Zé Limeira
Desafio Anastácio Mendes Dantas x Zé Limeira, 1951, Fazenda Poço do Juá, Cariri.
Mote: "Você me paga o que tem feito
Com os poetas mais fracos do que eu."
Anastácio:
"Zé Limeira, você cuide em rezar
Que preciso hoje aqui dar-lhe um surrote.
Apresento as virtudes do meu dote
Pra você aprender a me honrar.
Se você resolveu me acompanhar,
Diga logo a esse povo que perdeu,
Um fantasma chegou, lhe interrompeu,
Atraiu sua voz, o verso e o peito...
Você hoje me paga o que tem feito
Com os poetas mais fracos do que eu."
Zé Limeira:
"Sou um nego um bocado esbagaçado,
Sou o vatis das glórias desta terra,
Sou a febre que chama berra-berra,
Mastigando eu sou cobra de veado.
Sou jumento pro fora do cercado,
Sou tabefe que dero em seu Lameu...
Se tivé bom guardado bote neu,
Seu caminho de bonde ruim, estreito...
Você hoje me paga o que tem feito
Com os poetas mais fracos do que eu."
Anastácio:
"Cantador sem origem, sem ciência,
Miserável, lebrento, pé de péia,
És miséria da guerra da Coréia,
Seu corruto, ladrão da consciência.
Castigado da santa providência,
Que não honra o que Cristo santo deu,
Foste tu, imbecil, o fariseu,
Quem é bom dizes tu que tem defeito...
Você hoje me paga o que tem feito
Com os poetas mais fracos do que eu."
Zé Limeira:
"Zé Limeira onde canta, todo mundo
Vai olhá bem de perto a sua orige,
Já cantei no Sertão, no Céu da Virge
Sou doutô de meisinha, furibundo.
Viva o Reis, o juiz, Pedro Segundo.
Sou a cobra que o boi nunca lambeu.
Sou o tijolo da casa de Pompeu,
Peripécia da filha do Prefeito...
Você home me paga o que tem feito
Com os poetas mais fracos do que eu."
Repentes à nossa disposição graças à obra "Zé Limeira, Poeta do Absurdo", de Orlando Tejo.