sábado, 23 de janeiro de 2010

ESCREVER


literal.terra.com.br

Rubem Fonseca

“Os escritores fazem isso, saem pelo mundo buscando assunto para seus livros. Puchkin dizia que precisão e brevidade são as principais qualidades da prosa. O cinema não tem os mesmos recursos metafóricos e polissêmicos da literatura. O cinema é reducionista, simplificador, raso. O cinema não é nada.

O cinema não é nada? Se eu me sentar no corredor de um hospital vejo um filme – as pessoas se movimentando, falando, chorando, carregando coisas, esperando, etc. O cinema não é mais que isso. Pode ver um livro também, olhando o corredor. A literatura também não é mais que isso" ("Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos"; Rubem Fonseca).


O "ESPERTO" NA POLÍTICA

Meu amigo Fulano me disse que tinha se aposentado da política. “Como assim?”, perguntei-lhe. “Quer dizer que não vai mais exercer qualquer cargo público?” “E se seu candidato voltar ao Governo?” Meu amigo, que foi do segundo ou terceiro escalão do governo de um dos estados vizinhos (claro!) abriu um sorriso matreiro e respondeu condescendente: “eu não quero mais ocupar cargo algum, mas vou ajudar meus amigos por que você sabe como é, tenho filhos para ajudar a criar, e no nosso mundinho só vai p’ra frente quem se dá bem com os ômi”.

Meu amigo Fulano é um homem esperto, dentro daquela categoria que o finado ex-padre Zé Luiz genialmente criou lá pelo começo dos anos 80. Dizia ele, e nunca aceitou essa história de ex-padre – “uma vez padre, sempre padre” – que há dois tipos de homens, dentre outros, que merecem atenção: os inteligentes e os espertos. E para ilustrar sua tese elencou, em sua coluna dominical no Poti, de um lado os espertos, do outro, os inteligentes. Não é preciso dizer o rebuliço que essa crônica causou na província.

Pois bem, meu amigo Fulano é um homem esperto. Não tem o vôo dos condores, quando muito dos galináceos, mas sabe evitar uma panela e enxerga bem além dos seus passos. Em um certo sentido, jamais admitido nem por ele, nem por quem lhe fornece o meio para sobreviver, é alguém que vive de expedientes: ajeita aqui, ajeita acolá, facilita p’ra um, dificulta p’ra outro, torna-se da cozinha do poderoso, na qual chega na hora do café-da-manhã trazendo as últimas novidades e os próximos pedidos.

Duvido que na atual estrutura de Poder na qual vivemos a política nossa de cada dia, em tudo e por tudo idêntica à dos nossos ancestrais, diferenciando-se apenas quanto à aparelhagem tecnológica utilizada – se antes era a cavalo que a informação seguia, hoje é via imail – o coronel com saias ou sem elas possa viver sem esse tipo de agregado. Ele é imprescindível para as pequenas coisas: pequenos delitos – é incapaz de pensar os grandes; aliás, é incapaz de pensar: seu destino é pequenas confidências, pequenos favores, pequenas difamações e/ou injúrias, algumas torpezas, cumplicidade nos vícios, solidariedade nos acidentes de percurso, desde que não afetem sua sobrevivência...

Mas é capaz de grandes bajulações, aceita ser o bobo-da-corte do seu senhor feudal – considera-se até honrado em ser alvo de brincadeiras nas quais sua intimidade é exposta publicamente -, quando não, é capaz de desforço físico na defesa da bandeira que empunhou o que o tornará, sem sobra de dúvidas, alvo de muitas e variadas homenagens prestadas nas hostes do “exército” ao qual pertence.

Não por outra razão meu amigo Fulano está fadado a morrer feliz por que realizado na medida em que encaminhar, através de sua rede de amigos granjeados a partir da troca de favores recíprocos, e da benção do chefe político, os seus rebentos. Não lhe digam que hoje só é possível entrar na administração pública através de concurso. Há sempre um caminho para encontrar uma torneira aberta: cargo em comissão, gratificação, empresa de construção de fundo-de-quintal, licitações manipuladas, consultorias e assessorias. “E os concursos públicos, esses, há, nem lhe conto” disse-me ele.

Meu amigo somente precisa tomar cuidado para não cometer algum erro. Aliás, ele precisa ter muito cuidado para não ser usado como boi-de-piranha: quando ele acerta, o mérito é do chefe; quando o chefe erra, a culpa é dele. E precisa ter cuidado, muito cuidado, mas muito cuidado com a ingratidão e o tal de laço-de-sangue. Por que não é possível ter dúvida: entre ele, o fiel correligionário, e o parente, este sempre vence. É o instinto!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ANDRÉ DA RABECA


aventureirodotraco.blogger.com.br

Rabeca

Laélio Ferreira

MOTE :

Pobre André, pobre rabeca,
pobres egos colossais

G L O S A :

Viveu uma vida furreca,

morreu de modo banal...

Hoje é assunto em Natal

- pobre André, pobre rabeca!

Motiva, agora, a fubeca:

cobras, lagartos, rivais,

lendas de outros carnavais,

velhos hábitos de infância,

pecados de concordância

- pobres egos colossais !



ESCREVER


fcom.us.es

Amos Oz

"Num conto curto de Tchekhov ou num romance de Balzac encontrou mistérios que, em sua opinião, não existiam nos romances de espionagem ou suspense. Uma vez, há muitos anos, refletiu sobre a possibilidade de escrever, ele mesmo, uma pequena história de espionagem quando se aposentasse, para descrever nelas as coisas conforme as conheceu durante todos os anos em que esteve a serviço. Mas desistiu da idéia por que não achou, em suas ocupações nada marcante ou excitante. Dois pássaros na cerca em um dia de chuva, um velho falando sozinho em um ponto de ônibus da Rua Gaza, estes e outros acontecimentos lhe pareciam mais fascinantes do que tudo que lhe ocorrera no serviço de espionagem" ("Conhecer uma Mulher"; Amos Oz).

AUTO-PROMOÇÃO

Este blog agradece a Carlos Santos, Charles M. Phelan, François Silvestre, Franklin Jorge e Laurence Bittencourt por freqüentá-lo.

"SEU LULA"


starchildrens.blogspot.com

Ali e acolá, em livros que somente alguns lêem, seja por que deliberadamente os procuram, seja por um desses acasos da vida nos quais eles aparecem sem que saibamos como nem muito menos a razão, me deparo com seu nome. Está posto em um pé-de-página, ou em algum parágrafo, incidentalmente, fugazmente. Recentemente, ao reler a literatura norteriograndense acerca da saga lampiônica em Mossoró – Raul Fernandes e Raimundo Nonato da Silva – lá estava seu nome, “en passant”, como teria dito, para trazer expressões próprias do jogo de xadrez, que amava tanto, até o cotidiano.
 
Foi exatamente o jogo de xadrez que me levou a conhecê-lo. Eu e vários de minha geração, a quem ele pacientemente ensinou a jogar. Tínhamos em torno dos oito anos e nosso mundo era muito simples: brincar no Colégio Diocesano, brincar no patamar da Igreja de São Vicente, brincar em casa nas raras vezes em que a rua nos era proibida por castigo ou doença. E brincar de aprender a jogar xadrez nas tardes provincianas de Mossoró, na pequena casa onde Lula Nogueira - “Seu Lula” - vivia sozinho com o filho solteirão – uma figura misteriosa a quem quase nunca víamos e acerca de quem falávamos aos sussurros.
 
“Seu” Lula morava em uma casinha branca com área de entrada diminuta, porta e janela dando imediatamente para a sala, saleta, salinha que era de visita e jantar ao mesmo tempo. Do lado esquerdo de quem entrava dois quartos: o primeiro, com janelão para a rua, era o seu; o outro, do filho. A sala dava para uma pequena cozinha dela separada por uma mureta onde pontificava um filtro de água de cerâmica e um varal de madeira de empilhar pratos, meio escondidos por um pano. Tudo muito normal, tudo muito comum não fosse uma mesa oficial de xadrez colocada perpendicularmente à janela da sala para aproveitar a luz do sol, na qual ficavam postados, desde sempre, livros e revistas argentinas acerca do jogo, além de majestosas e manuseadas peças tipo “Stauton” para os embates enxadrísticos.

Embora possa me lembrar de “Seu Lula nas calçadas de nossa rua conversando, principalmente na roda de “Seu Napoleão”, onde o escutei, entre perplexo e admirado, certa vez, afirmar enfaticamente que somente morreria após a passagem do ano 2000, essas incursões eram raras. Certo, mesmo, era passar em frente à sua casinha, fosse manhã ou tarde, e encontra-lo defronte ao tabuleiro de xadrez, mão esquerda com dedos polegar e indicador apoiando a cabeça, cigarro esquecido embora aceso entre os dedos médio e anular, enquanto a mão direita movia as peças para cima e para baixo, para um lado e para o outro, ou na diagonal, na tentativa de criar ou solucionar problemas enxadrísticos que já haviam lhe granjeado reputação nacional. Podia, também, ser o caso de estar, simplesmente, reproduzindo uma partida de xadrez de grandes mestres internacionais.
 
Depois eu, como os outros, fui embora. O mundo nos esperava. Nunca esquecemos – aqueles que fomos seus alunos – nosso professor de xadrez. Basta, ainda hoje, ver peças tipo “Stauton”, ou mesmo um tabuleiro oficial, que volto no tempo para aqueles dias já longínquos quando um menino magro, tímido, e um ancião de mãos nodosas, emoldurados pela claridade solar que ultrapassava a janela da sala e escandia a fumaça dos muitos cigarros fumados ou esquecidos, jogavam intermináveis partidas nas quais somente a profunda gentileza do professor impedia uma humilhação contínua ao aluno.









quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

LEIA COMO O ESTADO SE APROPRIA DE PARTE DA REMUNERAÇÃO DO SERVIDOR PÚBLICO


4.bp.blogspot.com

Barnabé

Esqueça sua idéia do que seja o “Estado”. É mais simples entender que “Estado” é algum lugar onde poucos mandam em muitos. Esses poucos podemos chamar de “elites”, assim mesmo, no plural, vez que há várias: reacionária, conservadora ou progressista, por exemplo, conforme queiram voltar no tempo, manter tudo como está ou avançar em busca de reformas ou rupturas estruturais acerca da distribuição da riqueza do mundo.

Essas elites, para aumentarem ou perpetuarem seu poder, necessitam de instrumentos, meios ou mecanismos através dos quais seja possível governar os muito, muitos mesmo, que são mandados. Então as elites precisam de leis que regrem esses muitos, e exércitos, polícias, juízes, promotores, advogados, auditores, médicos, professores, assistentes sociais, enfim, um segmento significativo da sociedade para aplicá-las.

Esses instrumentos nada mais são que servidores públicos, trabalhadores que por intermédio do seu capital material (sua força física) ou simbólico (sua força intelectual) aparentemente servem ao Estado, mas, na realidade, em sua essência, são aparelhos das elites que os criam, instauram, e utilizam.

Pois bem, essa força física ou intelectual é o capital do servidor. É ele que o servidor “vende” ao Estado em troca de uma remuneração ou pagamento pela “utilização”.

Convém observar que pelo “contrato” firmado entre o servidor e o Estado, cujas premissas são constitucionais, aquele não pode ter sua remuneração reduzida por este. Ou seja, trocando em miúdos, o Estado não pode reduzir a o pagamento (remuneração), segundo a Constituição Federal, sob qualquer pretexto, do servidor público.

Não vamos entrar, aqui, no aspecto da apropriação indireta do capital do servidor, realizada fora do seu ambiente profissional, como por exemplo, quando parcela de seu pagamento (remuneração) é levada através de tributação confiscatória: é o caso da tabela de deduções (limites de gastos com médicos, p.ex., a serem abatidos do valor devido) do imposto de renda que nunca é corrigida pela inflação, fazendo com que paguemos cada vez mais na medida em que cresce o custo das coisas.

Vamos, sim, tratar da apropriação direta, feita pelo Estado, na remuneração do servidor, ao longo de todos esses anos, sem que ele receba qualquer aumento, apesar da corrosão imposta pelo processo inflacionário. Ou da cobrança, a partir da reforma da Previdência, da contribuição Previdenciária incidente sobre os proventos da aposentadoria.

São esses apenas dois exemplos de como o Estado (instaurado ou implantado por certa Elite, não necessariamente aquela da qual fazemos parte) se apropria de parte do pagamento pela venda, a ele, do capital do servidor. Há outros, mas esses dois bastam.

No primeiro, o Estado enriquece ilicitamente, diga-se de passagem, tendo em vista a Constituição Federal, à custa dos servidores, quando não preserva seu valor de compra (a remuneração) inicial com a qual foi contratado, já que cada vez mais a eles paga menos, pelo mesmo trabalho, como conseqüência da inflação. No segundo, desrespeitando o direito adquirido, ao tributar quem já cumprira sua parte no contrato, os aposentados.

A fome do Estado é gigantesca, pantagruélica. E, infelizmente, somente é saciada com a carne da arraia-miúda que é a classe média, da qual parte expressiva é constituída por servidores públicos. Os tubarões estão fora de perigo, sejam eles bancos, multinacionais, ou mesmo o indefectível FMI, este já pago várias vezes via juros escorchantes assumidos pelo Brasil.

Acresça-se que o servidor público não tem como sonegar: seu imposto sobre a renda é cobrado na fonte, ao contrário de todos os megacontribuintes que, ao longo dos anos, enriquecem através das brechas da lei, do trabalho de competentes bancas advocatícias, e de auditores fiscais corruptos. É a velha história: o pau sempre quebra nas costas do mais fraco.

Nesse conflito entre capital e trabalho, o senso comum aponta logo dois fatores a chamarem nossa atenção: a incapacidade do explorado em reverter esse quadro, por não conseguir percebê-lo, e a incapacidade dessa Elite em entender que todo buraco tem fundo. Assim, continua crescendo a terrível dívida social que essas elites (não todas) têm com os excluídos, enquanto, ao mesmo tempo, o capital continua a crescer.

Torçam elas, essas elites, para Marx não estar certo, e não acontecer seu entredevoramento. Quanto aos servidores públicos, até quando permanecerão inertes ante esse processo de depauperamento financeiro?













quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A DIFERENÇA ENTRE O POLÍTICO E O LADRÃO

Vingou-se, para mim, um motorista de táxi:

"- O Sr. sabe qual a diferença entre o político e o ladrão?"

- Não.

- "O político a gente escolhe; o ladrão escolhe a gente."

NASSAR, UM CASO PARADIGMÁTICO DE SÍNDROME DE BARTLEBY


blogln.ning.com

Nassar

Pinçado de: http://www.releituras.com/

"José Castello, jornalista voltado para livros e autores, teve publicado em 1999 o livro "Inventário das Sombras" (Editora Record - Rio de Janeiro, pág.173), no qual traça o perfil de diversos escritores. Autor de "O Poeta da Paixão", "O Homem sem Alma", "Na Cobertura de Rubem Braga" e "Uma Geografia Poética", assim vê o escritor Raduan Nassar (parte):

(...)


Atrás da máscara

'Nós buscamos outras realidades porque não sabemos como desfrutar da nossa; e saímos de dentro de nós mesmos pelo desejo de saber como é o nosso interior.'


Montaigne


Raduan Nassar não suportou ser um grande escritor e desistiu da literatura para criar galinhas. Trocou a criação estética, que é complexa e desregrada, pela mecânica suave da avicultura, e parece muito satisfeito com isso, tanto que, resistindo a todos os apelos, se recusa a voltar atrás em sua decisão. Meteu-se assim em uma situação embaraçosa na qual o exterior (a figura do escritor) e o interior (o ato de escrever) se confundem, armadilha em que, de modo mais discreto, todos os escritores de alguma forma estão presos, e que não chega a configurar uma escolha, mas um destino. Raduan abandonou a ordem do verbo, que está sempre contaminada pelo vazio e pelo espanto, para retornar à ordem natural dos animais, que é mais silenciosa, mas também mais previsível. Ovos, poedeiras, rações, pequenas pestes podem ser controlados; a escrita, não.

O sucesso de seus dois primeiros livros, Lavoura arcaica e Um copo de cólera, parece ter excedido em muito aquilo que Raduan esperava de si, e, ultrapassado pela própria obra, ele tomou a decisão de recuar. O sucesso, em seu caso, tornou-se uma carga: ele é aquele que não suporta vencer e, assim que a vitória se configura, precisa fracassar para se tornar menos infeliz. Restou a sombra de algo intolerável, a literatura, que, vista sem as pompas da reputação e da fama, tem a aparência de uma emboscada. Escrever não é só seguir uma rotina, manter-se atento e cumprir as regras dos manuais.


Mas por que terá Raduan, ao tomar a decisão de abandonar a literatura, conservado para si a imagem de escritor? Por que terá resolvido ser um homem com duas sombras — uma do escritor consagrado, outra do sujeito que desistiu de ser escritor? Raduan não é um Rimbaud, que, ao resolver que a escrita não o interessava mais, virou a página de sua biografia e, trocando de máscara, foi viver como um mercenário na África. Ao contrário, mesmo desistindo da literatura, ele não deixou de se apresentar, quase obstinadamente, como um escritor militante. Raduan é, ninguém tem dúvida, um grande escritor. Por isso, a solução que deu a seu impasse chega a parecer, às vezes, mentirosa. Quem estará dizendo a verdade: o Raduan que desistiu da literatura e se tornou só um homem silencioso com suas galinhas, ou o Raduan que, mesmo sem escrever, insiste em se ver como um escritor?" (...)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

DOIS MOMENTOS DA IGREJA


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Cai Montségur

"Matem todos, Deus saberá quem são os seus". Assim falou Arnold Amaury, o monge cisterciense, quando seus guerreiros cruzados, a um passo de atacar a cidade de Béziers, em 22 de julho de 1209, tinham se voltado em sua direção para perguntar se deviam distinguir os fiéis ao catolicismo dos cátaros heréticos.

É o que nos conta Stephen O'Shea em seu "A heresia perfeita", cujo subtítulo é "A vida e a morte revolucionária dos cátaros na idade média".

A "Cruzada Albigense" se estendeu de 1209 a 1229 e foi deflagrada por Inocêncio III, sob a alegação de erradicar a heresia popular que grassava no Languedoc, região francesa que se estendia dos Pirineus à Provence e que incluia cidades como Toulouse, Albi, Carcassone, Narbonne, Béziers e Montpellier. Na verdade os barões feudais do Norte da França - dentre eles o Rei - cobiçavam as terras e as riquezas dos seus pares do Sul, principalmente o condado de Toulouse, que era suserania de Pedro de Aragão.

As duas décadas de sangue deram lugar a quinze anos de revolta e repressão até o cerco de Montségur, em 1244. No final, mais de duzentos de seus defensores, os líderes cátaros, foram arrebanhados e tangidos até uma clareira na neve para serem queimados vivos. Resultado do guerra de extermínio foi o surgimento da Inquisição e suas técnicas que atormentariam a Europa e a América Latina durante séculos, sob o comando dos Dominicanos. Técnicas essas que estabeleceram o modelo para o controle totalitário das consciência individual em nossos dias, diz-nos O"Shea.

Autos-de-fé, enceguecimentos, enforcamentos em massa, catapultar de corpos por sobre as paredes dos castelos, pilhagens, saques, julgamentos secretos, exumação de cadáveres, estupros, sevícias, tudo em nome da fé!

Em 27 de agosto de 1689, em correspondência dirigida a Domingos Jorge Velho, Frei Manuel da Ressurreição, Arcebispo e Governador do Rio Grande parabeniza-o: "E dou a Vossa Mercê o parabem de um avizo que do Recife me fez o Provedor da Fazenda estando para dar á vela a embarcação que o trouxe de haver Vossa Mercê degollado 260 Tapuyas".

De 26 a 30 de outubro de 1689 Domingos Jorge Velho mata 1.500 tapuias e aprisiona 300. Em 12 de janeiro de 1690 Frei Manuel da Ressurreição manda que se busque "trilhas de Bárbaros, como Vossa Mercê me diz se acham, os não faça o nosso descuido ousados".

Em 4 de março do mesmo ano o Governador Geral determina aos três cabos de guerra que exterminam os tapuias: "Se não devem esperar nos Arraiais, em que se acham as mesmas armas; senão seguindo-os até lhes queimarem, e destruirem as Aldeias, e elles ficarem totalmente debelados, e resultar da sua extincção, não só a memória, e temor do seu castigo, mas a tranquilidade, e segurança com que sua Magestade quer que vivam, e se conservem vassallos, como por tão duplicadas ordens tem recommendado a este Governo".

Está em "Cronologia Seridoense", de Olavo Medeiros Filho. 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

DIÁRIO DE VIAGEM




Martins, a "bela serra"

De volta à Mossoró, após irmos a Uiraúna e Martins.

O projeto de visita a São Miguel foi trocado por um convite de Etelânio Figueirêdo e Catarina para conhecermos a Casa Grande da Fazenda Canadá, em Uiraúna, aquela mesma invadida por Lampião e que Massilon não deixou depredar, por que conhecía seus proprietários.

Teodoro Figuerêdo e sua esposa, seus tios, nos receberam com aquela gentileza que caracteriza o sertanejo. Nos mostraram tudo. A Casa Grande começou a ser construída nos Séc. XVIII, no ciclo do couro. O sobrado, mais recente, é de 1900, início do Séc. XX. Tudo tão interessante, tão belo, que eu fiquei de voltar com Bárbara Lima para fazermos um ensaio fotográfico.

De lá, um almoço e a fidalguia de Seu Bosco e Dna. Socorro, pais de Catarina, no Curupaity, nos aguardava. Comida farta e da melhor qualidade, uma tradição que há de ser mantida, se Deus quiser. Depois da conversa na varanda, o cafezinho, os agradecimentos, pegamos a estrada no rumo de Martins.

Na "bela serra" encontramos, eu e Carlos Santos, Raimunda e sua família. O pato, a ser degustado no dia seguinte, domingo, foi logo garantido. Fomos aos mirantes. Terminamos no Jacu, maravilhados com as luzes das cidades se recortando contra o negro da noite, lá embaixo, no vale. Como Martins é especial...

Hoje, já em Mossoró, visita à Fundação "Coleção Mossoroense", do grande Vingt-Un Rozado. Ciceroneados por Caio Cezar Muniz, o curador da coleção, poeta aclamado, autor de "E Na Solidão Escrevi", 1996, "Notívago", 1998, a educação em pessoa, eu e Kidelmyr Dantas, que anda preparando um livro acerca de Luis Gonzaga, tivemos acesso ao trabalho de "recolocar o bonde nos trilhos" que Vingt Un concebera e criara.

Fomos presenteados com algumas publicações da coleção: dentre elas, preciosidades de Raimundo Soares de Brito, a tanto tempo tão silencioso. Terá sido acometido da Síndrome de Bartleby?

Amanhã visito o Museu de Mossoró, em busca dos jornais da década de 20. Quero entender os meandros políticos daquela época nesta cidade. Buscar ecos do passado, para  explicar certos fatos ainda nebulosos...

Hoje a noite, no Café Massilon, bate-papo de beira de calçada, uma das boas coisas do mundo quando o vento bate, o escuro chega, os amigos estão próximos, e os "causos" vão sendo contados, um a um, mentira após mentira, a perder de vista, até a hora que o sono bate.

Vou indo.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

DIÁRIO DE VIAGEM

Estou no Alto Oeste.

Sediado em Pau dos Ferros, mais precisamente.

Eu e Carlos Santos fomos visitar, ontem, o jornalista Jânio Rêgo em Doutor Severiano, na sua Catingueira, onde ele se refugia, de vez em quando, dos afazeres do dia-a-dia, contemplando, até onde a vista alcança, o verde das serras que margeiam a estrada para Ereré, Ceará. Terras que foram do fidalgo de grande porte e altivez serena Seu Chico Petronilo. Conseguimos arrancar um almoço de primeira, como somente as casas-grandes do Sertão sabem fazer.

Vamos ainda a São Miguel - prentendo levar Carlos Santos até a Casa Grande dos Diógenes, em Pereiro, Ceará, uma maravilha do Século XVIII em pleno Sertão. Quem quiser saber mais acerca da Casa Grande leia "A Estranha Pereiro", aqui mesmo neste blog, um pouco mais abaixo.

Depois é visitar os amigos em Pau dos Ferros: Etelânio Figueiredo, Laércio Souza, João Batista Fontes, Maria Rêgo, Santídio Fernandes, Nilton Figueirêdo, Comadre Neli Suassuna, a família, os amigos de ontem e de hoje. Todos.

Comer a peixada de Ernandes Lima. Receber as bençãos de Áurea Lima e Dona Dulce de Queiróz.

Quem sabe encontrar José Edmilson de Hollanda pelas calçadas.

Botar as cadeiras na calçada e sorver o sereno da noite.

Depois, Martins, onde pontifica o Senhor de Cajuais, o grande François Silvestre, e o clima é ameno e a conversa corre solta. Ouvir, também, a gargalhada de Raimunda enquanto comemos a galinhada que somente ela sabe preparar. Quem sabe temos a sorte de encontrar Dona Manolita Pereira em seu chalé encantado no Sítio Canto? E poderemos, então, sorver um Porto enquanto a vista se derrama pela imensidão das serras?

Viver, enfim, cumprir essa sina com leveza e galhardia...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

DICA DE LEITURA


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Do blog de Bárbara

http://www.barbarademedeiros.blogspot.com/

"A dica de leitura de hoje é de um livro que eu li e gostei tanto, que no meu gosto superou até o romance de Edward e Bella, em Crepúsculo. A história é muito mais romântico, se passa antigamente e depois que eu a li, a saga Crepúsculo se tornou chata. Se trata do livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. É uma história que eu recomendo muitissímo, e emocionante do início ao fim. Não tem nenhum vampiro, mas nem por isso é chato. A autora sabe como prender nossa atenção do início ao fim, e nos deixar com aquele gostinho que quero mais toda vez que lemos. Espero que vocês gostem."

A ESTÁTUA


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“Quem terá sido aquele?” Passávamos ao lado da praça. Pequena, retangular, sem bancos – como pode?, pensei – duas castanheiras raquíticas postas aleatoriamente, os restos algo arruinados de contornos de cimento e mosaico guardando o que outrora fora um projeto de jardim e, no centro, a estátua, ou melhor, o busto e seu olhar fixo, fitando o vazio.

“A imobilidade das estátuas me incomoda”, continuou. Propus pararmos e descobrirmos quem teria sido o homenageado. Estacionamos. Ao longe, por trás – ou pela frente? – uma pequena capela antecedida por um cruzeiro de madeira relativamente grande, postado em um pedestal também retangular de cimento. Em uma placa feita de metal barato, corroída pela ferrugem, um nome e uma data, talvez a da inauguração. Nada mais. Sobre o topo do busto excrementos dos pombos que rurulavam ao nosso redor, nitidamente incomodados com a quebra de sua rotina, compunham uma estranha e irregular coroa esbranquiçada.
“E agora?”. Apontei para algumas pessoas que passavam ao lado. “Vamos perguntar a elas”. Em vão nosso esforço. Eles bem que tentaram. Não sabiam quem tinha sido. Olharam um para o outro e arriscaram dizer que ouviram falar que fora um homem muito rico. Só.

“Agora é uma questão de honra”. Fatigamo-nos perguntando aos passantes. Nada. Sugeri irmos à Prefeitura. Pegamos o carro e fomos embora, não sem um último olhar para o busto, ou melhor, para os olhos imobilizados olhando o infinito além da realidade que o cercava, indiferente a sol, chuva, vento, poeira e cocô de pombos.

Na Prefeitura mandaram-nos logo até o chefe do arquivo-morto, um velhinho inquieto, seco, mirrado, de bigodinho fino à lá Rodolfo Valentino, tão carcomido quanto os papéis que ele guardava e com os quais se confundia de uma forma tão perfeita que nenhuma literatura conseguiria expressar. “Aquele”, perguntou, “ah, faz tempo...” “Foi um homem rico que doou terras para a construção de uns prédios para a Igreja”. “Não tem mais parentes aqui”.

“Por que não limpam o busto e colocam uma placa explicando quem ele foi?” “Bom, meu senhor, como pode ver eu sou apenas um guarda-livros. O Prefeito é outro”. “E onde ele está?” “Que eu saiba, viajando.”

Depois, a estrada. “A glória é vã, a glória é vã, a glória é vã”, repetia meu amigo, como a querer inculcar definitivamente, em seu espírito, essa concepção acerca da fatuidade da luta do homem para sobressair. A seu tempo e a seu modo, mesmo aqueles que ocuparam por um longo período a atenção dos homens terminam desconhecidos quando confrontamos aquilo que ele realmente foi com sua descrição feita pelos historiadores. “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, tu és pó e ao pó retornarás”, prosseguia ele, enquanto sua cantilena confundia-se com o barulho do motor do carro, a paisagem passava rápida e nós, aos poucos, esquecíamos esse episódio que muito depois seria um borrão na nossa memória e uma crônica misto de muita fantasia, pouca realidade e alguma verdade.

CORTESIA




“Ainda sou tosco, rude, sequer conheço a cortesia e a cortesia, você sabe, dá a medida de um homem...” (“Um Sentido para a Vida”; Antoine de Saint-Exupery).

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

BILHETE DE LAURENCE NÓBREGA



Bárbara

Bilhete de Laurence Nóbrega para Bárbara, depois de ler seu "O Sentido da Vida", neste blog:

"Espero que a missão de Bárbara seja bem difícil, para que ele demore muito por aqui.

Eu, quando mais moço, achava que não viveria muito, pois era o mais afoito dos filhos do meu Pai. Não morri cedo, não corri nem tornei-me herói, desmentindo Millor.

Mas acho que já resolvi tudo e aproveito para, enquanto o trem não chega, passear por esta cidade para onde me mandaram a serviço. Observo prédios e pessoas, procurando descobrir a beleza da sua arquitetura e a nobreza do seu caráter.

Faço novos e melhores amigos e, com eles, aprendo e me divirto muito.

Talvez, se vier de novo por aqui, não cometa os mesmos erros e dê mais valor ao que realmente importa. Talvez, quem sabe, novamente não seja importante, mas necessário, pelo menos para alguns.

Vida longa para Bárbara.

Laurence"

A APLICAÇÃO DO MÉTODO CIENTÍFICO NO ESTUDO DO FENÔMENO DO CANGAÇO


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SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço)
Por Honório de Medeiros

01. A aplicação do método científico no estudo dos fenômenos sociais pressupõe a admissão do postulado de Émile Durkheim, qual seja o de que, para sua aplicação, fato social equivaleria a fato natural.

02. Ao próprio postulado fato social = fato natural aplica-se o método científico que o demonstra verdadeiro.

03. O método científico consiste, grosso modo, em propor teorias que sejam testáveis e, em seguida, testa-las para corroborá-las ou nega-las.

04. Se não for passível de teste a teoria formulada não pertence à ciência, e, assim, não pode ser declarada verdadeira ou falsa.

05. A implicação dessas teorias se revela até mesmo no âmbito jurídico, no que diz respeito à possibilidade de danos materiais e/ou morais (p. ex. a afirmação de que Jerônimo Rosado foi coiteiro de Lampião).

06. Revela-se, também, como vetor necessário a ser observado no que diz respeito à seriedade com a qual os pesquisadores do Cangaço devem ou deveriam querer obter da mídia e do meio acadêmico.

07. Revela-se, por fim, para afastar o pouco respeito com o qual é tratado, às vezes, o tema, ao situá-lo como algo especificamente menor ou pequeno, nordestino e folclórico, no sentido negativo dos termos. Nesse sentido não podemos confundir as afirmações feitas pela ciência, alusivas ao tema, com o tratamento a ele dado, por exemplo, pela literatura de cordel. São dimensões distintas. Quando misturadas vamos encontrar literatura querendo ser ciência e ciência que é literatura (p. ex. a comparação entre cangaceiros e samurais), ou seja, confusão que ressalta o aspecto menor, preconceituoso quanto ao nordestino, e folclórico no sentido negativo.

08. Exemplos de enunciados ou afirmações formuladas sem a devida preocupação com o método científico:

a) A afirmação de que Lampião era um estrategista militar. Basta consultar A Arte da Guerra, de Sun Tzu; O Livro dos Cinco Anéis, de Miyamoto Musashi; ou a obra de Carl von Clousewitz acerca da guerra e nos lembrarmos do ataque a Mossoró que essa teoria cai por terra. A suposta capacidade militar de Lampião era resultado de um misto de esperteza banal, coragem contra os fracos, corrupção e incompetência das forças policiais;

b) A afirmação de que Lampião é um produto do meio. Essa afirmação é tautológica – todos somos produto do meio. O problema é o juízo de valor que é construído a partir dessa afirmação banal. Pensemos assim: se o meio conduz à criminalidade, a favela da Rocinha inteira, com seus 100.000 habitantes, seria formada por criminosos. Lampião poderia ter fugido do crime da mesma forma como muitos fugiram sem entrar no cangaço, mesmo tendo passado pelo que ele passou;

c) A afirmação de que Lampião era um revolucionário. Esta é hilariante. Lampião voltou sua crueldade especialmente contra fracos e oprimidos. Acaso há algum episódio de luta sua contra os coronéis, inclusive aqueles que o traíram, como Zé Pereira e Isaías Arruda?

d) A afirmação de que o cangaço foi um fenômeno resultante de conflitos agrários. Esta é uma perspectiva pequena por que decorrente de outra maior – complexa e determinante – de conflitos resultantes de relações de poder. Ou seja, em uma perspectiva macro, o problema da terra foi um problema de Poder. Mas tal problema não engendra um determinismo no sentido marxista do termo. O que se quer dizer é que não há uma relação direta entre conflito por terras e cangaço, haja vista os cangaceiros que entraram no cangaço por que optaram pela vida bandida, insuflados pela aura mítica que envolvia o cangaço. É o mesmo fenômeno que leva filhos da classe média ou alta a optarem pelo banditismo;

e) A afirmação de que Lampião não morreu em Angicos. Aqui robustecemos o aspecto lendário, mítico, tipicamente artístico, em detrimento da ciência. Qual a prova acerca da possibilidade de Lampião não ter morrido em Angicos? Nenhuma. Acaso quem conheceu Lampião e viu sua cabeça decapitada não teria imediatamente denunciado a fraude caso esta tivesse existido?

f) A afirmação de que Jerônimo Rosado foi coiteiro de Lampião;

g) A afirmação de que Jerônimo Rosado é um herói da resistência mossoroense;

h) A estética do cangaço defendida por Pernambucano de Mello. A afirmação correta seria: a estética do bando de Lampião. Não há qualquer manifestação estética nos outros cangaceiros. É puro marketing;

i) A comparação entre cangaceiros e samurais;

j) A afirmação de que Lampião não era cruel, brutal, monstruoso (basta lembrar o episódio do assassinato dos soldados, um por um, com punhal, ajoelhados em sua frente, até o basta de Maria Bonita);

l) A teoria do "escudo ético", de Pernambucano de Mello;

l) A afirmação do motivo romântico de Massilon para invadir Mossoró.

09. Na verdade o estudo do fenômeno do cangaço deve avançar para um novo patamar, um novo paradigma. Esse novo paradigma é o da aplicação do método da ciência, devemos trabalhar com a análise e interpretação de todo o material existente, uma vez que provavelmente não há mais fontes primárias de pesquisa.

10. Assim, precisamos estudar a relação entre Coronelismo, feudalismo e cangaço.

11. Estudar o papel do Poder e das Forças Públicas em relação ao Cangaço.

12. Estudar o papel da Igreja em relação ao cangaço. Não somente Pe. Cícero mas aqueles lenientes com os coronéis que acoitavam. Não se trata de denunciar, mas de entender.

13. Estudar, por exemplo, o papel das forças políticas em Mossoró na época da invasão de Lampião: por que a conduta omissiva do Juiz e do Promotor da cidade quanto ao exercício de suas atribuições? Por que a conduta da Polícia matando Jararaca?

14. Por fim propor e discutir um novo conceito para cangaço, dentro de uma perspectiva científica que identifique o geral no particular e afaste, de vez, o estudo do fenômeno do cangaço do mero "contar casos".

FUNDAMENTOS DE ARTE MARCIAL APLICÁVEIS À GUERRA ELEITORAL



“Em combate, conheça o ritmo do inimigo, utilize um ritmo que ele não possa prever, perturbe-lhe o ritmo e vença” (“GAIJIN”; Marc Olden).

ENÉZIO LEITE, IRMÃO CAÇULA DE MASSILON


Enézio Leite

Fotografia de Enézio Leite quando jovem, irmão caçula de Massilon, o único dos irmãos que voltou a ver, em Imperatriz, no Maranhão, muitos anos depois da década de 20, Manuel Leite, o "Pinga-Fogo". 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

"NÓS NOS OMITIMOS, CONSENTIMOS E NÃO FAZEMOS NADA!"


1.bp.blogspot.com

Deu no blog de Noblat

oglobo.globo.com/noblat

"Do leitor que se assina Oswaldo Cruz Gribel:

Noblat: você disse na sua coluna de hoje: “Só prendendo”. O grande, imenso problema do país é a falta de justiça, piso para todos os outros.
Nós, você, eu e todos, permitimos que a falta de justiça seja a vilã da Nação. Falamos em impunidade e, assim, encobrimos o verdadeiro problema.

O Brasil deve ser o país que mais pune no mundo, porém pune os inocentes. Quando um corrupto não vai para a cadeia, e o STF jamais mandou um que seja, a criança que acabou de nascer é a punida porque vai beber menos 40% de leite do que poderia para pagar imposto e eles desviarem.

O jovem com um ensino de pior qualidade, os adultos com falta de segurança. Estrutura, saneamento etc, os idosos com a nossa péssima Saúde.

Quando o Pimenta Neves fica solto, a vítima é a punida, os parentes e amigos da vítima também. Para não punir um criminoso punimos inúmeros inocentes.

O Fantástico mostrou que no Brasil o número de vítimas de trânsito é uma catástrofe e, mostrou também que, até hoje, apenas um foi punido e porque os parentes da vítima mobilizaram os vizinhos para pressionar o julgamento.

Disse, ainda, que na Alemanha, onde não existe limite de velocidade, as pessoas seguem as placas e quase não há acidentes. Pudera, lá eles sabem que são responsáveis pelos seus atos e que por eles responderão com rigor.

Aqui, um juiz que matou um empregado de supermercado com um tiro nas costas porque ele não quis abrir o estabelecimento exclusivamente para ele, foi apenas aposentado.

Nós admitimos que assim seja, nós nos omitimos, nós consentimos, nós não fazemos nada como se não fosse conosco, até o dia que a injustiça bata à nossa porta.

Aí choramos, pedimos justiça, tentamos mobilizar a sociedade. Mas é tarde. Não criamos o hábito de justiça que é uma virtude neutra.

Justiça não é só para mim, para os meus. Caso não façamos nada hoje, legaremos o caos para as futuras gerações e a culpa será nossa, os omissos.

"QOHÉLET" (O ECLESIASTES)


i.s8.com.br

Capa de "Qohélet", Haroldo de Campos

“QOHÉLET” / O Que Sabe (Eclesiastes), poema sapiencial, “transcriado” por Haroldo de Campos, com a colaboração especial de Jacó Guinsburg, coleção “Signos”, 2ª edição, editora Perspectiva.

Segundo Guinsburg (...) “Buscando na fonte original do hebraico a locução do verbo bíblico, com os recursos da estética e da crítica de vanguarda, o transpoeta (Haroldo de Campos) comunica, na plenitude da invenção poética, a complexa gama da meditação quase nietzscheana do homem às voltas consigo mesmo e com seu destino”. 
O Eclesiastes:

1. Palavras de Qohélet filho de Davi
rei em Jerusalém

2. Névoa de nadas disse O-que-sabe
névoa de nadas tudo névoa nada

3. Que proveito para o homem
De todo o seu afã
fadiga de afazeres sob o sol

4. Geração-que-vai e geração-que-vem
e a terra durando para sempre

5. E o sol desponta e o sol se põe
E ao mesmo ponto
Aspira de onde ele reponta

6. Vai rumo ao sul
e volve rumo ao norte
Volve revolve e o vento vai
e às voltas revolto o vento volta

7. Todos os rios correm para o mar
e o mar não replena
Ao lugar onde os rios acorrem
para lá de novo correm

8. Tudo tédio palavras
como dizê-lo em palavras
O olho não se sacia de ver
e o ouvido não se satura de ouvir

9. Aquilo que já foi é aquilo que será
e aquilo que foi feito é aquilo que será
e aquilo que foi feito aquilo se fará
E não há nada de novo sob o sol

10. Vê-se algo se diz eis o novo
Já foi era outrora
fora antes de nós noutras eras (...)

Agora, os mesmos primeiros versos do Eclesiastes na Bíblia (Tradução Ecumênica), 1994, aprovada pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, tradução do francês:

1. Palavras de Qohélet, filho de David,
rei de Jerusalém

2. Vaidade das vaidades, diz Qohélet,
vaidade das vaidades, tudo é vaidade.

3. Que proveito tira o homem
de todos os trabalhos com que se
afadiga sob o sol?

4. Uma geração passa, outra vem,
e a terra permanece sempre.

5. O sol se levanta, o sol se põe,
procurando lugar de onde se erguerá
de novo.

6. O vento vai para o sul e vira para o norte,
gira, gira e vai embora,
sempre retoma o seu curso, o vento.

7. Os rios todos correm para o mar
e o mar nunca fica cheio;
para o lugar onde correm os rios,
para lá retornam.

8. Todas as palavras estão gastas,
não se consegue mais dizê-las;
o olho não se sacia do que vê,
o ouvido não se enche do que ouve.

9. O que foi é o que será,
o que se fez é o que se fará:
nada de novo sob o sol!

10. Se algo existe de que se possa dizer:
“Vede, isto é novo!”,
- já existe desde os séculos
que houve antes de nós (...)

O JORNAL "O GLOBO" PERGUNTOU, JOAQUIM BARBOSA RESPONDEU


abobado.files.wordpress.com

Joaquim Barbosa

Transcrito do blog CHICO BRUNO Política e Cia. Iltda (03/01/2010)

http://www.chicobruno.com.br/

"Qual a opinião do senhor sobre os movimentos sociais no Brasil?

 JOAQUIM: Temos um problema cultural sério: a passividade com que a sociedade assiste a práticas chocantes de corrupção. Há tendência a carnavalizar e banalizar práticas que deveriam provocar reação furiosa na população. Infelizmente, no Brasil, às vezes, assistimos à trivialização dessas práticas através de brincadeiras, chacotas, piadas. Tudo isso vem confortar a situação dos corruptos. Basta comparar a reação da sociedade brasileira em relação a certas práticas políticas com a reação em outros países da America Latina. É muito diferente."

A BÍBLIA


files.iprenoagape.webnode.com

A Bíblia

“Sobretudo, no caso, se tivermos presente a hipótese do poeta visionário William Blake, segundo a qual a Bíblia é o ‘grande código’ da arte (da literatura) ocidental, hipótese endossada e elaborada criticamente por Northop Frye”(“Qohélete”; Haroldo de Campos).

domingo, 10 de janeiro de 2010

JUSTIÇA BRASILEIRA

Deu no blog de Reinaldo Azevedo:

"O TEXTO DE UMA JUÍZA E UMA FOTO ESCANDALOSA

Domingo, 10 de janeiro de 2010

Ontem, na página Tendências/Debates da Folha, uma juíza chamada Kenarik Boujikian Felippe escreveu um artigo defendendo com veemência a tal Comissão da Verdade e a punição aos torturadores. Mandaram-me trechos do artigo e eu chutei cá com os meus botões: aposto que ela pertence àquela tal Associação Juízes para a Democracia. Na mosca! É co-fundadora e secretária da associação. A tese da valente magistrada é que pode haver punição mesmo na vigência da Lei da Anistia, que não precisa ser extinta, porque a tortura não está entre os “crimes políticos e conexos” para os quais se prevê o perdão… Ah, bom! A esquerda brasileira sempre nos dando lições, não é? Cesare Battisti, o terrorista-fetiche de Tarso Genro, cometeu, segundo o ministro, “crime político”; já os torturadores teriam cometido crime comum, que não se enquadra na categoria de “conexo”. Já os atos terroristas da esquerda eram, claro!, crimes políticos. Os argumentos são conhecidos, e já os contestei, creio, mais de uma centena de vezes. Vou demonstrar qual é a praia de Kenarik de outro modo. Vejam esta foto. Volto em seguida.




Viram? Aquele que está no centro, de barba, segurando um quadro é João Pedro Stedile, o chefão do MST, o movimento viciado em cometer crimes - na VEJA desta semana, ficamos sabendo que os sem-terra se transformaram agora em contumazes desmatadores da Amazônia. E o que ele faz ali? Ora, está recebendo uma homenagem da ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA!!!

Sim, vocês entenderam direito. Os bravos magistrados da dita-cuja resolveram homenagear o MST pelo conjunto da obra. Kenarik é aquela senhora de vestido preto e braços cruzados ao lado de Stedile. Se quiser mais detalhes, vá à página do próprio MST.

Reparem: a tarefa de um juiz é, afinal de contas, julgar. E isso significa que os próprios atos do MST podem ser objeto do seu escrutínio. Se for um desses valentes da tal associação, já conhecemos o veredito antes mesmo de conhecer o caso ou a causa. Homenagear o movimento significa endossar os seus métodos, endossando também os seus crimes.

Uma das coisas encantadoras dessa foto é aquele rapaz ao lado de Kenarik ostentando a camiseta com a palavra “Cuba”. Cuba é aquele país em que a oposição está na cadeia, onde a tortura a presos é, na prática, uma política de estado.

Kenarik, em sua sede implacável de justiça, não se constrange em aparecer nesse retrato, como se vê. Não custa lembrar que o decreto dos Direitos Humanos, em defesa do qual ela escreveu, extingue, na prática, a propriedade privada e cria uma categoria acima dos juízes."

JOAQUIM BARBOSA


notasjudiciosas.files.wordpress.com

Joaquim Barbosa

Judiciário tem responsabilidade pela corrupção, diz ministro do STF

Publicada em 02/01/2010 às 19h02m

O Globo

RIO - O ministro Joaquim Barbosa, do STF, se revela descrente da política e deixa clara sua dificuldade para escolher bons candidatos quando votar nas eleições de 2010. Além disso, é um crítico feroz da Justiça: "O Judiciário tem parcela grande de responsabilidade pelo aumento da corrupção em nosso país", disse, em entrevista a Carolina Brígido, publicada na edição deste domingo do GLOBO.

- O Judiciário teria de ser reinventado - afirmou.

Joaquim Barbosa, há dois anos, ganhou notoriedade por relatar o processo do mensalão do PT e do governo Lula. Em 2009, convenceu os colegas a abrir processo contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) para apurar se ele teve participação no mensalão do PSDB mineiro. Nesta entrevista, o ministro não quis comentar o mensalão do DEM, que estourou recentemente no governo de José Roberto Arruda, do Distrito Federal.

O GLOBO: O senhor é descrente da política?

JOAQUIM: Tal como é praticada no Brasil, sim. Porque a impunidade é hoje problema crucial do país. A impunidade no Brasil é planejada, é deliberada. As instituições concebidas para combatê-la são organizadas de forma que elas sejam impotentes, incapazes na prática de ter uma ação eficaz.

O GLOBO: A quais instituições o senhor se se refere?

JOAQUIM: Falo especialmente dos órgãos cuja ação seria mais competente em termos de combate à corrupção, especialmente do Judiciário. A Polícia e o Ministério Público, não obstante as suas manifestas deficiências e os seus erros e defeitos pontuais, cumprem razoavelmente o seu papel. Porém, o Poder Judiciário tem uma parcela grande de responsabilidade pelo aumento das práticas de corrupção em nosso país. A generalizada sensação de impunidade verificada hoje no Brasil decorre em grande parte de fatores estruturais, mas é também reforçada pela atuação do Poder Judiciário, das suas práticas arcaicas, das suas interpretações lenientes e muitas vezes cúmplices para com os atos de corrupção e, sobretudo, com a sua falta de transparência no processo de tomada de decisões. Para ser minimamente eficaz, o Poder Judiciário brasileiro precisaria ser reinventado.