Honório de Medeiros
Na
Rue de Lutèce, entre o Boulevard du Palais e a Rue de La Cité, em algum lugar
conhecido por muitos poucos, o “La Mémoire de L'homme” cumpre sua missão de
preservar a história abandonada da humanidade, assim como, na Barcelona
arcaica, o Cemitério dos Livros Esquecidos, do qual nos deu conta Carlos Ruiz
Zafón em “A Sombra do Vento”, arquiva, em seus infinitos desvãos, tudo quanto a
loucura e a sanidade de cada um de nós ousou escrever ao longo do tempo e
terminou encaminhado às traças, ou a Biblioteca de Babel, descrita por Jorge
Luis Borges em “Ficções”, de 1944, que nos fala do mundo constituído por uma biblioteca sem fim,
abriga uma infinidade de livros possíveis e impossíveis...
Histórias
tais quais aquelas vividas pelo velho militar a quem deu tempo e voz Alain de
Botton em “Nos Mínimos Detalhes”:
“Ele não tinha nenhum biógrafo para recolher suas
palavras, para mapear seus movimentos, para organizar suas lembranças; ele
estava vazando sua biografia para o interior de inúmeros receptores, que o
ouviam por um momento, e então lhe davam uma pancadinha no ombro, e partiam
para suas próprias vidas. A empatia dos outros era limitada às exigências do
dia de trabalho, e assim ele morreu deixando fragmentos de si dispersos
casualmente em meio a uma caixa de cartas esmaecidas, fotografias sem legenda
reunidas em álbuns de família e histórias contadas a seus dois filhos e a um
punhado de amigos que marcaram presença no funeral em cadeiras de rodas.”
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