Thomas Mann
"Outra idéia fixa muitas vezes ocupava naquele tempo meu espírito e ainda hoje não perdeu seu encanto e significado: o que é mais útil - indagava a mim mesmo -, representar o mundo grande ou pequeno? E isso significava o seguinte: homens importantes, pensava eu, generais, estadistas, naturezas de conquistadores e líderes de todos os tipos, que se erguem muito acima dos outros, certamente são feitos de tal maneira que o mundo lhes parece pequeno como um tabuleiro de xadrez. De outro modo não teriam a impiedade e frieza para agir, audaciosos e imprevisíveis, segundo seus próprios planos, passando por cima da felicidade e dos sofrimentos individuais. Mas, por outro lado, uma concepção tão limitadora indubitavelmente pode fazer com que não se chegue a nada na vida; pois quem considera mundo e pessoas pouco ou nadaa, cedo terá consciência da sua insignificância, tendendo a cair na indiferença e na preguiça. Preferirá, com desdém, ignorar os espíritos alheios - além disso, sua insibilidade e alheamento chocarão os demais e ofenderão um mundo geralmente tão seguro de seu próprio valor, anulando inclusive a possibilidade de sucessos imprevistos. Então, perguntava-me eu, será mais aconselhável ver no mundo e nas pessoas algo de grande, magnífico e importante, do qual vale a pena tentar obter respeito e valor? É preciso considerar que essa visão por assim dizer aumentadora e respeitosa facilmente nos torna vítimas de automenosprezo e inibição, de modo que o mundo há de passar sorrindo por cima de um rapazinho ingênuo e servil, em busca de amantes mais viris. Mas, por outro lado ainda, essa atitude crédula e devota em relação ao mundo traz grandes vantagens. Pois quem confere grande importância às coisas e às pessoas não apenas as lisonjeará por isso, garantindo para si a gratidão delas, mas também dará ao seu pensamento e ao seu comportamento uma seriedade, uma paixão, uma responsabilidade que, na medida em que o tornam amável e importante, também lhe podem trazer os maiores sucessos e poderes."
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