Honório
de Medeiros
JÚLIO PORTO
É aqui que entra em cena o misterioso Júlio Porto,
de Aurora, no Ceará, mesma cidade onde nascera e exercia enorme influência
política o Coronel Isaías Arruda.
Em 1927 Júlio Porto tem vinte e três anos de idade. Júlio
Porto não era Porto. Seu verdadeiro nome era Júlio Sant’anna de Mello. O “Porto”
viera de sua estreita ligação com Martiniano Porto, por sua vez fidalgote nas
terras do Apodi, e inimigo sangue-a-fogo do Coronel Francisco Pinto.
Martiniano Porto era relacionado por laços de
interesse recíprocos com Tylon Gurgel e Benedito Saldanha[1]
- futuro Prefeito daquela cidade -, todos ferrenhos opositores do Coronel
Francisco Pinto. Tylon Gurgel era sogro de Décio Hollanda, e, Benedito
Saldanha, protetor de Massilon Leite no Ceará, fronteira com Apodi, que se
considerava “afilhado” de seu irmão, o Coronel Quincas Saldanha.
Júlio Porto[2]
deve ter sido o elo de ligação entre os inimigos políticos dos Coronéis
Francisco Pinto e Rodolpho Fernandes, e o Coronel Isaías Arruda[3],
pelo fato de ser de Aurora[4].
Ele está presente em todos os momentos cruciais ligados à invasão de Apodi e
Mossoró.
Sendo de Aurora, Ceará, com certeza conhecia José
Cardoso, proprietário da Fazenda “Ipueiras”, parente e aliado do Coronel Isaías
Arruda. A ele apresentou Décio Hollanda, genro de Tylon Gurgel, amigo e
correligionário de Martiniano Porto e Benedito Saldanha. Dissera a Décio
Hollanda, representante do consórcio político contrário aos Coronéis Francisco
Pinto e Rodolpho Fernandes, talvez, que José Cardoso era o homem certo para se
chegar ao Coronel Isaías Arruda e, através dele, a cangaceiros e jagunços a
serem comandados por Massilon.
Temos, então, finalmente: Brejo do Cruz; Apodi;
Aurora; Mossoró. A malha se fechou, mas se expandiu. Reforçou-se.
Outro indício do projeto oculto de matar o Coronel Rodolpho
Fernandes quando da invasão de Mossoró é não ter sido o Coronel Isaías Arruda o
idealizador do ataque à cidade e a Apodi, como já visto. Ele planejou,
obviamente, e deu apoio logístico, mas a idéia lhe veio trazida de fora,
trazida por Décio Hollanda, assim como a ele foi levado Massilon, a quem
entregariam o comando do ataque, em decorrência da sua ligação com os Coronéis Quincas
e Benedito Saldanha, líderes e mentores do consórcio político oposicionista.
Foi Décio Hollanda o emissário e era um dos
beneficiários, na medida em que o ataque a Apodi, para ele, supostamente[5],
eliminaria o Coronel Francisco Pinto, inimigo pessoal e político seu e do seu
sogro.
Uma vez que o ataque a Apodi deu certo, o Coronel Isaías
Arruda foi convencido facilmente por Massilon a atacar Mossoró. Também já foi
dito, aqui, que com a mentalidade rapace da qual era possuidor, percebeu o
Coronel Isaías que sairia ganhando de qualquer forma com o episódio: aceitou
planejar a empreitada, aproveitar a presença e CONVENCER LAMPIÃO, fornecer
armas e munição, posto que com isso nada tinha a perder.
Relembrando,
a partir de Sérgio Dantas[6]:
Em dias de
abril daquele ano[7],
o sinistro caudilho[8]
recebera importante solicitação. Décio Holanda – destacado fazendeiro do
município de Pereiro, no Ceará – pediu-lhe que colocasse a “cabroeira”
particular a seu serviço, posto que planejava tomar de assalto a cidade de
Apodi, no Estado vizinho.
CONTINUA...
PARA ENTENDER ESTE TEXTO É
CONVENIENTE LER OS TEXTOS ANTERIORES POSTADOS EM www.honoriodemedeiros.blogspot.comPROCURE
Cangaço, DENTRE OS Marcadores, E LEIA TUDO QUANTO FOI ESCRITO ANTES
ACERCA DO TEMA.
[1] Do pesquisador Marcos Pinto,
acerca de Décio Hollanda, Benedito Saldanha, e Tylon Gurgel, recebi a seguinte
correspondência eletrônica: historiador Marcos Pinto recebi, em 23 de janeiro
de 2012, a seguinte correspondência eletrônica:
Encontrei um fato por demais
interessante no inquérito/processo que apurou o “FOGO DE PEDRA DE ABELHAS”.
Consta por testemunha firme e valiosa
que DÉCIO HOLLANDA comprou, no começo do ano de 1925, duas mil balas de rifle e
mandou esconder em local que o Capitão Jacintho não conseguiu localizar.
Agora, veja a coincidência: dois anos
(1927) depois consta que Lampião recebeu um suprimento de duas mil balas de
rifle quando se preparava para atacar Mossoró.
Ora, se esta munição não foi gasta nem
apreendida pelo Capitão Jacintho, é a mesma que Décio conduziu, em caixões
muito bem disfarçados, “escanchados” em lombos de burro, segundo octogenários
que ainda hoje comentam o episódio em Felipe Guerra.
Estou alinhavando um novo artigo que
terá o seguinte título: “CANGAÇO NO OESTE POTIGUAR – DO FIO DA NAVALHA AO FIO
DA MEADA. Vou provar por A mais B a proteção dada ao cangaceirismo por parte
dos desembargadores FELIPE GUERRA e HORÁCIO BARRETO e do Juiz de Direito JOÃO
FRANCISCO DANTAS SALES, que recebia abertamente, em sua casa em Apodi, Décio
Holanda, Tylon Gurgel e Benedito Saldanha.
JOÃO DANTAS SALES foi transferido, “a
pedido”, para Acari, em 25 de maio de 1925, por instâncias do Governador José
Augusto, que convenceu o então Presidente do Superior Tribunal de Justiça
Estadual, atual TJE.
Acrescente-se que HORÁCIO BARRETO era
sobrinho de JUVÊNCIO BARRETO, que veio de Martins para Apodi em 1915, à convite
de MARTINIANO DE QUEIRÓZ PORTO, para fixar residência e cerrar fileira na
oposição à família PINTO comandada por Tylon Gurgel e seu genro Décio Hollanda.
O Dr. José Fernandes Vieira também
traficou influência em favor do seu sogro Martiniano Porto, sendo certo que, em
1925, o aconselhou a ir residir em Pau dos Ferros.
Observo que os dois mil cartuchos que
foram comprados por Décio Hollanda, o foram em Mossoró, em 1925.
Lembrei-me de outra particularidade: o
Desembargador Horácio Barrêto era sobrinho da esposa (Alexandrina Barrêto) do
Governador do Rio Grande do Norte, Joaquim Ferreira Chaves, que deu apoio
oficial à perseguição policial a Joaquim Correia e aos Ayres em Pau dos Ferros,
em 1919. Horácio e Felipe Guerra foram indicados e nomeados desembargadores por
Ferreira Chaves em 1919.
Felipe Guerra foi candidato e eleito Deputado
Estadual em 1934 na chapa dos “Pelabucho” na qual constava, ainda, Benedito
Saldanha.
[2] Júlio Porto conhecia Mossoró como ninguém. Raul
Fernandes nos relata o seguinte, em “A MARCHA DE LAMPIÃO”; 4ª. Edição; Nota 9
ao Segundo Capítulo: Joanna Bezerra da
Silva, conhecida por Doca, deu-nos uma entrevista interessante: Morava em
Mossoró. Empregada doméstica da casa de José de Oliveira Costa (Costinha
Fernandes), comerciante, sócio da firma Tertuliano Fernandes & Cia. Disse
que Júlio Porto fora por último chofer de caminhão da referida firma. Meses
antes do assalto a Apodi, desaparecera de Mossoró. Vez por outra aparecia à
noite, muito apressado. Entrava pelo portão do fundo do quintal da casa, pedia
café à Doca e sumia. Aconteceu chegar vestido à moda de cangaceiros. Dizia ser
o traje onde trabalhava. Agora basta relacionarmos essa informação com a
carta de Argemiro Liberato e a manchete do jornal “O Mossoroense” anunciando o
futuro ataque à cidade.
[3] Quando invadiram Apodi os cangaceiros deixaram claro que iriam invadir
Mossoró, afirma “O Mossoroense”. Citar nota do jornal.
[4] Em seu depoimento Bronzeado corrobora essa versão,
ao afirmar que: “trabalhava com o senhor José Cardoso, que mora em uma fazenda
do senhor Izaias Arruda chefe de Missão Velha e do qual o Cardoso é primo.
Estava ali trabalhando quando chegou a ordem do senhor Izaías de seguirem para
Apody, afim de fazerem o ataque já conhecido, a convite do senhor Décio
Hollanda, morador em Pereiro. Ele e outros não queriam seguir, mas foram
obrigados. O portador da carta de Décio fora o conhecido ‘chauffeur’ Júlio
Porto, também bandido, que aqui morou” (PIMENTA, Antônio Filemon Rodrigues; “O
CANGAÇO NA IMPRENSA MOSSOROENSE”; Tomo II; Coleção Mossoroense; Série “C”; nº
1.104; 1999; Mossoró).
[5] Décio Hollanda não sabia que Massilon fora
instruído, pelos Saldanha, a não matar o Coronel Chico Pinto quando do ataque a
Apodi. O objetivo oculto de Massilon era desmoralizar e amedrontar o Coronel.
[6] “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”; Cartgraf Gráfica
Editora; 2005; 1ª edição; Natal, RN.
[7] 1927.
[8] Isaías Arruda.
Um comentário:
Amigo, terei que ler com calma se não eu também vou me perder nesta rede de intrigas!!! ... Mas, mande mais!!!...Abraço!!
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