terça-feira, 22 de dezembro de 2015

TODO FORMIGUEIRO É UM SISTEMA SOCIALISTA E TOTALITÁRIO


* Honório de Medeiros

"Um dia, na Feira Mundial de 1964, em Nova York, entrei no Saguão da Livre Empresa fugindo da chuva. Lá dentro, exposto com destaque, havia um formigueiro com a legenda: 'Vinte milhões de anos de estagnação evolutiva. Por quê? Porque o formigueiro é um sistema socialista e totalitário.'"

Matt Ridley citando Stephen Jay Gould em "As Origens da Virtude". 

Antes, em 1894, em "Evolution and Ethics", T. H. Huxley dissera: "A sociedade de abelhas corresponde ao ideal expresso no aforismo comunista 'a cada um conforme sua necessidade, de cada um conforme sua capacidade.'"

Pois é.

sábado, 19 de dezembro de 2015

A CONSTITUIÇÃO NÃO É O QUE A SOCIEDADE QUER, É O QUE O STF DIZ QUE A SOCIEDADE DEVE QUERER

* Honório de Medeiros

Uma das lições a ser extraída do julgamento do Mensalão diz respeito ao Direito, mais especificamente ao Ordenamento Jurídico brasileiro e à forma de interpretar as normas que o constituem.

A lição é simples: a interpretação de uma norma jurídica, ou de um conjunto de normas jurídicas, poderá ter qualquer feitio, seja qual seja ele.

Em linguagem coloquial: uma norma jurídica está para uma nota musical assim como um conjunto de normas jurídicas está para uma partitura. Imaginemos, então, uma mesma composição musical sendo interpretada de infinitas formas por infinitos músicos. É assim que funciona.

Isso lembra, por exemplo, um show antológico de Sivuca, interpretando o frevo “Vassourinhas”, a música “oficial” do carnaval pernambucano, de acordo com o “padrão” musical japonês, chinês, russo, francês, sueco. Ou o carro que vende bujões de gás alertando a vizinhança com acordes da Quinta Sinfonia em ritmo de forró.

Ou seja, a interpretação da Constituição Federal Brasileira, por exemplo, vai depender, sempre, da correlação de forças entre os ministro do STF, e dos interesses que os manietam.

Nada impede que com as próximas escolhas de Ministros a serem feitas pelo Executivo, assuntos até então considerados “pacificados” tenham o entendimento da Corte radicalmente modificado. Como aconteceu logo depois da entrada em vigor da Constituição com o conceito de "direito adquirido", violentado, apesar de "cláusula pétrea", para permitir a cobrança de contribuição previdenciária aos aposentados.

Outra lição a ser extraída diz respeito à conduta dos Ministros e é, praticamente, um corolário da anterior.

A lição é a seguinte: é impossível discernir, FORMALMENTE, se e quando fatores extrajurídicos preponderam na interpretação a ser realizada.

Trocando em miúdos: o intérprete escolhe o resultado que almeja e usa a interpretação, dando-lhe a roupagem técnica adequada ao caso, para alcançá-lo.

Como quando queremos tocar a mesma Quinta Sinfonia de Beethoven em ritmo de rock, e não de forró, e fazemos a adaptação.

Essa lição também deixa, por sua vez, uma consequência: fica claro que a suposta cientificidade do Direito é um discurso ideológico; e fica claro que a interpretação da norma jurídica é sempre conjuntural. Nada que Pierre Bourdieu não tenha dito, em seu "O Poder Simbólico".

Como superar esses obstáculos em termos de democratização do processo?

Mobilizando a Sociedade contra o Estado. Atualmente o Estado subjuga a Sociedade. É preciso que a Sociedade se imponha ao Estado. E denunciando a suposta supremacia técnica dos intérpretes pagos pelo Estado.

Em uma Sociedade organizada, os intérpretes das normas jurídicas não serão mais supostos detentores de pseudo-verdades que eles criam e nos apresentam como sendo apreendidas a partir de essências inatingíveis pelos mortais comuns, tais quais o “Justo”, o “Certo”, o “Bom”.

Como a realidade é cambiante, evanescente, principalmente e mais que nunca hoje em dia, qualquer veleidade quanto a uma interpretação "correta" que fira os interesses da Sociedade deve ser vigorosamente rejeitada.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

GOVERNO AVANÇA PARA TRÁS



* Honório de Medeiros

Trinta e tantos anos atrás, recém nomeado para o Estado, presenciei uma tentativa de instalação de ponto eletrônico. Sábado o Governo decretou a volta do ponto eletrônico. De passo em passo chegaremos ao século XX, a Deus querer!

domingo, 13 de dezembro de 2015

ONDE ENCONTRAR "HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS"

* Honório de Medeiros

Você pode encontrar "HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS" nos seguintes endereços:

1) Na Livraria do Campus Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte: 
http://www.cooperativacultural.com.br/ 

2) No Sebo Vermelho, à Avenida Rio Branco, em Natal, com Abmael Silva: http://sebovermelhoedicoes.blogspot.com.br/

3) Ou com o livreiro Francisco Pereira Lima, por intermédio do seguinte email:
fplima1956@gmail

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

LULA QUER O IMPEACHMENT

* Honório de Medeiros

Lula, insidiosamente, alimenta, sôfrego, nas sombras, o impeachment: quer se livrar de um peso morto, unir o PT posando de vítima, e mirar em 2018, passando a responsabilidade da condução da economia para a oposição.

domingo, 6 de dezembro de 2015

ÉS PORQUÉ NO SÉ


Iuri Montenegro
* Honório de Medeiros

"ÉS PORQUÉ NO SÉ" foi o final de uma noite maravilhosa, no Auditório da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no qual Iuri Montenegro, esse instrumentista que vemos na imagem acima, apresentou seu Recital de Conclusão do Curso Técnico em Violão Erudito.

Violão Erudito. Ao longo da noite os ouvintes, que lotavam o Auditório, entusiasmados aplaudiam a "performance" do violonista, admirando não somente o rigor técnico, mas também, como não poderia deixar de ser, a felicidade da escolha do repertório.

Tímido, mas sereno, como sempre, Iuri Montenegro foi secundado por colegas e amigos do Curso de Violão Erudito. No início, o violonista apresentou-se a sós. Em seguida peças a dois, e até mesmo a três, sucederam-se e foram consagradas pelos aplausos dos que lá estavam.

O "grand finale" foi, como dito acima, o belo "ÉS PORQUÉ NO SÉ", poema da autoria do pai do instrumentista que ele musicou, apresentado ao som de vários instrumentos, sob sua regência, com a participação especial de um trio de vozes,

Grande noite, sem dúvida. E a certeza do talento de Iuri Montenegro para coroa-la.



sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

ACERCA DO "HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS"

  

 Passados dez anos do lançamento, no Cariri cearense, de “Massilon – Nas Veredas do Cangaço e Outros Temas Afins”, eis que Honório de Medeiros nos entrega “Histórias de Cangaceiros e Coronéis”, o segundo volume de sua trilogia acerca desse tema fascinante.

Desta vez o livro é dividido em três grandes eixos: no primeiro, “Jesuíno Brilhante, Herói ou Bandido”, o autor, com base em farta documentação, em primeiro lugar nos apresenta uma face mais visível do pouco conhecido, mas muito famoso em sua época, José Brilhante, o “Cabé”, tio materno do único cangaceiro potiguar conhecido, e que foi personagem do romance “Os Brilhantes”; e, em segundo lugar, mostra o quanto talvez seja equivocada a percepção romântica, calcada no mítico Robin Hood, tanto do senso comum quanto dos escritores que se dedicaram a escrever acerca do primeiro dos grandes bandidos rurais do ciclo do cangaço, Jesuíno Brilhante.

No segundo eixo trata do famoso ataque de Lampião a Mossoró analisando-o a partir de uma perspectiva inédita e com informações até então desconhecidas da literatura específica acerca do tema. Aparece, por exemplo, pela primeira vez na história do cangaço, identificado inclusive com imagem, a “oposição oficial” ao Coronel Rodolpho Fernandes e que a ele se contrapôs veementemente nos dias que antecederam a invasão da cidade.

Por fim, no terceiro eixo, constituído de crônicas acerca de temas diversos do cangaço e do coronelismo, trata, por exemplo, de uma misteriosa amante de Antônio Silvino, bem como acerca da famosa “teoria do escudo ético”, ou mesmo do “pacto dos governadores para eliminar os cangaceiros”, dentre outros, que se colocam para o leitor como textos menos densos, mas, nem por isso, menos instigantes.

Como dito outrora, na orelha do “Massilon”, e ainda válido hoje, o que o Autor pretende, e não há razão para que não ocorra da forma como ele deseja, este livro é “nada tão sério que pareça maçante, tampouco tão leve que pareça desfrute.”

Mãos à obra.

* Antônio Gomes, Sertão/Natal, 2015.

sábado, 28 de novembro de 2015

MINHA PRAIA, MESMO, É O LIVRO


Aramis, D'Artagnan, Athos e Portos. Da esquerda de quem olha para a direita.


* Honório de Medeiros

Gosto muito de cinema, mas minha praia, mesmo, é o livro. Há exceções, claro, sempre as há. Não substituo, porém, minha imaginação pela de quem quer seja. A minha não é privilegiada. Normal. É a minha.

Até hoje nunca assisti filme acerca dos Três Mosqueteiros que valesse a pena. Tenho todos. Não volto a nenhum deles.

Ouso dizer que é impossível, para as gerações mais novas, compreender, com sua mentalidade de hoje, o universo da saga imortal criada por Alexandre Dumas: Os Três Mosqueteiros, Quarenta Anos Depois, e O Visconde de Bragellone. Tanto o é que anda ela, a saga, esquecida. 

É assim que as coisas são, que o mundo é. Cada qual com seu cada qual. Estamos todos certos, estamos todos errados ao mesmo tempo, como diria o poeta.

Querem outro exemplo? A obra infantil de Monteiro Lobato.

Em tempos de Matrix, e Star Wars, não há muito espaço para Emília de Rabicó e D'Artagnam. Nem para D. Quixote de La Mancha, Primeiro e Único. A exceção é O Senhor dos Anéis.

Que lástima...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

CANGAÇO: FORMA TRANSFIGURADA DE FAZER POLÍTICA

* Prof. Dr. Gilson R. de M. Pereira

 É possível dizer algo novo sobre o Cangaço e sobre o Coronelismo, tão exaustivamente estudados? O que justifica debruçar-se sobre um assunto aparentemente tão esgotado? É possível acrescentar uma informação crucial, uma perspectiva diferente, fazer algum avanço nas análises até aqui feitas? Parece que, pelo menos em relação ao material empírico, não se pode esperar muita coisa, visto que, exceto por um ou outro documento, uma foto, uma carta, que ainda eventualmente possa aparecer, tudo já foi muito esmiuçado. Se isso estiver correto, então não é no âmbito do protocolo que se pode ampliar o que se conhece sobre cangaceiros e coronéis, porém nos métodos e nas análises do material disponível e esta é a contribuição de Histórias de Cangaceiros e Coronéis, Editora Sebo Vermelho, de autoria de Honório de Medeiros, recentemente lançado.

 O que faz de Histórias de Cangaceiros e Coronéis um marco, um determinante simultaneamente teórico e prático nos estudos sobre o coronelismo e o cangaço, é a mobilização, em objetos precisos, do modo de análise estrutural. Sintetizando, e sem antecipar o conteúdo do livro, o autor, de forma novidadeira, submete o cangaço e o coronelismo a um método de análise que privilegia as relações entre os agentes e as instituições como princípio de conhecimento do real, quer dizer, como princípio de inteligibilidade da particularidade de um mundo social situado e datado. Para isto, Honório se apropria do conceito de “campo social”, formulado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, e o aciona a fim compreender e dar a compreender a teia de relações que faz de cangaceiros e coronéis opostos e complementares no proto-campo político do Nordeste brasileiro no período do final do Segundo Império à década de 1930. Digo proto-campo político, pois neste período o campo político ainda não havia se autonomizado e estava imerso numa totalidade social, difusa e parcialmente diferenciada, que anexava a política à economia, à tradição e à religião.

 O credo metodológico de Histórias de Cangaceiros e Coronéis não é formalizado no livro, e nem seria preciso, mas é esboçado às páginas 225-226. Assim, o vetor epistemológico adotado é claro: vai do racional ao real, de acordo com a máxima sociológica segundo a qual é o mundo social – cientificamente construído – que explica os indivíduos e não o contrário. E para lançar luz nas práticas e representações de cangaceiros e coronéis, Honório recorre não a um vago “contexto social”, nem aos imprecisos “determinantes em última instância da economia”, mas ao campo, ainda não inteiramente estruturado, é bem verdade, no qual se disputavam os móveis e interesses políticos da época.

 Assim sendo, esse poderoso recurso analítico permite a Honório de Medeiros ver mais longe e dizer coisas não sabidas sobre fatos já conhecidos. As práticas de cangaceiros e coronéis, desse modo, saem do arbitrário, do acaso, do irracional e se encaixam, ainda que na forma de conjecturas, como reconhece o autor, num cenário interpretativo que tem a força da razoabilidade. Na construção deste cenário explicativo, é particularmente interessante o uso das genealogias, recurso fartamente utilizado pelo autor. A garimpagem das relações familiares, dos compadrios e das linhagens não é no texto um mero exercício de erudição e virtuose investigativa, mas um modo de reconstruir a trama das interdependências capazes de conferir sentido aos atos aparentemente mais díspares. Embora pareça extenuante ao leitor desatento, as genealogias auxiliam na construção da economia das trocas materiais e simbólicas entre as famílias, os clãs, os grupos e as facções em disputa pelo poder, em luta pela honra e pela posse de recursos escassos. Assim, é lícito afirmar que em Histórias de Cangaceiros e Coronéis o autor não é tão somente um genealogista inspirado, mas um topógrafo empenhado em descrever a topologia do já mencionado proto-campo político. Ao fazê-lo, ao minuciar a teia de relações familiares, de compadrio e de amizade (e de inimizade), o autor repõe ao mesmo tempo as posições relativas ocupadas pelos diversos agentes no estado do proto-campo político à época. Neste caso, o desafio enfrentado pelo autor foi o de mostrar o funcionamento da lógica prática – esta lógica sem lógicos – capaz de fazer compreender o que os agentes fazem e como e porque o fazem.

 Em Histórias de Cangaceiros e Coronéis, coronéis e cangaceiros partilham do mesmo ethos e do mesmo pathos, pois possuem os mesmos esquemas de pensamento e ação. Isso não significa juntá-los indistintamente num único cesto informe: a análise estrutural separa o que o vulgo junta e junta o que o vulgo separa. O que Honório junta (e o vulgo separa): cangaceiros e coronéis na mesma trama do poder; o que Honório separa (e o vulgo junta): os cangaceiros dos marginais de feira (vide as referências quer à situação econômica de relativa folga das famílias de alguns cangaceiros ou mesmo à estirpe nobre de outros).

 Mas unir coronéis a cangaceiros não seria muito expressivo do ponto de vista analítico, pois ainda seria preciso identificar as distinções nas semelhanças. E, mais uma vez de forma adequada, Honório procura o princípio explicativo das distinções na hierarquia do proto-campo político de então, ou seja, na legitimidade que coronéis possuíam e cangaceiros, não. As alianças conjunturais – de interesses, de ódios, de intrigas, inimizades e amizades – unem o cangaço a frações do coronelismo, mas a legitimidade deste último o demarca do primeiro. É bom lembrar que os cangaceiros não foram indiferentes à legitimidade, a exemplo da “patente” de capitão de Virgulino Ferreira, sempre anunciada com orgulho.

 O capital de legitimidade dos coronéis e o déficit de legitimidade dos cangaceiros pesarão na reprodução posterior dessas duas experiências políticas típicas do Nordeste brasileiro no já mencionado período do final do Segundo Império à década de 1930. O coronelismo, em razão dos trunfos materiais e simbólicos que dispunha e da legitimidade amparada nos poderes do Estado, encontrará, como o autor menciona, formas de sobrevivência, ou seja, de reprodução ampliada quando da modernização do País. As modernas oligarquias e as linhagens familiares que, atualmente, dominam a política no Nordeste descendem do coronelismo. Os cangaceiros, por sua vez, justamente em razão da posição subalterna que ocupavam no proto-campo político durante o mesmo período e da ausência de legitimidade, sucumbiram e foram extintos. Assim, é apenas por um abuso terminológico que hoje se fala em “novo cangaço” ao mencionar os bandos de facínoras que roubam bancos e aterrorizam as pequenas cidades do interior. Não há nenhuma semelhança tanto na forma como no conteúdo.

Cangaceiros e coronéis não emergem das 285 páginas de Histórias de Cangaceiros e Coronéis inteiriços como se saídos dos mitos e dos contos de fadas, porém contraditórios, dilacerados, ora heroicos, ora pusilânimes, quase sempre horríveis e sombrios. São os vitoriosos e os vencidos de um mundo caracterizado, para usar a expressão de Johan Huizinga a propósito do declínio da idade média, pelo “teor violento da vida”. Afinal, Histórias de Cangaceiros e Coronéis é um livro cheio de atrocidades (“matou, emboscou, decapitou, deflorou, ultrajou, espancou cruelmente” são palavras amiúde encontradas). Contudo, restituí-los – os ofendidos e os ofensores – em sua humanidade, sem preconceitos, eis um inegável mérito da análise estrutural empreendia por Honório de Medeiros.

 Em razão do alcance analítico dos resultados e do manejo modelar do método, penso que, doravante, qualquer ensaio que pretenda fazer avançar o conhecimento sobre o coronelismo e o cangaço deverá, necessariamente, interpelar Histórias de Cangaceiros e Coronéis.

* Gilson Ricardo de Medeiros Pereira possui graduação em Licenciatura em Física pela Universidade de São Paulo (1987), graduação em Bacharelado em Física pela Universidade de São Paulo (1983), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (1992) e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2001). Trabalhou como professor efetivo na Universidade Regional de Blumenau, SC, e, atualmente, é professor do quadro da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, atuando no Programa de Pós-Graduação, mestrado em educação. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Sociologia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, políticas públicas, administração da educação, periódico especializado e disciplina acadêmica.

O SONHO DENTRO DO SONHO

R


* Honório de Medeiros


Então, inocentes, supomos que estamos acordados. Doce ilusão. Às vezes amarga. Na verdade estamos dormindo. Dormindo e sonhando. Não adianta imaginarmos que estamos nos sentindo, nos tocamos, beliscamos, percebemos uma realidade que se descortina ante nossos olhos. Ocorre que estamos sonhando que sentimos, que vemos, que ouvimos. Tudo isso é ilusão. Não posso provar que estamos sonhando, nem posso provar que não estamos. Esse é o problema. O pior é que pode ser, não é impossível isso, que o sonho nem nosso seja. Sejamos apenas o sonho do sonho de alguém. 


domingo, 22 de novembro de 2015

O QUE NOS RESERVAVA CADA CAMINHO QUE NÃO PERCORREMOS?



* Honório de Medeiros


Cada um de nós, no presente, é refém das escolhas que fez no passado. Bifurcações, encruzilhadas, caminhos com possibilidade única de retornar ou seguir em frente, qualquer opção tomada nos encaminhou a um futuro escolhido e desfez, naquele preciso instante, para sempre, a possibilidade de vivermos o que foi deixado para trás. Muito embora às vezes pudéssemos ter uma pálida ideia do que viria quando a opção foi feita, são tantos os desdobramentos seguintes que qualquer certeza logo se desfaz, tal sua evanescência. Angustia-nos saber, hoje, que a opção foi um ponto-sem-volta, que nunca saberemos, concretamente, o que aconteceria se, no passado, tivéssemos seguido de forma diferente. Aquela rua que não foi transposta, a esquina que não foi dobrada, o adeus que foi ou não dado, o não ou o sim que proferimos em certo lugar, há tanto tempo, o que nos reservava cada caminho que não percorremos? 

Arte: www.clinks.com.br

sábado, 21 de novembro de 2015

SIMPLESMENTE INACREDITÁVEL

* Honório de Medeiros

Li uma matéria publicada pela Tribuna do Ceará, simplesmente inacreditável:

http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/ceara/sesc-emite-justificativa-espetaculo-artistas-exploram-anus-dos-outros/

Em certos momentos o meu desprezo pelo ser humano chega a níveis muito altos.

Os "artistas" justificaram a "performance" alegando que se tratava de "arte contemporânea".

Ignorantes. Recomendo-lhes a leitura, pelo menos, de "A Civilização do Espetáculo (Uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura)", de Mário Vargas LLosa. Se puderem, vão mais longe: "Notas para Uma Definição de Cultura", de T. S. Elliot.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

POR QUE LAMPIÃO INVADIU MOSSORÓ?


* Honório de Medeiros

Em dias do início do mês de junho do ano da graça de 1927, pelas terras do Rio Grande do Norte que confrontam com as da Paraíba, lá no alto Sertão desses estados, mais precisamente aquelas que ficam entre as cidades de Uiraúna, PB, e Luis Gomes, RN, vindos de Aurora, no Ceará, da Região do Cariri de Nosso Senhor Jesus Cristo, eles, os cangaceiros, entraram no território potiguar.

Era uma horda selvagem com aproximadamente uma centena de homens, para o mais ou para o menos, imundos e bestiais, a cavalo, fortemente armados, portando rifles, fuzis, revólveres, pistolas, punhais longos e curtos, e farta munição. Vinham ébrios, ferozes, e sedentos de violência, sem qualquer outro propósito que não a rapinagem, pura e simples.

Durante os quatrocentos quilômetros e quatro dias que durou a epopéia, deixando e voltando à Aurora após alcançarem Mossoró, desenharam, com a ponta dos cascos dos cavalos ou a face externa das alpargatas com as quais pisavam o chão, como que um movimento cujos contornos lembram o de uma flor de mufumbo, cujas laterais seriam as margens da Serra de Luis Gomes e Serra do Martins, por um lado, e, pelo outro, as margens do serrame do Pereiro, limites com o Jaguaribe, Ceará adentro.

E assim entraram, espalhando o terror por onde passaram.

Mas será que eles tinham algum outro propósito, além da rapinagem pura e simples?



LANÇAMENTO DIA 10 DE DEZEMBRO, A PARTIR DAS 18 HORAS, NO CLUBE DOS RADIOAMADORES, AV. RODRIGUES ALVES, 1.004, VIZINHO À CIDADE DA CRIANÇA, EM NATAL.


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

domingo, 8 de novembro de 2015

ACERCA DE PEDIR VOTOS


* Honório de Medeiros

Ao longo da vida pedi votos para outras pessoas e até para mim mesmo. Peço desculpas. Voto não se pede, não se cabala. É algo profundamente íntimo. Deve emanar de cada um de nós de forma espontânea, enquanto consequência do respeito e admiração por alguém e sua história de vida. Como se fosse a manifestação de um sentimento único. Errei.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

NÓ LÓGICO



* Honório de Medeiros



Dia desses ocorreu o seguinte diálogo entre Bárbara e eu:

"Deus é Todo-Poderoso?", iniciou ela.

"Isso."

"Ou seja, Deus é Onipotente, não é?"

"É."

"Se Ele é onipotente, pode criar qualquer coisa, não?"

"Claro!"

"Ele pode, portanto, criar algo que o destrua, correto?"

"Pois é..." Nesse momento eu já estou integralmente preocupado com o desfecho da conversa.

"Se algo assim pode destruí-lo, então não é Onipotente, pois não pode impedir que algo mais poderoso que Ele o destrua."

De onde eu tirei a ideia de que deveria ensinar lógica à minha filha?

Restou-me apelar: "os desígnios de Deus não cabem na malha estreita da lógica humana!"

Tomei uma vaia...