Antônio Amaury
Antonio Amaury por Kiko Monteiro
A seguir postamos espetacular entrevista concedida pelo mestre Antonio Amaury Corrêa de Araújo, o paulista mais nordestino de todos os paulistas, um dos ícones do estudo e pesquisa da temática cangaço no Brasil, uma das presenças mais honrosas no Cariri Cangaço; a entrevista foi feita ao amigo Kiko Monteiro por ocasião do Cariri Cangaço e transcrita no prestigiado blog "Lampião Aceso" do querido confrade, a qual trasncrevemos para os leitores do blog Cariri Cangaço.
P. Qual é o filho preferido do acervo (sobre o conjunto de sua obra...)?
R. "Assim morreu Lampião". E de outro autor?"Lampião" de Ranulfo Prata.
P.Qual é literatura recomendada para um calouro?
R.Vai soar com autopromoção, mas entre os mais de 200 títulos existentes eu indico que comecem pelo meu acervo que foi fruto de uma pesquisa séria além de muita intuição para repassar depoimentos e narrativas de quem viveu o cangaço.
P. Atualizando números: Com o aparecimento de Durvinha, Moreno e Aristéia quantos personagens desta história foram entrevistados por Antonio Amaury?
R. Moreno e Durvinha não acrescentaram nada, entenda, para o que já sabíamos. Aristéia tem menor importância ainda, pois só viveu seis meses num subgrupo, nunca participou de um combate e nem sequer conheceu Lampião, Maria Bonita etc. Possuo precisamente sete mil entrevistas a maioria em arquivo de áudio. As mais importantes seriam: Sinhô Pereira, João Ferreira e Mané Veio foram peças de grande valia para a construção da história.
P. Quem foi o primeiro?
R. Foi uma figura apagada, filho de um coiteiro que tinha 15 anos quando conheceu Lampião na ocasião de uma visita a fazenda do pai. Mas no ano de 67 eu tive um contato coletivo... um acúmulo de conhecimentos com vários envolvidos conheci: Dadá, João Bezerra, Mocinha (irmã de Lampião ainda viva).
P. Quais destes contatos foram os mais difíceis?
R. Quase sempre com soldados houve certa resistência para dar depoimentos.
P. Amaury teve que pagar para obter entrevista?
R. Sim, várias vezes.
P. Qual o contato que não foi possível e lhe deixou de certo modo frustrado?
R. Aconteceu mais de uma vez, mas lamento mesmo não ter tido um encontro com o jornalista Melchiades da Rocha ele era do jornal "A noite ilustrada" do Rio de Janeiro e estava em Angico três dias após o Massacre, ele viveu aquele momento conversamos por telefone eu insisti para um encontro, mas ele não cedeu, não quis aproximação.
P. Um cangaceiro?
R. Balão.
P. Um volante?
R. Manoel Neto.
P. Um coadjuvante?
R. Tenente João Maria, de Serra Negra. (Hoje Pedro Alexandre-BA).
P. Uma personagem secundária?
R. Jogo para esta posição na pirâmide o cabo Antonio Honorato, dá impressão que teve grande importância, ele se rogava "o homem que atingiu Lampião", mas nunca foi provada a sua ação.
P. O que pretende fazer com as centenas de horas em entrevistas colhidas em vídeo?
R. Estamos com a proposta de um estúdio e possivelmente vamos criar uma coletânea de vídeos afinal são mais de 250 horas de imagens.
P. E quanto às peças e relíquias é real o desejo de montar um museu particular?
R. Sim, mas já existe uma exposição itinerante com parte de meu acervo que atualmente circula pelo nordeste sob os cuidados de Ricardo Albuquerque neto de Adhemar Albuquerque da ABA films.
P. Nós que gostariamos de ver um filme que retratasse um cangaço autêntico, fiel aos fatos, sem licença poética, sem erro primário enfim sem exagero da ficção lamentamos a eterna necessidade de se ter finalmente uma produção digna da saga, de preferência um épico ou uma trilogia, enquanto isto não foi possível qual a película mais lhe agradou?
R. O mais próximo com a verdade Corisco o diabo loiro, com Leila Diniz e Mauricio do Vale.
P. Eleja a pérola mais absurda que já leu sobre Lampião?
R. Ultimamente tenho ouvido cada balela que é difícil destacar a pior, mas "Alguém" disse... pessoas descompromissadas afirmaram para um jornal: Lampião tinha pretensões de ser governador.
P. Além da nova edição ampliada da obra "Assim morreu Lampião" qual a próxima novidade que teremos em nossas estantes?
R. "Assim morreu Lampião" ainda está encaminhada, "Cidades invadidas ou visitadas" também, estou preparando um livro sobre "Maria Bonita", mas meu próximo livro mesmo, o qual esperava ter lançado aqui no Cariri Cangaço é "Lampião, herói ou bandido?", mas a editora não entregou a tempo.
P. Qual é o capitulo preferido do mestre Amaury?
R. A história do cangaço é um tema tão controverso tem capítulos extraordinários e chocantes. Elejo três: Lampião em Juazeiro, Mossoró, e a batalha de Serra Grande.
P. Diante de tantas polêmicas surgidas posteriormente a tragédia em Angico alguma chegou a fazer sentido, levando-o a dar atenção especial ex.: Ezequiel reaparece anos mais tarde, João Peitudo filho de Lampião, O Lampião de Buritis e esta, mais recente sobre a paternidade de Ananias?
R. Sim, o caso Ananias, pois acompanhei de perto. Foi interessante até determinado ponto, depois achei por bem recuar.
P. Qual foi o melhor momento deste Cariri Cangaço?
R. Gostei de todas as palestras, mas as mais interessantes foram a do Promotor Ivanildo Silveira e a de Honório de Medeiros.
3 comentários:
AMIGO HONÓRIO:
FIQUEI UM TANTO SURPRESO, COM A RESPOSTA DO MESTRE DR. AMAURY (maior autoridade do Brasil, no tema cangaço), EM INCLUIR A NOSSA FALA (que ele chama de palestra)COMO UMA DAS BOAS APRESENTAÇÕES NO SEMINÁRIO CARIRI CANGAÇO, REALIZADO NO FINAL DE SETEMBRO PASSADO, NAS CIDADES DE JUAZEIRO, CRATO, BARBALHA E MISSÃO VELHA.
NOSSA LINHA DE CONDUTA, NAQUELA OPORTUNIDADE, FOI MUITO SIMPLES. APENAS, PROCURAMOS DESMISTIFICAR ALGUMAS "LENDAS" QUE EXISTEM RELATIVAS A DETERMINADOS FATOS LIGADOS AO CANGAÇO, A EXEMPLO DE NÃO TER "LAMPIÃO" MORRIDO EM ANGICOS; TESE DO ENVENENAMENTO...ETC.
FOI UMA BOA EXPERIÊNCIA, E NOS SERVIRÁ DE INCENTIVO EM OUTRAS JORNADAS SEMELHANTES.
UM ABRAÇO, E PARABÉNS PELO PRECIOSO "BLOG".
IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN
caro Honório,
discordo do mestre Amaury quando ele diz que Durvinha e Moreno não acrescentou nada a história do cangaço. Os depoimentos deles foram importantíssimos e contribuiram demais para preencher algumas lacunas que estavam pendentes. Amaury foi mais infeliz na sua entrevista quando cita a cangaceira Aristeia Soares de Lima, dizendo que ela não foi importante no contexto cangaço por não conhecer Lampião e Maria Bonita. Conhecer o casal mais famoso dessa página da história não servia de trena para medir a importância de nenhum cangaceiro. A Aristeia passou 08 meses no cangaço e não 06 como afirmou Amaury e ela participou sim de combates, inclusive viu seu companheiro, o cangaceiro Catingueira ser morto crivado de tiros.
a história desses personagens podem ser compreendida em um livro de minha autoria chamado: Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço.
para saber mais favor acessar o blog: escritor joão de sousa lima.
Caro João,
Sua participação, com certeza, acrescenta qualidade ao debate. Creio firmemente na importância dessas leituras críticas, principalmente quando feitas por um pesquisador de sua qualidade.
Muito obrigado e um grande abraço.
Honório de Medeiros
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