sexta-feira, 9 de setembro de 2011

AINDA LEMBRANÇAS DA POLÍTICA

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Colégio Diocesano Santa Luzia


Honório de Medeiros


                                      Não saberia dizer quando começou meu fascínio pela política, e não confundo este estado-de-espírito com as lembranças doloridas das campanhas do passado em Mossoró que o presente insiste em não sepultar. Teria sido na Mossoró de minha meninice, quando meu pai, lacerdista de carteirinha, punha-me em sua frente e, sentado à cadeira de balanço, escutava e aplaudia meus discursos infantis sem nexo? Ou, quem sabe, teria sido quando nos serões familiares iluminados pelos candeeiros de gás em Tibau, nas férias de final-de-ano, falava-se em antepassados políticos e aventureiros da fortuna que levaram consigo, ao morrer, a antiga glória dos Fernandes?

                                      Teria sido a estranha amizade e admiração nascida por meu tio-avô André Fernandes, General de Exército de brilhante carreira – único a chegar a esse posto tendo começado como soldado raso - e ex-deputado federal, a quem atribuíam ter caído em desgraça por sua lealdade não ao político, mas ao ex-Presidente João Goulart, de quem era sub-chefe da Casa Militar, na hora de sua queda e que, próximo aos 70, vinha todos os anos a Tibau e fazia questão de me levar consigo, eu, menino, para ser seu companheiro nas suas longas e silenciosas caminhadas matinais? Como não admirar alguém que assumia contornos heróicos ante meus olhos espantados com feitos tais como ter passado um ano inteiro sem sorrir unicamente para testar sua autodisciplina?    

                                      Talvez, no entanto, nada tenha sido tão importante quanto ter convivido com a “turma da janela”, na 4ª Série “A” Ginasial do Colégio Diocesano Santa Luzia. Era 1972 e nós – eu os nomeio para homenagear a saudade -, Fernando Negreiros, Jânio Rêgo, Paulo Maia, Segundo Paula, Benjamim Júnior, Monte Júnior – tão precocemente desaparecido, e Chaves Júnior, no intervalo das aulas, todos praticamente na faixa dos 14 para 15 anos, invariavelmente tínhamos discussões intensas, apaixonadas, acerca de política. Ali, naquele tempo, espontaneamente, aprendíamos a debater, e, em decorrência, a argumentar: nós ficaríamos reféns da tarefa de nos mantermos atualizados e expor claramente tudo quanto pensássemos, sob pena de sermos contraditados furiosamente. As diferenças políticas entre nossos pais não nos contaminavam. Éramos grandes amigos e não sabíamos.

                                      Ou, então, quem sabe, teria sido o eco longínquo e estranho da luta subterrânea que se travava nos grandes centros, aureolado por aquela palavra que somente falávamos, por um temor muito natural, em voz baixa e entre iguais: “comunismo”. Era o tempo de se deitar no patamar da Igreja de São Vicente e, à meia-noite, de papo-pro-ar, ouvirmos a transmissão da Rádio de Moscou, que somente Janiro Rêgo sabia localizar, para o Brasil. Comentávamos as prisões de mossoroenses que lutavam contra os militares e as cassações dos políticos de oposição no Rio Grande do Norte.

                                      Não havia ainda qualquer leitura ideológica, naquele tempo. Embora fôssemos leitores vorazes, estávamos mergulhados em plena literatura. Não nos passava pela cabeça, e não havia alguém que nos doutrinasse, ler Marx ou quem quer que fosse dessa área. Na época, eu começava a me interessar pelos franceses e devorava Victor Hugo e sua obra completa, e me preparava para ler uma coleção com as principais obras dos prêmios Nobel, todos de “Seu” Luis Fausto Paula de Medeiros, meu vizinho: quem, hoje, se lembra de Knut Hamsun, autor de “Fome”? A biblioteca de Jaci Rêgo, a biblioteca de Ida Marcelino, a biblioteca de Chico Sena... A biblioteca do Diocesano!

                                      O certo é que eu já estava envolvido, seduzido pela Política e não sabia, no final da minha adolescência. Assim não foi difícil, ao chegar em Natal, indo estudar na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, em 1974, entrar na política estudantil. Fiz política estudantil na Etfrn, fiz no Churchill, fiz no Curso de Matemática, fiz no Curso de Direito. De Mossoró eu trouxera essa paixão que nascia; o afeto pelo jogo de xadrez; o amor eterno, perene, pelos livros, e uma timidez com a qual eu lutaria e luto, sem tréguas, e vou lutar, pelo resto da vida.

Um comentário:

Angelo Mario de Azevedo Dantas disse...

Amigo Honório, mais uma excelente abordagem.
Fiquei curioso para saber: você é sobrinho neto do patrono do &º batalhão da PM em Pau dos Ferros?