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domingo, 20 de outubro de 2019

LAVA JATO

* Honório de Medeiros

Lentamente desconstroem a Lava Jato.
Parece uma orquestração infernal, da qual participam todos os poderes, todos, sem qualquer exceção, além da mídia atrelada, com o único intuito de transformar o que é certo, em errado; bom, em mal; justo, em injusto.
Sem entender o que se passa, o cidadão comum duvida de tudo e todos e se entrega à apatia.
A apatia é como água estagnada, domínio da podridão.
E, assim, eles vão vencendo.
E o que é ruim, fica pior.
E o desengano vence a esperança.
Essa noite tenebrosa não tem fim?

sábado, 19 de outubro de 2019

MARX, ROUSSEAU, POPPER, DARWIN.

* Honório de Medeiros


No começo, Rousseau disse que nascemos iguais.
Muitos acreditaram.
Voltaire, não.
Depois, veio Marx e escreveu que a superestrutura ideológica, em última instância, emana da infraestrutura econômica.
Como se o fato antecedesse a ideia de sua própria existência.
Falácia antropomórfica.
Muitos acreditaram.
Popper, Hayek, Aron, Mises, os anarquistas, não.
Mas deu no que deu.
As ideias são armas.
Os lobos sabem disso; os carneiros, não.
E quem melhor escreveu acerca disso foi Darwin. 
Ponto final.

sábado, 13 de julho de 2019

DE DEBATES

Debate com Frederico Pernambucano de Melo, coordenado por Clotilde Tavares, na Feira Literária da Pipa, em 2010, acerca da Estética do Cangaço. Um aprendizado.

* Honório de Medeiros

Quando eu era muito novo, achava que vencer um debate era humilhar o oponente com rajadas de erudição e sarcasmo. Depois, amadureci. Passei a respeitar o pensamento de quem discutia comigo. Não havia mais rajadas. Hoje, quando debato nas muitas palestras que ministro, é sempre no sentido de convidar aquele que tem uma proposta diferente da minha, para nos ajudarmos na construção do grande livro da vida, a partir de uma base comum. Penso que avancei. Talvez não consigamos muito, mas creio que isso nos torna mais dignos.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

DIOCESANO, HISTÓRIA QUE CARREGO COMIGO

* Honório de Medeiros


Durante nove anos, estudei no Colégio Diocesano Santa Luzia de Mossoró. Entrei menino, saí adolescente, para morar em Natal, e começar uma nova vida. Deixei o Diocesano, mas o Diocesano nunca me deixou. Graças a Paulo Pinto, o organizador desse belo projeto que se fez memória de filhos dessa Casa de tantos, como eu, rendi minhas homenagens ao passado em páginas que o tempo e os homens insistirão em manter vivas, a Deus querer. Meu registro é o de alguém que sente muita saudade da aurora da vida, na qual tão importante foi o "meu" Colégio dos Padres.
Bela ideia, belo livro, belas lembranças.

sábado, 4 de maio de 2019

O FIM DA CULTURA OCIDENTAL

* Honório de Medeiros

Quem vai jogar a última pá de terra na sepultura da civilização ocidental? A China? A Rússia? As organizações terroristas muçulmana? A criminalidade transnacional? O marxismo-leninismo? A corrupção generalizada em todos os segmentos da Sociedade?


O sonho da Europa unida se desfaz. A União Europeia é uma quimera, um sonho de uma noite de verão. A fragmentação é lenta, mas persistente e aparentemente definitiva.

Os EUA são uma pálida caricatura do que foram antes.

A guerra de ideias(1), sempre e em qualquer instância anterior à das armas, foi perdida, sem que saibamos, ainda, quem seja o vencedor. Ou quais são os vencedores, e se trabalharam juntos.

O ideário político ocidental liberal agoniza, e sua derrota estimula o radicalismo de esquerda e direita, irmãos siameses de cores diferentes, e ideias e práticas semelhantes em relação à obtenção e manutenção do Poder.

O avanço desse amálgama de ideias vitoriosas aparentemente díspares, unidas formal ou informalmente quanto ao inimigo comum - a cultura ocidental - lembra predadores fomentando o caos para depois avançarem e iniciarem a partilha dos despojos da guerra.


Na Venezuela, se são verdadeiras as informações, essas ideias estão todas lá, pelas mãos de títetes: a China, a Rússia, o Hezbollah, os narcotraficantes, os bolivarianistas, e a corrupção que mantém a estrutura de Poder no entorno de Maduro.

No dizer leninista, a Venezuela é, hoje, o "elo frágil da corrente" (2).



Quem vai jogar a última pá de terra?

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(1) "Entre 1804 e 1807, Clausewitz tomou plena consciência de que os fins da guerra deviam dominar os fins na guerra" (Raymond Aron, em Pensar a Guerra, Clausewitz. Quando à noção de que ideias antecedem ações, ver a epistemologia de Karl Popper e Gaston Bachelard.

(2) A passagem supracitada refere-se à obra As Tarefas Imediatas do Poder Soviético (1918), fruto de manuscrito em forma de teses, de autoria de Lênin. O texto foi encaminhado à reunião do Comitê Central do Partido Comunista Russo em 26 de Abril de 1918.

sábado, 27 de abril de 2019

LEGALISMO, GARANTISMO, LEGITIMISMO, COISA E TAL

* Honório de Medeiros

Os juízes e promotores brasileiros são, em sua grande maioria, tendo em vista as poucas e honrosas exceções, metamorfos jurídicos(1) garantistas (2), quando julgam os outros, e legalistas (3) quando se trata de defender benefícios para eles mesmos.

(1) Metamorfoses ambulantes, à  Raul Seixas; 

(2) Garantismo: confusa teoria jurídica que entende a norma jurídica como uma casca ou invólucro cujo recheio, ao interpretá-la, será composto a partir da noção individual ou particular específica acerca do que seja "O Justo", "O Certo", "O Bem Social", etc., para cada juiz; solipsismo jurídico; crença na onisciência do juiz enquanto alguém capaz de saber, mais que a própria Sociedade, o que é bom ou ruim, justo ou injusto, certo ou errado, para cada um dos outros, ou para todos de uma só vez; desapreço ou descrença oblíqua na capacidade da Sociedade de regular seu próprio Destino.

(3) Legalista: teoria jurídica que prega a interpretação fria ("ipsis litteris") da norma jurídica positiva, ou seja, aquela constante dos códigos e legislações; para o legalista, pau é pau, e pedra é pedra, e não existe nada entre uma coisa e outra; às vezes são denominados, pelos apedeutas, de positivistas, demonstrando, assim, que a estratégia de desconstrução do óbvio, por parte de quem o deseje, não pertence apenas à Política e sua incrível capacidade de demonizar reputações; idolatram Heráclito de Éfeso, um pré-socrático, por ter afirmado que "o povo deve lutar por suas leis como pelas muralhas de sua cidade".

O "garantismo", ou seja, a "interpretação constitucional da legislação", no Brasil, que é a face exposta e retórica do ativismo judicial, nada mais é que a vitória do STF em sua queda de braço com o Poder Executivo e a Sociedade, no sentido de estabelecer quem, de fato, exerce o Poder Político no País.

Por intermédio da interpretação constitucional o STF (seus ministros), esgrimindo difusos e confusos princípios constitucionais que externam seus difusos e confusos juízos de valor (aureolados por uma retórica de "cientificidade"), e atropelando o parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal, governa, de fato, o Brasil.

A tradicional ojeriza do Homem em assumir a responsabilidade pelos seus atos o levou a construir um "escudo ético" para ocultar-se quando interpreta, constrói e/ou aplica a norma jurídica: atribui seus atos à "ciência", quando nada mais são que juízos de valor investidos de Poder.

Houve uma melhora, ao longo do tempo: antigamente atribuíam-se esses atos à vontade de Deus, dos quais alguns homens seriam seus intérpretes.

sábado, 6 de abril de 2019

ÀS MÁQUINAS, O MUNDO!

* Honório de Medeiros

Conto, em meu Poder Político e Direito - A Instrumentalização Política da Interpretação Jurídica Constitucional, um fato narrado por Sir Winston Churchill em My Early Life – A Roving Comission, para ressaltar seu “lado” pouco conhecido de epistemólogo que fez uma opção decidida pelo Realismo, em oposição ao Idealismo.

Esse seu “lado” de filósofo – é bom lembrar que ele foi também escritor, pintor e memorialista e a sua obra, nomeadamente as Memórias de Guerra (1948-1954), valeu-lhe o Prémio Nobel da Literatura em 1953 – me veio à mente ao ler, quase que por acaso, uma frase que ele proferiu: “Moldamos os nossos prédios e depois eles nos moldam”.

A leitura foi da excelente resenha que Ricardo Abromovay publicou na Revista “Quatro Cinco Um”, acerca de três obras ainda não traduzidas para o português e que tratam daquilo que o autor denomina de “Sociedade da Vigilância em Rede”.

Pois bem: Abromovay nos induz ao seguinte raciocínio analógico: se nos moldam os prédios que nós construímos, segundo o brilhante “insight” de Churchill, podemos esperar algo diferente em relação à “Rede”?

Até aí tudo tranquilo. É difícil quem pense o contrário entre “cabeças pensantes”. O problema é que o diabo mora nos detalhes, como diz o famoso provérbio alemão.

Cito Abromovay:

“Na verdade, as informações permanentemente coletadas e analisadas por algoritmos, cujo funcionamento nos é completamente opaco, permitem que nossa conduta seja previsível e, justamente por isso, abrem caminho a uma interferência em nosso cotidiano que é inédita e atinge todas as esferas da vida social. 

Em 2014, por exemplo, a Amazon patenteou um sistema que permite antecipar o que os clientes querem comprar, antes mesmo que eles próprios o saibam. A mágica está nas informações reunidas sobre cada um de nós e na análise que delas é feita”.

Apavorante.

Lembrei-me que certa vez perguntaram a Stephen Hawking se a inteligência artificial iria nos superar – a chamada “singularidade tecnológica”. “É bem provável que sim”, respondeu ele. E propôs embutir sensores éticos nas nossas máquinas inteligentes. “Como assim”, me perguntei. “Sensores éticos?”

E me lembrei da sociedade distópica imaginada por George Orwell em 1984: no futuro totalmente controlado por intermédio da inteligência artificial não é o “Grande Irmão” quem dará as cartas. Serão as máquinas.

sábado, 23 de março de 2019

DE UMA LONGA E ÁSPERA CAMINHADA

* Honório de Medeiros



Nos anos 90 dediquei-me a estudar Hegel.

Peguei meu exemplar do Princípios da Filosofia do Direito, cuja primeira edição é de 1918, e me lancei na empreitada, mesmo a contragosto, ante a dificuldade de compreender o pensamento do autor, que se expressava em uma linguagem abstrusa, própria de sua época.

Fichte, a quem se atribui ter sido a ponte entre Kant e Hegel, era ainda pior, mas eu acreditava que era uma espécie de dever moral um estudante de Direito e do marxismo conhecer sua obra.

A duros custos cheguei lá. Não pelas dificuldades que o texto, em si, e que são grandes, propunham, e do qual o parágrafo abaixo é um bom exemplo:

"O domínio do direito é o espírito em geral; aí, a sua base própria, o seu ponto de partida está na vontade livre, de tal modo que a liberdade constitui a sua substância e o seu destino e que o sistema do direito é o império da liberdade realizada, o mundo do espírito produzido como uma segunda natureza a partir de si mesmo".

É que eu não conseguia esquecer, em cada momento da leitura, a opinião que de Hegel tinha Schopenhauer, por quem nutro grande admiração.

Para se ter uma ideia Schopenhauer disse, citando Shakespeare (Cimbelina, ato V, cena 4), em sua Vontade da Natureza, que a filosofia de Hegel era "uma conversa de loucos, vinda da língua e não do cérebro". E em O Mundo Como Vontade e Representação, não deixou por menos:

"Hegel, imposto de cima pelos poderes vigentes, como o Grande Filósofo oficializado, era um charlatão de cérebro estreito, insípido, nauseante, ignorante, que alcançou o pináculo da audácia por garatujar e fornicar as mais malucas e mistificantes tolices. Essas tolices foram barulhentamente proclamadas como uma sabedoria imortal, por seguidores mercenários, e prontamente aceitas como tal por todos os tolos, que assim se juntaram num coro perfeito de admiração, como nunca antes se ouvira."

Tem muito mais de Schopenhauer em relação a Hegel, mas é o suficiente. Além dele, na mesma época há, por exemplo, Kiekergaard, autor de O livro do Juiz e crítico severo de seu historicismo, e citado por Sir Karl Raymund Popper em A Sociedade Aberta e Seus Inimigos:

"Houve - escreve Kierkegaard - filósofos que tentaram, antes de Hegel ... explicar a história. E a Providência só podia sorrir ao ver tais tentativas. Mas a Providência não se ria às escâncaras, pois havia neles sinceridade e honestidade humanas. Mas Hegel!... Aqui preciso da linguagem de Homero. Como os deuses gargalharam trovejantemente! Esse pequenino e horrendo professor compreendeu simplesmente a necessidade de cada uma e de todas as coisas que existem, e agora executa em seu harmoniozinho toda a peça: 'Escutai, deuses do Olimpo!'"

Karl Popper comenta a citação dizendo que as expressões de Kierkegaard são quase tão fortes quanto as de Schopenhauer, quando afirma, um pouco depois, que o hegelianismo, "esse brilhante espírito de podridão, é a mais repugnante das formas de licenciosidade", "mofo de pompa", e possui um "infame esplendor de corrupção".

Em A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, Popper, lá para as tantas, se pergunta a razão pela qual ainda precisamos nos incomodar com Hegel:

"A resposta é que a influência de Hegel permaneceu como força poderosíssima, apesar do fato de que os cientistas nunca o levaram a sério (...) A influência de Hegel e especialmente a do seu jargão, é ainda muito forte em sua filosofia moral, e social, como nas ciências sociais e políticas (com a única exceção da economia). Especialmente os filósofos da história, da política e da educação, ainda estão sob seu império, em ampla extensão. Em política isso é mais amplamente mostrado de que tanto a ala extrema marxista, assim como o centro conservador e a extrema direita fascista baseiam suas filosofias políticas em Hegel; a ala esquerda substitui a guerra de nações que aparece no esquema historicista de Hegel pela guerra de classes; a extrema direita substitui-a pela guerra de raças; mas ambos o seguem mais ou menos conscientemente (o centro conservador é, em regra, menos consciente do que deve a Hegel)".

Mesmo assim li Hegel. Conclui minha tarefa auto-imposta. Ter continuado a estuda-lo me permitiu, algum tempo depois, procurar entender a ligação entre a dialética de Heráclito de Éfeso, a de Hegel e sua Filosofia da Identidade, e a de Marx.

Fez-me capaz de, certo ou errado, conectar esse entendimento com a Teoria da Evolução, por intermédio da Teoria do Meme, exposta por Sir Richard Dawkins em O Gene Egoísta.

Permitiu-me, por fim, compreender que sem a ciência qualquer teoria acerca de fatos históricos é mera especulação.

Quanto à Filosofia, pura metafísica, delírio da Razão.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

O BRASIL É UM DOS PAÍSES MAIS CIVILIZADOS DO MUNDO

* Honório de Medeiros

O Brasil é um dos países mais civilizados do mundo: quase todos, aqui, são poetas, gastrônomos, enólogos, fotógrafos, analistas políticos, filósofos, conhecedores aprofundados de artes plásticas, advogados, e muita coisa mais. 

E especialistas na preciosa arte de "meter o bedelho".

BOM HUMOR

* Honório de Medeiros

Dona Odete, proprietária do "Pese e Passe Lavanderia", em um rasgo de bom humor: "meu patrimônio é roupa suja"!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

DA TENTATIVA DE VOAR ALTO NAS COISAS DO ESPÍRITO


Imagem: Honório de Medeiros.

* Honório de Medeiros                  

Adolescente, recém-chegado a Natal, apaixonado por livros, não sabia por onde começar na biblioteca de minha tia, que me acolhera em seu apartamento lá pelos meados da década de 70.

Li muitos, ali. Alguns livros, várias vezes. Naquele tempo não havia celular, e a televisão engatinhava. 

Dia desses me perguntei quais daqueles livros, alguns ainda em minha posse, hoje, me marcaram. Não precisei procurar tanto nos desvãos já meio empoeirados da memória. Foram três, não tenho dúvida. 

Um deles é um clássico: "O Meio é a Mensagem", de Marshall McLuhan. Na época, quando o li, não compreendi quase nada. Mas o conceito de "Aldeia Global", um meme de McLuhan, fixou residência definitiva em meu cérebro. 

Outro foi um romance de Rabindranath Tagore, "A Casa e o Mundo". Uma estória de amor vivida na Índia, escrito com uma sutileza incomum, e uma prosa densamente poética.

Mas o fundamental, aquele que me marcou para sempre, foi "A Negação da Morte", de Ernest Becker, que ao autor valeu o Prêmio Pulitzer de Não-Ficção Geral de 1974. 

É traumatizante a leitura de "A Negação da Morte" para um adolescente. Muito do que li, quando o peguei pela primeira vez, também me era incompreensível. A custo, entretanto, de relê-lo muitas vezes, no período, e ir em busca na obra de Freud, que jazia completa, nas estantes de minha tia, à minha disposição, dos conceitos-chaves utilizados por Becker, terminei entendendo o núcleo de sua argumentação. 

Para Becker o que é há de fundamental no ser humano é o medo da morte.

Esse receio, temor, medo, que está em cada um de nós desde que construímos nossas primeiras noções, é o motor que nos impulsiona e a fonte de nossa permanente angústia. Agimos, em consequência, para reprimi-lo, construindo "mentiras vitais" que nos permitam enfrentar a morte sob a ilusão de permanência histórica e explicam, assim, a conduta do homem. 

Uma delas, a mais importante, é a ânsia por heroísmo, que em acontecendo, nos permite sobreviver na memória dos outros.

Creio, mas posso estar enganado, que Becker bebeu na fonte instigante de Sir Bertrand Russel que mina do seu “Power: A New Social Analysis”, onde ele expõe a teoria de que os acontecimentos sociais somente são plenamente explicáveis a partir da ideia de Poder.

Não algum Poder específico, como o Econômico, ou o Militar, ou mesmo o Político, mas o Poder com “P” maiúsculo, do qual todas os tipos são decorrentes, irredutíveis entre si, mas de igual importância para compreender a Sociedade.

A causa da existência do Poder, para Russel, é a ânsia infinita de glória, inerente a todos os seres humanos.

Se o homem não ansiasse por glória, não buscaria o Poder. Infinita essa busca, posto que o desejo humano não conhece limites.

Essa ânsia de glória dificulta a cooperação social, já que cada um de nós anseia por impor, aos outros, como ela deveria ocorrer e nos torna relutantes em admitir limitações ao nosso poder individual.

Como isso não é possível surge a instabilidade e a violência.

Em tempos mais modernos, a incessante busca por notoriedade substituiu o impulso pelo heroísmo. 

Talvez haja uma forte distinção entre uma e outra calcada no caráter ético.

Enquanto no primeiro caso as ações parecem determinadas pelo narcisismo, no segundo pode haver o anseio de passar para a história pelos feitos realizados em prol de uma ideia de Bem. 

Ou será que a causa primeira nada mais seria que o narcisismo?

O certo é que Becker criou raízes fundas em mim, seja pelo impacto de uma teoria que tudo explicava, mas nada devia a mitologias, seja pela angústia e prazer intensos que a tentativa de voar alto, nas coisas do espírito, origina. 

Nunca mais fui o mesmo. 

sábado, 26 de janeiro de 2019

DISTORCER PARA MANIPULAR

* Honório de Medeiros

Em "On Liberty", de 1859, Sir John Stuart Mill sugere que "A única liberdade que merece esse nome é a de perseguir nosso próprio bem, à nossa própria maneira, desde que não tentemos privar os outros de seus bens, ou impedir seus esforços para alcançá-los... O único propósito pelo qual o poder pode ser exercido de forma correta sobre qualquer membro de uma sociedade civilizada contra sua vontade é impedir o mal aos outros. Seu próprio bem, físico ou moral, não é justificativa suficiente." 

Não é preciso salientar a importância dessa obra para a construção do pensamento liberal. Mas é preciso ressaltar que esse ideário é um dos mitos fundantes do Estado contemporâneo fulcrado em uma Democracia tal qual encontrada nos países ocidentais. 

Tampouco há necessidade de enumerar as críticas existentes a essa Democracia nos moldes ocidentais. São muitas. Algumas corretas. Entretanto vale a pena lembrar Sir Winston Churchill, e sua famosa "boutade": "A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas."Também vale a pena lembrar os países ocidentais como aqueles que detêm os melhores índices de desenvolvimento humano. 

As elites políticas sequiosas de obtenção e manutenção do Poder já compreenderam, de há muito, o ponto fraco na argumentação de Sir John Stuart Mill, e o distorceram para manipularem e manterem seu "status quo" de dominação. A chave é "impedir o mal aos outros"

Hoje em dia esse argumento retórico foi substituído por outro mais sofisticado e condizente com os tempos atuais: "a predominância do público sobre o privado".

Ou seja, tudo quanto for oriundo do Estado (daqueles que detêm os aparelhos do Estado em suas mãos) deve ser respeitado e obedecido, já que implica, necessariamente, no interesse do predomínio do público sobre o privado. E a prevalência do público sobre o privado existe única e exclusivamente no intuito de impedir (que se faça) o mal aos outros. 

O que está por trás dessa concepção, quando não se trata única e exclusivamente de BANDITISMO, é a crença que as elites dirigente têm em sua capacidade de saber o que é o certo e o melhor para todos.

As elites dirigentes creem ser, para isso, ungidas pelos deuses, ou pelo conhecimento, ou pelo destino, para imporem, aos comuns dos mortais, as regras que estes devem seguir em Sociedade. 

Nada mais autoritário. Nada mais arcaico. Nada mais atual.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

JOGOS POLÍTICOS TÁTICOS

* Honório de Medeiros

Tratativas no âmbito das elites políticas, feitas por políticos disputando o Poder, são jogos táticos sendo urdidos a partir de estratégias ocultas das quais, a maioria das vezes, não temos o menor conhecimento.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

VILLAÇA, O ESTILISTA

* Honório de Medeiros


Na cinza das horas, releio “O Livro dos Fragmentos”, de Antônio Carlos Villaça. Soberbo estilista. Quem não lembraria de Novalis e Nietzche, ao lê-lo?

Muito amigo de Franklin Jorge, outro estilista, autor de “O Spleen de Natal”, um livro requintado, prêmio Câmara Cascudo por unanimidade, e de Gerardo Dantas Barreto, o filósofo, dono de uma “passionalidade desgrenhada”, ambos norte-rio-grandenses.

Villaça ficou famoso com “O Nariz do Morto”, de 1970, obra de um niilismo trágico, tão elogiado, que não cheguei a ler, ainda. Foi amigo de Gilberto Amado, Augusto Frederico Schmidt, Carlos Lacerda, não o político, o homem, e tantos outros, naqueles anos que começaram com Getúlio Vargas e se encerraram com a agonia do Movimento de 64.

Lembra, lá para as tantas, que Gilberto Amado caracterizava Vargas muito bem: “Getúlio ou a arte de enganar. Enganava não apenas os bobos, o que é fácil e todos fazem. Enganava os sabidos.” E também lembra, em seu livro, Raul Fernandes, não o potiguar, e sim o político e diplomata carioca, que lhe dizia sempre: “ a ênfase é uma improbidade intelectual”. 

Em “O Livro dos Fragmentos” aponta o estranho fenômeno da desaparição de alguns escritores. Cita Osvaldo Alves, Carlos David, Lia Corrêa Dutra, a quem Drummond e Gilberto Amado admiravam e que sumiu da literatura. Villaça especula: “Era uma forma de ceticismo ou de cansaço”. Lembra Maria Teresa Abreu Coutinho, “brilhantíssima. Casou-se com um operário italiano e foi morar no subúrbio. Nunca a reencontrei.”

Nada mais Enrique Vila-Matas.

As obras desses escritores que ele cita ocupam, penso eu, algum escaninho empoeirado do Cemitério dos Livros Esquecidos que Carlos Ruiz Zafón localiza na misteriosa Barcelona, em um beco ao qual me conduziu uma bela guia mineira que, ante o meu espanto com o que me deparei, pôs-se a rir, divertida. O Cemitério não se deixava perceber assim tão fácil... 

Antônio Carlos Villaça, assim como Gerardo Mello Mourão, reconheceu que o Brasil é barroco, uma eterna tensão entre o corpo e a alma. Vivesse hoje, que diria ele? 

Termina seu livro citando Machado, “Iaiá Garcia”: “Alguma coisa escapa ao naufrágio das ilusões”. Estaria se referindo ao que escrevera?

Tomara.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

VONTADE, LIBERDADE, VERDADE


* Honório de Medeiros

Hannah Arendt nos encaminha, em “Responsabilidade e Julgamento”, à noção de que devemos a Paulo a ideia de “vontade”.

Paulo, crucial para a construção da doutrina da Igreja Católica, o verdadeiro fundador da filosofia cristã, com sua “Carta aos Romanos”. 

Lê-se, em Romanos, um momento antológico do processo civilizatório: “Assim, o que realizo, não o entendo; pois não é o que quero que pratico, mas o que eu odeio é (o) que faço” (7,19-21). 

Terá sido para cumprir esse desígnio que Jesus o interpelou na estrada de Damasco? “Saulo, Saulo, por que me persegues? “Quem és, Senhor?”. “Jesus, a quem tu persegues. Levanta-te, entra na cidade e te dirão o que deves fazer” (Atos 9:5,6). 

Sabemos que se deve à “Carta aos Romanos”, a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação (DCDJ), assinada entre a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica Romana em 31 de outubro de 1999, em Augsburgo, na Alemanha.

Também foi o ponto de partida da Reforma Protestante: Lutero escreveu seu “Comentário aos Romanos”, em 1515, e nele já se encontra seu pensamento acerca da Justificação. 

Arendt nos mostra o percurso intelectual desse conceito no pensamento de Agostinho, tão importante para a filosofia cristã: “Sempre que alguém delibera, há uma alma flutuando entre verdades conflitantes” (“Confissões”).

A Vontade decidirá.

Bem como em Nietsche e Kant, além de nos por a par de que o fenômeno da Vontade era desconhecido na Antiguidade, e que sua descoberta deve ter coincidido com a da liberdade enquanto questão filosófica, distinta de um fato político. 

Vontade, Liberdade, Verdade. 

Fundamental.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

DAS PESSOAS QUE SE OFENDEM COM O SILÊNCIO

* Honório de Medeiros

No rumo do remanso na beira da Serra das Almas, passei por Martins para dois dedos de prosa com Seu Antônio de Luzia, que Deus o mantenha tal qual está.

Perguntei como iam as coisas, e ele, naquela voz arrastada e grave, me disse que "do mesmo jeito, só que mais velhas".

Era um final de tarde meio quente, no Sítio Canto. Só vez por outra alguém passava e arriscava um dedo de prosa.

E nós dois, como outras vezes, café tomado, calados, cabeça pousada por inteiro no espaldar das cadeiras de balanço, nos entregávamos à quietude e ao canto dos passarinhos.

Lá para as tantas uma vizinha distante encostou e se danou a falar, contando o caso de uma sobrinha solteira que embuchara pelas bandas dos Cariris Velhos.

Falou, falou, falou tanto que espantou os sabiás que cantavam nos cajueiros do terreno em frente.

Quando se foi seu Antônio, sem olhar para mim, sentenciou: "essa mulher se ofende com o silêncio".

E mais não disse até a hora da coalhada, à boca da noite.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

SÃO AS FINANÇAS QUE MANDAM, CARA!

• Honório de Medeiros

Aqui no RN, o desGoverno de Robinson Faria deixou salários de novembro, dezembro, e 13• de dezembro atrasados. Se a Governadora que assumiu apresentar pelo menos um calendário de pagamento ainda em janeiro, desmoraliza de vez o desGoverno passado.

Aliás, qual um “Espectador Engajado”, para lembrar Raymond Aron, meus olhos estão voltados, quanto aos governos estaduais, para a administração de Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Maranhão.

O primeiro, liberal, Partido Novo; os outros, de esquerda. 

As finanças públicas são uma grande niveladora e transcendem as ideologias, embora enquadradas pelo processo de seleção natural.

Em um mundo onde tudo é evanescente e fragmentado, queiramos ou não a questão é somente uma: o que vamos fazer com nosso dinheiro?

São as finanças que mandam, cara! No nível macro, claro. 

Para dividir o pão, é preciso que haja o dito cujo.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

FELIZ NATAL E ANO NOVO

* Honório de Medeiros

Quando vi essa imagem pela primeira vez, ela tinha sido postada por minha querida amiga Camila Cascudo.

Hoje me lembrei dela e não resisti: aí está para vocês.

Na primeira vez e todas as outras que a vi, senti uma vontade muito forte de pegar essa criança no colo, abraça-la, cuidar dela, tentar manter esse sorriso lindo permanentemente em seu rosto.

É esse abraço que eu mando para todos vocês, enquanto um Feliz Natal e Ano Novo!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

A VISITA DA BRUXA MALDITA

* Isabel Sena

A bruxa maldita me visitou hoje.

Soprou no meu rosto e se divertiu com o desânimo que tomou conta de minha alma.

Riu da minha dor, da estranha dor que a alma às vezes sente, da sensação de que fui e sou um fracasso, um desajeitado traste inútil que não suporta mais viver com suas máscaras cotidianas.

Quando ela vem mergulho de ponta no centro da melancolia e embora me debata, sinto que me afogo num oceano de insegurança, e que na próxima vez afundarei como uma pedra imensa, mas, nem assim, vou me ver livre dessa bruxa maldita.

Quando ela me visita não suporto a companhia dos outros. Não quero conversar. Sinto nojo do contato físico. Quero ficar sozinho, longe de tudo e de todos.

O que me resta agora é fazer de conta que ela não está me olhando, de que se vai, que logo, logo, tudo volta ao normal.

Depois, de fato, ela se vai.

Mas cada vez demora menos a vir. E cada vez demora mais a ir.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

PARA QUE SERVEM AS PALAVRAS

* Honório de Medeiros                


"As palavras valem também para isso, dar alguma existência aos nossos delírios", diz Raduam Nassar em "Cantigas d'amigos", Cadernos de Literatura Brasileira, Ariano Suassuna. 

Ariano, entrevistado pelo Cadernos, em certo momento: "não sou um escritor de muitos leitores; costumo dizer que sou um autor de poucos livros e poucos leitores -, (...) Mesmo que eu não publique, tem um círculo de leitores que sempre lê o que escrevo."

Retruca o Cadernos: "Este é um circuito antimoderno, o circuito da comunidade interessada." 

Qual uma confraria de amigos, na Idade Média.

Assim é, assim será, dado o caráter dos tempos atuais, no qual a imagem evanescente e superficial é tudo e as palavras, mesmo se delírios, manjar para poucos.

Aqui a palavra é arte. 

Relendo "O Crime do Padre Amaro" do imenso Eça, lá encontro essa ideia pela voz do seco Padre Notário:

- Escutem, criaturas de Deus! Eu não quero dizer que a confissão seja uma brincadeira! Irra! Eu não sou um pedreiro-livre! O que eu quero dizer é que é um meio de persuasão, de saber o que será que passa, de dirigir o rebanho para aqui ou para ali... E quando é para o serviço de Deus, é uma arma. Aí está o que é - a absolvição é uma arma."

Recordo que dizia para meus alunos de Filosofia do Direito ser a confissão um inteligente serviço secreto, à serviço da aristocracia, para a manutenção dos interesses da elite dominante.

A palavra: arte ou instrumento. Às vezes ambos ao mesmo tempo.

Não somente a palavra escrita, mas também a falada, mesmo a que dá existência aos nossos delírios.

Natal, em 7 de março de 2015.