Aaron Swartz
Pedro Doria, O GLOBO
O desespero de Aaron
Ele tinha 14 anos
quando chamou a atenção, pelo brilho, das maiores mentes da internet. Agora,
está morto
Na sexta-feira, dia 11, Aaron Swartz
cometeu suicídio em seu apartamento no Brooklyn, Nova York, onde vivia com a
namorada. Tinha 26 anos, se enforcou. Fazia exatos dois anos do dia em que fora
preso e seu pesadelo começou. Era, já desde os 14, uma das mentes mais
brilhantes e influentes da internet. Por vezes demais, parece, o gênio da rede
está apenas em jovens bilionários do Vale do Silício. Engano. Aaron era do tipo
que escolheu não ser um deles. Um erro de juventude, e a mão pesada do governo
americano, parecem ter contribuído na decisão.
RSS é daquelas siglas que poucos conhecem
mas sem as quais a internet não funciona. É uma forma de fazer assinaturas de
conteúdo na rede. Hoje a tecnologia é usada para que informação flua pelas
redes sociais. Não é nunca trivial estabelecer um padrão geral, simples,
aberto, com o qual inúmeros fabricantes sintam-se à vontade, que todos aceitem.
Aaron foi um dos seus criadores aos 14 anos.
Nascido em Chicago, era um rapaz muito
magro, imberbe. Seu computador, um Macintosh portátil já muito velho para o
tempo, com inúmeros problemas, a tela já quase incapaz de gerar brilho. Foi
rapidamente adotado por gente como Dave Winer, inventor dos blogs, Cory
Doctorow, um dos mais influentes pensadores da internet, e pelo advogado Larry
Lessig, de Stanford e Harvard, talvez o maior especialista jurídico do mundo
digital.
Aaron fez dinheiro com o Reddit. É,
hoje, um dos sites mais visitados do mundo. Nele, os usuários colocam no ar
links para o que consideram mais interessante. Estes links ganham votos para
cima ou para baixo, o material mais bem votado vai à capa. Curadoria coletiva.
Boa parte do sistema que mantém Reddit no ar saiu do computador do jovem
programador. (Já era um Macintosh mais avançado.) Quando o Reddit foi comprado
pela Condé Nast, a maior editora de revistas dos EUA, Aaron Swartz botou um bom
dinheiro no bolso.
Sua causa: ele acreditava em liberdade
do fluxo de informação de interesse público. Bom não confundir com o pirata da
esquina. Nunca se meteu com música ou filmes. Seu primeiro feito foi entrar no
sistema Pacer, baixar 20% do conteúdo e publicá-lo gratuitamente online. É o
banco de dados onde estão todas as decisões judiciais tomadas nos EUA. Tudo em
domínio público, embora o Pacer cobre taxa para acesso. O FBI entrou na
investigação, tentou cercá-lo de toda forma, mas ninguém foi capaz de descobrir
uma lei que tivesse quebrado.
Universidades e bancos de artigos não
queriam processo.
Estudante em Harvard, Aaron foi além.
Tinha acesso ao Jstor, o principal banco (pago) de papers acadêmicos. As
universidades americanas pagam para que seus alunos possam consultar o trabalho
publicado de cientistas livremente. Porque tinha acesso legal, Aaron baixou
milhões de papers, muitos deles em domínio público, nem todos. Aí tornou tudo
disponível. Desta vez, o FBI tinha uma razão para investigá-lo. Prendeu-o, foi
solto por ordem do juiz, aguardava julgamento em liberdade.
Seus principais amigos consideram que
errou. Mas, juridicamente, o caso é complicado. A turma do Jstor decidiu que
não queria processar. Universidades, que pagam pela assinatura, são suas
principais clientes e não iam deixar de pagar pelo serviço. O MIT, em cuja rede
Aaron estava ligado quando fez o download, se absteve. E papers acadêmicos são,
por natureza, já trocados livremente por cientistas. Não são como um DVD, um
livro, um disco. A discussão sobre direitos autorais é tensa no meio
científico. Preocupam-se mais com autoria. Afinal, é justamente para que
informação científica circule com rapidez e facilidade que a internet foi
criada. Não é à toa que, diferentemente da indústria cultural, a turma do Jstor
simplesmente tirou o corpo fora do processo.
Mesmo que os principais prejudicados
não quisessem levar o caso à Justiça, o governo americano decidiu processá-lo.
Mais, quis fazer dele um exemplo na luta contra pirataria. Queria uma pena de
30 anos. Nenhum pirata real jamais foi condenado a tanto.
Um único excesso de juventude, a falta
de proporção do governo dos EUA e, aparentemente, uma depressão clínica
custaram ao mundo um grande talento. Faz mal, até, à causa dos direitos
autorais.
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