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Revisitar o passado, baseando-se em pesquisas metodológicas e fontes primárias e originais, na busca da origem familiar, ao contrário do que possa parecer, é empolgante e surpreendente.
Há décadas, estabeleceu-se a crença de que a família Diógenes descendia do filho mais novo do Capitão Domingos Paes Botão, Diogo Diógenes Paes Botão, e da índia batizada com o nome de Antônia da Purificação, que havia sido resgatada por aquele de uma matilha de cães.
Entretanto, a possibilidade de um nobre português ter se casado com uma índia em pleno século XVIII sempre me causou estranheza, sendo dínamo da continuidade da pesquisa acerca da realidade dos fatos.
Na verdade, após confrontar a estória verbal da Origem dos Diógenes com outros dados históricos e as pesquisas bem documentadas publicadas no Livro “Famílias Cearenses 7 – Ipueiras dos Targinos”, do escritor e pesquisador cearense Francisco Augusto de Araújo Lima, membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, verifiquei que, possivelmente, estávamos redondamente enganados.
É pacífico que a estória da Família Diógenes se inicia com Domingos Paes Botão, que nasceu na Freguesia de Botão, Concelho e Distrito de Coimbra, Portugal, em data não estabelecida (possivelmente entre 1640-1660), sendo este local de nascimento a origem de seu sobrenome “Botão”, porque era comum se integrar ao seu nome o nome do lugar de onde se procedia.
O Capitão Domingos Paes Botão chegou à Colônia de Portugal na Missão dos Homens de São Francisco, comandada pelo Capitão-Mor Bartolomeu Nabo (de) Correia, entre 1682 e 1686, para um plano de ocupação do território cearense, a do Sertão-de-dentro, adquirindo uma Sesmaria, juntamente com seu cunhado, José da Fonseca Ferreira, denominada Sítio Cascavel, passada, em 20/10/1690, a Manuel Rodrigues de Bulhões, originando o atual município de Cascavel/CE.
Não há documentos encontrados que comprovem que a migração de Domingos Paes Botão (Sênior) do Sítio Cascavel tenha se motivado pelos constantes conflitos com os índios Pacajus, da Região dos Rios Açu e Jaguaribe, além dos Icós e dos Carateús, sendo estes combatidos e vencidos pelo sertanista Fernão Carrilho em 1693 e 1694, quando Capitão-Mor Interino do Ceará. Mas é fato que Domingos Paes Botão se estabeleceu em Icó/CE, após uma passagem pela pujante Aquiraz, conhecida como a primeira capital do Ceará, uma vez que foi constatada incidência de fartos documentos históricos de seus descendentes próximos neste município.
Casado com Sebastiana da Assunção Fonseca Ferreira, irmã de José da Fonseca Ferreira e Antônio da Fonseca Ferreira, Domingos Sênior (Capitão Domingos Paes Botão) e esta tiveram dois filhos, Genoveva de Assunção e Manoel Diógenes Paes Botão, além de uma enteada chamada Isabel Eça, deduzindo-se que Domingos Paes Botão tenha se casado duas vezes, com duas irmãs, Maria e Sebastiana, como era de costume nos casos de viuvez.
A primeira filha, Genoveva da Assunção, natural do Rio São Francisco, adotando o nome da mãe, como costume da época, casou-se, possivelmente em 1709 (data transmitida oralmente), com o Sargento-Mor Manoel Peixoto da Silva Távora, sesmeiro, natural da Freguesia de Távora (Santa Maria), Concelho de Arco de Valdevez, Distrito de Viana do Castelo, Portugal, e tiveram quatro filhas, quais sejam Isabel da Silva Távora, Teresa de Jesus Maria, Maria Francisca Peixota (álibi Maria d´Afonsequa) e Ana Maria de Jesus (álibi Ana Maria Peixotta), iniciando a Família Távora.
O segundo e último filho do Capitão Domingos Paes Botão e Sebastiana/Maria, Manoel Diógenes Paes Botão, é o primeiro desta linhagem a receber o nome Diógenes, sendo o patriarca desta Família. Nasceu precisamente no ano de 1698, e foi batizado na Capela de Gonçalo do Potengi, no Rio Grande do Norte, segundo Certidão de Batismo encontrada nos Livros Eclesiásticos desta Freguesia.
O Capitão Manoel Diógenes Paes Botão viveu, ora em sua Fazenda Monte Vistoso, Riacho do Sangue, Jaguaretama, ora na Região de Santa Rosa, Jaguaribara, e morreu aos 71 anos, em Icó/CE, em 14 de agosto de 1769, sendo sepultado na Igreja Matriz de N. Srª. Da Expectação do Iço. A tradição oral dá conta de que foi político influente na Região, mas suas atividades e feitos devem ser objeto de aprofundamento de pesquisa.
Casou-se, Manoel Diógenes, com Antônia da Rocha Tavares, álibi Antônia da Purificação, filha mais velha de Luís Paes Botão, natural do Reino de Angola, e Josefa Ferreira da Rocha Tavares, natural do Icó, possivelmente da etnia branca, uma vez que sua família era natural da Freguesia de Arneiroz, possuindo, ainda, mais duas irmãs e um irmão. Como antedito, normalmente a filha usava o sobrenome da mãe.
Registre-se, portanto, que a esposa do primeiro Diógenes não era índia, mas mestiça, mais provavelmente, ou negra, filha de um ex-escravo de Domingos Paes Botão (por isso seu sobrenome Paes Botão).
Da União de Manoel Diógenes e Antônia da Purificação nasceram três filhos legítimos e uma filha exposta, quais sejam: a) Diogo Paes Botão, que não há quase registros eclesiais. Possivelmente inupto; b) Cosme Diógenes Paes Botão, nascido em Icó, que viveu com Maria dos Prazeres, pais de Bernardo da Costa Pereira, casado, com geração não BOTÃO ou Diógenes. Posteriormente, Cosme Diógenes se casou com Maria Saldanha, e tiveram, como filhos, José Diógenes Paes Botão e Cornélio Diógenes Paes Botão, que continuaram a família Diógenes. Cosme Diógenes faleceu antes de 26 de novembro de 1772; c) Domingos Paes Botão Neto, nasceu em Iço, Coronel de Cavalaria do Icó, casou-se, em 23 de fevereiro de 1778, com uma parente sua (primo de 2ª grau), Teresa de Jesus Maria, Icoense, filha do Licenciado Miguel da Silva e de Teresa Maria de Jesus, esta filha de Genoveva e Manoel Peixoto da Silva Távora. Dessa união nasceram os seguintes filhos: Capitão Domingos Paes Botão Jr, Damião Diógenes Paes Botão, Antônio Paes Botão, Maria Paes Botão e Cosme Diógenes Paes Botão. Registre-se, ainda, que o Cel. Domingos Neto teve um caso com uma índia do Ceará chamada de Narcisa Dias, tendo um filho chamado de Quirino de Oliveira, que conviveu de forma pacífica com a família BOTÃO, casando-se na sua raça, com uma índia, Albina Vieira de Oliveira, com quem teve sete filhos, mas nenhum herdou o sobrenome paterno; d) Luíza de Melo Rocha, filha EXPOSTA. Há uma boa probabilidade de Luíza ser filha legítima de Manoel Diógenes, nascida antes do casamento com Antônia da Purificação. Luíza de Melo Rocha foi criada na convivência da família BOTÃO e se casou com Manoel da Silva Monteiro, tendo oito filhos, todos sem o sobrenome Diógenes e/ou Paes Botão.
Portanto, Manoel Diógenes e Antônia da Purificação e seus filhos são os primeiros membros da Família Diógenes, os primeiros Diógenes brasileiros, iniciando a saga desta família e perpetuando seu nome na História.
Fonte: LIMA, Francisco Augusto de Araújo. Famílias Cearenses 7 – IPUEIRAS dos TARGINOS, Ed. Artes Digitais, Fortaleza, 2006.
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