira literária. Em janeiro de 2017, enviou seu Entre pontos para cinco editoras. Em setembro daquele ano, como não tinha recebido nenhuma resposta, resolveu publicar o livro por conta própria, no KDP. Três meses depois, estava entre os finalistas do Prêmio Kindle daquele ano. “Enquanto o mercado não se estabilizar, vai ser difícil ter um espaço à sombra”, constata o autor, que publicou Borboletas azuis pela mesma plataforma no ano passado e, enquanto escreve o terceiro livro, tenta aprimorar sua formação como escritor e roteirista. 

Em contraste com as redes físicas de livros, os ambientes virtuais têm celebrado crescimento. A Amazon não revela seus números, mas só no prêmio promovido neste ano foram 1.500 livros inscritos. O Clube de Autores, que permite publicar livros digitais e físicos, diz lançar 40 obras por dia em sua plataforma e celebrou no ano passado um crescimento de 30%, como registra o portal Publishnews. A Bibliomundi, outra plataforma digital, publicou 931 livros no ano passado e diz que dobrou seus registros de autores independentes. São poucos, contudo, os que conseguem andar com as próprias pernas no mundo da literatura. Eliana Cardoso, que ganhou o último Prêmio Kindle, confessa expectativa quando à relação que pode vir a desenvolver com a Nova Fronteira após a publicação de Dama de paus, mas seu próximo projeto literário, um livro infantil, já tem destino certo: o Kindle Direct Publishing. “A Nova Fronteira não está trabalhando nesta área, e o KDP oferece um aplicativo só para livros infantis”.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

SOBRE CRESCER


* Bárbara de Medeiros
Sou grande demais para o balanço.

Mas isso não me impede de sentar e lembrar da época em que minhas pernas ainda eram curtas: minha felicidade, muito mais fácil de ser alcançada – com os pés fora do chão.

Eu sempre fui uma sonhadora (sou pisciana, afinal), e quando não estava escondida atrás de livros, estava vivendo no meu próprio mundo imaginário, onde nada me abalava e monstros só existiam para serem derrotados.

O dia em que esse mundo parou de existir foi o dia em que tudo ficou complicado, eu acho.

Mas não sei indicar qual foi.

Não foi quando o vermelho tingiu meus lençois.

Não foi quando atingi o limite e não podia mais subir no balanço.

Não foi quando assoprei as quinze velas do meu bolo de aniversário.

Só sei que não consigo voltar a co-habitar os dois mundos paralelos em que vivia – o real e o imaginário.

Encaixotei meus amigos imaginários em uma estante empoeirada, e não temos mais o que conversar.

Esse mundo de concreto e pedra não é suficiente para mim, nunca foi.

Mas perdi meu passaporte para a floresta encantada, e, na falta, sento-me em frente ao computador e escrevo.

Talvez um dia me permitam voltar.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

DE ESCREVER

"Pois na verdade, e quero dizer isso sem mais delongas, escrever é deixar de ser escritor" (Mac, o personagem principal de "Mac e seu Contratempo", de Enrique Vila-Matas).

domingo, 6 de janeiro de 2019

CARTA ABERTA À GOVERNADORA FÁTIMA BEZERRA

* Do Blog de Gustavo Negreiros

Carta Aberta à Governadora Fátima Bezerra: “que o sonho jamais se transforme em um pesadelo”

"06.01.2019

Carta aberta do Auditor Fiscal José Arnaldo Fiuza Lima para a governadora Fátima Bezerra.

Nesta primeira semana em que a gestão do governo do RN está nas mãos de uma professora, ex-sindicalista e fundadora do Fórum dos Servidores Públicos do Estado, um forte sentimento de angústia e aflição vem tomando conta de uma parcela significativa do eleitorado potiguar, que sem o seu apoio, certamente, o resultado das eleições de 2018 seria outro e Fátima Bezerra continuaria exercendo funções parlamentares na Câmara Alta, em Brasília.

Tais exordiais sensações advém de declarações não muito felizes e tecnicamente equivocadas de membros do primeiro escalão da nova gestão, entre as quais a que proferiu o próprio Vice-Governador, inferindo, em entrevista, que “… Em 2019, com as receitas administradas pelo novo governo, nós passamos, nós já possamos sinalizar um pagamento que, claro, não será possível corrigir todo o passivo. Este passivo pertence a um outro governo…”.

Ora, não se pode confundir nunca governante com governo, pois o passivo salarial existente perante os servidores do Estado é obrigação a ser adimplida pelo governo do RN, sendo irrelevante juridicamente o fato de que tal dívida, de caráter alimentar, tenha sido contraída no fim da gestão anterior ou já na nova, pois não é um débito pessoal do governante, mas institucional do Estado, no qual o governo (organização que conduz e administra o ente estatal), seja quem for o gestor, deve honrar cronologicamente, i.e, na sequência temporal em que cada um deles foi se constituindo, e não, afrontando aos princípios da continuidade da administração pública e da impessoalidade e ao talante pessoal do governante de plantão, escolher o que deseja inicialmente pagar, os de seu mandato, com recursos ordinários, em menoscabo dos débitos precedentes, e que, erroneamente, ora parece se pretender quitar, exclusivamente, com recursos extraordinários e antecipatórios.

Nas mesmas pegadas tortuosas, o novo Secretário do Planejamento, conforme noticia o Jornal Tribuna do Norte e diversos outros meios de comunicação, afirmou, durante a cerimônia de posse do atual secretariado, que, na próxima semana, vai se definir como se fazer o pagamento de janeiro, “mas sem essas definições de calendário de pagamento e todo o passivo atrasado”.

Vejam, e daí se origina, já nos primórdios da gestão de Fátima Bezerra, uma tensão muito forte com aqueles que são historicamente seus companheiros de luta e que foram imprescindíveis para sua vitória eleitoral, pois o que está sendo construído pela sua equipe econômica nada mais é do que uma praxe velha de se fazer política, onde se constrói uma maqueada imagem, distante da realidade subjacente, ao se pagar em dia os salários da novel gestão e só posteriormente os contraídos sob a batuta do governante predecessor, sem que exista nenhuma justificativa minimamente razoável para tanto, nem jurídica, nem contábil, muito pelo contrário, mas que busca passar à sociedade uma pseudoaparência de normalidade, de “arrumação da casa” e de resolução de um gravíssimo problema pelo qual vivem os servidores públicos, hoje por demais penalizados com até 4 (quatro) salários em aberto, caso de alguns aposentados e pensionistas, e, caso tal infeliz ideia seja adotada, mais ainda sofrerão, com seus bolsos vazios e suas dívidas se multiplicando, numa crescente decepção, agravada ainda mais quando, comparativamente, se remete a era Robinson Farias, de tristes recordações para o funcionalismo, que, mesmo com a intempestividade no pagamento de salários que reinou pelos últimos 36 (trinta e seis) meses, jamais sequer cogitou usar tal artifício, o de iniciar um novo ano pagando salários deste e pulando os dos derradeiros meses do exercício findo, sem buscar quitar com precedência os mais antigos, implementando assim, nobre governadora, já no nascedouro de seu mandato, uma medida absurda, que, indubitavelmente, fomentará revolta nos funcionários do Executivo e instaurará um estado de animosidade entre o governo e o seu corpo funcional, indesejável por ambos.

Dito isto, sem explanar sobre a precedência jurídica do pagamento de salários em relação com as demais dívidas do Estado do RN, em virtude disto ser de cognição da governadora e de toda sua equipe, ou ser irresponsável em cobrar imediata solução para os atrasos salariais, pois todos sabem da impossibilidade fática disto ocorrer a curtíssimo prazo, inobstante, e aí reside o apelo que ora se faz, e já nas pegadas do decidido, de forma unânime, nesta semana, pelas diversas lideranças sindicais que estiveram presentes na reunião do Fórum dos Servidores Públicos do Estado, entidade na qual nossa hodierna governante é uma das fundadoras, que se honre, com a máxima brevidade financeiramente possível, sequencialmente e na medida da entrada de recursos ordinários e extraordinários, o restante do décimo terceiro sálario de 2017, no montante de cerca de R$ 42 milhões, o que falta dos salários de novembro de 2018, de cerca de R$ 96 milhões, quitando, em seguida, o décimo terceiro de 2018 e a remuneração de dezembro de 2018, para só então se pagar a folha salarial de janeiro de 2019, e que também se respeite o Princípio da Isonomia quanto à data de pagamento entre todas as categorias e entre ativos e inativos, pois é inadmissível que se mantenha a odiosa discriminação que vem sofrendo os aposentados e pensionistas do Estado, de serem os últimos a perceber os seus proventos, quando pela avançada idade e suas consequências naturais carecem mais de recursos financeiros para fazer frente às despesas elevadas relacionadas à manutenção da saúde.

Para tanto, como o orçamento do presente exercício ainda está fechado, elidindo-se a possibilidade do governo de fazer pagamento de certas despesas, e inexistindo qualquer razoabilidade em se deixar parado nas contas do Erário o dinheiro que está sendo arrecadado, enquanto os servidores públicos estão passando sérias dificuldades financeiras, e analisando o cronograma e a previsão de receitas do RN, urge trazer ao seu conhecimento e da população potiguar que resta possível que o primeiro pagamento, quanto às pendências salariais apontadas, já possa ser feito agora, entre os dias 07 e 08, com a entrada de recursos próprios na ordem de R$ 115 milhões, que excluída a parte referente ao FUNDEB e aos municípios ainda sobrariam, em caixa, cerca de R$ 77 milhões. O segundo e o início do terceiro pagamento já podem ocorrer até o dia 14, com a entrada da primeira parcela do FPE e de recursos próprios, que até tal data importariam, em valores líquidos, de cerca de R$ 260 milhões, e que, com outras receitas que advirão até o fim deste mês, mesmo com as deduções constitucionais e o repasse dos duodécimos aos Poderes e órgãos com autonomia financeira, possa ser continuado tal pagamento e reduzido, em parte, o montante do atraso salarial, dando esperança, desta forma, a todos os servidores, que a promessa firmada no transcorrer da campanha eleitoral será fielmente cumprida desde os primeiros dias do seu mandato.

Claramente, há esperança nos mais de 100 (cem) mil servidores ativos, aposentados, pensionistas e em todos os seus familiares de que o direito trabalhista à percepção tempestiva de suas remunerações será enfim respeitado, e, para tanto, imprescinde que a nova gestão do Governo do RN, sob a titularidade de uma professora, já nestes primeiros dias do ano, envide todos os esforços possíveis para, urgentemente, minimizar e, no menor tempo possível, pôr um fim nestes reiterados atrasos salariais, efetuando os pagamentos remuneratórios à medida que for entrando recursos no Erário e sem que se desrespeite a cronologia e a isonomia, na forma alhures mencionada.

Por fim, finca-se o sincero desejo de que possam, governo e servidores, caminhar unidos e em harmonia pelos anos da gestão que se inicia, para que o outrora sonho, transmutado hoje em esperança, de um lado, e angústia e aflição por certas declarações emitidas na imprensa, do outro, jamais se transforme em um pesadelo, e assim, coloquem, juntos, finalmente, o Estado do Rio Grande do Norte no patamar econômico e social que a sociedade potiguar almeja e merece.”

terça-feira, 27 de novembro de 2018

UMA HISTÓRIA MARAVILHOSA DA ÉPOCA DOS CORONÉIS

De Laurence Nóbrega, grande amigo meu e do famoso escritor Florentino Vereda, recebi o bilhete abaixo:

"Mando anexo um arquivo em word, com a transcrição que fiz, de uma história contada por Trajano Pires da Nóbrega, no seu estudo da genealogia da família Nóbrega, da qual eu sou um dos menos ilustres membros.

Trata-se da fuga da filha do Capitão Justino Alves da Nóbrega, mais conhecido como Cap. Justino da Salamandra, o mesmo que atacou a cidade de Santa Luzia e libertou o primo Liberato Cavalcanti de Carvalho Nóbrega, preso injustamente por inimigos políticos. Não sei se este é o cangaceiro a quem você se referiu na nossa conversa recente. Caso queira pesquisar mais a respeito dele, consulte as “fotocópias” que lhe enviei ou, se preferir, diretamente no livro de Trajano.

Um bom fim de semana.

Laurence

"Sunila" 

“Ouvi a seguinte história acerca do casamento de Marcionila Bezerra da Nóbrega (Sunila), com Braz Cavalcante, que me foi narrada por Severino Duarte Pinheiro, neto do seu irmão Martinho Alves da Nóbrega. “Marcionila, filha do Cap. Justino Alves da Nóbrega, ou Cap. Justino da Salamandra, chefe do Partido Conservador em Santa Luzia, tinha o gênio forte e voluntarioso como o do pai. Foi pedida em casamento por Brás Cavalcante, rapaz de Sapé que andou em Santa Luzia, pedido que, apesar de ser do seu agrado, foi definitivamente repelido pelo pai. Não se conformando com esta recusa, a moça deliberou fugir, o que chegou ao conhecimento do pai, que logo decretou a sentença de morte da filha, caso pusesse em prática o seu plano de fuga. Nada intimidou a moça, que, seguindo o hábito paterno, usava constantemente pistola e punhal ocultos na própria roupa. 

Sentindo que a filha seria capaz de realizar o seu plano, o Cap. Justino passou a manter constante e ativa vigilância. Como que de propósito, a casa só tinha duas aberturas acessíveis à moça, uma porta e uma janela, esta no oitão da casa. Intensificando a vigilância, o velho admitiu um auxiliar, que era um rapaz de confiança, que sempre mantinha em uma casa na fazenda, à frente da casa grande. Enquanto, à noite, o velho dormia perto da porta, o rapaz dormia perto da janela. 

Não havia outra saída. 

Em uma noite, porém, de grossa invernada com forte trovoada, coincidiu que o rapaz auxiliar da vigilância faltou; mas o velho dobrou o cuidado. A moça, que mantinha secreta correspondência com o noivo, tinha assentado fugir na primeira noite de tempestade que houvesse. Aquela seria a tal. 

Da sala de jantar, ficou observando, ocultamente, os menores movimentos do pai. Viu-o deitar-se, mas sempre atento à chuva. A certa hora o velho levantou-se o foi abrir a porta para olhar a chuva do alpendre. Compreendendo o gesto paterno, a filha a filha abriu a janela no mesmo instante em que o velho abriu a porta, de modo a confundir os dois em um só ruído. E deu certo. O pai não percebeu que a janela tinha sido aberta e que, por ela, sem perder um instante sequer, a moça se passara para fora, saindo para a chuva e a escuridão, não tardando a encontrar-se com o noivo, que a aguardava a pequena distância, com o cavalo de prontidão. Correram até a vila de Santa Luzia, onde chegaram alta madrugada, procurando abrigo na casa de residência do chefe político do Partido Liberal, adversário e inimigo do Cap. Justino. Aí foram guardados, trancados em um quarto, de modo a não serem pressentidos por ninguém, pois o velho Justino era geralmente temido. 

Ao amanhecer o dia, o Cap. Justino foi surpreendido com a realidade. A filha tinha fugido, realizando o plano que tentava frustrar com tanto empenho. E a revolta, na sua alma voluntariosa, que não admitia tal indisciplina, principalmente por uma filha, não teve limite. Determinou imediata perseguição ao casal de fugitivos, até encontrar para matar ambos, sangrados ou fuzilados. Convocou, no mesmo instante, todos os seus homens, e deu ordens severíssimas para saírem em perseguição ao casal, até encontrar e matar. Mas a chuva grossa da noite havia desfeito todos os rastros. Não era possível descobrir o rumo seguido pelos fugitivos. 

Mandou, então, gente em todas as direções; mas nada de notícias, ninguém vira os fugitivos nem deles tivera notícias. Parecia que a terra os havia engolido. 

Depois do terceiro dia, continuando as indagações e as ameaças, cada vez mais terríveis, o chefe da casa que lhes havia dado guarida, temeu pela segurança dos seus e pediu ao rapaz que se retirasse com a moça. Aguardaram a noite e fugiram a cavalo, por volta da meia noite. Tomaram rumo ignorado, o que foi fácil porque ninguém suspeitava que os fugitivos permaneciam em Santa Luzia. 

Cerca de um mês depois chegou a primeira notícia da filha; sem se denunciar onde permanecia oculta, mandou pedir ao pai autorização para casar-se, o que era indispensável na época. Não só recusou o pedido, como intensificou a perseguição, embora sempre improfícua, pela impossibilidade de ser localizado o casal fugitivo. 

Em face desta intransigência do velho pai, a moça passou a fazer vida marital com o noivo, mesmo sem o casamente, o que tinha evitado até aquele dia, com o seu rigoroso senso de honra. Houve diversos filhos desta situação. A perseguição, ou melhor, a ideia de perseguição continuou sem esmorecimento ao longo de 12 anos de vida que ainda teve o Cap. Justino Alves da Nóbrega. Sentindo a proximidade da morte, deixou ao filho mais velho, Martinho, a incumbência de manter a perseguição, por toda a vida. Mas, de ânimo moderado, Martinho Alves da Nóbrega, logo que o velho pai havia desaparecido, relaxou a recomendação, combinando em que a irmã se casasse como desejava. 

O casal veio a residir nas proximidades dos irmãos, perto da Salamandra, da Malhada do Umbuzeiro, da Noruéga, que eram as principais propriedades da família, herdadas do rancoroso pai. Viveram muitos anos. D. Marcionila, já viúva, ainda era viva até há poucos anos, tendo falecido depois de 1950”.

'A FAMÍLIA NÓBREGA' 

Autor: Trajano Pìres da Nóbrega 

1ª edição: 1956 

Pgs. 578 a 580"