A real discussão
O ponto principal em torno da celeuma sobre altíssimos
salários de muitos servidores públicos – no Brasil – tem sido ignorado: é a
distância estelar desses ganhos para a renda mínima do trabalhador.
Não é o teto que importa ou deveria despertar nossa maior
atenção, mas sua relação com o piso.
Em nenhuma parte do mundo moderno, de IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) satisfatório, existe esse hiato abissal entre o mínimo
e o máximo. É algo do Brasil das desigualdades.
O IDH do Brasil apareceu em 70º lugar em 2011 (0,807). O
país melhor colocado, a Islândia, obteve 0,968. É quase um paraíso terrestre em
termos de qualidade de vida. Pior é o Brasil ficar atrás de países como Panamá,
Albânia e Costa Rica.
A mim não é agressivo um magistrado ganhar num único mês
mais de R$ 156 mil. Injusto mesmo é que na mesma repartição alguém limpe o chão
em que ele passeia, com seus sapatos italianos, para receber pouco mais de R$
600/mês (brutos).
É humilhante.
No campo político, por exemplo, o Brasil alcança o topo dos
maiores salários para seus parlamentares. Acima do que ganham congêneres em
países ricos como Estados Unidos, Japão, Inglaterra, Canadá e Alemanha.
Enquanto um congressista nativo pode abocanhar de forma registrada e direta
algo em torno de R$ 400 mil/ano, na Inglaterra não passa de R$ 180 mil.
Quando levamos os números para um parâmetro medido pelo
“Coeficiente de Gini” (calcula desigualdade de renda), o Brasil tem o mais
degradante índice do planeta. Os cidadãos que faturam mais estão a milhões de
anos-luz de quem recebe menos. O índice chega a 56,7. Enquanto isso, na
riquíssima Alemanha, é de apenas 27.
O que insulta, portanto, não é o máximo, mas é uma multidão
famélica bancar a vida boa de uma minoria “iluminada”, tudo “dentro da lei”.
Para justificar esse fosso não existe nenhum argumento plausível, por maior que
seja o contorcionismo retórico do beneficiado.
Tudo é sofisma.
Este país ainda vai cumprir seu ideal.
Nota do Blog:
* O IDH é calculado levando em conta a expectativa de vida,
a educação e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita (por pessoa). Quanto mais
próximo de 1, mais desenvolvido é o país.
* O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade
desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini, e publicada no documento
“Variabilidade e mutabilidade”, em 1912. É comumente utilizada para calcular a
desigualdade de distribuição de renda, mas pode ser usada para qualquer
distribuição. Quanto maior o valor, mais desigual é o país.
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