“A formação de educadores se dará
concomitantemente ao desenvolvimento das práticas democráticas”. (Norberto Bobbio)
(*) Rinaldo Barros
A conversa de hoje vai ser coberta de nostalgia.
Afinal, eu sou do tempo em que a juventude possuía ideais e ainda se acreditava
na utopia. Além disso, as equações político-ideológicas eram simplificadas.
Havia governo e oposição, claramente definidos. Era mais fácil delimitar o
campo dos adversários e até do inimigo principal.
Na teoria clássica marxista, o
sujeito da história era determinado: o proletariado industrial tinha interesses
próprios que negavam -se contrapunham -, na sua prática, aos interesses da
classe dominante.
Dado o aumento contínuo do seu
contingente e a agudização das contradições, o proletariado teria condições
para generalizar, para o conjunto da sociedade, suas, aspirações de libertação.
O proletariado unificava politicamente a vontade geral de mudança.
Tudo era claro como água de
rocha. Bastava construir o partido, internacionalista, e estabelecer as
alianças (com o campesinato e com a fração da burguesia "nacional") e
estavam dadas as condições para a longa marcha da conquista da nova hegemonia.
O processo poderia ser pacífico ou não. A tática dependeria do inimigo. Era o
sonho garantido ou sua utopia de volta.
Saudades fora, qual é o problema,
então?
Negó seguin: no caso brasileiro,
formou-se uma heterogeneidade estrutural nas classes dominadas e surgiu um novo
tipo de padrão de desenvolvimento capitalista que, simplesmente, destrói o
argumento clássico, em relação à questão de hegemonia do proletariado.
Explico-me: o Brasil alavancou o
seu processo de desenvolvimento tardiamente e se inseriu no sistema
capitalista-industrial já na fase monopólica (na verdade, oligopólio). Saltou
de cara do modelo agro-exportador para o desenvolvimento
industrial-internacionalizado.
Desde então, fábricas de
automóveis, fábricas de aviões, fábricas de locomotivas elétricas, de
computadores, siderúrgicas, refinarias, pólos petroquímicos, industriais de
química fina, dentre outros, convivem com latifúndios improdutivos, com
trabalhadores informais e com uma economia camponesa atrasada, pré-capitalista.
Este tipo de desenvolvimento
dependente caracterizou-se ainda por um crescimento urbano acelerado e pela
formação de um amplo e crescente setor de serviços sofisticados, ao lado da
implantação de um modelo cultural (“the american way of life”) consumista, ainda
que de forma caricata e incompleta.
Em que pese haver avançado anos-luz em sua
cidadania, a sociedade civil brasileira ainda está engatinhando. Ainda tem que
decidir para onde dará os primeiros passos, resolvendo o dilema partido ou
movimento social, basismo-assembleísmo ou representação política.
A dificuldade maior está na falta
de clareza nas análises sobre o peso do século XX (conceitos ultrapassados), a
qual perturba a visão do presente, mutante e inusitado. Parece que não se
percebe que a classe operária brasileira não é semelhante à européia e que o
atual padrão de desenvolvimento é diferente daquele do capitalismo
competitivo-liberal. Não se percebe também que o futuro do Brasil não vai se
desenvolver político-socialmente como ocorreu na Europa.
É preciso, portanto, decifrar -
estudando nossa história recente - o enigma da expressão das peculiaridades da
sociedade brasileira.
Quero compartilhar algumas
perguntas ainda em busca de respostas:
Como construir esta nova
sociedade de universalização, inclusiva e de uso dos benefícios das inovações
tecnológicas, assegurando a participação efetiva do cidadão, defendendo a
Natureza?
Como incluir o cidadão
digitalmente, considerando que nossa população se encontra em estágios
diferenciados de desenvolvimento ou de solução dos problemas básicos de educação,
saúde, alimentação, higiene, infra-estrutura de esgoto, energia elétrica, água
potável e urbanização?
Nossa população não pode ficar
excluída desta nova utopia do espaço urbano.
Tenho claro que o poder público, mais do que
qualquer ator, deve ser o articulador, organizador, promotor, orientador,
fiscalizador e gestor das potencialidades emergentes. O resto está por se
descobrir.
Ainda bem que o velho Marx
afirmava que ele próprio não era marxista.
E, bem mais perto de nós, o Che
nos legou esta frase lapidar "Não existe caminho, o caminho se faz ao
caminhar”.
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