terça-feira, 9 de novembro de 2021

O QUE NOS RESERVAVA CADA CAMINHO QUE NÃO PERCORREMOS?

 

Arte: adroaldo-palaoro

* Honório de Medeiros

honoriodemedeiros@gmail.com


Cada um de nós, no presente, é refém das escolhas que fez no passado. Bifurcações, encruzilhadas, caminhos com possibilidade única de retornar ou seguir em frente, veredas, qualquer opção tomada nos encaminhou a um futuro escolhido e desfez, naquele preciso instante, para sempre, a possibilidade de vivermos o que foi abandonado. Muito embora às vezes pudéssemos ter uma pálida ideia do que viria quando a opção foi feita, são tantos os desdobramentos seguintes que qualquer certeza logo se desfaz, tal sua evanescência. Angustia-nos saber que a opção foi um ponto-sem-volta, que nunca saberemos, concretamente, o que aconteceria se, no passado, tivéssemos seguido de forma diferente. Aquela rua que não foi transposta, a esquina que não foi dobrada, o adeus que foi ou não dado, o não ou o sim que dissemos, há tanto tempo, o que nos reservava cada caminho que não percorremos?

O JUSTO NÃO ESTÁ FORA DE MIM

 * Honório de Medeiros

(honoriodemedeiros@gmail.com)


O nominalismo de Guilherme de Ockham questionou a possibilidade de as Coisas (“a Coisa-Em-Si”, “ o Objeto”, “o Ser”, “a Realidade”) dizerem, ao Sujeito Cognoscente, aquilo que elas são, dizerem suas essências. 

Ou seja, nós é que, enquanto demiurgos, ordenamos, organizamos, nominamos aquilo que nossos sentidos apreendem de forma caótica a partir do nosso conhecimento pré-adquirido. 

Lemos acerca disso em Kant, Gaston Bachelard, Karl Popper... 

Por outra, nominamos relações, processos, evanescências; não há coisas a serem nominadas. As coisas são processos. 

Podemos rastrear tal concepção, de certa maneira, até o relativismo sofista de Protágoras de Abdera; Antístenes versus Platão; mesmo, talvez, até Parmênides. 

O nominalismo também impede a fenomenologia de Henri Bergson e Edmund Husserl e a pretensão de uma hermenêutica cujo objetivo seja “compreender”: não é o termo “salinas” (lugar onde se cultiva sal) que me diz algo; eu é que digo algo dele, a partir do conhecimento que já possuo. 

Assim, o Justo não está fora de mim, é uma construção pessoal e tem a minha medida, e isso ocorre com tudo quanto não esteja sob o domínio da ciência. 

Thomas Nagel, em Visão a Partir de Lugar Nenhum (Martins Fontes), observa que “Chomsky e Popper rechaçaram as teorias empiristas do conhecimento”. 

Não há essência a ser apreendida, Platão estava errado, os sofistas estavam certos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

CETICISMO, AUTOCRÍTICA E INCONFORMISMO

 * Honório de Medeiros

(honoriodemedeiros@gmail.com)


O apático moral é um cético, mas nem todo cético é um apático moral. Aquele que não o é pode abraçar o inconformismo. 

Nesse caso o ceticismo inconformista seria uma forma deliberada de interagir conosco mesmo e com tudo quanto nos envolve. Seria uma arma para se defender contra o pântano do "status quo", e ir além do que foi estabelecido ruinosamente. 

Ceticismo somente, não: conduz à apatia moral. No ceticismo inconformista, duvidamos, questionamos, e nos manifestamos. 

Mas é preciso cuidado: não é somente o Outro que não sabe; o cético inconformista também não sabe, embora saiba que não sabe. Não custa nada acendermos uma vela em homenagem a Sócrates. 

Autocrítica e ceticismo inconformista: o primeiro para nos colocar em nossos reais limites; o segundo, para colocar os outros em seus limites reais.