sábado, 9 de abril de 2011

A LOUCURA DE CADA UM DE NÓS

Por Carlos Santos (www.blogdocarlossantos.com.br)

O noticiário que vejo em redes de TV e na Internet, sobre a morte de 12 crianças e o suposto suicídio, em seguida, do responsável por esse massacre, Wellington Menezes de Oliveira, é muito desencontrado. Está confuso.

Mistura sensacionalismo com passionalidade, numa análise conflitante quanto ao homicida e suas razões. O que parece óbvio é o perfil psicológico-psiquiátrico do assassino: sofria de distúrbios mentais.

Noutra vertente, também se debate a questão da venda e uso de armas de fogo no Brasil, além da segurança obrigatória que o poder público deve oferecer ao seu alunado.

Bom deixarmos a "poeira" baixar um pouco. A distância e o tempo vão nos ajudar a compreender essa barbárie pouco comum, em suas características, no Brasil. Normalmente ouvimos algo do gênero nos Estados Unidos. Pelo menos os casos mais célebres surgem de lá.

Em 2005, através de referendum, o Brasil decidiu que as armas de fogo podem continuar sendo comercializadas, seguindo a critérios relativamente rígidos para seu porte. De lá para cá, a violência não diminuiu em nada. Contudo não é o cidadão comum que tem um revólver na cintura, o principal algoz da própria sociedade.

A bandidagem é que possui pleno "porte de arma", promovendo chacinas, mortes em escala industrial, ano após ano. Mossoró é um exemplo disso.

Temos já mais de 50 assassinatos este ano e em sua quase totalidade a autoria não é do cidadão de bem. O bandido anda armado e mata quem quer, quando quer. Sabe que na enorme maioria dos casos não será preso e se for, logo estará nas ruas em curto tempo.

Nos Estados Unidos, a legislação assegura venda de armas e munição até pela Internet e correios. A população é bem maior e o número de mortes por armas de fogo fica atrás dos números do Brasil.

Em Israel, qualquer cidadão, até por incentivo do Estado que vive em permanente regime militar, incentiva e facilita a aquisição de armas. É tão comum ter uma pistola na bolsa quanto um aparelho celular.

Lá, os índices de homicídios por arma de fogo são ainda menores.

Portanto é frágil a tese - baseada no barulho emocional - de que esse jovem promoveu esse morticínio por ter facilidade em pegar em armas.

O caso que se evidencia é de distúrbio psíquico do autor, que não teria recebido o devido acompanhamento, até chegar nessa erupção. Era um esquizofrênico que matou e feriu várias crianças à bala por entender ser justo. Provavelmente, em sua mente insana, se imaginava um "iluminado".

A esquizofrenia tem como um de suas características, a diminuição do afeto, quando não a sua total retração.

Poderia ter ocorrido em Natal, em Pelotas (RS), em Rio Branco (AC), não importa. Ocorreu no subúrbio do Rio de Janeiro e virou uma dor nacional e talvez planetária.

Mexer com criança é sempre delicado e suscita extremismos. Filhos, em si, sempre são bens preciosos demais, mesmo que muitos entendem como normal zelar apenas os seus próprios herdeiros, olhando o rebento alheio como um zé-ninguém.

Nesse episódio, entendo, a primeira vítima foi o próprio homicida. As crianças fuziladas e seus familiares, cada um de nós com sua comoção, também estamos nesse rol.

Tem muito Wellington Menezes de Oliveira zanzando por aí, à espera de tratamento humanizado e profilático, antes de explodir em fúria.

A escola, militarizada, com detector de metais, rondas armadas internas e externas, pode inibir o trânsito de drogas, a violência física e chacinas como essa. Mas continuará sendo "depósito de crianças" em vez de melhor ajudá-las em sua formação como ser humano de carne, osso e cérebro.

Assim, aqui ou ali, continuaremos testemunhando o "lado B" de alguns indivíduos rosnando contra a vida, ameaçando a dignidade alheia e comprometendo o futuro de milhares e milhões de indivíduos - jovens ou não.

De louco, tenha certeza, todos temos um pouco.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

BANDIDO BOM É FICÇÃO

Por Alex Medeiros (http://www.alexmedeiros.com.br/)

A grande mídia decidiu demonizar a Polícia paulista por causa do caso da dupla de soldados que executou um meliante dentro de um cemitério. A gravação do telefonema da testemunha do crime está sendo repetida como mais um reality show da desgraça.

Diariamente, cidadãos de bem, inclusive velhos e velhas aposentados, são abordados violentamente nas portas e imediações de agências bancárias por assaltantes sem a menor compaixão; jovens são mortos depois que lhes roubam celulares e tênis.

Ninguém em sã consciência social defende que militares saiam por aí, armados até os dentes, a executar qualquer suspeito, baseados apenas nas suas vontades justiceiras. Mas é incrível como um erro policial é explorado na mídia para manchar a tropa inteira.

Estimulada pelo lobby de Ongs com intentos ideológicos e militantes dos direitos humanos sempre equivocados no protecionismo aos criminosos, a imprensa e parte da opinião publicada tendem a estabelecer pesos e medidas diferentes na abordagem.

Dá muito mais audiência explorar a violência praticada por agentes do Estado contra presumíveis inocentes, do que narrar minuto a minuto o sofrimento dos cidadãos de bem nas mãos de bandidos. É o velho clichê do homem mordendo o rabo do cachorro.

Desde que a literatura do Novo Testamento inventou as figuras do bom e do mau ladrão, crucificados ao lado de Jesus Cristo, a cultura ocidental assimilou o equívoco de tal dicotomia, talvez um símbolo para o inconsciente coletivo do perdão dos pecados.

Nas décadas de 60 e 70 do século XX, depois que a ditadura militar no Brasil misturou nas prisões presos políticos com criminosos comuns, em que os primeiros implantaram nos segundos a consciência social, a marginalidade ganhou status de rebeldia juvenil.

Levaram ao pé da letra os estandartes do poeta Hélio Oiticica que pregava “seja herói, seja marginal” e deixaram subir à cabeça a canção de Jorge Ben, “Charles Anjo 45”, que em 1969 insinuava espírito guerrilheiro a um reles ladrão dos morros cariocas.

Junte-se a tendência da esquerda nacional em se compor com bandidos (PDT, PT e PMDB fizeram acordos eleitorais com as quadrilhas do Rio), a compaixão católica das comunidades eclesiais de base, a imprensa, as Ongs e temos o quadro dos dias de hoje.

É impressionante – para não dizer repugnante – a disposição de pseudo-intelectuais e militantes de partidos socialistas e comunistas (unidos no mesmo sectarismo do mofo ideológico) em manifestar-se de imediato quando um assaltante é morto pela Polícia.

Lembrei que há alguns anos, um soldado PM e um bandido foram feridos numa ação policial. Os dois ficaram semanas internados num hospital militar, onde o soldado só teve a visita de uma velha e pobre mãe, enquanto o ladrão era assediado o dia inteiro.

O caso me foi relatado por um secretário de Estado à época, que apesar de também professar preceitos socialistas, confessou sua estupefação com aquele cenário: um soldado abandonado no leito e um marginal rodeado de militantes dos direitos humanos.

Evidente que a histeria novelista das TVs abertas com o caso da execução de um prisioneiro pelos dois policiais tem não somente o estimulo da audiência, como também o fato de expor o sistema de segurança de um estado governado pelos tucanos.

Já se vai uma década que as verbas publicitárias do PT no plano nacional estimulam departamentos comerciais de televisão a ingerir nas editorias e pautas. A petralhada não engole o fato do povo paulista não permitir um governo vermelho em São Paulo.

Mas, voltemos ao picadeiro midiático da compaixão por meliantes. Na semana passada, um assaltante foi morto na BR 101 ao trocar balas com a Polícia e nesta semana tivemos o caso do poeta Plínio Sanderson sendo baleado por um covarde punguista de gueto.

Os dois casos foram bastante comentados nas redes sociais e gerou uma espécie de debate no Twitter, com dezenas de potiguares parabenizando a ação policial no primeiro caso e outras dezenas lamentando a violência contra o poeta e professor Plínio.

Não me foi surpresa perceber nas postagens que se multiplicavam os comentários de militantes esquerdistas, freqüentadores da cena cultural, em defesa do bandido que quis tirar a vida do poeta. Gente que acha que bandido bom é bandido muito vivo.

PERGUNTAS INDISCRETAS?

Juca Kfouri

Coluna do Juca Kfouri


Postado em 7/4/2011 às 07:40:53hs

PERGUNTAS QUE você precisa fazer para você mesmo para não perder a capacidade de se indignar, por mais que sejam repetitivas, e as respostas, insatisfatórias, escandalosas mesmo.

Por que o presidente do Comitê Organizador de Londres-2012 é Sebastian Coe, dos maiores atletas da história da Inglaterra, e, aqui, é Carlos Nuzman, que também preside o Comitê Olímpico Brasileiro, algo inédito na história olímpica, o mesmo cartola comandar os dois órgãos?

Por que, aqui, o presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo é Ricardo Teixeira, o presidente também da CBF, se na França o presidente foi Michel Platini, que não era o presidente da FFF, a Federação Francesa de Futebol?

Por que, aqui, o presidente do COL é quem é, se na Alemanha foi Franz Beckenbauer, que também não era o presidente da federação local?

Por que o conjunto aquático Maria Lenk não será aproveitado para as provas de natação na Olimpíada-2016, se, quando construído para o Pan-2007, foi apresentado como trunfo para a candidatura do Rio de Janeiro?

Por que o Morumbi, há 50 anos servindo o futebol mundial, palco de jogos das eliminatórias de diversas Copas do Mundo, de várias decisões da Libertadores, do Mundial de Clubes da Fifa, não serve para a Copa-2014, um evento que dura um mês, com, no máximo, seis jogos por estádio?

Por que não há, nos dois comitês nacionais, nenhum, rigorosamente nenhum brasileiro que o país admire, alguém que tenha fé pública, credibilidade tal que ninguém o imagine fazendo coisas erradas com dinheiro público? Nenhum!

Por que a OAB não tem um representante? A ABI? As centrais sindicais? O IAB? A UNE, o Corpo de Bombeiros, o raio que os parta?!

Cadê os Ermírio de Moraes, os Gerdau, os Moreira Salles? O capital e o trabalho? Cadê?

E note que não se reclama aqui da ausência de ninguém dos poderes Legislativo e Judiciário, embora seja um absurdo que não haja, também, ninguém do Executivo, noves fora Henrique Meirelles, a APO, Autoridade Pública Olímpica, mas que, lembremos, é indicação do governo federal, não faz parte do comitê organizador da Olimpíada.

Está mais do que na hora de não engolir tanto escárnio, porque quem pagará a conta de um novo estádio em São Paulo, de novos equipamentos no Rio, de tudo, é você, sou eu, somos nós. (Folha de S. Paulo)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A ARENA DAS DUNAS E A TEORIA DO BOLO ECONÔMICO

Honório de Medeiros

Quando os poucos que têm muito comem tudo, deixando os farelos para os muitos que têm pouco.

Desde que Goebbels lançou o mote “de tanto se repetir uma mentira, ela acaba se transformando em verdade”, em contrapartida para alguns poucos argutos observadores da realidade ficou fácil identificar esse lugar-comum na retórica usada pela elite predadora quando concretiza o processo de iludir o “Zé Povinho”.

É o caso, por exemplo, da Teoria do Bolo Econômico – “primeiro crescer, depois repartir”, popularizada nos anos 70 do século passado, aqui no Brasil, por ninguém menos que Delfim Neto.

Aliás, esse processo de iludir é um dos meios por intermédio dos quais o jogo do poder é jogado pela elite predadora configurando, assim, o retrato em negativo da seleção dos mais aptos – em certo momento específico da história – conforme pensado por Herbert Spencer na esteira do pensamento darwiniano, jogo esse bancado via estratagemas, ou seja, idéias que são usadas retoricamente para obter e, uma vez obtida, prolongar a exploração do “Zé Povinho”.

No caso da “teoria do bolo econômico” tal idéia, uma vez surgida, qual “meme” - um análogo cultural do gene na genética -, como descrito por outro darwiniano, Richard Dawkins, terá uma sobrevida útil proporcional à nossa incapacidade em destruí-la. Na verdade esse “meme” vai, por sua vez, se replicar infinitamente em ambiente fértil, qual seja aquele formado por pessoas sem escrúpulos mais os inocentes úteis.

Em outras palavras, mas mantendo o mesmo sentido, assim é que uma idéia econômica – fruto da mais ilegítima elite predadora – nasce, sobrevive e vem constituindo, desde então, o arsenal que a elite predadora usa para explorar, seja porque não tem noção daquilo do qual está fazendo parte, seja por puro cinismo, deliberadamente. É a teoria do bolo econômico. Para os defensores da Teoria do Bolo Econômico, quanto mais ele crescer, mais pessoas comem.

Como essa idéia funciona na prática? Funciona assim: alguns predadores internacionais precisam fazer o dinheiro circular voltando para o ponto de partida mais robusto, bem mais gordo: nasce, então a noção de Uma Grande Obra, constituída obviamente pelo conjunto de várias outras obras menores, quase sempre em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Por exemplo: uma “Copa do Mundo de Futebol” em algum País cuja infra-estrutura física não esteja pronta para o evento, tal como qualquer um do Oriente Médio, África ou mesmo o Brasil. O Brasil, sejamos mais claros, foi escolhido a dedo a partir de parâmetros muito bem definidos, dentre eles a possibilidade da circulação de idéias e capital sem grandes obstáculos que atrapalhem os negócios.

Feito isso começa um imenso e lucrativo trabalho, para toda a elite predatória envolvida no “Grande Projeto”, de arrebanhamento dos “corações e mentes”. É onde entra toda a cadeia alimentar da qual ficarão fora apenas as piabas, por razões ululantes, constituída pela “mídia famélica”, os políticos de sempre, os empreiteiros, ah! os empreiteiros, a arraia-miúda que tal quais os peixes-pilotos se alimentam com as sobras dos tubarões, e até mesmo, pasmemos juntos, os intelectuais orgânicos, aqueles sem espinha dorsal, que vivem se contorcendo para prestarem serviços vendendo argumentos: convencer os basbaques, como no caso do Rio Grande do Norte, acerca da importância indizível, pela magnitude, da tal “Arena das Dunas”, para o progresso econômico do nosso Estado.

Desenvolvimento para quem? O Estado não existe, é uma hipostasia; o Estado sou eu, é você, somos nós. Ninguém fala pelo Estado. Ninguém.

Lê-se, por exemplo, na mídia incauta, que “A Grande Obra” é importante para sanear a malha viária. Qual malha viária? A de Mossoró? A de Caicó? A de Pau dos Ferros? Ora, convenhamos, “a malha viária”, enquanto as delegacias de polícia, no interior e na capital não têm computador, papel, armas, carros, homens... Lê-se, também, na mídia inocente inútil, que “a Grande Obra” vai gerar muitos e muitos empregos. Sabemos que empregos são esses: sazonais. Desaparecem quais pipoqueiros e vendedores de cachorro quente em final de festa de padroeira. O grosso do dinheiro, aquele que realmente importa, esse já foi embora em busca de outros nichos a serem predatoriamente explorados.

Essa é a lógica do capital. Uma vez comprada a idéia, ou seja, o investimento, imediatamente os investidores entram na luta com um discurso uníssono: “a Grande Obra” é fundamental para o desenvolvimento do Estado, e quem for contra ela é contra o Estado. O mote do velho Goebbels entrou em ação.

Não há muito mais a dizer agora exceto que se trata de uma luta vã essa contra o desperdício do nosso dinheiro. Os poucos irridentes contrários à farsa que se desenrola impávida e colossal não dispõem de meios à altura dos adversários para sublevar os “corações e mentes”. Não têm como comprometer os aparelhos do Estado: Legislativo, Judiciário e Executivo, nessa sublevação. Talvez se faça presente a voz solitária do Ministério Público. Duvido. Não podem massificar a informação que a historia oferece gratuitamente a quem souber procurá-la, de que grandes obras não valem por si só, que o digam os milhares de “elefantes brancos” existentes mundo afora. Consultem o Google, aqueles que não crêem. Não podem apontar o exemplo dos países sérios, como os escandinavos. Praticamente não têm como fazer a defesa de investimentos maciços em políticas públicas na educação, saúde e segurança. Em quais veículos de massa irão falar em Amartya Senn e seu trabalho acerca de “Desenvolvimento como Liberdade”? Liberdade esta que se confunde com segurança, saúde, educação...

Infelizmente o exemplo dos países civilizados nos quais a Sociedade escolhe, primeiramente, suas políticas públicas, para em seguida e se for o caso, construir a obra necessária para implementá-la, não tem como ser apresentado aos norte-rio-grandenses imensamente carentes de saúde, segurança, educação. Pois que não haja dúvidas: se consulta popular houvesse era assim que nosso povo disporia seus recursos.

Chega a ser doloroso: muito embora seu dinheiro banque o bolo que poucos, que têm muito, irão comer à farta, para os muito que têm pouco sobrarão apenas as migalhas.