segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O GRANDE NÓ GÓRDIO QUE ROBINSON PRECISA DESATAR

* Honório de Medeiros

Diz a lenda que o rei da Frígia morrera sem deixar herdeiro e que, ao ser consultado, o Oráculo anunciara a chegada, à cidade, do sucessor, num carro de bois.

Um camponês, de nome Górdio, foi coroado. Para não esquecer de seu passado humilde ele colocou a carroça, com a qual ganhou a coroa, no templo de Zeus. E a amarrou com um nó impossível de desatar, a uma coluna, e que por isso ficou famoso.

Górdio reinou por muitos anos e quando morreu seu filho Midas assumiu o trono. Midas expandiu o império mas não deixou herdeiros. O Oráculo foi ouvido novamente e declarou que quem desatasse o nó de Górdio dominaria toda a Ásia Menor. 

Em 334 a.C Alexandre, o Grande, ouviu essa lenda ao passar pela Frígia. Intrigado com a questão foi até o templo de Zeus observar o feito de Górdio. 

Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó em dois, desatando-o. Lenda ou não, o fato é que Alexandre se tornou senhor de toda a Ásia Menor poucos anos depois.

Pois bem, o nó Górdio que Robinson Faria terá que desatar quando assumir o Governo do Rio Grande do Norte diz respeito ao servidor público estadual.

O Rio Grande do Norte tem aproximadamente 3,4 milhões de habitantes. Desses, 102.841 são servidores do Estado. Multiplicando cada servidor por cinco, que é a média histórica de dependentes diretos seus, teremos um total de 514.205 norte-rio-grandenses.

Esse número, entretanto, não dá a verdadeira dimensão da importância da remuneração do servidor público para a sobrevivência daqueles que vivem em seu entorno. Se diretamente a média é em torno de cinco pessoas para cada servidor, de forma indireta podemos, sem medo, multiplicar cada servidor por dez.

Ou seja, temos mais ou menos um milhão de pessoas vivendo às custas da remuneração de cada servidor público estadual no Rio Grande do Norte. Parece exagerado? Pense em um servidor público e relacione seus familiares, seus empregados, aqueles que lhe prestam serviços, e assim por diante, e conclua.

Pois bem, a influência política de cada servidor sobre seus dependentes diretos e indiretos é muito forte. E a influência do conjunto dos servidores públicos estaduais sobre a política partidária maior ainda. 

Aqui no Rio Grande do Norte dois Governadores, de forma mais expressiva, foram atingidos diretamente pela revolta do servidor público: Geraldo Melo e Rosalba Ciarlini. Certos ou errados, desde o início de seus governos abriram um contencioso tenso contra os servidores e amargaram índices muito altos de rejeição popular no final do mandato.

Esse nó Górdio, em relação a Robinson, é ainda mais complexo dada a peculiaridade de seu futuro Governo: com uma mão terá que administrar uma pesada herança de natureza financeira, fruto de gestões passadas, e, com outra, demandas incisivas dos servidores, historicamente espoliados, e dessa vez apadrinhados por quem praticamente lhe deu a vitória, o PT. Demandas cada vez maiores face à inflação oficial alta e extra-oficial altíssima (inflação de serviço), e a compressão salarial.

Medidas paliativas, ou de negaceio, historicamente utilizadas, não resultarão em nada favorável. Caso sejam utilizadas em muito breve hão de dilapidar seu patrimônio de legitimidade política. E confrontos, bem como a inércia do servidor "emburrado", vão paralisar sua administração. 

Há soluções? É possível. Um primeiro e importante passo é enfrentar o problema imediatamente, admitindo sua existência e o tratando com a importância que ele sempre teve e merece. Como não pode deixar de ser, alguns passos têm natureza político estratégica. Alguns outros são de natureza essencialmente técnica...

Esse é, apenas, um dos primeiros passos que precisam ser dados para que o Governador eleito possa estabelecer uma diferença essencial em relação aos governos anteriores. Há muito outros, claro.

Entretanto como se trata de algo que afeta profundamente as finanças públicas do Estado, e atinge diretamente um número expressivo de seus habitantes que têm forte poder de replicação, é possível considera-lo o verdadeiro nó Górdio das administrações públicas estaduais.

Ver: http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2011/06/governo-versus-servidor-publico.html

http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2011/03/o-servidor-publico-e-as-elites.html

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

TRISTE CLASSE MÉDIA BRASILEIRA

* Honório de Medeiros

Triste classe média brasileira: em uma ponta sustenta a iniquidade dos corruptos, em outra a envergonhante esmola para a base social. Pior: aceita tudo passivamente...

terça-feira, 21 de outubro de 2014

NADA VALE UMA INDIGNIDADE

* Honório de Medeiros

Estamos no fim da corrida eleitoral. Neste espaço, apesar de minha posição firme em defesa dos meus candidatos, creio não ter perdido, em qualquer momento, o respeito por quem discorda de mim. Este é o testemunho que eu almejo de quem me leu. Entretanto, lamento, e lamento muito a sociedade dividida que a eleição vai deixar como legado. Lamento esse clima de ódio gratuito, típico de quem não compreende que tudo passa, e o tempo é implacável. Lamento pelas amizades perdidas, as incompreensões, os desentendimentos. Culpo os líderes, sua ânsia de poder, sua incompreensão do verdadeiro papel de alguém que momentaneamente está à frente do caminho. Nada vale uma indignidade. Às vezes uma derrota é tudo quanto precisamos para crescermos enquanto humanos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

TOMARA QUE DEUS NÃO EXISTA

Folha de S.Paulo

Por Frederico Vasconcelos

Sob o título “Tomara que Deus não exista“, o artigo a seguir é de autoria do procurador da República Davy Lincoln Rocha, de Joinville (SC), que manifesta sua discordância sobre a concessão do auxílio-moradia.

"Brasil, um país onde não apenas o Rei Está nu. Todos os Poderes e Instituiçōes estão nus, e o pior é que todos perderam a vergonha de andarem nus. E nós, o Procuradores da República, e eles, os Magistrados, teremos o vergonhoso privilégio de recebermos R$ 4.300,00 reais de “auxílio moradia”, num país onde a Constituição Federal determina que o salário mínimo deva ser suficiente para uma vida digna, incluindo alimentação, transporte, MORADIA, e até LAZER. A Partir de agora, no serviço público, nós, Procuradores da República dos Procuradores, e eles, os Magistrados, teremos a exclusividade de poder conjugar nas primeiras pessoas o verbo MORAR. Fica combinado que, doravante, o resto da choldra do funcionalismo não vai mais “morar”. Eles irão apenas se “esconder” em algum buraco, pois morar passou a ser privilégio de uma casta superior. Tomara que Deus não exista… Penso como seria complicado, depois de minha morte (e mesmo eu sendo um ser superior, um Procurador da República, estou certo que a morte virá para todos), ter que explicar a Deus que esse vergonhoso auxílio-moradia era justo e moral. Como seria difícil tentar convencê-Lo (a ele, Deus) que eu, DEFENSOR da Constituição e das Leis, guardião do princípio da igualdade e baluarte da moralidade, como é que eu, vestal do templo da Justiça, cheguei a tal ponto, a esse ponto de me deliciar nesse deslavado jabá chamado auxílio-moradia. Tomara, mas tomara mesmo que Deus não exista, porque Ele sabe que eu tenho casa própria, como de resto têm quase todos os Procuradores e Magistrados e que, no fundo de nossas consciências, todos nós sabemos, e muito bem, o que estamos prestes a fazer. Mas, pensando bem, o Inferno não haverá de ser assim tão desagradável com dizem, pois lá, estarei na agradável companhia de meus amigos Procuradores, Promotores e Magistrados. Poderemos passar a eternidade debatendo intrincadas teses jurídicas sobre igualdade, fraternidade, justiça, moralidade e quejandos. Como dizia Nelson Rodrigues, toda nudez será castigada!"

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

DE GUERRA ELEITORAL

* Honório de Medeiros

Nesta altura da guerra eleitoral a razão é algo raro. Os inocentes úteis de ambos os lados duelam, descabelados, suados, soltando fogo pelas ventas, com "standards" retóricos de alto teor ofensivo e nenhum conteúdo racional. Nada de novo. Desde que o homem é homem é assim. Alguns criam religiões e deuses para os muitos se despedaçarem por eles. E, durante todo o tempo, se refestelam com tudo quanto há de melhor. O mesmo melhor que, para os muitos, é pura miragem...

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

IMENSO FARDO...

* Honório de Medeiros

Votarei em Aécio Neves, não tenho dúvidas, em respeito aos fundamentos da democracia e da economia. Não quero o Brasil uma república bolivariana, aos moldes da Venezuela e Argentina; tampouco quero um País no qual enquanto os banqueiros lucram cada dia mais, e a base social é permanentemente manipulada com esmolas, a classe média, a sós, sustenta essa imenso fardo.

domingo, 28 de setembro de 2014

DESIGUALDADE NO BRASIL É MAIOR QUE APREGOA O GOVERNO

Desigualdade no Brasil é maior do que mostra a Pnad, diz estudo.

Levantamento de estudiosos do Ipea e da UnB constata que não só o abismo entre pobres e ricos não está caindo, como também é maior do que se imaginava.

* Ana Clara Costa

"Hoje é o Dia mundial de combate ao trabalho infantil. Atualmente há no Brasil mais de 4 milhões de crianças e adolescentes trabalhando.

Estudo: ao cruzar dados da Pnad com os do Fisco, pesquisadores constatam que desigualdade não caiu (Wilson Dias/ABr/VEJA).

Um estudo publicado há poucos dias num site de pesquisa científica deve acirrar o debate em torno do tema desigualdade. Intitulado A estabilidade da desigualdade de renda no Brasil, 2006 a 2012, o documento aponta que não só a desigualdade se manteve estável nos últimos anos, como também é mais alta do que aponta a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os pesquisadores relacionaram os dados sobre a renda domiciliar da Pnad e números obtidos da declaração do Imposto de Renda de pessoas físicas. A constatação é de que o abismo entre ricos e pobres não foi reduzido nesse intervalo, ao contrário do que mostra a Pnad. Outro ponto importante mostrado pelos estudiosos é que o coeficiente de Gini, índice usado mundialmente para medir a concentração de renda, é muito maior quando se associam as duas variáveis (renda domiciliar e renda declarada ao Fisco), do que quando leva em conta apenas os números apurados pelos recenseadores do IBGE.

Leia também (no Google):

*No Brasil de Lula e Dilma, os ricos ficaram mais ricos.

*Falta transparência na divulgação de números sobre desigualdade no Brasil.

O indicador varia de zero, que é a igualdade perfeita, até um — o grau máximo de desigualdade. Pelo novo estudo, o índice nos anos de 2006, 2009 e 2012 são, respectivamente, 0,696, 0,698 e 0,690. Já a Pnad aponta que, nesses mesmos anos, o Gini ficou em 0,539, 0,516 e 0,498. “Ao que tudo indica, as Pnad subestimam as rendas mais altas e, por isso, não monitoram completamente o comportamento da desigualdade total”, informam os acadêmicos da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Medeiros, Pedro Souza e Fabio Castro. Medeiros e Souza também são pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Segundo o levantamento, as pesquisas domiciliares indicam uma queda persistente da desigualdade de 2006 a 2011, que só foi interrompida em 2012. Mas, ao ajustarem à pesquisa as rendas dos brasileiros mais ricos a partir de dados tributários, e não aqueles levantados por recenseadores, a queda na desigualdade deixa de existir. “Houve crescimento da renda, mas, se o Brasil cresceu para todos, os ricos se apropriaram da maior parte desse crescimento”, diz a pesquisa. Os dados tributários são usados pelo pesquisador francês Thomas Piketty para compor seu estudo sobre desigualdade. Seu banco de dados deu origem ao livro O Capital no Século XXI, que será lançado no Brasil em novembro, pela editora Instrínseca. Piketty não citou o Brasil em sua publicação porque o governo brasileiro não respondeu aos seus pedidos por dados tributários.

A Pnad é considerada uma fotografia incompleta da desigualdade porque as informações sobre a renda são fornecidas pela própria população aos recenseadores. Isso significa que os próprios cidadãos podem subestimar ou superestimar seus ganhos. Os dados do Imposto de Renda são mais precisos porque, além de serem oficiais, mostram posse de bens e rendimentos isentos ou não tributáveis, como doações, investimentos em poupança e outras aplicações cuja tributação ocorre direto na fonte. O levantamento seria mais completo ainda se usasse dados da declaração de renda de pessoa jurídica, já que muitos brasileiros — sobretudo os mais ricos — declaram seus rendimentos como tal, e não como pessoa física.

Os três autores produziram, anteriormente, um estudo levando em conta apenas os dados das declarações de imposto de renda, sem a Pnad. Na última semana, o site de VEJA teve acesso ao material, que mostra que a concentração de renda aumentou no país entre 2006 e 2012. Segundo o levantamento, encomendado pelo Ipea, os 5% mais ricos do país detinham, em 2012, 44% da renda. Em 2006, esse porcentual era de 40%. Os brasileiros que fazem parte da seleta parcela do 1% mais rico também viram sua fatia aumentar: passou de 22,5% da renda em 2006 para 25% em 2012. O mesmo ocorreu para o porcentual de 0,1% da população mais rica, que se apropriava de 9% da renda total do país em 2006 e, em 2012, de 11%.

A Pnad de 2013 foi publicada no último dia 18, mostrando que a diferença de renda entre pobres e ricos se mantem alta. No dia seguinte, o IBGE convocou entrevista coletiva para anunciar que o levantamento continha “erro grave”. Depois de apontadas as correções, o indicador de desigualdade melhorou, mas a mudança não foi suficiente para reverter a tendência de conge'amento. O IBGE saiu do episódio com a imagem arranhada."

DE DESELEGÂNCIA EM PERÍODOS ELEITORAIS

* Honório de Medeiros

Quanto mais agudo fica o atual processo eleitoral, quanto mais próximo seu desfecho, menos elegantes ficam as pessoas. É algo inversamente proporcional. Sob pressão o ser humano se revela exatamente como de fato é. Caem as máscaras. Surge a verdadeira face de cada um. Enquanto isso aqueles que conduzem os cordéis se regozijam por mais uma vez assegurarem o domínio da carneirada...

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A LEI É TUDO; A LEI NÃO É NADA...

O tal do Youssef aceitou o acordo de delação premiada que o Ministério Público lhe propôs. Vai entregar tudo o que sabe acerca da roubalheira desenfreada nesses últimos anos. Não tenho ilusões. A lei é sempre instrumento do Poder. E é sempre interpretada de acordo com a correlação de forças predominante. E é sempre aplicada, em última instância, de acordo com essa mesma correlação de forças. Nesse processo o resíduo, o detalhe pouco importa. Neste mundo midiático, feérico, vertiginoso e de aparências, é uma excrescência arcaica crer que a norma jurídica existe para fazer justiça. Quando faz, se o faz, são espasmos que o sistema logo, logo, corrige. A lei é tudo; a lei não é nada...

Meu amigo Assis Nascimento lembra: "O coronel Chico Heráclito, lá de Limoeiro já dizia: 'A lei é como uma cerca - quando é forte a gente passa por baixo; quando é fraca a gente passa por cima'."

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

DE MARQUETEIROS E INOCENTES ÚTEIS



* Honório de Medeiros

Impressionante o trabalho dos marqueteiros: estão conseguindo "vender" a idéia de que roubar é inerente à condição humana e, sendo assim, já que todos somos ladrões, o melhor, hoje, é ficar tudo como está. O pior é perceber pessoas reputadas como inteligentes acreditarem piamente nessa manipulação. São os tais inocentes úteis...

Arte em: cmarinsdasilva.com.br

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

OS LIVROS VIRARAM UM PRODUTO SUPÉRFLUO...



"Você estudou um pouco de economia, Marc? Os livros viraram um produto supérfluo. As pessoas querem um livro que as agrade, relaxe e divirta. E se não for você a lhes dar um livro assim, alguém dará, e você acaba indo parar na lata de lixo."
(Personagem de "A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert"; Joël Dicker).

sábado, 13 de setembro de 2014

A RECESSÃO CHEGOU...

* Honório de Medeiros




Tive no Alecrim agora de manhã. Na 6, para comprar umas lâmpadas. Puxei conversa: "e então, ganhando muito dinheiro?" "Quem?", respondeu. "A crise chegou." "Recessão?", perguntei. "Não sei bem o que é isso não, mas para o senhor ter uma ideia, o grosso da minha venda é para construtoras. As compras escassearam. Um amigo amigo meu, dono de uma construtora, me disse que tem uma quantidade imensa de imóveis à venda, sem comprador, em Natal." Eu disse: "deve ser por isso que aumentou a quantidade de folhetos nos sinais e ligações para nossos celulares, oferecendo apartamentos..." É, a crise chegou. Está aí, nós vamos sentir seus efeitos em breve. Os governos já sofrem com a diminuição dos repasses do Fundo de Participação. Servidor Público, menos gasto e mais poupança! Resultado de uma condução completamente equivocada da economia nesses últimos anos... 

Arte em economiaclara.wordpress.com

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

E A TELEFONIA NO BRASIL, HEIM?

* Honório de Medeiros

Nada simboliza tanto uma gestão estabelecida para manipular aqueles a quem deveria servir quanto o serviço de telefonia no Brasil. Tudo funciona na forma; nada funciona no conteúdo. Às vezes penso que os celulares dos servidores da Anatel são especiais, e a TIM, OI, CLARO lhes proporciona um serviço que em nada é semelhante a aquele que nós, pobres mortais contribuintes extorquidos, temos - quando temos - acesso. 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O BURACO É EM CIMA, BEM NO TOPO



* Honório de Medeiros

Imbuídos da crença nefasta de que o banditismo, no Brasil, tem raízes que se alimentam exclusivamente da desigualdade social, os Governos, trocando a exceção pela regra, desconsideram a imensa legião dos que compõem a base social e vivem sua vida trabalhando honestamente. Qualquer pesquisa feita no sistema prisional brasileiro vai constatar o óbvio: poucos dos ali recolhidos lá estão porque não tinham o que comer quando infringiram a lei. Na verdade, o buraco é em cima, bem no topo... 

sábado, 6 de setembro de 2014

FEUDALISMO, CORONELISMO E CANGAÇO

* Honório de Medeiros

Convido-lhes a empreender, comigo, uma ousadia.

Para tanto precisamos recordar o que sabemos acerca do feudalismo, esse nicho histórico que começou com a queda de Roma – gosto de imaginar a cena de Hipona, da qual Santo Agostinho era bispo, incendiada pelos bárbaros enquanto ele agonizava, como sendo o verdadeiro marco inicial – e terminou com o início da idade moderna, mais precisamente, segundo vários historiadores, com a descoberta da América por Cristovão Colombo e o início do absolutismo, cujo primeiro momento, e ninguém há de me convencer do contrário, ocorreu quando Felipe, o Belo, criou seu próprio papa, o de Avignon, e dizimou os templários, fortalecendo a instituição do Estado.

O feudalismo – sabemos todos – calcava-se na propriedade da terra e na rígida divisão da Sociedade em nobres, clero e servos das glebas. Os nobres e o clero eram aliados, claro, para espoliar o povo.

O epicentro dessa estrutura de poder era o Barão feudal, latifundiário, em cujo entorno gravitavam seus vassalos, ou seja, proprietários de terra de menor importância, e a nobreza eclesiástica. A ele pertencia o direito de aplicar o baraço e o cutelo – ou seja, de criar, interpretar e aplicar as leis ou costumes. Sua vontade era lei.

A igreja exercia papel fundamental nesse sistema, por vários motivos: em primeiro lugar era detentora de muitas riquezas; em segundo lugar sua nobreza era formada pelos filhos segundos dos senhores feudais – os primeiros seguiam o caminho das armas; e, em terceiro, a ela cabia a formatação ideológica que assegurava o domínio da nobreza e do clero, bem como a fiscalização de possíveis desvios – instrumentalizada por intermédio da confissão e delação – bem como a punição dos recalcitrantes via inquisição.

Brigavam muito entre si, os nobres, disputando terra e prestígio político. Quem tinha terra, tinha Poder; quem tinha Poder, tinha terra. Por exemplo: a primeira cruzada não foi à Terra Santa, como comumente se crê. Foi contra os Cátaros, uma heresia que ameaçava dominar todo o Sul da França, sob o beneplácito do Conde de Toulouse.

Contra os Cátaros levantou-se a Igreja, ameaçada em sua soberania ideológica, e os barões feudais do norte da França, liderados por São Luis, ou Luís XI, como queiram. Na verdade o pano de fundo dessa cruzada foi a disputa pelas ricas terras do sul da França. Nada mais.

Para essas brigas mobilizavam os nobres seus vassalos, seus servos, bem como exércitos de mercenários. À toda mobilização acompanhava a Igreja, abençoando ou punindo, conforme o caso.

Pois bem, embora ainda haja muito o que se dizer acerca do feudalismo, façamos uma parada estratégica e utilizemos o “desenho” – chamemo-lo assim – de sua estrutura de poder para analisar o nicho histórico brasileiro ao qual denominamos de coronelismo.

Há alguns, para não dizer vários, autores que dizem não ter havido feudalismo no Brasil. Eu, pelo meu lado, com fulcro em Raymundo Faoro, Gustavo Barroso e Câmara Cascudo, penso que tal não procede. 

Analisemos.

O coronelismo também se calcou na posse da terra e no prestígio político. O coronel – verdadeiro senhor feudal – era o epicentro de uma estrutura de poder. Também ele tinha, enquanto senhor feudal, seus vassalos, os proprietários menores de terra, a si ligados por laços de compadrio e interesses mútuos, que lhe prestava vassalagem.

O coronelismo dependia, ideologicamente, da igreja, que tratava de fiscalizar e punir desvios da ortodoxia, como o demonstra tudo quanto ocorreu com Padre Cícero. E dependia da confissão e delação, principal forma de obtenção de informação por parte da igreja, e sempre à disposição, seus resultados, do coronel que a mantinha.

Quem não lembra da estreita relação do Coronel com o Padre, em o Alto da Compadecida, de Ariano Suassuna?

O coronel tinha os seus servos da gleba, empregados que viviam às custas dos sobejos do grão-senhor.

E da mesma forma que no feudalismo, a vontade do Coronel era lei. Ele era senhor de baraço e de cutelo.

Claro, brigavam entre si disputando terra e prestígio, briga essa que arrebanhava vassalos – os compadres; servos da gleba, os jagunços; e mercenários, os cangaceiros, como nos demonstra a rica história do Cariri cearense.

Agora talvez os senhores estejam se perguntando: e qual a relação entre tudo isso e Chico Pereira?

A relação é a seguinte: Chico Pereira, assim como Jesuíno Brilhante, o mais remoto, passando por Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião, Corisco, e outros menores, tal qual Cassimiro Honório, e por aí segue, não eram servos da gleba. Eram proprietários rurais em maior ou menor escala. Todos ligados a coronéis, todos ligados a alguma estrutura de Poder detendo parcela dele.

Ou seja, os grandes líderes cangaceiros estão mais próximos da nobreza da terra que do proletariado.

Em sendo assim, não faz o menor sentido a teoria do banditismo social, de Hobsbawn quanto aos cangaceiros. Pensa assim, por exemplo, aproximadamente, Luiz Bernardo Pericás, em “Os Cangaceiros”, Tampouco faz sentido a teoria que aponta os cangaceiros enquanto desviantes, da qual faz uso Frederico Pernambucano de Mello. Muito menos a teoria marxista da luta de classes, calcada em Althusser, de tantos outros.

O cangaço é resultante de brigas intestinas entre famílias que dispunham de terra e prestígio. A briga era no seio do coronelismo. Era o coronelismo. Todo líder cangaceiro, com raras e honrosas exceções – até mesmo Sabino Gore, por exemplo, está inserido nesse contexto.

O referencial teórico aqui talvez seja Gaetano Mosca e sua teoria da classe política, enquanto situação limite em um plano mais complexo, ou seja, a teoria darwiniana.

Nesse sentido concluo propondo o seguinte: 1) que se faça o estudo do cangaço a partir do coronelismo, ambientando o epifenômeno no fenômeno; 2) que se estude Chico Pereira, por exemplo, a partir do panorama político de sua época, no Sertão paraibano.

Chico Pereira não era um bandido social, e embora fosse um desviante, no sentido de que se voltou contra o sistema legal de sua época, essa informação nada acrescenta quanto a entender causa e efeito de sua existência enquanto cangaceiro.

Por fim, lembro uma consequência imediata da assunção desse modelo teórico: a verdeira história do ataque de Lampião a Mossoró é a história da briga entre coronéis paraibanos e coronéis norteriograndenses por prestígio político no Oeste e Alto Oeste potiguar.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

APRENDER A APRENDER



* Honório de Medeiros (*)


1) APRENDEMOS (conhecemos) quando nos defrontamos com um problema, qualquer que seja ele: como lembra Popper, "cada problema surge da descoberta de que algo não está em ordem com nosso suposto conhecimento; ou examinado logicamente, da descoberta de uma contradição interna entre nosso suposto conhecimento e os fatos; ou, declarado talvez mais corretamente, da descoberta de uma contradição aparente entre nosso suposto conhecimento e os supostos fatos..." 

a) ESSE problema pode ser inesperado (não por outra razão a sabedoria popular diz: “a necessidade é a mãe da invenção); 

b) OU provocado; 

b.1) AO deliberadamente problematizarmos as coisas e/ou os fenômenos; como disse Bachelard, “O conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão”; 

b.1.1) POR intermédio da contra-argumentação, utilizando o contra-exemplo que expõe a contradição da teoria exposta; 

2) QUALQUER problema é, antes de tudo, uma questão do espírito (intelectual), mesmo no trabalho puramente mecânico. 

3) ELABORAMOS teorias que são soluções provisórias ao problema e devem ser testadas. 

a) O teste dirá se erramos ou acertamos; 

b) O erro nos ensina, posto que não precisaremos mais trilhar o mesmo caminho já tentado.

4) SE aprendemos quando nos deparamos com um problema, há um conhecimento que o antecede e nos permite identificá-lo. 

5) SE o conhecimento é retificável, é evolutivo, no sentido de que caminha sempre do mais simples para o mais complexo. 

6) O conhecimento pode, então, ser compreendido como um “vir-a-ser” de complexidade exponencial. 

7) A recusa em problematizar as coisas e/ou fenômenos conduz a neuroses. Aqui se compreenda essa recusa como uma fuga do problema com o qual alguém se defrontou. 

8) O como dizemos a nós mesmos, ou aos outros, o que aprendemos é papel da Retórica: podemos ser convencidos ou seduzidos, convencer ou seduzir. 

9) NÃO é possível comparar INFORMAÇÃO com CONHECIMENTO; quando conheço, estou informado, mas, nem sempre, quando estou informado, conheço. Posso estar informado de algo sem conhecê-lo (compreendê-lo).

(*) Texto republicado, com correções, a pedido. 


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

NADA TÃO OPRESSIVO QUANTO O ESTADO SE MOVENDO CONTRA UM SER HUMANO



* Honório de Medeiros

Nada tão opressivo quanto o Estado se movendo contra um ser humano. A opressão chega dissimulada por leis, sejam elas constitucionais, complementares, ordinárias, regulamentações, portarias, ofícios-circulares, etc, usadas à exaustão por inocentes-úteis ou jagunços a serviço da máquina de moer gente. Com que prazer um servidor público nega, baseado em uma portaria, um direito de um cidadão, mesmo que esse direito esteja amparado em uma lei maior...

De quando em vez me deparo com a notícia de alguém que luta, de todas as formas possíveis e imagináveis para provar que está vivo! Isso mesmo: que está vivo. Está vivo mas está morto para o Estado, a burocracia assim determinou. Contra o atestado do seu óbito, emitido erroneamente pelo Estado, sequer valem suas impressões digitais e um certificado de qualquer médico do SUS afirmando que aquele cidadão que lhe procurou tem todos os sinais vitais em perfeito funcionamento.

O cidadão sequer desconfia do quanto é oprimido. Bestificado, anulado, alienado pelo circo multimídia que o Estado lhe proporciona, segue sua vidinha chinfrim até o último suspiro, dando satisfação de seus atos a todos quanto possam ameaçar sua paz de ameba. Vive de salamaleques ao chefe próximo ou distante. Salamaleques comprados pelos reais a mais em sua conta bancária, o afago condescendente do detentor do Poder...

Quando não é a rotina massacrante, toda manipulada pelo Estado, que lhe assegura pagar o personal-trainer, o cirurgião-plástico, o veículo importado, o vinho francês, a vaidade tola.

Ai de nós...

* Arte em: veliqs.blogspot.com 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

MORE HUMAN THAN HUMAN

Roy Batty (Rutger Hauer)


"All those moments will be lost in time, like tears in rain" (in Blade Runner).



sábado, 16 de agosto de 2014

BALADA DO RETORNO



* Antônio Gomes

Agora retorno. Recolho as velas da minha nau imaginária. Solto a âncora. Desço ao cais. Respiro fundo a solidão. Olho o começo da noite, as luzes, as construções, e sigo. Caminho lentamente. A neblina molhas as pedras, me molha. Chego à minha porta. Entro. Enxugo o rosto molhado com o braço. Tomo um grogue. Eis que chega seu sorriso luminoso. Seu colo perfumado. Seu olhar de madrugadas. Nossa história comum. Faz-se, primeiro o silêncio. Depois, há vinho, cantigas e risos. Dança-se. Estou em casa.

Arte em 10temidos.blogspot.com

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

RESTA RESISTIR!

* Honório de Medeiros

Resta resistir antes da coisificação final - é isso mesmo, "coisificação" -, quando todos seremos meras mercadorias: resistir por resistir, pois a própria resistência será apropriada e cumprirá seu papel de elemento do mercado. Mas seguir resistindo é o que nos resta para assegurar aos que virão a possibilidade de criar fissuras no sistema por onde a consciência-de-si penetre e, qual vírus, devaste os alicerces do Estado, esse instrumento alienante e manipulador. A arma com a qual se há de resistir é o ceticismo permanente, exponencial, crítico.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

FILHOS, MELHOR TÊ-LOS...

* Honório de Medeiros

Conhecidos, tenho muitos. Muitos, mesmo. Não sei se em decorrência do tempo vivido, dos meus defeitos ou qualidades, se é que tenho algumas. Talvez uma mistura disso tudo.

Amigos, entretanto, tenho poucos. Conto nos dedos. Alguns, antigos. Outros, mais recentes. A todos dispenso o mesmo afeto que pretendo gentil e leal. Pretensão? Talvez. Entretanto tenho como isso como certo posto que recebo, de volta, além do que mereço.

Percebo que, com o passar dos anos fico mais ensimesmado, o que pode parecer, para alguns, distanciamento, sem o ser. Ao contrário. Nessa amiudada conversa comigo mesmo há sempre muito espaço para o afeto tão especial que é a amizade. Mas agora já não há a necessidade juvenil do contato pessoal constante, tão comum nos anos em que precisávamos viver todos os dias como se não houvesse um depois-de-amanhã.

Digo tudo isso tendo em vista que para eles, meus amigos, escrevo essa notícia singela, dando conta de uma semana, já passada, especialmente feliz em minha vida. Vai dessa forma, fora do tempo exato: em mim a maturação das coisas do coração é lenta. 

Tão feliz que eu quis partilha-la, e, ao mesmo tempo, também quis que todos os outros pudessem saber desse partilhamento. Em assim sendo, tratei de publica-la onde quem me conhece sabe que pode encontrar algum texto meu, caso queira se dar ao trabalho de me ler.

É que meu filho se formou. A se crer em sua história pessoal, vai cuidar das pessoas, enquanto médico, com o mesmo carisma que o torna, aos meus olhos de pai, afetuosos, mas de forma alguma pouco críticos, tão querido pelos que o cercam. Mais que sua formatura em Medicina louvo, nele, a ética, a fé, o foco, e a disciplina que o levaram a realizar um sonho de criança.

Orgulhoso constato, nele, qualidades que eu não tenho, ao mesmo tempo que faço vista grossa para os defeitos meus que porventura tenha herdado.Tenho certeza que o tempo vai cuidar de esmerilhá-lo.

Creio nele, enquanto pessoa, e aprendi a respeitar sua angústia com a impossibilidade de fazer mais do que gostaria e pode fazer. Peço a Deus que o mantenha assim, sempre refém de um caráter sem mácula.

E minha filha ingressou, aos dezesseis anos, na mesma semana das festas do seu irmão, no curso de Direito, após uma batalha judicial e burocrática que tentou impedir sua inteligência viva, instigante, sua voraz capacidade de leitura, sua habilidade natural para os idiomas, de pousar no ambiente apropriado para quem anseia, como ela, por entender o mundo no qual vive para melhorá-lo, ou seja, na Academia.

Não pude deixar de me emocionar quando a vi subindo lentamente os degraus que conduzem ao curso de Direito da mesma Universidade Federal onde estudei, fiz política estudantil nos estertores da Ditadura, e me formei. Naquele momento se fez presente, além de qualquer outro, a consciência da velocidade com o qual o tempo nos aniquila e nos pereniza por intermédio dos filhos.

E em assim sendo, após comunicar a vocês, meus queridos amigos, o que se passou nesses dias tão felizes para mim, eu lhes peço que compartilhem, comigo, esse sentimento singular, tão humano, que é a felicidade de se sentir, talvez em um dos aspectos mais importante de todos, de certa forma realizado.

Fosse eu poeta, não tendo feitos a contar, anônimo que sou, e cada dia mais feliz com essa condição, mas livre na justa medida em que um homem pode ser em tempos que tais; sem dever a ninguém, exceto ao meu próprio esforço, o pão, o teto, e o transporte que são meus, escreveria para eles um poema tão belo quanto possível para lhes dizer do meu orgulho e da minha alegria, nestes dias que correm rápidos, em tê-los como filhos, em partilhar com eles minha história, e em ser testemunha de tudo quanto estão a construir honradamente.

Como não sou, bastei-me nessas linhas que se mal-traçadas, são sinceras, e termino agradecendo a atenção dos amigos e desejando, aos meus filhos, que Deus lhes torne, sempre, seu caminho cada vez mais leve. 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O FACEBOOK NOS MANIPULA

* Honório de Medeiros

Pois é, o Facebook nos manipula.

Nada para estranhar, neste mundo no qual tantos querem manipular, constranger, seduzir ou impor sua vontade a qualquer custo.

Há sempre alguém querendo nos manipular, constranger, seduzir ou nos impor sua vontade, essa é que é a verdade.

Prestemos atenção: não são as instituições, os órgãos, os partidos, o Estado, que querem nos manipular, constranger, seduzir ou impor sua vontade. São os homens que estão por trás de cada um deles. As instituições, etc, etc, são criações do homem para manipular, constranger, seduzir ou impor sua vontade. Não o contrário. Há homens que não pertencem a instituições, etc, etc, mas não há instituições sem homens.

Pois bem, voltando ao Facebook.

Eu tenho para lá de mil "amigos" no Face. Sempre pensei que postando algo no dito cujo essa postagem ficasse à disposição desses meus amigos. Sempre pensei que minha postagem os alcançasse.

Era para ser assim. Mas não é desse jeito que funciona.

Na verdade minha postagem somente alcança "amigos" que fazem parte de uma "bolha" constituída por aqueles com os quais eu interajo com mais frequência. Aqueles com os quais eu pouco interajo não são alcançados.

Não era para ser assim. Ao contrário. Aqueles com os quais eu tenho menos contato deveriam receber minhas postagens para serem estimulados, dessa forma, a reatar os laços comigo.

Desconfio que o Face, ao agir dessa maneira, privilegiando essas "bolhas", quer evitar seu uso comercial ou político. Ou seja, evitar que eu, candidato, mande mensagens que serão alcançadas por todos os meus "amigos". Ou evitar que eu, comerciante, faça publicidade gratuita de meus produtos a todos os meus "amigos".

Desenvolvi essa teoria após passar por uma experiência singular: vi um vídeo muito interessante postado por um "amigo" meu e quis socializá-lo com minha esposa e filhos. Nos comentários transcrevi (citei) seus nomes, que ficaram em negrito, e a informação acerca do vídeo. Eles, apesar de serem meus "amigos", não foram alcançados pela mensagem. Logicamente por não ter, eu, muita interação com eles nessa rede social.

Mandei a mesma mensagem para um "amigo" meu integrante da "bolha". Bingo! Ele recebeu na hora, em tempo real...

Até concordo em pensar que é para ser assim mesmo. Mas não concordo com a manipulação. As regras deveriam ser claramente disponibilizadas quanto a essa estratégia do Face.

Pois é, o Facebook nos manipula. Passa uma falsa perspectiva para nós de que seremos lidos pela legião composta por todos os nossos "amigos" feicibuquianos. Nada mais falso...

Isso é muito ruim para quem é escritor.  

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

PROGRAMAÇÃO II SEMINÁRIO PARAHYBA CANGAÇO E CARIRI

PROGRAMAÇÃO II SEMINÁRIO PARAHYBA CANGAÇO E CARIRI
CANGAÇO PARAÍBA 2014

22 de agosto de 2014 – Local: Centro Cultural Banco do Nordeste
18:30h – Apresentação do Xaxado
19:00h – Solenidade de Abertura
19:30h – Conferência de Abertura
Tema: A relação entre memória e História e a sua importância para a formação da identidade regional: 90 anos do ataque do grupo de Lampião a Sousa.
Conferencista: Prof. Me. Wescley Rodrigues – Cajazeiras/PB FAFIC

23 de agosto de 2014 - Local: Centro Social - Nazarezinho
08:00h – Visita técnica a Casa de Chico Pereira no sítio Jacu.
09:00h – Solenidade de Abertura
09:30h  –  Mesa redonda:  A articulação do ataque a Sousa e a figura de Chico Pereira.
Palestrantes –  Wanessa Campos – Recife/PE
Aderbal Nogueira – Fortaleza/CE
Maria do Socorro Leon – Nazarezinho/PB
Maria do Carmo Pereira – Cajazeiras/PB
Coordenador: Chico Cardoso – Cajazeiras/PB
11:30h – Intervalo para o almoço
13:30h  –  Palestra:  O museu como lugar de memória e a sua importância para uma cidade.
Palestrante: Manoel Severo Barbosa – Fortaleza/CE
Coordenador: Paulo Gastão – Mossoró/RN
14:20h  –  Mesa de Trabalho:  A casa grande  do sítio Jacu: patrimônio que clama por atenção. Tombamento já!
Coordenador: César Nóbrega – Sousa/PB
Participantes: Secretaria de Cultura do Estado
FUNESC
IPHAEP
IPHAN
16:00h – Lançamento de livros
19:00h – Local: Centro de Treinamento/Sousa - PB
Mesa redonda: Coronelismo, cangaço e o ataque a Sousa.
Palestrantes: Honório de Medeiros – Natal/RN
Rostand Medeiros – Natal/RN
Otávio Maia – Catolé do Rocha/PB
Ângelo Osmiro – Fortaleza/CE
Coordenadora: Juliana Pereira – Quixadá/CE
(Roda de perguntas e respostas envolvendo o público)

24 de agosto de 2014 – Lastro - PB
08:00h – Visita técnica a casa onde foi preparada a resistência aos cangaceiros.
09:00h – Solenidade de Abertura
09:20h –  Mesa redonda:  A importância do cangaço para a história nordestina e a articulação da defesa contra os cangaceiros que invadiram Sousa.
Palestrantes – Guerhansberger Tayllow – Lastro/PB
José de Abrantes Gadelha – Sousa/PB
Ana Granja – Petrolina/PE
Narciso Dias – João Pessoa/PB

Coordenador: Francisco Pereira Lima – Cajazeiras/PB

sábado, 2 de agosto de 2014

NEM OS CORONÉIS SÃO OS BARÕES DA RALÉ

* Honório de Medeiros

Li e fiquei impressionado "Clãs Políticos no Congresso Nacional", da pesquisadora Lauren Schoenster, da Trasnparência Brasil. Procurem no Google. Leiam. Vão redescobrir o óbvio. Ou terem alguma surpresa.

Mudaram alguns poucos coronéis. Principalmente nos rincões. Não mudou o coronelismo. É a mesma estrutura de Poder de antes. Poucos mandam, muitos obedecem. Será que Borges sempre esteve certo? A democracia é mesmo uma ficção estatística?

Quando a massa consegue alguma coisa, fruto de um espasmo circunstancial ou de alguma manobra de uma facção integrante dos poucos que mandam, o sistema se abala mas volta logo ao normal e tudo continua como dantes. Certo, também, Lampeduza e sua célebre frase em "O Leopardo", "algo deve mudar para que tudo fique como está"?

Mas os poucos que mandam, mandam mesmo? É certo que mandando ou não, vivem bem, às custas da ralé. Nos tempos de hoje, o malandro não é mais o barão da ralé, como diria Chico Buarque, em samba antológico, a não ser que seja visto como um malandreco.

Os coronéis criam e manipulam os malandros e os malandros, para os coronéis, são ralé do mesmo jeito - nada de barão-, e os coronéis eles também, são ralé usada pelo dinheiro que pasmem para esse antropomorfismo, tem vida própria, cria, dita, interpreta e  impõe as regras do jogo, e cada ser humano que o segura em suas mãos inocentes ou criminosas nada mais faz que ser uma marionete nesse jogo imenso, colossal, incomensurável, no qual cada um de nós dá mais de si, seja de que forma seja, do que o necessário para aumentar a vida do dinheiro e alimentar cada um dos membros da ralé que compõem a teia, a malha, o sistema, que sem ter um ponto de partida nem de chegada, é algo em si mesmo e enreda tudo e todos...


O filósofo francês Jean Baudrillard, em quem os criadores de "Matrix" se inspiraram disse, em "Simulacros e Simulações" que o que a humanidade vive não é a realidade. Ele sustenta que a Sociedade, hoje, substituiu a realidade por signos e símbolos. Pode ser que esteja certo e tudo isso não passe de um imenso simulacro.

Eu, pelo meu lado, penso que a criatura engoliu o criador. Nada mais.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

IDH - ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO, NORUEGA E CUBA

Em se tratando de IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, os 20 países melhor situados, puxados pela Noruega, são capitalistas e democráticos no sentido liberal do termo, ou seja, no extremo oposto, por exemplo, de Cuba, China, Coreia do Norte, Venezuela, seus simpatizantes, e por aí vai...

quarta-feira, 16 de julho de 2014

DE PAI E MÃE: OS MEUS

* Honório de Medeiros

Para Elza Sena, onde ela estiver.

Para quem não gosta de adjetivos, aviso logo: não leia o texto.

Aliás, não sei por que essa neurose contra adjetivos. Um adjetivo é um instrumento: se mal usado, compromete; se bem usado, acrescenta.

Texto somente com substantivos é igual à mulher sem um toque de batom, um ajeitado no cabelo, um olho delicadamente delineado, uma gota de perfume. Falta poesia.

Pois bem, a minha mãe era extrovertida, determinada, solar; meu pai, por sua vez, introvertido, cismarento, noturno. Antípodas. Completavam-se.

Entendiam-se pelo olhar. Conversavam pouco entre si falando. Tinham longas conversas em silêncio.

Poucas vezes os vi amuados um com o outro. Anos depois, já maduro, minha mãe me confessou que muito cedo tinham feito um pacto: se brigassem não dormiriam sem se beijar e desejar boa noite. “Quebrava logo o gelo”, dizia ela.

Lá em casa as tarefas eram bem demarcadas: ela, administração; ele, o financeiro. Quem lidava, por exemplo, com o pessoal que vinha fazer algum serviço na nossa antiga casa às margens da Igreja de São Vicente, era minha mãe.

Dura, detalhista, sem papas na língua, amenizava tudo isso tratando os trabalhadores por igual e os convidando a partilharem nossa mesa comum.

Papai, discreto, observava tudo de longe. E ficava fazendo contas, controlando o parco orçamento doméstico, providenciando o pagamento.

Demonstravam afeto de formas bastante diferentes: mamãe abraçava, beijava, ficava arrodeando cada um de seus filhos e sobrinhos, perguntando, dando conselho, participando diretamente.

Papai somente me beijou uma vez, em toda a sua vida, quando me viu sair de casa, aos quatorze, em busca das ilusões da cidade grande. Beijou-me na testa. Marejou os olhos. Fiquei abismado. Engoli meu choro.

Amava de longe, de forma mansa, mas intensa. Chegava na hora certa, maneiroso, solidário. Mas não era de demonstrações afetivas.

Profundamente religiosos, assim o eram, também, de forma muito diferente: enquanto ela cria de uma forma bastante prática, manifestada por intermédio de sua participação em tudo que dizia respeito à Igreja de São Vicente, do coral às novenas, ele, pelo seu lado, movia-se silenciosamente nos meandros da fé.

Quando morreu, era Ministro da Eucaristia. E, ao contrário de minha mãe, era dado às orações solitárias, conversas particulares entre ele e os santos de sua estima.

Ambos de famílias antigas, tradicionais, sequer pegaram o fim do fausto familiar. Foram, desde o início, e com muita dificuldade, da pequena classe média: minha mãe funcionária pública, meu pai empregado de uma empresa familiar de beneficiamento de algodão.

No final, dois aposentados, contando cuidadosamente o dinheiro mirrado que o Governo depositava em suas contas bancárias no final de cada mês.

Mas nada relevante lhes faltou: a casa era antiga, mas boa, a mesa era farta, os filhos estudavam em bons colégios. Tinham, até mesmo, um fusquinha comprado zero quilômetro com o dinheiro do fgts da aposentadoria de meu pai. Eram respeitados e queridos na cidade que escolheram para viver e morrer.

Penso, hoje, que minha mãe foi feliz, vivendo sempre o momento presente, de sua forma intensa, visceral. O mesmo não sei dizer de meu pai.

Terá sido ele feliz? Acho que ter se afastado da sua viola amada, por injunções familiares, e trabalhado anos a fio no mesquinho e hostil ambiente da empresa onde era empregado acentuou sua melancolia de nascença.

Entretanto tinha orgulho dos filhos. E seus olhos claros, esquivos, brilhavam quando chegavam as boas notícias que cada um de nós lhe levava. Aparecia um sorriso rápido no rosto. E sua doçura natural se acentuava.

Desisti de me questionar acerca da existência de Deus. Qual minha mãe acredito e pronto. Ponto final. Penso como Pascal: em crer, mal não há.

Talvez haja, também, um fio de esperança a alimentar minha crença: a de que, em morrendo, possa reencontrá-los, sentir o abraço com cheiro de lavanda de minha mãe e o sorriso de meu pai em sua cadeira de balanço enquanto dedilha a viola.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A GESTÃO DA SELEÇÃO É UM ESPELHO DA GESTÃO DO BRASIL

* Honório de Medeiros

Posso não ter diploma de técnico de futebol, mas tenho cá minhas convicções e vou meter meu bedelho nesse assunto da seleção brasileira.

Uma delas é de que uma ruma de menino chorão não tem calibre para ganhar copa do mundo. Fiquei impressionado com o chororô deles. Que diabos foi aquilo? Sou de um tempo que homem não chora, engole as lágrimas, trinca os dentes e segue em frente. Não precisa de consolo.

E não adiante vir com conversa de psicólogo. Conheci muitos homens e mulheres de antigamente que não derramavam lágrimas como quem descasca dez cebolas de uma vez só, e eram pessoas equilibradas, íntegras, felizes a seu modo, em tudo e por tudo.

Fiquei perplexo com as lágrimas abundantes, os semblantes arrasados, o drama visceral dos nossos jogadores. Quanta fraqueza emocional... Nem as carpideiras do Sertão choram daquele jeito.

Outro fato que me impressionou foi a vocação brasileira para admitir e admirar sargentões do tipo Felipão, que transpira certezas sem fundamento e manipula os fracos com sua arrogância de botequim. O modelo Felipão anda por aí conduzindo a massa, lembra muito Lula, levando os bestas no bico, apresentando soluções superficiais e imediatistas para problemas antigos e estruturais, cheio de condescendência com os críticos.

Pois Felipão não teve a ousadia de querer impingir ao Brasil que a seleção jogou bem até o "apagão"? E que o "apagão" foi o culpado de tudo?

Para quem estuda Retórica, e analisa o quanto o corpo diz, é um copo cheio ver a mania que Felipão tem de dar uma palmadinha no rosto dos interlocutores quando fala com eles. Fez isso com Van Gaal. Fez isso com José Pekerman. Fez isso com outros. É ultrajante, medíocre, ultrapassado. Lembra certos políticos de quinta categoria, sem compostura, frequentadores de velórios e batizados. É o retrato de quem se esconde por trás de um ethos arcaico, distante de uma razão calcada em argumentos.

Por fim, é intrigante o quanto todo o processo pelo qual passou a seleção brasileira lembra nossa atual situação político-econômica. Assim como no Brasil, a elite que comanda os destinos da seleção é ultrapassada, comprometida do ponto de vista moral, manipuladora e limitada intelectualmente.

Na Argentina também é assim, mas lá tinha um técnico melhor preparado, e jogadores tecnicamente mais qualificados. Sim, e homens calejados jogando futebol...

Fatos são fatos, contra eles não há argumentos. Estão aí para quem quiser apreendê-los. Nesse sentido a gestão da seleção é um espelho da gestão do Brasil. Uma ilusão potencializada midiaticamente ante uma caterva de apaixonados aos quais falta, até mesmo, bom senso, a desmoronar às vezes lentamente, às vezes repentinamente, quando o tempo passa e a verdade aparece. Vejam a propaganda do Governo. Não parece que vivemos na Alemanha?

Quanto à questão tática ou estratégica, basta irmos aos jornais do exterior. Leiam o que os analistas de futebol de fora dizem do jogo de nossa seleção...    

sábado, 12 de julho de 2014

"A PERSUASÃO PERTENCE AO DOMÍNIO DA INFLUÊNCIA"

* Honório de Medeiros


"A persuasão pertence ao domínio da influência", nos diz Lionel Bellenger. Está claro. Mas por qual razão eu quero influenciar alguém?  Por querer que esse alguém perceba as coisas e os fenômenos como eu percebo. E por que eu suponho que posso ou devo fazer isso? Por supor que estou certo, e os outros, errados ou ignorantes. Trata-se de uma questão de Poder, em relação a valores meus e dos outros, posto que em relação ao mundo dos fatos, domínio da ciência e da técnica, não se influencia quanto aos seus objetos em si, demonstra-se por a + b. É importante não confundir aquilo que eu digo acerca de algo, no mundo da ciência ou da técnica, com aquilo que eu quero que você perceba daquilo que eu digo desse algo. Este foi o cerne do embate entre Galileu e a Igreja.