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Antônio Francisco, de camiseta branca, aguarda o momento declamar
Antônio Francisco, essa alma gentil, me prometeu uma cópia de poema seu que acabara de recitar para nós, maravilhados ouvintes, no café ao lado do Teatro Municipal de Mossoró. Um belíssimo poema alegórico, pleno de imagética, ritmo e rima, como diria Jarbas Martins, nosso bissexto poeta maior, acerca da Justiça – essa mesma, com “J” maiúsculo – que mora enquanto anseio no coração dos homens, e não aquela que jaz aviltada nas esquinas das ruas e nas estradas dos campos. Mas Antônio Francisco, esse gênio tardio, que nos humilha e enleva com seu talento hoje inigualável até agora não cumpriu sua promessa! Coisas de poeta, do tipo de artista que ele é, antenado no presente que lhe põe a funcionar sua criatividade em qualquer instante e em qualquer lugar e lhe mantém afastado da burocracia do futuro – compromissos, papéis – essa remota condição do existir ansioso.
Eu queria de Antônio Francisco esse poema por que há tempos ando tentando escreve um pequeno ensaio – algo mínimo, se possível – acerca da idéia de Justiça na poesia popular. É claro que preciso ter todo cuidado do mundo com tal projeto. Por exemplo: o que é “poesia popular?” Quais seus limites? Haveria uma tentativa de enquadrar a idéia de Justiça encontrada nesse tipo de poesia nos parâmetros teóricos acerca da sua construção entre os gregos – esses que foram os pilares sobre os quais edificamos nossa civilização ocidental.
Talvez Antônio Francisco esteja desconfiado do propósito ao qual eu pretendo – ou pretendia – destinar seu poema, e muito sabiamente resiste. Por que, e isso é uma verdade incontornável, há sempre uma resistência por parte de quem produz o belo em aceitar qualquer tentativa de dissecação e enquadramento acadêmicos – naturalmente antipático – daquilo que nasceu para ser livre, uma obra aberta, (re)construída por cada intérprete, na medida de sua fruição. A esse argumento somente posso contrapor a resposta óbvia: meu caríssimo e admirado Antônio Francisco, poeta telúrico, de gênio indomável, suas crias, seus rebentos artísticos, suas obras de arte já não lhes pertencem desde que ganham o mundo; eles são nossos, da humanidade, para nosso deleite e sua glória.
Assim, Antônio Francisco, todo esse preâmbulo foi para lhe dizer que atenda, se possível, esse apelo meio que canhestro e entregue a “Seu Chico”, o quanto antes, cópia do belíssimo poema que nos recitou por que, fosse eu alguém merecedor de ser honrado com a possibilidade de pedir uma graça, teria pedido a meu padrinho São Francisco me desse a de ter uma memória privilegiada para gravar, definitivamente, com todos os detalhes, qualquer belíssimo poema tão logo estivesse a ouvi-lo, mas como não sou, o jeito é depois ter que incomodá-lo e lhe lembrar a promessa feita e testemunhada.
Deus o abençoe e a seu talento.
P.S. Somente para esclarecer: após saber deste apelo, o grande Antônio Francisco deixou, com Seu Chico, o belo poema prometido. O ensaio é que ainda não saiu...
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