sábado, 21 de outubro de 2017

CHEGOU A HORA DE VOAR A SÓS

Meu amor,

Pela primeira vez vou estar longe de você por muito tempo, e isso dói em mim de forma inesperada.

Como viver sem sua forma tão peculiar de ser, sua alegria irradiante, sua inteligência aguda, sua moral tão sólida?

Chegou a hora de você voar sozinha. É o momento no qual nós, delicadamente, lhe empurramos do galho e você cai, bate as asas, voa, sobe, percebe que o céu é o limite!

Deus foi muito bom para mim, se é que posso dizer isso. Tenho uma família maravilhosa. Você, Diogo, Michaela, Emília, Maria. O quê mais um homem pode desejar? 

Claro, o pão nosso de cada dia, conseguido de forma honesta, com o suor do nosso rosto. Também muito agradeço a Ele, por mais essa dádiva.

Este bilhete é uma pequena despedida, porque creio que quando lhe abraçar, antes do trem partir, vou embargar a voz e esconder o rosto para você não ver as lágrimas que eu pensava não possuir mais. 

As mesmas que escondi de Diogo, quando ele foi em busca de realizar seus sonhos no Canadá.

Agora é você que fica, cá na França. Nós, lá, no Brasil, teremos o consolo das lembranças, e o silêncio do seu quarto como companheiros.

Saiba que meu amor por você é infinito - lembra das nossas brincadeiras? Eu sempre estarei ao seu lado; desejo sua felicidade e a de Diogo acima de tudo; sua caminhada, mesmo que seja preciso andar alguma vez para trás, é a minha, a nossa caminhada.

Cuide bem de você, ajude seu anjo-da-guarda, louve Deus, fuja daquilo que sua sólida moral condena.

Mas viva intensamente essa oportunidade única que surgiu agora, no começo de sua vida adulta. 

Lembre-se que seus passos, hoje, são o alicerce do futuro. Você está construindo a si, para si, e para o mundo.

Entretanto se for o caso, se sentir necessidade, se precisar, volte. Ninguém se perde no caminho da volta. 

Em voltando estaremos lá, de braços abertos e o coração cheio de amor. Seu quarto sempre terá seu perfume, e sua caneca para beber água estará pendurada no mesmo canto.

Amo você,

Honório de Medeiros. 

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

SENADO ENQUADRA STF E CÂMARA QUER ENQUADRAR JUSTIÇA DO TRABALHO

* Honório de Medeiros

Uns tantos quantos senadores da atual legislatura enquadraram o supremo tribunal federal.

Está tudo em minúsculo porque nem os senadores, tampouco o supremo merecem letras maiúsculas.

Eles são mesmo minúsculos. Enquadraram a instituição em episódio vergonhoso para a história do stf.

Nunca tive tanta vergonha do stf antes. Nem mesmo a cada derrapada de gilmar mendes.

Pois bem, agora a câmara federal pretende enquadrar a Justiça do Trabalho.

Isso mesmo.

Querem enquadra-la extinguindo-a. Os deputados federais querem extinguir a Justiça do Trabalho. 

É o que leio em cláudio humberto, aquele mesmo de tantas e quantas aventuras na época de collor de mello:

"COM BOICOTE, JUSTIÇA DO TRABALHO PODE SER EXTINTA

A Câmara vai reagir duramente à articulação de entidades de juízes do Trabalho para boicotar a reforma trabalhista, que entra em vigor no dia 11. A ideia é votar projeto que extingue a Justiça do Trabalho, “justiça jabuticaba” que só existe no Brasil. A reação à desobediência de juízes recebeu o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em reunião com deputados que atuaram na Comissão da Reforma Trabalhista."

Os caras são profissionais! P-r-o-f-i-s-s-i-o-n-a-i-s!

domingo, 15 de outubro de 2017

NORTERIOGRANDENSE VISITA A PARAÍBA E...

... POSTA O SEGUINTE NAS REDES SOCIAIS:

"Bom dia!

É impressionante: a BR 101 até a fronteira com a PB está cheia de buracos, mal sinalizada, acostamento sujo e tomado de mato.

Passa-se a fronteira e como por mágica os buracos desaparecem, as placas surgem e o acostamento fica limpo.

Estou em Cabedelo curtindo o fim de semana.

Já vi várias viaturas da polícia e comboios de policiais em motos.

As vias são sinalizadas e em bom estado, mas em João Pessoa é melhor.

Não há o pânico pela insegurança. 

E interessante: as pessoas falam a nossa língua e o sotaque é quase o mesmo.

Mas já é outro mundo.

A propósito, a nossa anfitriã é funcionária do Estado: está recebendo seu salário em dia e a metade do 13° foi depositado em julho."

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

TURISTAS

* Bárbara de Medeiros

"Somos todos turistas na vida dos outros".

Li certa vez um artigo na aula de francês que dizia, em um determinando momento, que “turistas são os outros”. Houve uma breve discussão na aula sobre a definição de “outro”, ao que todo mundo prontamente concordou que se tratava daquele que vinha de outro país, de outro estado, as vezes até de outra cidade.

Seguindo aquela linha lógica, poderíamos chegar até o que minha mente automaticamente entendeu ao ler essa frase: o outro é aquele que vem de outro bairro, outra rua, outra casa, outra cama… O outro é outra pessoa que não eu.

Talvez por isso seja tão difícil entender os outros. Nós os olhamos como se fossem nós mesmos, como se eles fossem capazes de compreender tudo o que somos, fomos e fazemos simplesmente porque são humanos. Mas e se olhássemos como olhamos outros países? Países radicalmente diferente dos nossos? Ou simplesmente como habitantes desse país radicalmente diferente do nosso? Chineses, coreanos, egípcios, libaneses? Poderíamos então perdoar suas atitudes diferentes? Aquelas que não entendemos, e por isso julgamos?

Talvez.

Talvez.

Mas talvez seja romântico da minha parte acreditar que, ao atribuir ao outro o título de estrangeiro, fôssemos todos mais tolerantes. Não é isso que a realidade nos mostra.

Somos tão rápidos em julgar aquele de uma nação vizinha quanto aquele da casa ao lado, mas por quê? Simplesmente porque o outro não sou eu? E se percebêssemos que, por mais que aqui no nosso país, falemos o português, não falamos a mesma língua?

Eu falo “eu te amo” pra todo mundo por quem sinto forte admiração, em quem encontro prazer na companhia. Muitos me consideram estranha.

Meu pai não entende o que é crush, apesar de todos na minha faculdade saberem o que significa (um coração desesperado), apesar de todas as vezes que já o disse que era quando um coração acelera em direção ao outro que se mantém parado, tornando inevitável o confronto.

Minha melhor amiga, que mora no sul há mais de dez anos, gosta muito de me chamar de guria e de dizer que me acha “querida”. Guria é menina aqui no nordeste, “boy” aqui em Natal, mas querida não é a mesma coisa?

Não.

Pelo que entendo, onde ela mora se usa “querida” pra falar de uma pessoa que é muito amada, muito admirada, enquanto por aqui o pessoal só usa como vocativo. E ainda tem mais essa – eu adoro chamar aqueles que gosto de querido ou querida, mas pra muitos conhecidos essa palavra significa uma afastamento, um certo desprezo e condescendência.

Como pode que uma mesma palavra tenha um significado tão diverso para pessoas que se criaram do mesmo jeito, no mesmo lugar que eu? O tempo, talvez, que insiste em mudar as palavras, as pessoas e os lugares.

Mas eu reitero que a explicação é ainda mais interessante: somos todos turistas nas vidas alheias, estranhos para aqueles que não são nós mesmos, mesmo que compartilhemos genes ou cultura.

Os outros falam uma língua diferente da minha. Os outros têm hábitos peculiares, crenças estranhas, gostos excêntricos. Os outros me julgam e eu os julgo, e ao permitirem que eu adentre o território da sua existência eu sou inevitavelmente mudada, influenciada pra melhor ou pior pelo que aprendo em campo alheio.

Os países são reflexos de seus cidadãos. Quem faz de nós o que somos são os turistas.

Somos todos turistas na vida dos outros.

* Bárbara de Medeiros atualmente estuda Direito Internacional na cidade de Poitiers, França

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

DO ILEGAL E MORALMENTE INCORRETO

* Honório de Medeiros

Algo não é moralmente correto porque é legal. Tampouco algo não é legal porque é moralmente correto. Mas se for ilegal é moralmente incorreto. E se incorreto moralmente, é ilegal.
 Ilegal e imoral.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O GOVERNO DO RN TEM RECEITA PARA COLOCAR EM DIA O PAGAMENTO DOS SERVIDORES

* Honório de Medeiros

O Portal da Transparência do Rio Grande do Norte nos informa o seguinte, em relação ao pagamento de DESPESAS, no período janeiro a setembro de 2016:

Total Pago de Janeiro a Setembro de 2016: R$ 4.472.647.102,52.

Quanto ao pagamento de DESPESAS no período janeiro a setembro de 2017:

Total Pago de Janeiro a Setembro de 2017 R$ 5.106.559.826,55.

Ou seja, a DESPESA do Governo do Rio Grande do Norte cresceu:

R$ 633.912.724,03 (seiscentos e trinta e três milhões, novecentos e doze milhões, setecentos e vinte e quatro mil reais e três centavos).

O Portal também nos informa a RECEITA REALIZADA, no mesmo período de janeiro a setembro de 2016:

Realizada até Set/2016: R$ 7.085.696.647,62.

Quanto à RECEITA REALIZADA no período janeiro a setembro de 2017:

Realizada até Set/2017: R$ 7.606.562.257,47

Ou seja, a RECEITA REALIZADA cresceu:

R$ 520.865.609,85 (quinhentos e vinte milhões, oitocentos e sessenta e cinco mil, seiscentos e nove reais e oitenta e cinco centavos).

O que esses dados nos permitem inferir?

Tais dados nos permitem inferir que o Governo do Estado do Rio Grande do Norte aumentou seu gasto MAIS que sua RECEITA REALIZADA.

Trocando em miúdos: a RECEITA cresceu, mas o Governo resolveu gastar sabe-se lá com que, e deixou de lado, deliberadamente, o pagamento em dia do Servidor Público.

O "sabe-se lá com que" pode ser identificado, claro. É fácil fazê-lo. Fica para outra oportunidade.

O certo é que o gasto do Governo, como demonstrado anteriormente em http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2017/09/o-rn-nao-paga-em-dia-por-conta-do.html, não foi para cobrir o "déficit da previdência".

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

CAMUS PERCEBEU POR OLHAR, OU OLHOU POR PERCEBER?

* Honório de Medeiros

Camus, em seu "Diário de Viagem" (Record), lá para as tantas escreve o seguinte acerca de uma cena por ele presenciada no navio em que viajava para o Rio de Janeiro:

"Mais uma vez observo entre eles uma mulher já grisalha, mas de uma classe soberba, um belo rosto altivo e suave, (...) e uma postura sem par. Sempre seguida pelo marido, homem alto e louro, taciturno. Colho algumas informações, ela está fugindo da Polônia e dos russos para exilar-se na América do Sul. É pobre. Mas, ao vê-la, penso nas matronas bem vestidas que ocupam alguns camarotes de primeira classe."

Fico fascinado com esse olhar que distingue, o olhar de Camus, mas não me deixo seduzir pelo fascínio da primeira sensação, a da constatação da percepção de um estranhamento que coloca, de um lado, a soberba elegância de uma imigrante e, do outro, o trivial, o comum, o banal: as matronas da primeira classe.

Deixo-me seduzir, isso sim, ao constatar que o olhar é o instrumento que permite as ideias apreenderem essa distinção. A ideia é anterior ao olhar. Se assim não fosse o olhar nada constataria dessa distinção que Camus percebeu.

Em outro lugar (*), escrevi:

"Na Retórica dos Objetos é fundamental a noção de “estranhamento”. É por intermédio do “estranhamento” que decodificamos os objetos.

E o que seria o “estranhamento”? É algo difícil de conceituar, tal como a liberdade. Sabemos o que esta é, mas não sabemos dizer com propriedade o que ela é.

Em certo sentido “estranhamento” é uma desarmonia em relação ao padrão comum. Tal qual uma arte marcial, tornar-se hábil em captar essa desarmonia demanda contínuo exercitar-se até o limite do possível.

Recordemos o exemplo acima. Para alguém acostumado a perceber o que lhe cerca, a organização limpa e meticulosa da biblioteca do cliente chama a atenção por fugir do padrão comum. Ao conectar essa constatação com a que resulta do “ver” os restantes dos objetos espalhados pelo ambiente, torna-se possível fazer alguma inferência, ou elaborar alguma hipótese, para sermos mais precisos, acerca da personalidade do seu proprietário.

Em episódio bastante interessante da série norte americana “The Mentalist”, agentes do FBI buscam, em uma sala, uma câmera de vídeo escondida. As outras já foram encontradas e estavam postadas em lugares óbvios. O personagem principal, Patrick Jane, ao ser introduzido na sala, observa que um determinado espelho estava colocado em uma altura um pouco acima do normal. Levanta-se o espelho e lá está a câmera procurada. Mas como essa câmera filmava através do espelho? Patrick sabia que os ilusionistas usam muito um tipo de espelho que permite a quem está por trás visualizar através dele. A noção de “estranhamento” permitiu a localização imediata da câmera procurada.

Em outro episódio, esse bastante conhecido na literatura policial, Sherlock Holmes chama a atenção de Dr. Watson para o cão da propriedade onde acontece a investigação. Dr. Watson retruca informando que o cão não latiu. Sherlock pondera, então: “por isso mesmo”.

Ou seja, Sherlock vivenciou, ali, essa sensação de estranhamento."

Essa capacidade de sentir a sensação de "estranhamento", e, em seguida, abstraí-la, racionaliza-la, é, penso eu, a base do trabalho dos artistas, filósofos e cientistas.

(*) http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2016/11/a-retorica-dos-objetos.html

domingo, 1 de outubro de 2017

INATO OU ADQUIRIDO?



Honório de Medeiros

Quem leu "A Tempestade", de Shakespeare, ou a assistiu, conhece o célebre jogo de palavras:

"É um demônio, um demônio de nascença, / em cuja natureza jamais pôde atuar a educação."

O solilóquio completo de Próspero é o seguinte:

"É um demônio, um demônio de nascença, em cuja natureza jamais pôde atuar a educação. Foram perdidos todos os meus esforços; sim, perdido completamente, sempre, quanto hei feito a ele por amor à humanidade. Seu corpo com a idade fica hediondo e cada vez mais ulcerado o espírito. Atormentá-los vou até que rujam."

Eis como a arte antecede a ciência. 

A essência desse solilóquio é aquela da filosofia: "inato ou adquirido?"

Richard Dawkins a descreve assim, em "Fome de Saber", o volume 1 de suas memórias: "Os filósofos vêm pelos séculos afora refletindo sobre essa questão. Quando do que sabemos é embutido de forma inata, e até que ponto a mente é uma tábula rasa, à espera de que algo seja escrito nela, como acreditava John Locke?"

Karl Popper encaminhou seu gênio para resolver essa questão. É a medula de sua epistemologia. Aliás, até onde sei, o termo "tábula rasa" foi criação dele.

Muito interessante esse jogo de conectar idéias oriundas de diversas fontes. Shakespeare, Locke, Popper, Dawkins...

* Arte: www.mallarmargens.com

DE IRONIA

* Honório de Medeiros

Não gosto de ironias.

Pressupõem uma superioridade inexistente.


Com os fracos é covardia; com os iguais, desrespeito; com os fortes, temeridade.


A auto-ironia é condescendência, algo perigoso: incompreensível para os ignorantes e brecha por onde entra o raciocínio dos inteligentes.


A polidez, que não se confunde com a gentileza, é bem mais correta e eficaz.


Não destrata e mantém a distância. 

sábado, 30 de setembro de 2017

O RN NÃO PAGA EM DIA POR CONTA DO "DÉFICIT PREVIDENCIÁRIO"?

* Honório de Medeiros

Li atentamente o que a mídia publicou das declarações do Secretário de Estado de Planejamento e Finanças, Gustavo Nogueira, em entrevista coletiva nessa sexta-feira próxima passada, dia 29, quando afirmou que o principal motivo da dificuldade em fechar a folha de pagamento dos servidores do poder Executivo é o "déficit da previdência".

Esse discurso de culpar a previdência é relativamente novo: basta acompanhar o histórico de declarações do Secretário desde que começou o atraso no pagamento dos servidores do executivo potiguar.

Logo que dados reiteradamente publicados por entidades de classe, dentre elas o Sindicato dos Auditores Fiscais do Estado, começaram a apontar um crescimento na Receita do Estado, o discurso do Secretário mudou para culpar o aquilo que ele nominou de “déficit da previdência”.

O que nos leva a supor que a estratégia governamental é encontrar meios de tentar inibir a pressão por aumentos salariais ou pagamentos de atrasados. Funciona assim: antes o culpado era a queda na arrecadação; agora é “como posso atender sua reivindicação, se os salários estão atrasados, e estão atrasados em decorrência do déficit da previdência”?

Vamos aos fatos, pois.

Para questionar esse discurso do Secretário, basta comparar alguns dados do vizinho Estado da Paraíba com outros nossos. Saliente-se que a Paraíba está absolutamente em dia com o pagamento dos seus servidores do Poder Executivo.

A Paraíba tem 118.230 servidores no Poder Executivo; o Rio Grande do Norte, 102.000; a PB tem 72.267 ativos; o RN, 54.000; a PB, 33.954 inativos; o RN, 38.000; a PB, 12.009 pensionistas; o RN, 10.000.

Os dados da Paraíba foram coletados no https://portal.tce.pb.gov.br/aplicativos/sagres/. Os do Rio Grande do Norte foram fornecidos pelo próprio Secretário de Planejamento do Estado do Rn.

Embora a PB tenha menos inativos que o RN, tem mais pensionistas. E a PB tem muito mais servidores na ativa que o RN.

Podemos ver que, no geral, é semelhante a situação da Paraíba e Rio Grande do Norte quanto ao número de servidores do Poder Executivo e relação entre ativos/inativos nos dois Estados.

Entretanto o “déficit da previdência” de lá não impede o pagamento em dia dos seus servidores.

Observo que está sendo analisada a causa apontada pelo Secretário do Rio Grande do Norte para o não pagamento em dia dos salários (remuneração) dos nossos servidores públicos. Como a causa anterior por ele apontada, que era a queda na arrecadação, não se sustenta mais, fico esperando discursos novos.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

ARTE? QUE ARTE?

* Honório de Medeiros

Em 2015, causou celeuma uma "performance", denominada "Macaquinhos", em que os atores exploravam os ânus uns dos outros, apresentada em uma unidade do Sesc em Juazeiro do Norte, no Ceará.

Veja aqui: http://odia.ig.com.br/diversao/2015-11-23/grupo-de-teatro-faz-exploracao-anal-em-performance-e-gera-polemica.html

"A performance mostrava um grupo composto por homens e mulheres totalmente nus, em círculo, explorando com as mãos o ânus do companheiro a frente. De acordo com os artistas Caio, Mavi Veloso e Yang Dallas, idealizadores do projeto, a apresentação tem o intuito de 'ensinar que existe ânus, ensinar a ir para o ânus e ensinar a partir do ânus e com o ânus'."

Este ano, em agosto, o Santander Cultural abriu suas portas para a primeira exposição queer realizada no Brasil. De origem inglesa, o termo é utilizado para designar pessoas que não seguem o padrão da heterossexualidade ou de gênero definido - notadamente gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros.

Choveram denúncias nas redes sociais de pedofilia e zoofilia, principalmente para duas obras em especial: “Cenas do Interior II” (1994), de Adriana Varejão, que teve uma cena em que um homem penetra uma cabra, e “Travesti da Lambada e Deusa das Águas” (2013), de Bia Leite, que faz referência ao meme da internet “criança viada”. Também há menção a um vídeo que mostrava um homem recebendo um jato de sêmen no rosto. A obra é intitulada “Come/Cry” e é assinada pelo “artista” Maurício Ianes. O nome do artista consta na lista entregue ao Ministério da Cultura como um dos autores das obras expostas no Queermuseu. 

Mais recentemente, em uma performance na abertura do 35º Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo, na última terça-feira, o artista fluminense Wagner Schwartz se apresentou nu, no centro de um tablado. Em vídeo que circula nas redes sociais, sob fortes críticas, uma menina que aparenta ter cerca de quatro anos aparece interagindo com o homem, que estava deitado de barriga para cima, com a genitália à mostra.

Basicamente discute-se o seguinte, nas redes sociais acerca dessas "manifestações": deve haver limite na liberdade de expressão, quando o tema é arte?

Permito-me ir além.
 
Em um comentário no meu blog 
https://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2015/06/a-civilizacao-do-espetaculo-mario.html, escrevi o seguinte:

"Fecho o livro de Llosa, Mário Vargas Llosa, “A Civilização do Espetáculo”, cujo título foi calcado no “A Sociedade do Espetáculo”, de Guy Debord, um dos mais originais pensadores do século, e me percebo confortável por ter encontrado um texto, da melhor qualidade, que desse corpo a essa sensação permanente de estranhamento e solidão vivenciada por mim e alguns poucos, originada pelo descompasso entre a “cultura” na qual fomos criados e a realidade que encontramos nos dias de hoje.

Não é, portanto, “saudosismo”, o que sentimos. Há, de fato, um progressivo, solerte e profundo processo de banalização dos valores fundantes da cultura, entendida esta como o pressuposto da construção do processo civilizatório. Cultura como a pensou, por exemplo, T. S. Elliot, citado por Llosa, em “Notas para uma definição de cultura”, de 1948, tão atual, posto que, por exemplo, lá para as tantas, expõe: “E não vejo razão alguma pela qual a decadência da cultura não possa continuar e não possamos prever um tempo, de alguma duração, que possa ser considerado desprovido de cultura.”

E, agora, recordo Bárbara Tuchman, em "A Prática da História":

"O maior recurso, e a realização mais duradoura da humanidade, é a arte. O domínio da linguagem demonstrado por Shakespeare e seu conhecimento da alma humana; a complicada ordem de Bach, o encantamento de Mozart".

Percebo, pois, os sintomas da decadência da cultura, e jamais levaria filhos meus a "manifestações culturais" como essas acima - eles que optem por frequenta-las ou não quando forem adultos.

Mas não concordo em impedi-las.

O decadente, na arte, o banal, o medíocre, o aviltante, exerce sua tirania destruidora tanto quanto a proibição da liberdade de expressão estética.

E ninguém tem o direito de impedir, a quem quer que seja, de se manifestar esteticamente.

Contanto que tais "manifestações" não invadam o campo próprio de outros valores absolutos previstos na nossa Constituição.

Como ninguém pode impedir, a quem quer seja, de exercer o saudável direito de criticar.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

POR QUE NÃO TE CALAS, GILMAR?

* Honório de Medeiros

Gilmar Mendes disse, em entrevista à Folha de São Paulo, que seus colegas Ministros Luíz Fux, Rosa Weber e Luis Roberto Barroso, integrantes da Primeira Turma do STF, e que com seus votos impuseram o recolhimento noturno a Aécio Neves, tinham um "comportamento suspeito":

"Quando a turma começa a poetizar, começa a ter um tipo de comportamento, vamos dizer assim, suspeito, certamente seria bom que a matéria viesse para o plenário."


Chamou-os de "poetas".

Antes já havia dito, em sessão no TSE, que a Primeira Turma era uma "câmara de gaz".

Já não me envergonho, enquanto cidadão, pelas atitudes de Gilmar Mendes e o consequente aviltamento do STF.

Hoje eu me envergonho pelo silêncio, pela omissão dos seus pares.

Silêncio e omissão que colaboram, definitivamente, para que se instaure o "status quo" ambicionado pela escória que domina o País, qual seja a lama política atingindo tudo e todos, indiscriminadamente.

Quando tudo e todos estão no mesmo patamar, não há espaço nem condições para que se estabeleça qualquer espécie de julgamento de quem quer que seja.

É o caos, que começa no topo, e corrói sem piedade, instituições e cidadãos, até a base. Caem por terra todos os valores e a Sociedade lentamente, se desintegra.

Aliás é isso mesmo que está acontecendo. Somente não vê quem não quer, ou quem é incapaz de fazê-lo.

Gilmar Mendes vem, ao longo do tempo, reiteradamente, dando motivos mais que legais, mais que legítimos, para sofrer impeachment. Está lá, na Lei:

Diz o art. 39, da Lei 1.079/50, que são crimes de responsabilidade dos ministros do STF:

"Alterar, por qualquer forma, exceto por via de recurso, a decisão ou voto já proferido em sessão do Tribunal;

Proferir julgamento, quando, por lei, seja suspeito na causa;

Ser patentemente desidioso no cumprimento dos deveres do cargo:

Proceder de modo incompatível com a honra dignidade e decoro de suas funções." 


Mas como a competência do julgamento é do Senado...

Falta, também, alguém que tenha autoridade moral, alguém que transcenda o lamaçal no qual estamos ancorados e faça, com Gilmar, o mesmo que o Rei Juan Carlos fez com o iníquo ditador venezuelano Hugo Chavez: "Por que não te calas?", em 2007.

¿Por qué no te callas? (espanhol para "Por que não te calas?") foi uma frase dita pelo Rei Juan Carlos da Espanha ao Ditador venezuelano Hugo Chávez durante a XVII Conferência Íbero-Americana, realizada na cidade de Santiago do Chile, no final de 2007.

Por que não te calas, Gilmar
?

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

DE PALOCCI, ANTONIO GRAMSCI E OSCAR WILDE

* Honório de Medeiros


E a carta de Palocci pedindo sua desfiliação do PT, heim?


Derruidora.

Fez mais pela desconstrução da imagem de Lula e do Partido que o conjunto da obra que anda pelos atalhos da Justiça.

É bem verdade que a Deputada Maria do Rosário, em discurso na Câmara dos Deputados, afirmou que se tratava da "carta de um homem preso (...) de alguém que não fala a partir de um lugar de liberdade, mas de um lugar que busca a liberdade".

Queiram desculpar os equívocos, a Deputada estava nitidamente muito emocionada.

Ou seja, a Deputada disse que a carta não vale nada: é de um homem preso.

Escritos de homens presos, para a Deputada, de nada valem.

De nada valem o "De Profundis", a longa e emotiva carta de Oscar Wilde para seu amante, escrita na prisão de Reading, bem como os "Cadernos do Cárcere", de Antonio Gramsci, escritos em sua prisão, na Itália. Nem as "Memórias do Cárcere", de Graciliano Ramos.


Mundo estranho, este.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

FEUDALISMO, CORONELISMO E CANGAÇO

* Honório de Medeiros

Convido-lhes a empreender, comigo, uma ousadia.

Para tanto precisamos recordar o que sabemos acerca do feudalismo, esse nicho histórico que começou com a queda de Roma – gosto de imaginar a cena de Hipona, da qual Santo Agostinho era bispo, incendiada pelos bárbaros enquanto ele agonizava, como sendo o verdadeiro marco inicial – e terminou com o início da idade moderna, mais precisamente, segundo vários historiadores, com a descoberta da América por Cristóvão Colombo e o início do absolutismo, cujo primeiro momento, e ninguém há de me convencer do contrário, ocorreu quando Felipe, o Belo, criou seu próprio papa, o de Avignon, e dizimou os templários, fortalecendo a instituição do Estado.

O feudalismo – sabemos todos – calcava-se na propriedade da terra e na rígida divisão da Sociedade em nobres, clero e servos das glebas. Os nobres e o clero eram aliados, claro, para espoliar o povo.

O epicentro dessa estrutura de poder era o Barão feudal, latifundiário, em cujo entorno gravitavam seus vassalos, ou seja, proprietários de terra de menor importância, e a nobreza eclesiástica. A ele pertencia o direito de aplicar o baraço e o cutelo – ou seja, de criar, interpretar e aplicar as leis ou costumes. Sua vontade era lei. 

A igreja exercia papel fundamental nesse sistema, por vários motivos: em primeiro lugar era detentora de muitas riquezas; em segundo lugar sua nobreza era formada pelos filhos segundos dos senhores feudais – os primeiros seguiam o caminho das armas; e, em terceiro, a ela cabia a formatação ideológica que assegurava o domínio da nobreza e do clero, bem como a fiscalização de possíveis desvios – instrumentalizada por intermédio da confissão e delação – além da punição dos recalcitrantes, via inquisição. 

Brigavam muito entre si, os nobres, disputando terra e prestígio político. Quem tinha terra, tinha Poder; quem tinha Poder, tinha terra. Por exemplo: a primeira cruzada não foi à Terra Santa, como comumente se crê. Foi contra os Cátaros, uma heresia que ameaçava dominar todo o Sul da França, sob o beneplácito do Conde de Toulouse.

Contra os Cátaros levantou-se a Igreja, ameaçada em sua soberania ideológica, e os barões feudais do norte da França, liderados por São Luís, ou Luís XI, como queiram. Na verdade o pano de fundo dessa cruzada foi a disputa pelas ricas terras do sul da França. Nada mais. 

Para essas brigas mobilizavam os nobres seus vassalos, seus servos, bem como exércitos de mercenários. Qualquer mobilização era acompanhada pela Igreja, abençoando ou punindo, conforme o caso.

Pois bem, embora ainda haja muito a se dizer acerca do feudalismo, façamos uma parada estratégica e utilizemos o “desenho” – chamemo-lo assim – de sua estrutura de poder para analisar o nicho histórico brasileiro ao qual denominamos de coronelismo. 

Há alguns autores, para não dizer vários, que dizem não ter havido feudalismo no Brasil. Eu, pelo meu lado, com fulcro em Raymundo Faoro, Gustavo Barroso e Câmara Cascudo, penso que tal não procede.

Analisemos.

O coronelismo também se calcou na posse da terra e no prestígio político. O coronel – verdadeiro senhor feudal – era o epicentro de uma estrutura de poder. Também ele tinha, enquanto senhor feudal, seus vassalos, os proprietários menores de terra, a si ligados por laços de compadrio e interesses mútuos, que lhe prestava vassalagem. 

O coronelismo dependia, ideologicamente, da igreja, que tratava de fiscalizar e punir desvios da ortodoxia, como o demonstra tudo quanto ocorreu com Padre Cícero. E dependia da confissão e delação, principal forma de obtenção de informação por parte da igreja, sempre à disposição do coronel que a mantinha.

Quem não se lembra da estreita relação do Coronel com o Padre, em "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna? 

O coronel tinha os seus servos da gleba, empregados que viviam às custas dos sobejos do grão-senhor. E da mesma forma que no feudalismo, a vontade do Coronel era lei. Ele era senhor de baraço e de cutelo. 

Claro, brigavam entre si disputando terra e prestígio, briga essa que arrebanhava vassalos – os compadres; servos da gleba, os jagunços; e mercenários, os cangaceiros, como nos demonstra a rica história do Cariri cearense.

Exemplo paradigmático é o do cangaceiro Chico Pereira. 

A relação é a seguinte: Chico Pereira, assim como Jesuíno Brilhante, o mais remoto, passando por Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião, Corisco, e outros menores, tal qual Cassimiro Honório, e por aí segue, não eram servos da gleba. Eram proprietários rurais em maior ou menor escala. Todos ligados a coronéis, todos ligados a alguma estrutura de Poder, dele detendo parcela própria.

Ou seja, os grandes líderes cangaceiros estão mais próximos da nobreza da terra que do proletariado. 

Em sendo assim, não faz o menor sentido a teoria do banditismo social, de Hobsbawn quanto aos cangaceiros. É como pensa, por exemplo, aproximadamente, Luiz Bernardo Pericás, autor de “Os Cangaceiros”.

Tampouco faz sentido a teoria que aponta os cangaceiros enquanto desviantes, por identificar o fenômeno, mas não apontar a causa, da qual faz uso Frederico Pernambucano de Mello, em seus celebrados estudos do cangaceirismo. Muito menos a teoria marxista da luta de classes, esteio do pensamento de Rui Facó e de alguns outros. 

O cangaço é resultante de brigas intestinas entre famílias que dispunham de terra e prestígio. A briga era no seio do coronelismo. Era o coronelismo. Tratava-se de questões do Poder Político, em sua origem. Todo líder cangaceiro, com raras e honrosas exceções – até mesmo Sabino Gore, por exemplo, está inserido nesse contexto.

Não por outra razão, o fim do coronelismo coincidiu com o fim do cangaço.

O referencial teórico aqui talvez seja Gaetano Mosca e sua teoria da classe política, enquanto situação limite em um plano teórico mais complexo, a teoria darwiniana.

Nesse sentido concluo propondo o seguinte: 1) que se faça o estudo do cangaço a partir do coronelismo, ambientando o epifenômeno no fenômeno; 2) que se estude Chico Pereira, por exemplo, a partir do panorama político de sua época, no Sertão paraibano.

Chico Pereira não era um bandido social, no sentido de Hobsbawm, e embora possamos denominá-lo de desviante, por ter se voltado contra o sistema legal de sua época, essa informação nada acrescenta quanto a entender causa e efeito de sua existência enquanto cangaceiro.

Por fim, lembro uma consequência imediata da assunção desse modelo teórico: entender que a verdeira história do ataque de Lampião a Mossoró é a história da briga entre coronéis paraibanos e coronéis norte-rio-grandenses por prestígio político no Oeste e Alto Oeste potiguar.

sábado, 23 de setembro de 2017

AS FORÇAS ARMADAS ESTÃO INQUIETAS

* Honório de Medeiros

Com a nova denúncia apresentada contra si, e encaminhada pelo STF à Câmara, Temer começou o processo de liberar emendas parlamentares. Será, em uma primeira penada, um pouco mais de um bilhão. O objetivo é claro: obter, dos parlamentares, o arquivamento da denúncia.

Quando da primeira denúncia, não somente foi liberado muito dinheiro, bem mais que um bilhão, mas também foram distribuídos cargos públicos aos que integram aquilo que se convencionou chamar de "base de sustentação".

Enquanto isso continua o processo de cortar recursos dos outros setores da administração pública. Alguns, senão todos, vitais. Por exemplo: as Forças Armadas. O corte dos seus recursos orçamentários foi da ordem de quarenta e quatro por cento, o que as colocou perto do colapso.

Três fatos ocorreram estes dias e estão conectados entre si.

Primeiro: O Alto Comando do Exército reuniu-se em Brasília, em sua 314ª edição, com cinco dias de duração e, com certeza, mais do que certeza, o quadro político nacional foi analisado em suas entranhas, detalhadamente.

Segundo: o General Mourão, que não está sozinho quanto a suas idéias, e tampouco representa somente ele mesmo, aborda claramente, em palestra, a intervenção militar no País, em decorrência da "grave crise ética, político-institucional".

Terceiro: as Forças Armadas dão demonstração de poderio invadindo a Rocinha, cercando-a, e nela passando um pente-fino. Tanques, helicópteros, homens, armamento pesado, tudo quando se possa imaginar em termos de poderio bélico está sendo utilizado lá.

É de se levar em consideração que hoje segmento expressivo da população clama por intervenção militar no Brasil, bem como é de se levar em consideração que as Forças Armadas compreenderam substancialmente a importância de atuarem com força na chamada "rede social", de forma inteligente e eficaz na construção de uma imagem sólida de honradez e competência. Basta acompanhar na mídia.

Mas a elite governante do País, o Executivo, Legislativo e Judiciário agem e reagem como se vivessem em uma bolha, desconectada da realidade pela qual passa o Brasil.

Temer, sem qualquer outro objetivo senão salvar a si mesmo, deixa de lado os últimos resquícios de uma dignidade outrora existente, e ao invés de renunciar, persiste em comandar o afundamento do barco.

O Legislativo, integrado por políticos profissionais, vive uma crise de credibilidade, inteligência e honestidade sem igual na história do País. Há as exceções de praxe, cada vez mais isoladas e desanimadas. Pedro Simon que o diga.

O Judiciário segue achando que é o fiador da República e que paira acima do bem e do mal. Quando precisam, são legalistas, quando não, são legitimistas. E de marmota em marmota jurídica, vão insultando a Constituição e se apequenando aos galopes. E aqui nem se há de falar nas vantagens remuneratórias que golpes de esperteza jurídica lhes vêm assegurando ao longo do tempo, em detrimento das outras categorias do serviço público que não pertencem a esse panteão de deuses da Pátria.

Pois bem: quem imagina que as Forças Armadas não acompanham o que se passa no País, integralmente, comete erro crasso. Não somente acompanham como têm quadros muito bem preparados para fazer isso.

E além de terem quadros muito bem preparados, seus integrantes estão espalhados pelo Brasil e sua grande maioria vem da base da pirâmide social ou da classe média e escutam e observam, diariamente, no seio de suas famílias, a ira popular contra tudo que compõe a realidade política, social e econômica do Brasil de hoje.

Principalmente contra os "príncipes" da República.

Portanto...

terça-feira, 22 de agosto de 2017

AS FASES DA VIDA

Honório de Medeiros

Até certo momento da vida nossa luta é para ser conforme a tribo, o grupo; depois, a luta será para estabelecermos diferença entre nós e esse grupo, a tribo; um pouco mais para a frente nós nos abrimos para percebermos aquilo que, nos outros, é único, e esse único nos atrai ou  nos causa repulsa ou indiferença; se nos atrai, fomos fisgados. Se não chega esse momento no qual é preciso estabecer nossa diferença para com o grupo, a tribo, então é preciso temer: há algo de errado na nossa vida, na nossa mente, na nossa alma.

domingo, 20 de agosto de 2017

QUANDO UM HOMEM SE RETIRA

* Honório de Medeiros

Seu Antônio de Maria decidiu se retirar aos setenta. Enfastiou-se, disse-me ele. "Fiz o que podia fazer". "Agora vou cuidar de mim". Recusou-se a sair de casa, a não ser muito raramente, quando lhe dava na telha, como quando foi assistir um sermão do pároco recém-chegado, de quem diziam maravilhas como pregador. Perguntei sua opinião. "É, fala bem; mas não diz nada". Também dava longas caminhadas por veredas ignoradas e desertas, serra abaixo e serra acima, nas madrugadas, sempre desestimulando aproximações em busca de conversa. Contratou uma senhora já passada nos anos para cuidar da casa e da sua comida, a quem exigiu limpeza, silêncio, honestidade e distância. Em troca pagava-lhe tudo que a lei mandava. Botava a cadeira na calçada às cinco da tarde e a tirava às oito, nas horas mortas. Era a deixa. As visitas debandavam, depois de visitarem o bule de café. Tomara o hábito de escrever uns "garranchos" no caderno preto que trouxera da última viagem que fizera. Não quis me mostrar. "É uma ruma de besteira. Já tem muito papel escrito mundo afora." Contei-lhe do costume dos hindus de saírem pelo mundo quando chegava o outono de suas vidas, cajado à mão, em busca da paz interior, sem nada além de uma tigela na qual comiam o que lhe davam pelo caminho. "Cada um sabe onde lhe aperta o sapato, mas o mundo é o mesmo em todos os cantos." E estendeu a mão, à guisa de despedida.

sábado, 19 de agosto de 2017

GILMAR MENDES E O PRÍNCIPE DE FALCONERI

* Honório de Medeiros

Em cada ação por intermédio da qual diminui a importância do seu cargo de Ministro do STF e, em decorrência, da Instituição a que pertence, Gilmar Mendes vai alcançando seu objetivo estratégico de colocá-la no mesmo patamar ético daquelas que já atingiram um nível de repúdio facilmente constatável na Sociedade, ou seja, o Executivo e o Legislativo. 

O intento parece claro: ao conseguir o que almeja, suas ações passam a ser entendidas como "naturais" no âmbito do quadro político-institucional no qual vivemos, e os objetivos pessoais pelos quais luta ferozmente serão atingidos e parecerão meras consequências de tudo que aí está. 

Não por outra razão a incontinência verbal, as decisões aparentemente esdrúxulas, a intolerância com o Ministério Público e a Lava-jato. 

Bem como a apresentação de propostas para resolver nosso impasse atual: até parece inspirar-se na célebre frase do Príncipe de Falconeri do romance de Lampeduza, "O Leopardo": "para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude". 

Para Gilmar Mendes que desde sempre foi estrategicamente intenso, disciplinado e focado, nada mais fácil. Basta compara-lo, por exemplo, com seus pares, que dançam conforme a música que ele toca, e cujo contraponto, Joaquim Barbosa, deixou-lhe o campo livre após o Mensalão, com sua aposentadoria. Barbosa foi o único a enfrenta-lo.

É, pois, tudo "caso pensado".

quarta-feira, 19 de julho de 2017

VIVA O GOVERNO DA PARAÍBA!

* Honório de Medeiros


O GOVERNO DA PARAÍBA PAGOU, EM JUNHO, DIAS 29 e 30, EM DIA, a remuneração dos servidores públicos estaduais.

O pagamento do funcionalismo, mais uma vez, aconteceu dentro do mês trabalhado.

“Continuamos, apesar da diminuição da receita em maio, mantendo nossos compromissos em dia e pagando os servidores no mês trabalhado. Também continuamos repassando a todos os poderes o duodécimo fixo. Lembrando que já pagamos no dia 14 a primeira parcela do décimo terceiro para os servidores”, observou o governador Ricardo Coutinho.

ENQUANTO ISSO, NO RIO GRANDE DO NORTE, NÃO HÁ QUALQUER NOTÍCIA ACERCA DO PAGAMENTO DO MÊS DE JUNHO. DE JUNHO!

O pagamento do funcionalismo dentro do mês trabalhado injetará na economia paraibana R$ 335 milhões, aquecendo setores como serviço e comércio em plena crise econômica que o País ainda enfrenta, obrigando alguns estados da federação a atrasar ou parcelar salários.


VIVA A PARAÍBA!

quarta-feira, 31 de maio de 2017

90 ANOS DA RESISTÊNCIA DE MOSSORÓ AO BANDO DE LAMPIÃO


A SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DO CANGAÇO (SBEC),
COM O APOIO DO:

* INSTITUTO CULTURAL DO OESTE POTIGUAR (ICOP);
* FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO (FJA);
* PREFEITURA MUNICIPAL DE MOSSORÓ (PMN);
* FÓRUM MUNICIPAL SIQUEIRA MARTINS;
* UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UERN);
* e CÂMARA MUNICIPAL DE MOSSORÓ (CMM);

PROMOVE:

AS COMEMORAÇÕES DOS 90 ANOS DA RESISTÊNCIA AO BANDO DE LAMPIÃO.

PROGRAMAÇÃO OFICIAL, INCLUINDO O JÚRI SIMULADO QUE JULGARÁ O CANGACEIRO "JARARACA":




quarta-feira, 17 de maio de 2017

OS GALOS-DE-BRIGA NA/DA RINHA DO CONHECIMENTO

* Honório de Medeiros

Antigamente eu tinha a ingenuidade de supor que sabia alguma coisa além do trivial variado. 

Era novo, desprevenido contra a astúcia da vida. Coisas da juventude.

Hoje, calejado, rendido, convicto de que nada sei, fiz um pacto com a vida; digo pouco, pergunto muito e calo mais ainda. Não o suficiente para evitar escorregadas, mas o bastante para apaziguar meu senso do ridículo.

Está sendo confortável, o cumprimento desse acordo, principalmente se levarmos em consideração que é cada vez mais fácil topar com algum gênio nas esquinas da rede social.

Gênios tonitruantes, cuja inibição em pontificar desapareceu tão rápido quanto uma bolha de sabão à luz do sol, graças à invisibilidade física e o distanciamento que o anonimato proporciona.

Invisíveis, distantes, a grande maioria das vezes, mas não todas, desconhecidos, mas audaciosos, definitivos, iracundos, assertivos, são tais gênios, na defesa intransigentes de suas verdades.

Verdadeiros galos-de-briga na e da rinha do conhecimento.

Os poucos que primeiro duvidam, depois perguntam, para então formar seu juízo, esses, coitados, são atropelados e encarados com um desdém comovente.

Ó tempos. 

domingo, 14 de maio de 2017

UMA MULHER ALTIVA


* Honório de Medeiros

​​Eu pegava as mãos calosas de minha mãe e lhe perguntava: "como pode"? Ela, pela milésima vez falava: "foi algo que eu não sei explicar. Mas sua avó nada podia fazer a não ser olhar com aqueles olhos tristes de quem tudo perdoa por tudo compreender. Que posso lhe dizer? Me encantei por aqueles olhos verdes, aquele sorriso, e fui com ele. Movi céus e terras, enfrentei a família, e fui feliz. Chorei muitas lágrimas pelo que não pude lhes oferecer, mas nunca chorei qualquer lágrima pela escolha que fiz." Eu apertava sua mão e lhe fazia uma ligeira cócega na palma, que ela afastava como se tivesse vergonha da dureza de sua pele, antes tão aveludada. Meu pai tudo escutava calado. Nunca soube o que se passava no seu pensamento. Um sorriso enigmático bailava em seu rosto. Talvez estivesse pensando no contraste entre a pobreza que deixara para trás, a pé, tantos anos antes, e a lembrança da beleza daquela mulher, quando jovem, que decidira tudo largar para acompanhá-lo sem deixar a altivez de lado.