sexta-feira, 23 de novembro de 2018

FREDERICO PERNAMBUCANO DE MELLO E "GUERREIROS DO SOL"


* Honório de Medeiros

"O BRIO DE CRISTAL"

Em 19 de novembro de 2010 debati, com Frederico Pernambucano de Mello, acerca de sua obra-prima “Estrelas de Couro: A Estética do Cangaço”, sob mediação da escritora Clotilde Tavares, na IIª Feira Literária da PIPA (FLIPIPA).

Debate não é o melhor termo para definir esse encontro. Trocamos ideias, eu como aprendiz, e Frederico Pernambucano de Mello como mestre de todos nós, estudiosos da Cultura e História Sertaneja, ambos pontuados pela inteligência brilhante de Clotilde Tavares, ante uma plateia atenta e participativa.

Eu acabara de lançar meu "Massilon" (Nas Veredas do Cangaço e Outros Temas Afins).

Mas indo ao que importa, penso que todos os livros do mestre são importantes, entretanto dois são canônicos: "Guerreiros do Sol" e "Estrelas de Couro: A Estética do Cangaço". 

O primeiro é fundamental, e não há como estudar a cultura sertaneja nordestina sem o ler. Trata-se de obra tão importante quanto, por exemplo, "Os Sertões", de Euclides da Cunha, na opinião de muitos.

Discorrendo acerca do banditismo rural no sertão nordestino, lá para as tantas Pernambucano de Mello, em uma Nota Introdutória que compõe a introdução à 5ª edição revista e atualizada, na qual tive a honra de ser citado, observa:

"Num e noutro dos universos rurais nordestinos o banditismo teve lugar. Na mata litorânea como no sertão profundo. É claro que com diferenças. São dois mundos, afinal. Duas culturas. Dois homens. Duas sociedades. O coletivismo da tarefa agrícola domesticou o litorâneo. Afeiçoou à hierarquia e à disciplina, muito fortes nos engenhos de açúcar. O sertanejo permaneceu puro em sua liberdade ostensiva, quase selvagem. A pecuária não veio se cristalizar ali em trabalho massificado. Não embotou o individualismo do sertanejo. O seu livre-arbítrio. Ou a sobranceria. Veio daí o orgulho pessoal exagerado que apresentava. O brio de cristal. As próprias cercas não  chegam ao sertão antes do século passado. A visão do sertanejo era a caatinga indivisa. Com o homem se sentindo absoluto numa paisagem absoluta".

Talvez alguns não concordem, mas como não se render a essa tessitura finamente composta de "insights" tão precisos quanto envolventes acerca da alma do nosso sertanejo nordestino ancestral?

E prossegue a obra tão densa quanto formalmente atraente, a discorrer acerca da nossa história e cultura comuns, elencando hipóteses, apontando caminhos, propondo soluções, tudo em ritmo forte, que nos exige atenção redobrada e esforço investigativo incomuns para não perdermos o fio-da-meada.

Nela, por exemplo, já se menciona o impressionante tema da estética do cangaço, que viria a ser tema central da obra que pautou o debate.

Mas não somente, claro. Há a teoria do escudo ético; a tipologia dos cangaceiros; a psicologia do homem sertanejo nordestino arcaico; o arcabouço da violência que construiu o habitat próprio do cangaço; a relação seca/economia/cangaço; os fatores que influenciaram o fim desse ciclo tão próprio do nosso Sertão; a análise acerca da disseminação, nas terras sertanejas, do "ethos" da violência como apanágio da masculinidade, a partir do conflito entre famílias; o papel da nossa indiada no ensino de táticas de guerrilha que foram recebidas e aprofundadas pelos cangaceiros... 

"Guerreiros do Sol" recebeu elogios entusiásticos de Gilberto Freyre, em prefácio à primeira edição. De Ariano Suassuna. De Bernardo Pericás. Ouso dizer que Cascudo seria admirador da obra. De tantos outros, ao longo do tempo. Todos lhe aplaudindo sua importância singular.

Assim como eu, anônimo, mas que também sei aplaudir.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

VIOLÊNCIA: HÁ ALGO ESQUECIDO EM SUA ANÁLISE



* Honório de Medeiros

Em 13 de outubro de 2012 escrevi, e postei, em meu blog, um artigo cujo título era “O QUÊ LEVA O JOVEM AO CRIME”.

Nele eu dizia o seguinte:


“Uma das conseqüências possíveis relacionadas com a teoria da Antropóloga Alba Zaluar, Coordenadora do NUPEVI (Núcleo de Pesquisa das Violências), ligado ao Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, de que apenas a pobreza e a desigualdade social não explicam a ida de jovens para a criminalidade, é dar razão ao senso comum do povo quando clama pelo endurecimento da legislação penal.

A teoria, exposta em matéria assinada pelo jornalista Antônio Góis, da sucursal da Folha de São Paulo no Rio de Janeiro, apresenta como uma das causas do envolvimento de jovens com a violência a estrutura cultural que induz o surgimento do que ela chamou de “etos da hipermasculinidade”, ou seja, trocando em miúdos, “a busca do reconhecimento por meio da imposição do medo”.

É algo decorrente da chamada “cultura machista”: os filhos homens são criados em ambientes que reproduzem condutas herdadas de desrespeito sistemático às mulheres, aos homossexuais, aos negros, às minorias, enfim, e valorização direta ou subliminar dos ícones da masculinidade distorcida; a música, a tradição oral, o lazer, a literatura, a própria postura passiva das minorias contribuem para a construção desse perfil medíocre e ameaçador.

A antropóloga lembra que “se a desigualdade explicasse a violência, todos os jovens pobres entrariam para o tráfico. Fizemos um levantamento na Cidade de Deus (conjunto habitacional favelizado na zona Oeste do Rio de Janeiro) e concluímos que apenas 2% da população de lá está envolvida com o crime.” É outra comprovação científica que respalda o senso comum: se apenas a pobreza fosse passaporte para o crime, não haveria Sociedade da forma como conhecemos. Melhor, não haveria tantos ricos criminosos. 

De posse do trabalho apresentado por Alba Zaluar talvez pudéssemos pelo menos iniciar a discussão em torno da ampliação das penas no Brasil. Quem sabe instaurarmos a prisão perpétua: não outra punição merece uma quadrilha de assaltantes recentemente presa em São Paulo, todos na faixa dos vinte anos, especializados em condomínios, que se tornaram conhecidos por torturarem suas vítimas, fossem elas novas ou idosas. Prisão perpétua com alimentação, saúde, lazer, tudo pago com trabalho – há tantas estradas para ajeitarmos, Brasil afora, tanta terra para ser arada...

E o maior empecilho, para aumentarmos a dosagem das penas no nosso país, para criarmos a prisão perpétua, é exatamente esse remorso social – quando não é a defesa em causa própria, como por exemplo, o caso dos nossos congressistas, grande parte respondendo algum tipo de processo – hipócrita que nos corrói a capacidade de enxergar o óbvio agora corroborado cientificamente. Sempre achamos, segmentos da elite, que a criminalidade tinha ligação direta com a pobreza. Recusávamo-nos a perceber, com o povão, que sofre nas mãos da delinqüência e nas mãos da polícia, que não era assim, afinal não se justifica que haja tortura e morte desnecessária em cada assalto realizado: a crueldade é um ritual de passagem na hierarquia do crime, dependente da admiração dos companheiros: quanto mais cruel, mais admirado, quantos mais homicídios, mais enaltecido.

Agora é tempo de ir atrás do prejuízo antes que seja tarde demais: contamos nos dedos as casas e condomínios onde não há cerca elétrica e cães, isolamento e medo. Fazemos de conta que não há guerra civil em São Paulo e Rio de Janeiro. Iludimo-nos pensando que o Estado é soberano em algumas áreas das grandes cidades do Brasil.”

Em 13 de junho de 2014, voltei ao tema, novamente em meu blog: 

“Diferente da corrente majoritária hoje nas análises sociológicas acerca das causas da criminalidade e suas consequências, defendo uma abordagem, acerca do tema, de caráter darwinista. 

Ou seja, penso que está mais que no tempo de superar a falida postura de atribuir às condições sociais, à pobreza, por assim dizer, o surgimento da criminalidade.

A pobreza não é causa, é um dos ambientes do surgimento da criminalidade. Para o senso comum, principalmente o brasileiro, é fácil entender essa hipótese: basta acompanhar, diariamente, o noticiário acerca da corrupção. 

Existe uma lógica perversa, típica, por trás da difusão e aprofundamento dessa manobra diversionista que é atribuir á pobreza o surgimento da criminalidade. É uma lógica de gueto, secessionista, da qual se apropriam os interessados em usufruir da confusão que ela origina.

Em relação ao reconhecimento desse "ethos da hipermasculinidade”, ou seja, trocando em miúdos, “a busca do reconhecimento por meio da imposição do medo”, a literatura também se manifesta, mesmo que obliquamente, no sentido de reconhecê-la como uma das causas da criminalidade. 

Leiam atentamente o trecho a seguir, pinçado de "Maigret hesita", do genial Georges Simenon, escrito em 1968: 

‘É provável que lá também encontrasse um pobre sujeito que havia realmente matado porque não podia agir de outro modo, ou então um jovem delinquente de Pigalle, recém-chegado de Marselha ou da Córsega, que eliminara um rival para se fazer crer que era um homem.’"

Inesperado e surpreendente é encontrar o relato feito por Frederico Pernambucano de Mello em sua obra canônica Guerreiros do Sol, o mais completo estudo sobre o cangaço, um tipo de banditismo rural que medrou no Sertão do nordeste brasileiro desde a metade do século XIX até meados do século XX, quanto ao entusiasmo que as façanhas dos bandoleiros exerciam "entre a flor em botão da mocidade".

Na obra Pernambucano de Mello cita Marilourdes Ferraz, festejada escritora de O Canto do Acauã, e sua constatação sobre "o notável poder de sedução que o cangaço exercia sobre os jovens, inclusive os das chamadas "boas famílias".

E complementa apresentando trecho do discurso do deputado estadual pernambucano Maviael do Prado, transcrito no Relatório sobre o ano de 1928, da Repartição Central da Polícia Estadual do Estado de Pernambuco, no qual aquela autoridade discorria sobre o assunto, enfatizando exatamente essa perspectiva.

Ai está o senso comum e a literatura mais uma vez mostrando de forma inequívoca por qual razão podem e devem ser pontos-de-partida para o conhecimento da realidade social.

Arte em Daily Echo 

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

ESSÊNCIA IMUTÁVEL, FORMA EVANESCENTE

* Honório de Medeiros


Não há nada de novo sob o sol. Seguimos aparentemente em frente, para destino ignorado, permanecendo os mesmos de tanto tempo atrás, enquanto as formas, os instrumentos, os meios que são nossa criação, mas dos quais somos reféns para lidar conosco mesmo, fenômenos e coisas, tornam-se cada vez mais complexos e fugazes, em uma espiral, um "vir-a-ser", como diria Nietzche, de proporções incalculáveis.

Essência imutável, forma evanescente.

Leio em "Os Crimes de Paris", de Dorothy e Thomas Hoobler, acerca de Vidocq, um personagem maior que sua vida. "Depois de cometer vários crimes na juventude, trocou de lado e se aliou à polícia. Foi o primeiro chefe da Súrete, o equivalente francês do FBI, e modelo para vários personagens da literatura", dizem-me eles.

Fascínio antigo esse meu por Vidocq. Camaleônico, sofisticado, indecifrável, também foi o criador da primeira agência de detetives do mundo, o "Bureau de Reinseignements", ou Agência de Inteligência. Que outro, além de um francês, criaria uma agência de detetives com esse nome?

Inspirou Maurice Leblanc na criação do célebre Arsène Lupin, O Ladrão de Casaca, que eu lia, fascinado, na adolescência, graças à bondade de um colega de ginásio, na Mossoró que não existe mais. Como inspirou, também, além de muitos outros, tais como Alexandre Dumas, Victor Hugo e Eugène Sue, o ainda mais célebre personagem de Balzac, Vautrin, presente em vários livros da"Comédie Humaine".

Em certo momento, lá para as tantas, Vautrin explica o mundo:

"-E que lodaçal! - replicou Vautrin. - Os que se enlameiam em carruagens são honestos, os que se enlameiam a pé são gatunos. Tenha a infelicidade de surrupiar alguma coisa e você ficará exposto no Palácio da Justiça como uma curiosidade. Furte um milhão e será apontado nos salões como um modelo de virtude. Vocês pagam 30 milhões à polícia e à justiça para manter essa moral... Bonito, não é?"

Como diria minha mãe: "vão-se os anéis, permanecem os dedos..." 

terça-feira, 13 de novembro de 2018

FAVOR DESEQUILIBRA


* Honório de Medeiros


Antônio Gomes é um homem singular. 

Quando está em Natal costuma tomar um café, no final da tarde, na doceria de um hotel com vista para o mar.

Lá Teresa o atendia sempre, e entre os dois terminou se estabelecendo uma certa amizade, na justa medida da reserva natural de Gomes.

Teresa me perguntou dia desses por ele. Fiquei surpreso com a pergunta, porque sabia que estava em Natal.

"Não andou por aqui?". "Não", respondeu. "Sumiu".

Coincidiu que o encontrei logo depois. Disse-lhe que Teresa andara perguntando por ele. 

Gomes sorriu e me confessou que não iria mais por lá.

"Mas o que houve?", perguntei.

"Fiz-lhe um favor, e o equilíbrio da relação desmoronou." "Ela agora acha que está em débito comigo". "A partir de então, por mais que não queira, sou aquele a quem se deve algo." 

E mudou de assunto.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

ROBINSON CONSOLIDA SUA POSIÇÃO


* Honório de Medeiros

Quase um bilhão de restos a pagar; 13º de 2017; salário de outubro de 2018; nenhum compromisso com o salário de novembro e dezembro de 2018; nenhum compromisso com o 13º de 2018.

Maior taxa de mortes violentas por cada 100.000 habitantes.

Saúde às moscas.

Economia moribunda.

Pá de cal no cadáver insepulto das finanças públicas estaduais.

Robinson vai se consolidando como pior dentre todos os que já ocuparam a cadeira de Governador do Estado do Rio Grande do Norte

Cadeira que foi honrada por Aluísio Alves, Monsenhor Walfredo Gurgel e Cortez Pereira.

* Arte: Blog do Brito

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

CONCENTRAÇÃO: VOCÊ CONSEGUE?



* Honório de Medeiros

A ciência começa a comprovar algo que o senso comum já constatara: estamos ficando cada dia mais limitados na nossa capacidade de concentração, principalmente em tarefas de natureza abstrata, tal qual ler um livro.

Em "A Civilização do Espetáculo" Mário Vargas Llosa especula, a esse respeito, por vias transversas, enquanto descreve a banalização da cultura contemporânea na medida da nossa opção pelo entretenimento ligeiro, de conteúdo pobre e forma atraente, em detrimento da complexidade da anterior herança cultural comum.

Não aponta causa específica para o fenômeno, mas alude, obliquamente, à onipresença imperiosa, por trás dos panos, da incessante busca pelo lucro.

Em outra face da questão o filósofo americano Michael J. Sandel, autor do aplaudido "Justiça" menciona, em "O que o Dinheiro não Compra", corroborando Llosa, o poder avassalador do mercado a dominar tudo e todos, corações e mentes, e suas consequências no universo moral. 

Quem diz mercado, diz lucro.

Daniel Coleman, famoso psicólogo americano professor em Harvard, criador do conceito de "Inteligência Emocional", pondera acerca do déficit de atenção cada vez mais profundo em nossa civilização, decorrente da escravidão às redes sociais, a originar uma demanda, no futuro, instaurada pelo próprio mercado, de em relação a todos quanto sejam capazes de se concentrar em tarefas de médio e longo prazo.

E se quando o mercado reagir a catatonia (alienação) já estiver plenamente estabelecida?

Acerca do fenômeno da volatilidade das percepções, causa e consequência desta atual fase do capitalismo, discorre Baumant com excepcional clareza em suas obras, de caráter mais filosófico que sociológico. Somos uma sociedade evanescente, diz ele, na qual a transitoriedade de tudo, cada vez mais acentuada e veloz, será o único fator permanente.

Ou seja, mercado, lucro, redes sociais potencializadoras, volatilidade, déficit de atenção, tudo está interconectado.

Ainda em outra face - são mesmo muitas, para a mesma realidade - Moisés Naím especula acerca da fragmentação do Poder, como o conhecemos, em consequência dessa realidade volátil, evanescente, permanentemente transitória, efeito, entre outras coisas, dos meios por intermédios dos quais ela é alimentada e cresce, ou seja, por exemplo, a rede social e a interconectividade.

O que estaria por trás de tudo isso? Como chegamos a esse patamar? Que teoria explicaria esse fenômeno em sua inteireza?

A menção, feita por Llosa, Sandel, tanto quanto Michel Henry e Debord, estes aqui ainda não citados, mas que também especulam acerca de faces dessa mesma questão social, e a onipresença do mercado poderia dar razão ao Marx sociólogo, embora não a aquele do materialismo dialético. Ou à teoria da seleção natural de Darwin, do qual o capitalismo seria uma consequência, digamos assim.

Nesses casos bem vale o dito atribuído a Proust: "o tempo é senhor da razão."

Ressalve-se, apenas, que as tentativas para conter a alienação, quando e se acontecerem, promovidas seja pelo próprio mercado, seja pelo Estado, poderão encontrar um status quo irreversível. Isso acontecendo, tendo como causa um brutal nivelamento por baixo em termos de capacidade de apreensão, de cognição, de capacidade de pensar em termos complexos, perdemos todos.

Concretamente viveremos a realidade das escolas no Brasil, hoje: cada dia mais alunos, cada dia menos conhecimento.

* Arte em www.daladierlima.com

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

BUCHA DE CANHÃO


* Honório de Medeiros

Os inocentes úteis urram galvanizados enquanto a caravana dos donos do Poder de esquerda ou direita passa. São bucha de canhão para quem os manipula.

Esquerda ou Direita têm o mesmo propósito: a destruição do Estado.

Os donos da Esquerda por ambicionarem o Poder enquanto defendem, para os inocentes úteis, que vão construir o Paraíso sobre os escombros dessa destruição. Socialistas selvagens.

Os donos da Direita por ambicionarem o Poder enquanto defendem, para os inocentes úteis, que todos serão ricos sobre os escombros dessa destruição. Capitalistas selvagens. 

Tanto uns quanto os outros querem o mesmo, acham que os fins justificam os meios, usam praticamente as mesmas táticas e estratégias, e somente diferem naquilo que prometem para quando chegarem ao Poder. São totalitários. 

Michiko Kakutani, prêmio Pulitzer de 1998, crítica literária do “The New York Times”, por mais de quarenta anos, em A Morte da Verdade (Notas Sobre a Mentira na Era Trump), conta que Steve Bannon, estrategista e conselheiro de Trump, certa vez descreveu a si mesmo como um “leninista”. 

O mesmo Bannon, ainda segundo Kakutani, teria dito o seguinte: “Lênin queria destruir o Estado, e esse também é o meu objetivo. Quero acabar com tudo e destruir todo o establishment de hoje em dia.” 

Lênin deve estar rindo muito em alguma das grelhas do inferno, apesar das dores. Ele é o patrono dessa maré de pós-verdade que se tornou praticamente hegemônica nos dias atuais, calcada no uso da retórica violenta, incendiária, em promessas simplórias e desconstrução da verdade, tudo potencializado pela internet. 

O fundador da URSS explicou, certa vez, que sua retórica era calculada para provocar o ódio, a aversão e o desprezo, não para convencer, mas para desmobilizar o adversário, não para corrigir o erro do inimigo, mas para destruí-lo. 

Quem quiser ler um pouco mais, está em “Report to the Fifth Congresso of the R.S.D.L.P. on the St. Petersburg Split of the Party Tribunal Ensuing Therefrom”, segundo Kakutani. 

Pois é.

* Arte em blog.maxieduca.com.br

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

CONHECI UM SANTO


* Honório de Medeiros

Para meu amigo Francisco de Sales Felipe.

Eu tinha dez ou onze anos quando conheci um santo. Chamava-se Helder Câmara, era Arcebispo da Igreja de Cristo em Recife e Olinda. A ele fui levado pela secretária particular do Governador Nilo Coelho, que eu suponho ter sido, muitas vezes, um canal de comunicação entre a Igreja, o Poder Civil e o Poder Militar em Pernambuco, dada sua condição singular de amiga pessoal dos líderes dessas instituições. Fomos eu, ela, uma tia, funcionária da Sudene, minha mãe e minha irmã, em começo de noite, na sede do arcebispado. Estávamos de férias em Recife. D. Helder nos recebeu com aquele seu sorriso luminoso, tão característico, olhos pisados pela falta de sono, o corpo mirrado, frágil, em seu ascético gabinete. Para mim, naquela época, era impossível sequer imaginar que ali estava um gigante moral. Um dique que com a força de suas palavras, atitudes, e carisma, tantas vezes contivera e conteria o furioso redemoinho, em Pernambuco, das águas turbulentas da repressão pós 64. Pregava defendendo uma Igreja simples, voltada para os pobres, e a não-violência. Orador que galvanizava multidões, também era um escritor cultuado. Dele li o belo “Um Olhar Sobre a Cidade”, perdido em alguma das mudanças que minhas muitas vidas me impuseram. Mas dele guardei mesmo, em meu coração, em minha mente, sem nunca esquecer, não somente a benção que seus dedos magros desenharam sob a minha testa ainda infantil, como também uma frase sua, lida em algum lugar, que é a síntese, para mim, do seu apostolado, tão bela quanto densa: “me enriqueces quando discordas de mim”. Eis uma epistemologia em forma de poesia direcionada ao espírito dos homens de boa-fé do povo de Deus. Minha benção, padre. Quando me lembro do senhor, acredito na humanidade.

sábado, 6 de outubro de 2018

EIS COMO VOTAREI EM 7 DE OUTUBRO DE 2018


* Honório de Medeiros


Presidente – João Amoedo (30) 

Governador – Carlos Eduardo (12) 

Senador – Magnólia (777) 

Deputado Federal – Alayde Passaia (333) 

Deputado Estadual – Nina Souza (12123) 

* Faz parte de um compromisso comigo mesmo sempre declinar meu voto antes das eleições.

Arte: Francisco Gomes da Silva

domingo, 30 de setembro de 2018

CHEGA DE SAUDADE


* Florentino Vereda

De passagem pelo Rio, resolvi assistir, mesmo de longe, a uma dessas manifestações que estão mudando a cara do País. Entre tantas placas de “”FORA...”, “BASTA...”, “QUEREMOS...”, uma me chamou a atenção : “CHEGA DE SAUDADE”. Tentei me aproximar da pessoa que a conduzia, mas a multidão me arrastou para outro lado. Só deu pra ver, pelos cabelos grisalhos, que era algum idoso.
Mais tarde, num desses bares de esquina de Copacabana, dei de cara com o tal manifestante, tomando um chope antes de voltar pra casa. Aproximei-me dele e comentei:

- Curiosa sua placa. Saudades de que?

- Senta, cara. Garçom, mais um chope. Olhou em direção do mar e acrescentou:
- Saudades do que poderia ter sido e não foi. Também fui jovem, protestei contra tudo que lá estava, também sonhei com um futuro. Cantava “”Apesar de você”” e acreditava que amanhã seria outro dia. A democracia era, para mim, a mulher com quem todos os homens sonhavam e com quem queriam viver o resto de suas vidas. Hoje a democracia com a qual vivemos é uma balzaquiana de 30 anos, sambada, rodada e prostituída, deformada por cirurgias plásticas intermináveis às quais chamam de emendas constitucionais, medidas provisórias e outros nomes bonitos que disfarçam a feiura de seus propósitos. Já se deitou com centenas de políticos, lambuzando-se nos leitos imundos do poder.

- Posso pedir outro chope?; perguntei.

- Claro. Ainda não acabaram com o papo de bar. Mas já não é a mesma coisa. De futebol, os grandes lances não são as “folhas-secas” de Didi, os dribles geniais de Garrincha e a elegância de Djalma Santos. Os craques de hoje são os cartolas, jogando nos carpetes dos gabinetes, tocando a bola e embolsando uma grana preta. Grana também é o que não falta para os jogadores que somam aos salários astronômicos as vultosas verbas de publicidade, de produtos que sequer usam na vida real. Em campo a vergonha campeia. Veja o Santos do Rei Pelé levar de oito dos deuses do Barça. E a Alemanha meter sete na caçapa da CBF. Saudades do tempo das “”casas simples com cadeiras nas calçadas”” onde vizinhos conversavam depois da janta, até o sono chegar. Hoje está todo mundo trancado em casa, diante da TV, vendo novelas com personagens ridículos, perversos e traiçoeiros tramando golpes e safadezas, coisas que serão imitadas posteriormente na vida real enquanto os anunciantes empurram produtos supérfluos e desnecessários a otários desprevenidos.

Chama o garçom, pede mais dois chopes e continua:

- Por isto, amigo, que ainda saio de casa e me junto à turba ignara, talvez com saudades da minha época de estudante. Vivemos hoje uma agoracracia. O povo está nas ruas forçando o Legislativo a legislar e o Executivo a executar. Não sei se vai dar certo. Sempre há os espertos. Vândalos e saqueadores misturam-se com sindicalistas, todos tentando arrancar algo do navio que está afundando. Políticos adotam como suas as ideias que jaziam adormecidas em berço esplêndido. Mas é melhor do que não fazer nada. Quem sabe, alguma coisa muda? A esperança verde é a última que morre amarela.

Arrisco uma pergunta, olhando nos seus olhos, se essas saudades são também de alguma mulher; algum amor da juventude, cuja chama ainda arde no peito, cuja lembrança ainda não se despregou da memória.

- Nada disso, amigo. Neste quesito dei sorte. Naqueles tempos conheci uma colega de universidade, lá no Calabouço, ali onde mataram Edson Luís. Juntos corremos da Policia. Juntos gritamos palavras de ordem. Juntos cantamos “”pra não dizer que não falei de flores.” Namoramos, juntamos nossas escovas e, desde aquela época continuamos juntos, dois companheiros e dois amantes. Pena que ela não queira mais sair comigo à noite. Anda com medo dos arrastões em bares e restaurantes. Fazer o que? Aliás, se o amigo me permite, vou embora. Ela está me esperando com açúcar, com afeto.

Levantou-se, pediu a conta, pagou as duas rodadas de chope (não admitiu a minha intervenção) e se despediu com um forte aperto de mão, dizendo:

- Boa sorte pra você, que mal vê a luz que mal se acende.

E sumiu no meio da multidão.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

NO TEMPO DOS CANGACEIROS E DOS CORONÉIS

NO TEMPO DOS CANGACEIROS E DOS CORONÉIS: CANGACEIRO MOITA BRAVA DELATA O ENVOLVIMENTO DE IMPORTANTES CORONÉIS PARAIBANOS EM ASSALTOS NA REGIÃO DE POMBAL


* José Tavares de Araújo Neto

O Dr. José Ferreira de Queiroga, deputado estadual, chefe político que comandava Pombal desde 1915, mantinha estreitas ligações com o coronel José Pereira, líder da cidade de Princesa, também com assento na Assembleia Legislativa da Paraíba. José Pereira e José Queiroga integravam, na condição de primeiro e segundo vice-presidentes, a “Chapa dos Três Jotas”, encabeçada por Júlio Lyra, e que apresentada em 1928 pelo Presidente do Estado Joao Suassuna para sua sucessão, mas que foi vetada pelo todo poderoso ex-presidente da República Epitácio Pessoa.

Inimigo declarado do coronel José Pereira, o Presidente João Pessoa se incomodava com essa relação de compadrio entre os dois coronéis, não dispensando o menor sentimento de confiança ao pombalense. Em 1929, na tentativa de indicar o prefeito de Pombal, Dr. José Queiroga teve três nomes rejeitados pelo Presidente João Pessoa, que nomeou para o cargo Elias Camilo de Sousa, sugerido por seu cunhado, o Procurador Geral do Estado Dr. Mauricio de Medeiros Furtado, pai do economista Celso Furtado.

Em 1930, a Paraíba se encontrava no estágio máximo de sua efervescência política. Sob o pretexto de manter a ordem e garantir lisura na eleição presidencial, marcada para dia 1º de março, o Presidente do Estado João Pessoa, candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada por Getúlio Vargas, enviou à cidade de Teixeira um forte efetivo da polícia militar, comandado pelo tenente Ascendino Feitosa, que determinou a prisão de importantes figuras da oligarquia Dantas, aliada do Coronel José Pereira Lima, e este, por sua vez, em face dos acontecimentos, tinha se feito inimigo político e pessoal do Presidente do Estado.

Sabedor da prisão dos seus correligionários, o coronel José Pereira mandou um recado para o tenente Ascendino Feitosa: Se não soltasse os presos, ele mesmo iria libertá-los e não sobraria um só soldado para contar a história. A princípio o tenente resistiu, porém cedeu quando soube que as tropas do coronel, em grande quantidade e bem municiada já se dirigia a Teixeira. Percebendo a grande desvantagem numérica, o tenente não viu outra saída a não ser ordenar aos seus comandados a imediata retirada. Este evento marcou o início do sangrento conflito que ficou conhecido como “A Guerra de Princesa”.

Para enfrentar os sediciosos de Princesa, o Presidente João Pessoa havia disposto o efetivo policial da Paraíba sob três comandos: um com o Coronel Comandante da Polícia Militar da Paraíba, Elísio Sobreira; outro com o Delegado Geral do Estado, Severino Procópio; e, o terceiro, com o Secretário de Interior e Justiça, José Américo de Almeida. Enquanto os combates com as forças paraibanas centralizavam-se na região de polarizada por Princesa, o coronel José Pereira formou grupos armados destinados a buscar meios para financiar a guerra nas regiões de Coremas, Malta, Pombal, Catolé do Rocha, Brejo do Cruz e São Bento. Os locais de apoio se concentravam no município de Pombal, nas Fazendas Oriente e Olhos D’água, propriedades dos irmãos Dr. José Queiroga e Coronel Manuel Queiroga, ambos filho do Coronel Benedito Queiroga, conhecido coiteiro do cangaceiro Antonio Silvino, falecido em 1921. Os jagunços do coronel José Pereira haviam recebido ordem expressa para atacarem a fazenda Conceição, do Coronel José Avelino de Queiroga, abastado fazendeiro, principal adversário político de Dr. José Queiroga. A rota de fuga seria na direção de cidade de Serra Negra, no vizinho Estado do Rio Grande Norte.

O Grupo, comandado pelo ex-cabo João Paulino, desertor da Polícia Militar do Estado da Paraíba que se aliou ao Coronel José Pereira, tinha como pontos de apoio as Fazendas Oriente e Olhos D’água, propriedades dos irmãos Dr. José Queiroga e Coronel Manuel Queiroga, ambos filho do Coronel Benedito Queiroga, conhecido coiteiro do cangaceiro Antonio Silvino; falecido em 1921. O grupo havia recebido ordem expressa para atacar a fazenda Conceição, do Coronel José Avelino de Queiroga, que apesar de primo, era o principal adversário político de Dr. José Queiroga. Avisado que a força volante se dirigia a Fazenda Aliança, onde o bando se encontrava acoitado, João Paulino juntou seus homens, montaram em seus cavalos e partiram em desenfreada disparada na direção fa Fazenda Olho D’água. Ele, como uma pessoa bastante experiente, sabia que era preciso esquivar-se de embates com a polícia a fim de evitar perdas desnecessárias de homens e, principalmente, economizar munição. Além desses motivos, havia a recomendação de fazer o máximo possível para não comprometer a respeitável figura do deputado Dr. José Queiroga. Na pressa, o cangaceiro Moita Brava sofre uma queda do cavalo, não suportando as dores, sendo deixado aos cuidados de um sertanejo amigo de Dr. Queiroga, enquanto o bando se divide em três subgrupos, que tomam diferentes direções.

Sob a coordenação do Secretário José Américo, a tropa governista impõe uma intensa perseguição. Em 08 de julho, localiza e prende Moita Brava. No dia 10, cerca e mata Candido Honorato, no sitio Pau Ferrado. No dia seguinte, a volante comandada pelo tenente José Guedes ataca o grupo no Sitio Almas, matando uma pessoa, e fazendo apreensão de dois fuzis e recuperação de vários objetos roubados. No dia seguinte, o bando com invade a fazenda Ipueiras, de propriedade de Pedro Marques de Medeiros, roubando dinheiro, objeto e incendeia a fazenda, logo após fugindo na direção vizinha cidade de Serra Negra, no Rio Grande do Norte.

Preso, o cangaceiro Moita Brava é levado para à cadeia da cidade de Brejo do Cruz, onde no dia 10 de julho presta um bombástico depoimento (v. anexo), no qual delata o envolvimento do coronel José Pereira e do Dr. José Queiroga nos fatos acontecidos em Pombal. Quatro dias depois, ou seja, no dia 14 de julho, Moita Brava falece na prisão, acometido por uma pneumonia dupla, cujo diagnostico foi assinado pelo médico Dr. Américo Maia, primo e cunhado dos futuros governadores João Agripino (PB) e Tarcísio Maia (RN).

(*) TERMOS DO DEPOIMENTO DO CANGACEIRO MOITA BRAVA PRESTADO AO SUBDELEGADO DE BREJO DO CRUZ

Aos dez dias do mez de julho do anno de mil novecentos e trinta, nesta Villa de Brejo do Cruz, na cadeia pública, presente o subdelegado de polícia, sargento Delmiro Pereira da Silva, foi ouvido Euclydes Bezerra, que respondeu as perguntas que foram feitas pela dita autoridade, pelo modo seguinte: Perguntado qual o seu nome, filiação, idade, profissão, estado, nacionalidade, residência e se sabia ler e escrever, respondeu chamar-se Euclydes Bezerra, vulgo “Moita Brava”, filho de José Bezerra, com vinte e cinco annos de idade, solteiro, Josécultor, brasileiro, no Espírito Santo, Estado de Pernambuco, não sabe ler nem escrever. Perguntado mais como se passado o facto de ter elle sido preso, respondeu que foi preso pelo dr. secretário de segurança, no logar cujo nome elle ignora, sabendo, entretanto, ter sido o município de Pombal, devido fazer parte do grupo que vinha de Princeza, chefiado por João Paulino, Abilio e Rogério de tal; que ficou em sua casa doente, por não poder seguir com seus companheiros; que faz uns dezoito ou vinte dias que fazia parte do grupo, tendo entrado no grupo no logar Barra, do município de Princeza; que de Barra seguiu para Olho d’Água, dahi dirigiram-se para a fazenda do coronel João Alves, onde houve um tiroteio de dez minutos mais ou menos, tendo o grupo roubado, incendiado e feito outras depredações; dahi da propriedade de João Alves foram para a propriedade do subdelegado de Malta, que reside no município de Piancó, de nome Tota Assis, onde o prenderam e o conduziram, fazendo ali pequeno roubo; que dahi seguiram para o “Oriente” do dr. José Queiroga, onde passaram três dias, onde não fizeram nenhuma depredação, por terem ordem do coronel José Pereira para ali não tocarem em nada; que sahiram do oriente, porque foi um portador de Pombal avisar que ia uma força em perseguição e levava um dinheiro que foi entregue a João Paulino, cuja quantia elle ignora; que lá no “Oriente” receberam quatro animaes de presente, mandados por um senhor por nome de Cabeçudo e mais um rapaz para fazer parte do grupo, de nome José, que foi appellidado pelo grupo pelo nome de “Norato”, cujos signaes característicos são os seguintes: alto, alvarento, secco do corpo, cabello vermelho, faltando um dedo mínimo na mão esquerda; que logo depois da chegada do aviso de Pombal com algumas horas o grupo foi atacado, pela força, havendo um pequeno tiroteio, que dahi eles correram em direcção da rodagem de Malta a Pombal, onde fizeram alguns roubos e depredações; que o grupo era composto de quarenta e seis homens chefiadas por João Paulino, Rogério e Abilio, tendo outro grupo chefiado por José Joca, com perto de trinta e cinco homens, que se separou do grupo de João Paulino no logar Olho d’Água; que o grupo trazia ordem do coronel José Pereira de só passarem três semanas, voltando novamente para Princeza, mas o chefe do grupo disse que passava até três mezes se pudesse; que o grupo tinha ordem do coronel José Pereira de saquear e fazer depredações e não atirarem para não estragar a munição, que o grupo falava em atacar Pombal, Brejo do Cruz, Curema, Catolé, Conceição do Coronel José Avelino, Catingueira, e Serra Negra, não sabendo se nesta era para atacar ou descansar; que o producto do roubo os cabras entregaram ao chefe do grupo; que elle interrogado fez parte do grupo por ter se desgostado com a família; que os nomes do pessoal do grupo e seus apellidos de guerra eram os seguintes: João Paulino, Rogério, Abillo, Adaucto, José Joca, que ficou em Olho d’Água; Adalberto, Sebastião Engraxate, Arthur, cícero Fernandes, Briba, nome de guerra que ignora o nome; Garrincha, Euclydes de Goes, Lino, Norato, José Caetano, Manoel Rocha, Felix Raymundo, Leopoldo e outros que não sabe do nome nem do apellido. E como nada mais foi perguntado, deu a autoridade o auto por findo, mandando lavrar o presente auto, que depois de lido e achado conforme, assigna com Ildefonso Chaves e Octávio Olympio Maia, por não saber o interrogado escrever, commigo Urbano Maia, escrivão que o escrevi, Delmiro Pereira da Silva, Ildefonso Chaves e Octávio Olympio Maia.


(*) Depoimento Transcrito do Diário de Pernambuco, edição de quinta-feira, 24 de julho de 1930, página 3. (edição 00168).

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

MAS, NUM POSTE, VOTO NÃO! (POETA RAMIM ALEIJADO, SANTA CRUZ-RN

E SE TODAS AS CAMPANHAS POLÍTICAS NO BRASIL FOSSEM DISPUTADAS NA VIOLA E NO VERSO?

Autor: poeta Ramim Alejado /Sta Cruz-RN


Eu voto numa gazela

Num pedaço de imbira
Numa espinha de traíra
Na tampa de uma panela
Eu voto numa suvela
Num pedaço de carvão
Voto num pano de chão
Numa cadela com xanha
Voto na mãe de pantanha
Mas num poste, voto não!

Voto num galo goguento
Apoio até João badalo
Voto na tampa de um ralo
Num cachorro bem sarnento
Voto em qualquer lazarento
Na zuada de um trovão
Eu voto num gavião
Mas não voto num fantoche
Dou meu voto ate num broche
Mas num poste, voto não!

Eu voto num carroceiro
Numa velha maltrapilha
Mas não elejo quadrilha
Pra roubar nosso dinheiro
Não dou voto a cachaceiro
Que vive numa prisão
Eu voto até num furão
Voto num arroto xôco
Voto na bucha de um côco
Mas num poste, voto não!

Por ser um bom eleitor
Voto numa muriçoca
Voto numa franga choca
Na carroça de um trator
Num avião sem motor
Numa casca de limão
Voto na irmã do cão
Numa quenga depravada
Voto num cabo de enxada
Mas num poste, voto não!

Pra mudar este pais
Eu voto até numa muda
Não voto em cobra barbuda
Que tem nome de Luiz
Voto numa meretriz
Dou meu voto a safadão
Mas gigolô de ladrão
Nessa terra eu não aceito
Dou meu voto num confeito
Mas num (POSTE) voto não!

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

MADURO SE BANQUETEIA ENQUANTO VENEZUELANOS PASSAM FOME

* Honório de Medeiros

Seja de direita ou esquerda, os tiranos são todos iguais.

Nada mais repugnante, ultimamente, que o banquete de Maduro, o ditador venezuelano, com direito a charutos individualizados enviados direto de Cuba e bebidas finas, na Turquia, enquanto seu povo, literalmente, passa muita fome.

Leia matéria e julgue você mesmo, em "El Pais": 
(https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/18/internacional/1537231749_772809.html)

Ou leia transcrição abaixo:

"Voltando de uma viagem à China e à Rússia, onde pediu um empréstimo para reativar a deprimida estatal petroleira PDVSA em meio à pior crise econômica já vivida na Venezuela, Nicolás Maduro fez uma parada em Istambul. O líder chavista visitou o restaurante do famoso chef turco Nusret Gökçe, conhecido como Salt Bae, que viralizou nas redes sociais por sua teatral maneira de cortar e depois salgar as carnes, como se estivesse jogando um feitiço na comida.

Os vídeos publicados nas contas do Instagram e Twitter dessa celebridade da Internet (@nusr_ett) mostram o mandatário e sua esposa, Cilia Flores, desfrutando de um corte de carne servido pelo próprio cozinheiro, e logo depois de charutos levados num umidificador personalizado com seu nome. O famoso chef também lhes entregou camisetas promocionais e, numa das gravações, Maduro faz um convite para que ele vá a Caracas.

“Queria agradecer o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, por sua visita”, escreveu o chef, que em sua rede internacional de restaurantes já recebeu celebridades como os jogadores David Beckham, Cristiano Ronaldo e Diego Armando Maradona, e também o cantor de reguetón J Balvin. Este último, aliás, insultou Maduro nos comentários da publicação, que foi apagada da conta do chef no Instagram. O vídeo se tornou trending topicmundial e gerou grande indignação nas redes sociais na Venezuela. A crise socioeconômica e a escassez fizeram os indicadores da fome se multiplicarem, segundo o último relatório da FAO (agência da ONU para a alimentação): entre 2015 e 2017, 3,7 milhões de venezuelanos sofreram de subnutrição, quatro vezes mais que no triênio de 2010-2012.

O próprio Maduro se referiu na noite de segunda-feira ao jantar em Istambul, no seu primeiro pronunciamento após pousar em Caracas. “Envio daqui uma saudação ao Nusret. Ele nos atendeu pessoalmente, ficamos conversando, nos divertindo com ele. Um homem muito simpático, ama a Venezuela", disse. O país sofre uma crônica escassez de alimentos, e especialmente de carne, que desapareceu dos estabelecimentos depois de uma nova tentativa governamental de impor controles aos preços como parte do pacote de medidas econômicas para resgatar a economia venezuelana."

domingo, 16 de setembro de 2018

TRISTE BRASIL

* Honório de Medeiros

Bem dizia Oswaldo Aranha em 1933: "O Brasil é um deserto de homens e ideias". 

Mais de homens que de ideias, acrescento eu.

Que tempos, estes!

Qual futuro pode ter um país cujo STF é presidido por um Toffoli, o Senado por um Eunício Oliveira, a Câmara por um Rodrigo Maia, e a Presidência por um Michel Temer?

Como um professo de Direito pode estimular seus melhores alunos a estudar quando um nulo, sem qualquer mérito, como Toffoli, chega à Presidência do STF?

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

CONVITE DE UM PAI ORGULHOSO

A imagem pode conter: texto

Local, dia e hora: Temis Clube Balcão Bar, Avenida Rodrigues Alves, 950 - Tirol, Sede do América Futebol Clube, 20 de setembro do corrente, a partir das 18 horas.

E o convite de Bárbara de Medeiros:

"LANÇAMENTO DO MEU TERCEIRO LIVRO

Gente, veio mais rápido do que a gente pensava, mas talvez não da forma que vocês esperavam, hahaha.

É com muito orgulho (e algumas lágrimas de incredulidade) que convido vocês ao lançamento do meu primeiro livro em colaboração - um livro de Direito, fruto de árduo trabalho com meus colegas do Núcleo de Pesquisas em Direito Internacional (NUPEDI).

Mesmo se você não é da área de Direito, esse livro pode ser importante pra você, por dois motivos:

1. Trata de temáticas atuais que permeiam o nosso dia-a-dia, se você está atualizado com as notícias do jornal. O meu artigo no livro, por exemplo, trata de refugiados e apátridas.

2. Você vai estar ajudando a desenvolver a pesquisa universitária no Brasil, que urgentemente precisa de patrocínio.

Espero vocês lá pra lhes dar um abração!"