quinta-feira, 30 de junho de 2022
FLANAR
quarta-feira, 29 de junho de 2022
A SEMENTE DO MAL, UMA ALEGORIA
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
3,3 Mas
do fruto da aárvore que
está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para
que não morrais.
3,5 Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos aolhos, e sereis como Deus, bconhecendo o bem e o mal.
quarta-feira, 15 de junho de 2022
DO QUE VOCÊ DEVE DESCONFIAR QUANTO AO DIREITO
Do descobrimentopoetico.blogspot.com
segunda-feira, 16 de maio de 2022
A NOITE, OS MOSQUITOS E A LUA
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
(honoriodemedeiros.blogspot.com)
sexta-feira, 1 de abril de 2022
BORGES E DUMAS, PASSANDO POR CARLYLE
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Em Ficções, Borges pondera:
“Desvario laborioso e empobrecedor o de compor vastos livros; o de explanar em quinhentas páginas uma idéia cuja exposição oral cabe em poucos minutos. Melhor procedimento é simular que estes livros já existem e apresentar um resumo, um comentário. Assim procedeu Carlyle em "Sartor Resatus" (...) Mais razoável, inepto, ocioso, preferi a escrita de notas sobre livros imaginários."
Borges cita Carlyle, de quem, possivelmente absorveu a técnica.
Entretanto Dumas pai, que foi contemporâneo do célebre ensaísta inglês, também a utilizou.
Em Os Quarenta e Cinco, lá para as tantas, ao relatar uma correspondência imaginária enviada por Chicot a Henrique III, e comentar a excentricidade do seu estilo, convida: “Quem quiser ter conhecimento dela encontra-la-á nas Memórias de l’Étoile”.
Ou, quem sabe, terão existido mesmo essas Memórias de l’Étoile e elas
ocupam algum escaninho empoeirado do “Cemitério dos Livros Esquecidos” que
Carlos Ruiz Zafón localizou em Barcelona, na saborosa e definitiva tetralogia iniciada com A Sombra do Vento?
Só o vento sabe a resposta...
quarta-feira, 23 de março de 2022
ESSÊNCIA IMUTÁVEL, FORMA EVANESCENTE
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Não há nada de novo sob o sol. Seguimos aparentemente em frente para destino ignorado, permanecendo os mesmos de tanto tempo atrás, enquanto as formas, os instrumentos, e os meios que são criação nossa, mas dos quais somos reféns para lidarmos conosco, os fenômenos e as coisas, tornam-se cada vez mais complexos e fugazes, em uma espiral, um "vir-a-ser", como diria Nietzche, de proporções incalculáveis.
Essência imutável, forma evanescente.
Leio em Os Crimes de Paris, de Dorothy e Thomas Hoobler, acerca de Vidocq, um personagem maior que sua vida. "Depois de cometer vários crimes na juventude, trocou de lado e se aliou à polícia. Foi o primeiro chefe da Sureté, o equivalente francês do FBI, e modelo para vários personagens da literatura", dizem-me eles.
Fascínio antigo esse meu por Vidocq. Camaleônico, sofisticado, indecifrável, também foi o criador da primeira agência de detetives do mundo, o "Bureau de Reinseignements", ou Agência de Inteligência. Que outro, além de um francês, criaria uma agência de detetives com esse nome?
Vidocq inspirou Maurice Leblanc na criação do célebre “Arsène Lupin, O Ladrão de Casaca”, que eu lia, fascinado, na adolescência, graças à bondade de um colega de ginásio, na Mossoró, minha Macondo particular, que não existe mais, pelo menos neste plano.
Inspirou, também, além de muitos outros, tais como Alexandre Dumas, Victor Hugo e Eugène Sue, o ainda mais célebre personagem de Balzac, Vautrin, presente em vários livros da Comédie Humaine.
Vautrin, o mesmo que em certo momento, lá para as tantas, explica o mundo:
"-E que lodaçal! - replicou Vautrin. - Os que se enlameiam em carruagens são honestos, os que se enlameiam a pé são gatunos. Tenha a infelicidade de surrupiar alguma coisa e você ficará exposto no Palácio da Justiça como uma curiosidade. Furte um milhão e será apontado nos salões como um modelo de virtude. Vocês pagam 30 milhões à polícia e à justiça para manter essa moral... Bonito, não é?"
Assim falava minha mãe: "vão-se os anéis, permanecem os dedos..."
sexta-feira, 18 de março de 2022
APRENDER A APRENDER
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
1) APRENDEMOS quando nos defrontamos com um problema, qualquer que seja ele.
Como observa Karl Raimund Popper, "cada problema surge da
descoberta de que algo não está em ordem com nosso suposto conhecimento; ou
examinado logicamente, da descoberta de uma contradição interna entre nosso
suposto conhecimento e os fatos; ou, declarado talvez mais corretamente, da
descoberta de uma contradição aparente entre nosso suposto conhecimento e os
supostos fatos."
a) Esse problema pode ser inesperado, e não por outra razão a sabedoria
popular diz: “a necessidade é a mãe da invenção”;
b) ou esse problema pode ser provocado:
b.1) quando problematizamos as coisas e/ou os fenômenos pois, tal qual
nos disse Gaston Bachelard, “O conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão”;
b.1.1) sempre por intermédio da contra-argumentação, utilizando o
contraexemplo, para testar nossas teorias que tentam solucionar o problema.
2) QUALQUER problema é, antes de tudo, algo puramente racional, uma
questão intelectual, mesmo quando surge no âmbito de um trabalho puramente
mecânico.
a) Se constatamos a existência de um problema, é porque temos um conhecimento anterior a ele, que nos permite essa constatação.
3) Para tentar uma solução que resolva o problema, elaboramos teorias
que são soluções provisórias a serem testadas.
a) Os testes, ou o teste, dirão se erramos ou acertamos;
b) Até mesmo o erro nos ensina, posto que não precisamos mais trilhar o
mesmo caminho já tentado, e aprendemos o que não é certo para a solução do
problema.
4) SE o conhecimento é retificável, ou seja, pode ser modificado, é evolutivo, no sentido de que caminha sempre do mais simples para o mais complexo.
5) O conhecimento pode, então, ser compreendido como um “vir-a-ser” de complexidade cada vez maior.
6) A recusa em problematizar tudo quanto percebemos como um problema, conduz a neuroses. Aqui se compreenda essa recusa como uma fuga do problema com o qual alguém se defrontou.
7) O como dizemos algo a nós mesmos, ou aos outros, acerca do que
aprendemos é papel da Retórica: podemos tentar convencer ou seduzir tanto ao outro
como a nós mesmos.
8) NÃO é possível comparar INFORMAÇÃO com CONHECIMENTO: quando conheço, estou informado, mas, nem sempre, quando estou informado, conheço. Posso estar informado de algo sem compreendê-lo.
terça-feira, 8 de março de 2022
DO PERMANENTE NO IMPERMANENTE
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022
A ÚLTIMA DAS ESTAÇÕES DA VIDA
* Honório de Medeiros
* honoriodemedeitos@gmail.com
Estamos cansados. Encenamos uma peça que não escolhemos, no teatro da vida, com parceiros que nos impuseram ou não soubemos selecionar, e uma finalidade que não é aquela que nosso coração escolheria. A razão ansiosa, sim, o coração, não. Lutamos pela admiração alheia, deixando de lado o olhar melancólico do nosso verdadeiro eu, que nos olha do espelho com olhos surpresos pelos nossos fracassos. E, quando menos esperamos, o tempo passou, tudo aquilo pelo qual valia a pena viver se foi como uma bolha de sabão ao sabor do sol, porque chegou o inverno, a última das estações da vida...
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022
SEU ANTÔNIO DE LUZIA E OS TEMPOS DE ONTEM E DE HOJE
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
A VERDADE CAMBALEIA
* Honório de Medeiros.
(honoriodemedeiros@gmail.com)
quarta-feira, 12 de janeiro de 2022
DE LONGE CHEGAVA A VOZ DE ALTEMAR DUTRA CANTANDO...
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
SIR KARL RAIMUND POPPER
Sir Karl Raimund Popper
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
terça-feira, 28 de dezembro de 2021
HEGEL: DE UMA LONGA E ÁSPERA CAMINHADA
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
“Senti nesse texto como
se estivesse testemunhando o início da sua caminhada no curso de Direito,
quando você passou por um dilema que eu mesma vivi e vi muitos dos meus colegas
também passarem: primeiramente, a criação de um ideal que permitiria nos enxergarmos
como um verdadeiro aluno de direito, e nos fazia trabalhar em tarefas
auto-impostas para alcançar esse patamar também auto-imposto, e, em segundo
lugar, enxergar a situação do embate entre o que conhecemos e respeitamos e o
que somos apresentados e queremos respeitar. Eu não tinha noção da importância
de Hegel, e gostei de aprender sob sua influência, acerca da visão que os
outros autores tinham dele e de sua obra. Também achei que o texto acabou
mostrando de uma maneira muito delicada como é essa “jornada” do saber: inquietar-se,
questionar-se e a presença constante da mudança de percepções”.[1]
No final dos anos 80,
início dos 90 dediquei-me a estudar Hegel.
Peguei meu exemplar do Princípios da Filosofia do Direito, cuja primeira
edição é de 1918, e me lancei na empreitada, mesmo a contragosto, ante a
dificuldade de compreender o pensamento do autor, que se expressava em uma
linguagem deliberadamente abstrusa.
Fichte, a quem se atribui
ter sido a ponte entre Kant e Hegel, era ainda pior, mas eu acreditava que era
uma espécie de dever moral um estudante de Direito e do marxismo conhecer sua
obra.
A duros custos cheguei lá,
dadas as dificuldades que o texto, em si, e que são grandes, propunham, e do
qual o parágrafo abaixo é um bom exemplo:
O domínio do direito é o espírito em geral; aí, a sua
base própria, o seu ponto de partida está na vontade livre, de tal modo que a
liberdade constitui a sua substância e o seu destino e que o sistema do direito
é o império da liberdade realizada, o mundo do espírito produzido como uma segunda
natureza a partir de si mesmo.
Quanto mais lia, menos conseguia
esquecer a opinião que de Hegel tinha Schopenhauer, por quem nutro grande
admiração.
Para que se tenha uma
ideia dessa opinião, lembro a afirmação de Schopenhauer, citando Shakespeare (Cimbelina,
ato V, cena 4), em sua Vontade da Natureza, que a filosofia de Hegel era
"uma conversa de loucos, vinda da língua e não do cérebro".
Em O Mundo Como Vontade e Representação, Schopenhauer não deixou por menos:
Hegel, imposto de cima pelos poderes vigentes, como o
Grande Filósofo oficializado, era um charlatão de cérebro estreito, insípido,
nauseante, ignorante, que alcançou o pináculo da audácia por garatujar e
fornicar as mais malucas e mistificantes tolices. Essas tolices foram
barulhentamente proclamadas como uma sabedoria imortal, por seguidores
mercenários, e prontamente aceitas como tal por todos os tolos, que assim se
juntaram num coro perfeito de admiração, como nunca antes se ouvira.
Existe muito mais de
Schopenhauer em relação a Hegel, mas é o suficiente. Além dele, também da mesma
época há, por exemplo, Soren Kiekergaard, autor de O livro do Juiz,
crítico severo de seu historicismo, e citado por Sir Karl Raymund Popper
em A Sociedade Aberta e Seus Inimigos:
Houve - escreve Kierkegaard - filósofos que tentaram,
antes de Hegel ... explicar a história. E a Providência só podia sorrir ao ver
tais tentativas. Mas a Providência não se ria às escâncaras, pois havia neles
sinceridade e honestidade humanas. Mas Hegel!... Aqui preciso da linguagem de
Homero. Como os deuses gargalharam trovejantemente! Esse pequenino e horrendo
professor compreendeu simplesmente a necessidade de cada uma e de todas as
coisas que existem, e agora executa em seu hormoniozinho toda a peça: “Escutai,
deuses do Olimpo!”
Sir Karl Popper comenta a
citação dizendo que as expressões de Kierkegaard são quase tão fortes quanto as
de Schopenhauer, quando afirma, um pouco depois, que o hegelianismo, "esse
brilhante espírito de podridão, é a mais repugnante das formas de licenciosidade,
mofo de pompa, e possui um infame esplendor de corrupção".
Ainda em A Sociedade
Aberta e Seus Inimigos, Sir Karl Popper, lá para as tantas, se pergunta a razão
pela qual ainda precisamos nos incomodar com Hegel:
A resposta é que a influência de Hegel permaneceu como
força poderosíssima, apesar do fato de que os cientistas nunca o levaram a
sério (...) A influência de Hegel e especialmente a do seu jargão, é ainda
muito forte em sua filosofia moral, e social, como nas ciências sociais e
políticas (com a única exceção da economia). Especialmente os filósofos da
história, da política e da educação, ainda estão sob seu império, em ampla
extensão. Em política isso é mais amplamente mostrado de que tanto a ala
extrema marxista, assim como o centro conservador e a extrema direita fascista
baseiam suas filosofias políticas em Hegel; a ala esquerda substitui a guerra
de nações que aparece no esquema historicista de Hegel pela guerra de classes;
a extrema direita substitui-a pela guerra de raças; mas ambos o seguem mais ou
menos conscientemente (o centro conservador é, em regra, menos consciente do
que deve a Hegel).
Mesmo assim li Hegel.
Conclui minha tarefa autoimposta. Ter continuado a estuda-lo me permitiu, algum
tempo depois, procurar entender a ligação entre a dialética de Heráclito de
Éfeso, a de Hegel, com sua “Filosofia da Identidade”, e a de Marx. Fez-me capaz,
certo ou errado, de conectar esse entendimento com a “Teoria da Evolução”, por
intermédio da “Teoria do Meme”, exposta por Sir Richard Dawkins em O Gene
Egoísta.
Permitiu-me, por fim, compreender que sem a ciência qualquer teoria acerca de fatos históricos é mera especulação. Quanto à Filosofia, é pura metafísica, delírio da Razão.
terça-feira, 30 de novembro de 2021
QUE FAZER?
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
terça-feira, 9 de novembro de 2021
O QUE NOS RESERVAVA CADA CAMINHO QUE NÃO PERCORREMOS?
* Honório de Medeiros
honoriodemedeiros@gmail.com
O JUSTO NÃO ESTÁ FORA DE MIM
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
O nominalismo de Guilherme de Ockham questionou a possibilidade de as Coisas (“a Coisa-Em-Si”, “ o Objeto”, “o Ser”, “a Realidade”) dizerem, ao Sujeito Cognoscente, aquilo que elas são, dizerem suas essências.
Ou seja, nós é que, enquanto demiurgos, ordenamos, organizamos, nominamos aquilo que nossos sentidos apreendem de forma caótica a partir do nosso conhecimento pré-adquirido.
Lemos acerca disso em Kant, Gaston Bachelard, Karl Popper...
Por outra, nominamos relações, processos, evanescências; não há coisas a serem nominadas. As coisas são processos.
Podemos rastrear tal concepção, de certa maneira, até o relativismo sofista de Protágoras de Abdera; Antístenes versus Platão; mesmo, talvez, até Parmênides.
O nominalismo também impede a fenomenologia de Henri Bergson e Edmund Husserl e a pretensão de uma hermenêutica cujo objetivo seja “compreender”: não é o termo “salinas” (lugar onde se cultiva sal) que me diz algo; eu é que digo algo dele, a partir do conhecimento que já possuo.
Assim, o Justo não está fora de mim, é uma construção pessoal e tem a minha medida, e isso ocorre com tudo quanto não esteja sob o domínio da ciência.
Thomas Nagel, em Visão a Partir de Lugar Nenhum (Martins Fontes), observa que “Chomsky e Popper rechaçaram as teorias empiristas do conhecimento”.
Não há essência a ser apreendida, Platão estava
errado, os sofistas estavam certos.
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
CETICISMO, AUTOCRÍTICA E INCONFORMISMO
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
O apático moral é um cético, mas nem todo cético é um apático moral. Aquele que não o é pode abraçar o inconformismo.
Nesse caso o ceticismo inconformista seria uma forma deliberada de interagir conosco mesmo e com tudo quanto nos envolve. Seria uma arma para se defender contra o pântano do "status quo", e ir além do que foi estabelecido ruinosamente.
Ceticismo somente, não: conduz à apatia moral. No ceticismo inconformista, duvidamos, questionamos, e nos manifestamos.
Mas é preciso cuidado: não é somente o Outro que não sabe; o cético inconformista também não sabe, embora saiba que não sabe. Não custa nada acendermos uma vela em homenagem a Sócrates.
Autocrítica e ceticismo inconformista: o primeiro para nos colocar em nossos reais limites; o segundo, para colocar os outros em seus limites reais.
quinta-feira, 4 de novembro de 2021
CADA HOMEM HOJE É UMA ILHA
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
O mundo está se fragmentando.
Cada homem, hoje, é uma ilha.
Uma ilha em permanente guerra contra as outras.
Tudo quanto formava a unidade entre as pessoas, como a crença em Deus, a fé na Razão, a vida comunitária, se desfaz lentamente.
Não nos damos mais as mãos, exceto quanto temos algum interesse a alcançar.
O altruísmo morre lentamente, prevalece o egoísmo.
Todos são, individualmente, desde algum tempo, donos de uma verdade única, e agem como se quem não concordasse consigo fosse um inimigo a ser destruído.
Breve esse
individualismo exacerbado, que se firma nos nossos defeitos, e não no que nos
engrandece, há de nos conduzir para uma realidade na qual cada um será por si,
e ninguém por todos.
Então, será o fim.
segunda-feira, 18 de outubro de 2021
TODAS AS COISAS TRAZEM CANSAÇO
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
sexta-feira, 24 de setembro de 2021
VONTADE, LIBERDADE, VERDADE
Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Hannah Arendt nos encaminha, em Responsabilidade e Julgamento, à noção de que devemos a Paulo a ideia de “Vontade”. Paulo, tão crucial para a construção da doutrina da Igreja Católica, o verdadeiro fundador da filosofia cristã, com sua Carta aos Romanos.
Lê-se, em sua Carta aos Romanos, um momento antológico do processo civilizatório: “Assim, o que realizo, não o entendo; pois não é o que quero que pratico, mas o que eu odeio é (o) que faço” (7,19-21).
Terá sido para cumprir tal desígnio, o de fincar o alicerce da doutrina do Cristianismo, a razão pela qual Jesus o interpelou na estrada para Damasco? “Saulo, Saulo, por que me persegues? “Quem és, Senhor?”. “Jesus, a quem tu persegues. Levanta-te, entra na cidade e te dirão o que deves fazer” (Atos 9:5,6).
Sabemos que se deve à “Carta aos Romanos”, a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação (DCDJ), assinada entre a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica Romana em 31 de outubro de 1999, em Augsburgo, na Alemanha.
Também a Carta aos Romanos foi o ponto de partida para a Reforma Protestante: Lutero escreveu seu Comentário aos Romanos em 1515, e nele já se encontra seu pensamento acerca da Justificação.
Arendt nos mostra o percurso intelectual do conceito de “Vontade” no pensamento de Agostinho, tão importante para a filosofia cristã: “Sempre que alguém delibera, há uma alma flutuando entre verdades conflitantes” (Confissões).
A “Vontade” decidirá.
Assim como o mostra em Nietsche e Kant, além de nos pôr a par de que o fenômeno da “Vontade” era desconhecido na Antiguidade, e que sua descoberta deve ter coincidido com a da “Liberdade” enquanto questão filosófica, distinta de um fato político.
Vontade, Liberdade, Verdade.
Fundamental.
sexta-feira, 17 de setembro de 2021
DE UMA QUIETA TENDÊNCIA A NEGAR O BARULHENTO MUNDO
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Isso me conduz à lembrança de meu pai e seus silêncios, sua deliberada omissão em falar acerca do seu passado, seu instintivo jogo retórico no qual se escudava para evitar qualquer manifestação que implicasse em juízos de valor, sua disponibilidade convidativa para escutar quem lhe procurava, ao mesmo tempo em que levava o interlocutor a expor a própria alma, enquanto a dele permanecia resguardada.
Profundamente quieta era sua negação do barulhento mundo, sob o manto da discrição e das palavras comuns, triviais, incolores de tão banais, tudo sabiamente usado. Uma sábia estratégia.
Hoje percebo, enquanto cuido de ir fechando o balanço de minha vida: em certos e raros instantes, uma sóbria colocação de sua parte estabelecia um silêncio que era um golpe profundo na ordem circunstancial das coisas. Feito isso, se recolhia, e voltava à aparente reserva plácida de sempre.
E eu, e nós, que sempre o achamos tão comum! Quanto engano. Como poderia ser assim, ele que sempre foi um sobrevivente, que viveu tantas guerras inglórias e só aparentemente insignificantes?
Quanta arrogância, a nossa, em pensar que podemos conhecer algo ou alguém em profundidade!
Meu pai, aparentemente, sabia muito e percebia que não valia a pena que o ninguém soubesse disso. Ou, então, pensava que saber era um caminho único, áspero, mas intensamente solitário.
E assim viveu seus anos, principalmente os últimos, envolto nesse manto de humildade intelectual que era uma consequência de seus questionamentos mais íntimos, nunca uma predisposição, um intuito hipócrita de galgar atenção.
Quando faleceu, como que despertando de um sonho iniciei a longa caminhada em busca de compreendê-lo, analisando suas palavras e posturas mas, principalmente, seus silêncios tão plenos de uma anônima rica vida interior.
quarta-feira, 1 de setembro de 2021
FILOSOFIA: A ÁRVORE DO CONHECIMENTO
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
O conhecimento pode ser imaginado
como uma árvore cujo tronco repouse no chão ancestral onde o homem
pré-histórico caçava, coletava e, graças à sua primitiva linguagem, bem como à
incipiente capacidade cooperativa, se tornou uma espécie apta a sobreviver.
Não é uma imagem precisa,
tampouco absolutamente correta, mas cumpre seu propósito para ser assimilada.
Os problemas com os quais nossos
antepassados se depararam e as soluções engendradas para ultrapassá-los
formaram galhos, ramos, folhas, em ritmo cada vez maior e mais denso, em uma
escala inimaginável. Cada folha, como é possível perceber, avança rumo ao
infinito desconhecido por um rumo que sugere uma proporcionalidade inversa:
quanto mais específico o conhecimento por ela simbolizada, mais ampla e
profunda a vastidão a lhe servir de contraponto.
Se focarmos essa imagem em busca
de nitidez, podemos acompanhar o desenvolvimento da Matemática, como exemplo,
desde os primitivos números naturais até o cálculo, hoje, de tensores hiper
espaciais, essas projeções hipotético/geométricas interdimensionais.
Podemos acompanhar, também, a
evolução da linguagem até a Babel dos tempos modernos, constituída de signos
bem diferenciados – desde os sinais utilizados pelos surdos-mudos, passando
pelo informatiquês e o idioma dos guetos, presídios, e subúrbios, até a lógica
do sub-universo computacional.
Aliás, o mundo da informática é
muito exemplificativo dessa teoria da árvore do conhecimento. No início, meados
do século XX, um computador ocupava salas; hoje, os “chips” guardam quantidades
colossais de informações.
A imagem da árvore do
conhecimento é possível graças à Teoria da Evolução de Darwin. É, digamos, um
corolário. Podemos perceber que o Conhecimento se diferencia e especializa na
medida em que avança. Sabemos, hoje, quase tudo acerca de quase nada em cada
“nicho” do conhecimento, embora tudo quanto descartado por não ter sobrevivido
ao choque entre ideias conflitantes forme uma contrapartida em negativo da
realidade.
Contrapartida que agrega: aquilo
que descartamos não precisa ser outra vez cogitado.
Assim essa árvore é finita e
limitada (conceitos distintos) no espaço e tempo conhecidos, mas infinita e ilimitada
quanto as suas possibilidades de crescimento. O futuro, para onde ela avança, é
construção do passado, e como cada estrada amplia a quantidade de lugares onde
se há de chegar, cada problema resolvido no processo civilizatório implica na
ampliação de universos de saber.
Ou seja, o tempo, cada vez mais,
dá razão a Darwin.
Funciona assim em termos macro,
mas também em termos pessoais. Cada avanço nosso implica em ampliar o universo
daquilo que não conhecemos. É um paradoxo: quanto mais sabemos, mais há a
saber.
É, por fim, o voo do solitário
para o infinito: “É como se cada um de nós, estando dentro de um ambiente
fechado, uma clausura, criasse uma saída e a utilizasse. Lá, do outro lado da
saída, lhe espera um outro ambiente, também fechado, só que maior, bem maior.
Sua tarefa, assim, é sempre criar outra saída, sair, entrar em outro ambiente
ainda maior, criar outra saída, sempre, em uma escala exponencial...”
Em termos pedagógicos, diria Gaston Bachelard: "todo conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão."
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
DE OUTSIDERS, EXCÊNTRICOS, DIVERGENTES, TRANSGRESSORES, DESVIANTES OU INCONFORMADOS (Quinta Parte)
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
5. Excêntricos e Divergentes
“Cada pessoa devia andar
por aí rezando pela própria Bíblia, ou seja, fazendo suas próprias leis e
fazendo uso de seu livre arbítrio. Mas não é o que tem acontecido” (Mário
Bortolotto, www.digestivocultural.com)
Leonard Mlodinow é doutor em física pela Universidade da
Califórnia, Berkeley. Foi professor no Instituto de Tecnologia da California e
pesquisador no Instituto Max Planck em Munique. Alguns dos seus livros
anteriores são O Grande Projeto e Uma Nova História do Tempo, com
Stephen Hanwking, Ciência x Espiritualidade, com Deepak Chopra, e
sozinho, O Andar do Bêbado, A Janela de Euclides, O Arco-Íris
de Feynmann, e Subliminar. Um currículo impressionante.
Mas é de Elastic (Flexible Thinking in a Time of
Change), que aqui vamos tratar. Especificamente, daquilo que ele denomina
de “pensamento flexível”.
Em síntese, em seu livro, Mlodinow nos diz que “mesmo entre
animais mais complexos, boa parte do comportamento do organismo é
‘roteirizada’, ou seja, pré-programada ou automática e iniciada por algum
gatilho no ambiente”[1],
Ele defende que em certas situações, quando modos
roteirizados não são os mais apropriados para o indivíduo, a evolução
providenciou outros dois meios pelos quais podemos enveredar: o pensamento
racional, lógico, analítico, e o pensamento flexível.
O pensamento analítico seria a forma de reflexão mais
valorizada na Sociedade, apropriado peara analisar as questões mais diretas da
vida, o tipo de pensamento no qual nos concentramos nas escolas, mas que ocorre
de forma linear, e costuma falhar ao enfrentar os desafios inerentes à mudança.
É diante de desafios impostos pela mudança que o pensamento
flexível sobressai.
Desprovido
de direção de cima para baixo do pensamento analítico, e mais motivado pela
emoção, o pensamento flexível se presta sob medida para integrar diversas
informações, resolver enigmas e encontrar novas abordagens para problemas
desafiadores[2].
Dito isso, vamos para um Capítulo muito ousado do seu livro,
intitulado “O bom, o louco e o esquisito”.
Logo no início Mlodinow conta alguns detalhes “anedóticos”
da personalidade de vários “excêntricos” famosos: William Blake, Howard Hughes,
Buckminster Fuller, David Bowie, Nikola Tesla.[3] Hughes, por exemplo,
“tinha o hábito de se sentar nu por horas em seu quarto ‘isento de germes’ no
Beverly Hills Hotel – numa cadeira de couro branca, com um guardanapo cor de
rosa envolvendo os genitais”. Depois se indaga: “Serão apenas anedotas
divertidas ou existe uma relação significativa entre tendência a comportamentos
excêntricos e capacidade de pensamento flexível?”[4]
Temos, assim, o “estranho” que vai suscitar a busca do
“padrão”.
Em seguida ele aborda o histórico da pesquisa científica em
busca da descoberta de um padrão em relação a essa conduta estranha detectada.
E nos informa que tudo começou com um geneticista comportamental, Leonard
Heston, nos anos 60, e seu estudo de crianças oferecidas para adoção por mães
esquizofrênicas, bem como sua descoberta de que “havia uma pequena dose de
esquizofrenia herdada que dotava essas crianças de uma tendência tanto para o
pensamento flexível quanto para um comportamento não conformista”.[5]
Ao longo dos anos muitas pesquisas foram feitas na tentativa
de corroborar essa hipótese. Mlodinow nos diz, em seu livro, que os cientistas
estavam no caminho certo. Questionários aplicados em crianças filhas de mães
esquizofrênicas tendiam a mostrar serem elas tão excêntricas quanto bem-dotadas
de pensamento flexível, sobretudo de natureza divergente.[6]
Entretanto, é bom ressalvar: existe um espectro que explica
até onde essa tendência é salutar. Na base da escala, temos aqueles que têm
inibição cognitiva, com pensamentos e ações convencionais; no topo, temos os
que podem ter dificuldade em se manter coerentes; no meio, entre as duas
extremidades, ficam os que têm uma tendência ao pensamento original e ao
desenvolvimento de um comportamento não conformista.
Por fim Mlodinow adverte que os psicólogos acreditam que uma
das diferenças-chave entre pessoas com personalidades no meio da escala e
aquelas que realmente sofrem de esquizofrenia, está na capacidade de se
concentrar, e de forma mais geral, de aplicar um tipo de inteligência analítica
e ordeira.
E, de forma muito interessante, surge uma conexão entre o
pensamento de Carlyle e o de Mlodinow. Com efeito, se nos perguntássemos de que
“massa” seriam feitos os heróis “condutores de homens, estes grandes homens, os
modeladores, padrões e, em sentido amplo, criadores de tudo o que a massa geral
dos homens imaginou fazer ou atingir”, não é tentador acreditar que Mlodinow
esteja certo quando propõe que foram eles excêntricos, bem-dotadas de
pensamento flexível, sobretudo de natureza divergente?
Homens ou mulheres que ousaram dizer “não”?