terça-feira, 10 de novembro de 2009

O RIO GRANDE DO NORTE NO TEMPO DOS CORONÉIS - XI

CONTINUAÇÃO...

Outros indícios se acumulam quanto à existência de um plano – o de matar o Coronel Rodolpho Fernandes – dentro do plano de Lampião invadir Mossoró em busca de dinheiro. Abaixo esses indícios serão elencados, como perguntas, um por um. Não há resposta para elas. Pelo menos até onde se sabe. E, embora juntas permitam vislumbrar um todo coerente, dispersas, fragmentadas, fora do contexto que lhes dá razoabilidade, são folhas ao vento, só muito remotamente apontando para as árvores de onde caíram.

Por que Massilon, especificamente Massilon, o executor de Brejo do Cruz e Apodi, servindo às mesmas pessoas, escolheu atacar os fundos da casa de Rodolpho Fernandes, enquanto Jararaca distraia os defensores pela frente?

Por que todo o ataque de Lampião se concentrou contra a casa de Rodolpho quando, se de fato os cangaceiros queriam exclusivamente dinheiro, o alvo principal seria a agência do Banco do Brasil, onde até a véspera estavam guardados mais de novecentos contos de réis?

Por que não atacaram a residência do Gerente do Banco do Brasil em busca de resgate, como supostamente queriam fazer com o Prefeito?

Aliás, por que todas as trincheiras importantes visavam proteger a casa de Rodolpho? Tanto a da Estação Ferroviária, quanto a da Igreja de São Vicente eram ocupadas por fiéis amigos do Prefeito e guardavam diretamente sua residência.

Por que o Promotor e o Juiz não abriram processo alusivo à invasão de Mossoró por Lampião? O quê o processo – se aberto – traria à luz? O que se queria ocultar em não o abrindo?

Por que mataram Jararaca na calada da noite? Qual a relação existente entre sua morte e o seu recado mandado para o Coronel Rodolpho Fernandes pedindo para falar com ele?

Por que os executores de Jararaca não foram processados?

O episódio da morte de Jararaca é bastante revelador. Sérgio Dantas nos conta: (...) “no mesmo dia em que fora preso, Jararaca concedera bombástica entrevista ao jornalista Lauro da Escóssia, do noticiário “O Mossoroense”. Não mediu palavras.” Mais a frente, continua o historiador: “Jararaca pisou em terreno minado. Logo percebeu que tornara pública parte de uma teia intocável. Suas incisivas declarações puseram em dúvida a probidade moral de destacados chefes políticos de estados vizinhos. A repercussão das declarações, claro, fora inevitável. Decerto, o bandido temeu pela própria vida. Pressentira algum perigo. Chamou um militar, ainda cedo da tarde. Expressou-lhe o desejo de falar em particular com o Intendente Rodolpho Fernandes. O pedido, no entanto, lhe foi negado sem maiores explicações. A caserna tinha outros planos para o cangaceiro. À surdina, ensaiou conspiração. Tramaram abjeto extermínio e apostaram no sigilo. Sem mais demora executou-se o plano.”

Em tudo e por tudo está certo Sérgio Dantas. Somente errou quando afirma que as declarações de Jararaca puseram em dúvida a probidade moral de chefes políticos de estados vizinhos. Não colocou em dúvida, Jararaca, a probidade moral de ninguém fora dos limites de Mossoró ou cidades vizinhas, como Apodi. Colocou sim, em dúvida, a probidade moral de alguns que estavam próximo, bem próximo. Não seria possível as declarações de Jararaca terem chegado ao Ceará, por exemplo. Naquele tempo não havia sequer telefone. Havia, claro, telégrafo. Quem, no entanto, enviaria informações comprometedoras pelo telégrafo e, através dele, discutiria um plano para a eliminação do cangaceiro, principalmente quando o Chefe do Telégrafo de Mossoró era irmão do Chefe de Polícia do Governador do Estado? Como isso seria possível?

Também não seria possível enviar, a cavalo ou de automóvel, com tempo suficiente, informações alusivas à entrevista de Jararaca para os estados vizinhos. Não. O que Jararaca disse, e o que queria dizer a Rodolpho incomodou alguns que estavam por perto, perto o suficiente para tramar sua morte.
 
Finaliza o pesquisador Sérgio Dantas: “Jararaca sucumbira. Morreu porque sabia demasiado.” Mais a frente: “Findou o terrível salteador nas primeiras horas da manhã. Sua morte, entretanto, já havia sido decretada há dias. O laudo do exame cadavérico, por exemplo, fora assinado ainda na tarde do dia dezoito. E assim foi. Horas antes da execução e sob escuso pretexto de rotina, examinavam-se ferimentos de um corpo, sofridos durante uma batalha. Logo depois se chancelava, com base em conclusões médico-legais, documento de óbito de homem ainda vivo.”

Há, pois, muitas razões para supor que dentro do plano de invadir Mossoró em busca de suas riquezas, havia um outro plano, que teria como objetivo a eliminação do Coronel Rodolpho Fernandes.

E, assim, terminamos esta série de artigos acerca do coronelismo no Rio Grande do Norte comprovando que, ao contrário do que se supõe, esse fenômeno existiu, e nos mesmos moldes dos estados vizinhos, embora em menor escala.

FIM














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