Honório de Medeiros
De “Um Cigano Fazendeiro do
Ar”, densa biografia de Rubem Braga que devemos a Marco Antônio de Carvalho,
colho um trecho da carta de João Neves a Borges de Medeiros em 20 de julho de
1932 na qual ele se refere a Getúlio Vargas, todos companheiros muito próximos
na Revolução de Outubro de 1930:
“Eu
preferia que o Dr. Getúlio Vargas fosse um tirano. Perdôo mais os violentos que
os astutos. Mas o nosso ditador é um homem gelado, calculista, escorregadio.
Não ataca, desliza. Não enfrenta, corrompe. Não congrega, divide. (...)
Desbaratou o poder civil. Desmoralizou o Exército. Aniquilou o sentimento
local. Amesquinhou a justiça. Instituiu o regime da delação. Oficializou a
vingança contra os que o ajudaram a subir. Esqueceu os compromissos. O
favoritismo é uma instituição. A negociata é a regra. Enfim, a República Nova
com dois anos de idade incompletos, é mais corrupta do que foi a Velha, com
mais de quarenta e um.”
Lembra quem, a vocês?
Em “O 18 Brumário de Luis
Bonaparte”, Karl Marx, no primeiro parágrafo, expõe que a história acontece “a primeira vez como tragédia, a segunda
como farsa”.
Assim como a terceira, a
quarta, a quinta...
Do início da história do
Homem até os dias de hoje, mudaram os artefatos: antes, as ferramentas de
pedra; hoje, a internet. Não mudou o Homem.
Recomendo a leitura de “A
Assustadora História da Maldade”, de Oliver Thomson; Prestígio editorial.
História antiga, essa da
maldade. Em Thomson, lemos:
“O
Egito foi unificado por Menés por volta de 3100 a.c. Talvez o primeiro herói
conquistador da história (e mesmo ele era semimítico) tenha sido Horus Ro, do
Egito, cujo filho era conhecido como ‘O Escorpião’, príncipe que explorou o
medo em grande escala para impor sua vontade. Fundou a Iª Dinastia por volta de
3000 a.C. Em honra às suas vitórias, fez sacrifícios humanos a Ra, o deus do
Sol. Seu herdeiro, Horus, supostamente matou 381 prisioneiros de guerra e
arrancou a língua de 142. Esse é o primeiro registro de um imperialismo sádico
e egocêntrico que reaparece de tempos em tempos nos próximos 5 mil anos.”
Antigo demais, tais fatos,
para que chamem nossa atenção? Leia novamente o último parágrafo do texto
acima. E, agora, leia o texto abaixo, do talvez maior pensador da modernidade,
junto com Noam Chomsky, o sociólogo Zygmunt Bauman, pinçado de “Isto Não É Um
Diário”:
“As
nações relutam em aprender; e, quando o fazem, é sobretudo a partir de seus
erros e equívocos passados, do funeral de suas antigas fantasias. ‘Enquanto o
Pentágono rebatiza a Operação Liberdade no Iraque de Operação Nova Aurora’, diz
Frank Rich, citando o professor Andrew Bacevich, de Boston, ‘nome que sugere
creme para a pele ou detergente líquido’, 60% dos americanos creem – agora –
que a Guerra do Iraque foi um engano, mais 10% a condenam como algo que não
vale a vida dos americanos, e apenas um em cada quatro acredita que essa guerra
o tenha tornado mais seguro em relação ao terrorismo. O custo oficial da guerra
para os americanos é hoje (no momento em que o presidente Obama pede aos
americanos que ‘virem a página sobre o Iraque’) estimado em US$ 750 bilhões.
Por esse dinheiro, cerca de 4.500 americanos e mais de 100 mil iraquianos foram
mortos, e pelo menos 2 milhões de iraquianos foram forçados a se exilar,
enquanto o Irã acelerou seu programa nuclear, e ‘Osama bin Laden e seus
fanáticos’ foram liberados ‘para se reagrupar no Afeganistão e no Paquistão’”.
Estamos condenados...
Que lhes parece?
XXX
* Arte pinçada em rabiscosdeumlapisdesgastado.blogspot.com
2 comentários:
Caro François, parece que agora deu certo!
Agora sim. Entro no rol dos kantistas, pois sou anônimo assinante. Fenômeno declarado e nôumeno escondido. Isso aí, não existo. Sou apenas fruto da imaginação dos inimigos. E me escondo no afeto dos amigos. Abração de François.
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