quarta-feira, 24 de abril de 2013

ALTO DA CONCEIÇÃO EM MOSSORÓ, UM EXEMPLO DE FÉ CRISTÃ


José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo e Edimar Teixeira Diniz Filho

Um dos bairros mais antigos de Mossoró, o Alto da Conceição, está situado na região sul da cidade, sendo um dos bairros mais populosos. Era conhecido por outras denominações, como Alto da Mariseira, Mariseira dos Macacos e Alto dos Macacos. Registros do século XIX descrevem a citada região como uma área de mata fechada habitada por macacos ferozes. No final do século XIX, mais precisamente no dia 3/12/1896, em uma reunião na casa do professor da rede municipal de ensino Manuel Antônio de Albuquerque, e por este presidida, e ainda formada por Manoel Francisco de Borja, Silvério José de Morais, deliberou-se oficialmente pela mudança de nome, passando a chamar-se de Alto da Conceição. 

A Capela de Nossa Senhora da Conceição 

Foi também na residência de Manuel Antônio de Albuquerque onde aconteceram ações religiosas que motivaram o fervoroso educador católico ao movimento em prol da construção

de uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. A pedra fundamental da capela

foi lançada em uma solenidade realizada no dia 7 de novembro de 1897, pelo Padre João Urbano de Oliveira (1828-1904), auxiliado pelo Sr. Francisco Izódio1. Para tanto, ficou constituída uma comissão responsável pela edificação do templo, formada por Silvério

José Morais (tesoureiro), José Antônio de Morais, Manoel Alves Tibão e Luiz Firmino de Oliveira. Existiu ainda a colaboração de comunitários, com destaque para Manuel Francisco de Borja, José Freire da Costa, Francisco Justino de Melo, Francisco José de Lima, Francisco

Antônio de Melo e alguns alunos do Pai Vobis. Em 8 de dezembro de 1904, a Capela de Nossa Senhora da Conceição, como era mais conhecida, foi finalmente inaugurada. O aludido sacerdote, cearense de União e vigário da Paróquia de Santa Luzia, de 1894 a 1904, infelizmente não pôde comparecer, pois havia falecido em 26 de julho daquele ano. Todavia, sua presença está sempre viva naquele belo templo religioso, pois a rua lateral de acesso à atual igreja chama-se Padre João Urbano. Deste modo, o celebrante da cerimônia festiva foi o vigário da Paróquia de Santa Luzia, padre Moisés Ferreira do Nascimento, acolitado pelo cônego Estevam Dantas2. A imagem de Nossa Senhora da Conceição foi benzida pelo mencionado vigário e doada pelo coronel Vicente Ferreira da Mota 3. Em 20 de abril de 1920, falece em Mossoró, o professor Manuel Antônio de Albuquerque. Sua filha, Lúcia Albuquerque, o substituiu nos trabalhos de magistério na escola, agora denominada de Escola Particular Manuel Antônio, e na Capela de Nossa Senhora da Conceição.

A capela passou por reformas e ampliações. Em 1920 e 1921, na administração do então vigário da Paróquia de Santa Luzia Padre Manoel da Costa Pereira (Padre Costa), realizou-se a construção da torre. Posteriormente, na gestão de 1926 a 1941 do Padre Luiz Ferreira Cunha da Mota 4 (Padre Mota), foi realizada, no ano de 1932, mais uma ampliação, e, em 1937, foram construídos os corredores laterais da capela.

O Alto da Conceição foi a porta de entrada do bando do temível cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, em 13 de junho de 1927. Ao avistar, em direção ao centro da cidade, as torres das igrejas de Mossoró, Lampião profetizou: cidade com mais de uma torre não é pra cangaceiro atacar. Sábias palavras. Prenúncio de derrota. Não deu outra. 

Paróquia de Nossa Senhora da Conceição 

A transformação de Capela para Paróquia de Nossa Senhora da Conceição ocorreu no ano de 1941, graças à reivindicação do primeiro bispo de Mossoró, Dom Jaime de Barros Câmara 5. Para tanto, Dom Jaime vinha requerendo aos superiores da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, a fundação de uma residência de frades franciscanos na cidade de Mossoró, justamente no Alto da Conceição. No Capítulo Provincial de 9 de dezembro de 1940, o pleito do eminente bispo foi de fato atendido. Dom Jaime assinou no dia 19 de maio de 1941, em convenção aqui em Mossoró, e pelo ministro da referida Província, Frei Pedro Westermam, de

Recife-PE, no dia 24 de maio de 1941. A partir daí surgiu a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Embora tenha sido criada em 12 de agosto de 1941, os frades optaram por fazer a festa no dia 15 de agosto – Dia da Assunção de Nossa Senhora. Foi nessa data que ocorreu a solenidade de posse do primeiro Pároco, Frei Querubino Monnes, celebrada por Dom Jaime. 

Manuel Antônio de Albuquerque: o educador esquecido 

Manuel Antônio de Albuquerque nasceu em Campo Grande-RN em 1825. Professor primário da rede municipal de ensino, desde os primórdios da vila de Santa Luzia de Mossoró, na qualidade de mestre subvencionado pela Intendência, no subúrbio Macacos(Alto da Conceição), e adjacências. Cidadão de espírito religioso, sendo devoto de Nossa Senhora da Conceição, além de decicido cooperador daquele subúrbio em que residia, era considerado um

visionário iluminado, que vislumbrava tantos sonhos para aquela região. Escrevia em jornais locais sob o pseudônimo de Pai Vobis, designação latina que significa pai convosco.

Aposentou-se na gestão do Presidente da Intendência (Prefeito), Francisco Vicente Cunha da Mota 6, em 30 de setembro de 1916, após 51 anos de ensino primário no município. A família da qual fazia parte, os Albuquerques, foi uma das primeiras a habitarem o bairro. 

Referências Bibliográficas: 

BRITO, R. S. Ruas e Patronos de Mossoró. Coleção Mossoroense. Vol I e II. Série J. Mossoró-RN. 2003.

CASCUDO, L. C. Notas e Documentos para a História de Mossoró. Coleção Mossoroense. 5ª edição. Mossoró-RN, 299 p. 2010.

ESCÓSSIA, L. Cronologias Mossoroenses. Coleção Mossoroense. 2ª edição. Mossoró-RN, 305 p. 2010

MOURA, W. B. Umas tantas Lembranças da velha Mossoró e sua gente. Coleção Mossoroense. Série C. Mossoró-RN, 218 p. 2006.

OLIVEIRA, F. C. Reverências. Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Diocese de Santa Luzia de Mossoró. Igramol, Mossoró-RN, 148 p. 2011.

SILVA, R. N. À Sombra dos Tamarindos. Coleção Mossoroense, 209 p. 1979.

1 – Francisco Izódio de Souza: nascido em Apodi a 1 de abril de 1867. De origem humilde foi um batalhador pela instrução de Mossoró, um dos fundadores da Sociedade União Caixeiral e da Sociedade União dos Artistas. Eminente político em Mossoró, ocupou os cargos de Intendente (Vereador) no período de 1896 a 1898 e de Presidente da Intendência (Prefeito) no período de 1911 a 1913. È nome de rua no centro da cidade.

2 – Cônego Estevam José Dantas: nascido em São José do Mipibú de 13 de agosto de 1860. Foi diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia em 1902. Faleceu em Natal em 29 de julho de 1929. A Escola Estadual Cônego Estevam Dantas, localizada no lado da Igreja do Alto Conceição, foi uma merecida homenagem ao sacerdote potiguar. É também nome de praça no bairro Bom Jardim, popularmente conhecida como Praça dos Hospitais.

3 – Vicente Ferreira da Mota (Coronel Mota): nascido em Apodi em 3 de dezembro de 1848. Comerciante de destaque foi

Intendente em Mossoró no período de 1908 a 1910. Faleceu em Mossoró em 20 de janeiro de 1942. Era o genitor de Francisco Vicente Cunha da Mota e de Padre Mota.

4 – Luiz Ferreira Cunha da Mota (Padre Mota): Filho de Vicente Ferreira da Mota e Filomena Ferreira Cunha da Mota, nasceu em Mossoró em 16 de abril de 1697. Sacerdote de relevantes serviços prestados a sua cidade natal. Foi vigário da Paróquia de Santa Luzia de Mossoró de 1926 a 1941. Participou efusivamente da resistência ao ataque de Lampião em 1927. Prefeito de Mossoró durante o periodo de 1937 a 1945. Faleceu em Mossoró em 27 de agosto de 1966. Também é nome de rua situada no bairro Ilha de Santa Luzia.

5 – Jaime de Barros Câmara: nasceu em 03 de julho de 1894 em São José - SC. Primeiro Bispo de Mossoró e foi nomeado pelo Papa Pio XI em 19 de dezembro de 1935. Assumiu a Diocese de 1936 a dezembro de 1941. Faleceu em 18 de fevereiro de 1973, em Aparecida – SP. Dá nome a bairro, escola e há uma estátua em sua homenagem na Praça Cônego Estevam Dantas.

6 – Francisco Vicente Cunha da Mota: nascido em 10 de abril de 1880, seguiu com brilhantismo os passos do pai, o Coronel Mota, como comerciante. Ocupou vários cargos públicos, com destaque para a presidência da Intendência de Mossoró, no biênio 1914 a 1916. Faleceu, em Fortaleza-CE, aos 12 de setembro de 1950. Dois de seus filhos também foram prefeitos de Mossoró: Mota Neto e Francisco Mota. A avenida Cunha da Mota, localizada nos bairros Pereiros e Centro, foi uma merecida homenagem da edilidade mossoroense a essa figura que engrandeceu a história da cidade. 

domingo, 21 de abril de 2013

POIS TODOS SABEM QUE A NOITE MENTE...


 
 
Bárbara de Medeiros
 
Algumas feridas ainda estão por demais abertas para serem analisadas. O cheiro da carne pútrida ainda contamina o meu olfato e aperta a minha garganta, a sensação de engasgo trazendo lágrimas aos meus olhos. O sangue ainda está secando, naquela cor encarnada escura que eu tantas vezes admirei em bandeiras e estandartes de guerras, observando e rezando por jovens tão inocentes quanto eu era, que não tiveram sua alma apodrecida pelo tempo, pois este não viera. O destino chegou antes, encontrado-os espalhados em campos estrangeiros, uma pilha de corpos disformes e ensanguentados, a grama outrora verde manchada com o vinho carnal. Os inocentes pagam pelos erros dos culpados, e séculos após o primeiro erro ainda estou ajoelhada tentando me redimir pelos pecados que não compreendo na esperança de alcançar algo tão idôneo quanto o amanhã. Nada apaga o passado que rasteja atrás de mim, segurando meus calcanhares e ameaçando me puxar para o quinto dos infernos, de onde certamente veio para me assombrar. Mas como disse, admiro os herois do passado, aqueles que morreram na esperança de serem alguém, com sonhos infantis como suas feições e desejos irreais. As estrelas provavelmente eram desenhos em seus mapas mentais, e seus olhos possivelmente as percorreram uma última vez antes de serem levados ao Deus-dará. Pelo menos é assim que eu imagino. É assim como me sinto. E quando o sol pinta o manto azul claro com seus pinceis dourados, tingindo-o de laranja, eu espero até tornar-se um cobertor espesso, azul quase negro, que me conforta e me sufoca, me mata e me consola, me afoga e me aquece, me promete um novo amanhã do qual desconfio, pois todos sabem que a noite mente.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

AS PEDRAS FAZEM O CAMINHO


Bárbara de Medeiros
 
 
Bárbara de Medeiros
 
 
Pegue uma pedra
construa uma estrada
com dois caminhos
um à direita
o outro, espelho
de pedras
Agora ande!
caminhe!
pelo caminho
criado
teus pés guiarão teus passos
seu coração, bússola
porque não há certo nem errado
e as pedras fazem o caminho
 

sábado, 23 de março de 2013

VIVA PORTUGAL!

Já estive em Portugal, antes, por pouco tempo. Desta vez, entretanto, a demora está sendo longa. E aprofundada, horizontalmente, pois estou flanando também no seu interior, e verticalmente, pois puxo conversa onde chego, desde o taxista ao garçom, passando por balconistas de lojas, vendedores de jornais e revistas, e quem danado, segundo meus padrões, represente o povão. A conclusão é simples, mas dolorosa, porque resulta, sempre, de uma comparação com o Brasil. Para começo de assunto Portugal é lindo, sua história é muito interessante, e, ao contrário do que se supõe, o povo é educado e a nova geração muito bonita e bem cuidada. E alegre, nada melancólica. E tudo funciona, aqui, bem, muito bem, se comparado com o Brasil: educação, saúde, segurança e infra-estrutura. As cidades são limpas, sem mendigos, pastoradores de carro ou lavadores de parabrisas; o asfalto das ruas e das estradas é de primeira qualidade; os ônibus são novos e disciplinados; o trânsito flui normalmente e sem estresse. Como viajamos de carro pelo interior, pude perceber a limpeza das laterais das estradas, das cidades e dos lugares onde se para para uma visita ao tualete. A sinalização é perfeita. Quanto à segurança, o contraste também salta aos olhos: as pessoas andam pelas ruas, à noite, despreocupadas. Esqueci de falar do metrô: em termos de limpeza e regularidade, supera em muito o de Paris. Há senões? Claro que há! Como ainda volto,e por um período maior, a Portugal, escreverei algo acerca disso um pouco mais adiante. Enquanto não, quero confessar: ando muito surpreendido, e agradavelmente, com as terras lusitanas...





segunda-feira, 18 de março de 2013

VOU ALI BATER PERNA...

Editora Flâneur
 
 
Honório de Medeiros
 
 

                   A partir de amanhã entro de férias. E vou bater perna na Europa velha de guerra, enquanto posso. Flanar. Viver a rotina dos cafés, das livrarias, das feiras ao ar livre, das igrejas – como eu gosto delas, e quanto mais antigas, melhor! – dos sebos, dos antiquários.

                   Nada que eu não faça aqui mesmo em Natal, Mossoró, Martins, Pau dos Ferros, São Paulo, os chãos que eu sempre piso, os lugares nos quais eu sempre ando, na condição de vivente curioso acerca da faina humana e supostamente um pouco acima do analfabetismo  institucional que galopa Brasil adentro mais rapidamente que a Moça Caetana no seu mister de povoar o céu, o purgatório e o inferno.

                   Esqueci Cabaceiras, na Paraíba, no Pai Mateus, Sertãozão de Meu Deus, pedras e mais pedras, rochas e mais rochas, terra, mato rasteiro, céu de um azul sem igual, noites estreladas de tirar o fôlego, e emas, seriemas, veados, gato-do-mato, mocós, arapongas, jacus, toda a fauna do Sertão que a fome e descuido dos homens praticamente extinguiu, o linguajar arrastado contando “causos”, o chiste permanente, o cavaqueado dos meus irmãos paraibanos no centro do seu, do nosso Paraíso sertanejo.

                   Pois bem, mas na República Tcheca só me programei para fazer duas coisas: procurar a casa onde nasceu Hans Kelsen, o mais original e profundo dos filósofos do Direito, se é que ela ainda existe, e visitar o Cemitério Judeu. Nada mais. O resto é andar, perambular, deambular, flanar, pensar no sentido da vida, na origem das coisas, enquanto o tempo passa, pastorar o espírito de Vaclav Havel, com quem gostaria de trocar dois dedos de prosa, e assim por diante.

                   De lá, Hungria, onde vou segurar a vontade de fazer carreira até a Romênia para visitar o Castelo de Vlad Drakul, o Conde Drácula. Segurada a vontade, a goles de Tokay, pretendo vadiar pelo Danúbio, o quanto puder, escutando os magiares falam seu idioma incompreensível, olhar atento à possibilidade de encontrar uma cigana que leia a minha mão e me diga, em inglês macarrônico igual ao meu, que eu vou ser feliz, ter muita saúde, e morrer bem velhinho, imensamente rico.

                   Então Viena. Em Viena, os cafés, para mim, o Castelo de Sissi para minha amada. Eu vou a Sissi, claro, com ela; e, ela, claro, vem aos cafés comigo, e vamos celebrar a vida, e nos deleitarmos com a beleza da capital austríaca, e eu vou lhe contar acerca do surgimento do Positivismo Lógico naquela Viena do começo do Século XX que viveu seu apogeu intelectual antes que os nazistas chegassem. Quem me conhece sabe que procurarei, de todas as formas possíveis, os rastros de Karl Popper, o maior filósofo do século XX, um dos maiores de todos os tempos, seja na política, com sua análise de Platão, Hegel e Marx, seja na ciência com sua epistemologia, construída a partir da teoria da seleção natural. Filósofo, músico, matemático, lógico, epistemólogo, Popper foi, com certeza, o último dos polímatas.

                   Depois Portugal. Ah, Portugal! Bom, agora vou pedir licença para somente falar em Portugal um pouco mais à frene, se e quando os excelentes vinhos do Douro me permitirem. Mas lá vou à procura de Eça de Queirós, paixão antiga. E, como não poderia deixar de ser, pretendo mergulhar fundo no Sertão de Portugal. Ou Certão, como se dizia em Português arcaico... 

                   Até mais ver.

quinta-feira, 14 de março de 2013

A VIDA É LÍQUIDA


lojaorganicuspn.blogspot.com


Honório de Medeiros
 
 
“A vida é líquida”, diria Zygmunt Balman, aludindo à consistência das relações entre nós e os outros, ou entre nós e as coisas e/ou fenômenos. Líquida, posto que essa consistência não tem forma definida, assume aquela que o recipiente (o contexto) impõe.

 

Não somos estruturas rígidas que atravessam o tempo imutáveis ou pouco atingidos pelas circunstâncias, somos proteiformes, somos difusos, somos evanescentes.

 

             Vivemos em uma época na qual as gerações mais novas escrevem tudo em uma linha. No máximo algumas poucas linhas. E somente lêem, e são treinadas pela realidade virtual com a qual convivem “full time” exatamente para isso, algumas linhas, umas poucas linhas. Tal é o ser (e o dever-ser) que essa realidade virtual impõe: tudo é frenético, tudo é descartável, tudo é cambiante, imediato. É a maximização das potencialidades, negativas ou positivas, da nossa espécie sobrevivente e dominante, conforme descrito pela teoria da seleção natural.

 

             O ensino, hoje, está em ruínas por vários motivos, mas desconfio que o modelo que ainda predomina está fadado ao fim, entre outras razões, mais ainda, em decorrência do descompasso com essa realidade que aos poucos se impõe, no qual não há mais espaço para uma educação que se estrutura a partir de livros, com textos pesados, longos e que exigem tempo e estudo profundo, e o tratamento do “pensar” típico dos escolásticos medievais que moldaram as bases do nosso ensino ocidental e cristão.

 

             As gerações mais novas, que herdarão o mundo, ou o que restar dele, e sua forma de apreender e expressar a realidade, estão em processo de descompasso com aquela construída pelos nossos antepassados. Não se trata de estarmos certos e eles errados por não quererem ler livros como “Ulisses”, de Joyce, “Paidéia”, de Jaeger, ou “Em Busca do Tempo Perdido”, de Proust.

 

             São elas, as gerações mais novas, mutações engendradas pelo meme que é a realidade virtual: caracterizam-se por viver em ritmo alucinante, pensar freneticamente, falar acelerado, em contraposição ao viver, pensar e falar arcaico, que vai sendo deixado para trás.

 

             O livro de papel sobreviverá, claro, como sobreviveu o ritual do chá no Japão moderno que a restauração Meiji instaurou, e atirar com arco-e-flecha, algo excêntrico, típico de verdadeiros “outsiders”, a partir do qual hão de se criar seitas e seus inevitáveis rituais iniciáticos. Livros em ambientes virtuais existirão cada vez mais, óbvio. Mas nunca serão consumidos como o foram os livros de papel após Gutenberg.

 

             Assim como os monges que salvaram a civilização como nós a conhecemos, na Alta Idade Média, copiando os textos antigos e os deixando para a posteridade, será em ambiente monacal que os iniciados lerão obras como as que foram citadas acima.

 

             O velho mundo está morrendo, viva o novo mundo, do qual serei espectador privilegiado, posto que, quando menino, fui apresentado ao milagre da televisão já completamente cativado pelo livro de papel, e, agora, cinquentão, me maravilho com as infinitas possibilidades de uma realidade sequer possível de ser imaginada antes, domínio e prisão dos que, hoje, ainda são apenas adolescentes.

 

quarta-feira, 13 de março de 2013

CIDADÃO ESBRAVEJA EM DEFESA DA POLÍCIA E DO GOVERNO


bizudepraca.blogspot.com
                           
 
Publico a mensagem abaixo, como recebi:
 
"Caro Editor:


Como cidadão e admirador da briosa Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte e de sua Secretaria de Estado da Segurança Pública, tenho que me solidarizar com essas vetustas instituições ante o contínuo, crescente e agressivo desrespeito com o qual a bandidagem inescrupulosa anda lhes tratando, e com a insistência com que tal fato é dado ao conhecimento da população por intermédio da tal da rede social (Orkut, Facebook, Twitter, etc. e tal) e, também, embora palidamente e sem qualquer aprofundamento, graças a Deus, pela cansada e ineficiente imprensa escrita, radio difundida e televisada.

                            Bem que eu desconfiava que a culpa dessa falta de respeito fosse da mídia, ao provocar indiretamente o aumento da sensação de insegurança. Como nosso glorioso líder Lula deixou claro, recentemente, depois de ter se comparado muito justamente a Jesus: a mídia insiste em persegui-lo, hoje, como perseguiu, antes, Abraham Lincoln. Somente não vê quem não sabe das coisas e a oposição doentia. Pois é o caso, na nação potiguar: trata-se, claramente, de perseguição da mídia pacificada.

E é fácil perceber que ele, o glorioso líder, tem razão: por que não deixar para lá esse noticiário horrendo, acerca de educação, segurança pública, saúde, corrupção, insinuações veladas e insidiosas acerca de sua honorabilidade marital, e cuidar de apresentar toda a maravilha que é o Brasil hoje, esse país sem igual, sem terremotos, sem inflação, sem pobreza extrema, no qual acontecerá a Copa do Mundo de 2014?

                            Pois essa mídia sorrateira, a das redes sociais, insiste em ir contra os dados apresentados pelo Secretário de Segurança do Estado do Rio Grande do Norte, que recentemente, muito recentemente, provou por A + B, estar a insegurança em declínio e que, continuando nesse ritmo, muito em breve viveremos uma realidade semelhante à da Suíça. Aberta como ela é, a mídia social, quando deveria ser controlada por quem pudesse, graças a seu preparo, sua ética, seus desígnios para o futuro, escolher quais assuntos deveriam cair na rede, fica apresentando relatos e mais relatos de cidadãos que foram vítimas da violência e não procuraram a Polícia porque supostamente perderam a fé em sua ação, desmoralizada que foi pela bandidagem. Tudo falso, haja vista os dados oficiais colhidos cientificamente, cientificamente, repito.

                            Em certas rodas das quais participo pela cidade, insisto em me colocar contra a versão que corre em disparada dando conta de que o Secretário de Segurança não tem conhecimento da maquiagem dos dados que apresenta na mídia paga. Eu digo sempre que isso não é verdade, e que não há mídia no Rio Grande do Norte pacificada a dinheiro. Isso, obviamente, é intriga dos descontentes e desavisados, dos inocentes úteis, daqueles que preferem ver o caos a construir um Estado com base na Ordem e no Progresso.

                            Alguns, mais audaciosos, por mim combatidos veementemente, querem convidar o Secretário para uma pesquisa nas ruas da cidade, com seus cidadãos, aos quais lhes seriam apresentada uma questão segundo eles muito simples: “o(a) senhor(a) já foi assaltado?”. Depois da pesquisa o resultado seria confrontado com aquelas que são apresentadas pelo Secretário para se chegar a um denominador comum, e concluir acerca de quem está certo ou errado. Sou contra, digo sempre, por uma razão muito simples: em primeiro lugar devemos nomear uma comissão, composta por todos os órgãos que lidam com a segurança no Estado, além da Ufrn, Uern e Ifrn, para definir qual a metodologia a ser corretamente aplicada. Só então, e com a mais perfeita segurança, poderíamos pensar na possibilidade de aplicação de uma pesquisa desse tipo.

                            Por outro lado, somente não enxerga quem não quer: é nítido o esforço do Governo no que diz respeito à Segurança Pública: carros e mais carros são comprados, armas e mais armas, coletes e mais coletes, portanto, se o crime persiste em aumentar, não é problema da Secretaria de Segurança Pública, afinal de contas quem poderia prever a epidemia de crack que toma conta do país? E não adianta argumentarem com a situação de Nova York. Todo mundo sabe que Nova York é Nova York, e o que funciona lá não funciona aqui, e o que funciona em Tóquio, não funciona aqui, e o que funciona em Berlim, não funciona aqui. É tão fácil perceber isso, por que será que as tais redes sociais não percebem isso, e continuam apontando aquelas cidades como exemplo a ser seguido? Continuo achando que não percebem porque não são controladas como deviam ser, e, como não o são, sua ação termina incentivando a sensação de insegurança pela qual passa a Sociedade, e que tantos danos causa ao turismo, e, portanto, à economia. Em um país sério, essa mídia já estaria controlada.

                            Portanto, receba a briosa Polícia Militar, o Secretário de Segurança e o Governo no Estado minha solidariedade. Ora, todos nós sabemos que o Governo quer o melhor para a população, mas nem sempre isso é possível: quem seria capaz de prever uma seca como esta que está acontecendo, justo quando muitos recursos estão sendo disponibilizados para a construção da Arena das Dunas, a futura redenção econômica do Rio Grande do Norte?

                            E, por favor, não me venham falar em dinheiro gasto com propaganda: é óbvio, até para os mais xiitas dos críticos, que a população precisa saber o que está sendo feito com o dinheiro dos impostos. Eu penso que isso está na Constituição do Brasil. É um direito fundamental, uma cláusula pétrea, o de sermos informados pelo Governo.

                            Como se pode perceber claramente, o que há é muito falatório e pouca ação: criticam, mas não apresentam propostas viáveis. Ficam nessa ladainha, nesse nhém-nhém-nhém, mas são incapazes de ajudar, fazendo, por exemplo, uma autocrítica quando vão publicar matérias acerca da insegurança no Estado, se perguntando acerca das conseqüências sociais danosas de suas publicações.

Por essas e outras reitero minha solidariedade à briosa Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte e sua Secretaria de Estado da Segurança Pública.

                            Seu leitor de sempre,

                            Antônio Apolinário do Amaral"
 
* Não estava datada!

domingo, 10 de março de 2013

14 DE MARÇO - DIA DA POESIA NA PINACOTECA DO ESTADO DO RN

 
Thiago de Mello

Franklin Jorge informa:

"A Secretaria Extraordinária da Cultura preparou uma programação especial para Dia da Poesia, na próxima quinta-feira, quando a Pinacoteca do Estado receberá os amantes da poesia e da música, pois um dos pontos altos do evento será a apresentações da Orquestra Jovem de Violinos e do Corangelis, ambos oriundos do município de Goianinha, e a Banda Filarmônic...a Jovem, de Macau, todos esses grupo ainda pouco divulgados em Natal.

Convidei-os para abrilhantar nossas comemorações do Dia da Poesia, e ao fazê-lo pus em prática um dos eixos da nossa gestão á frente da Pinacoteca do Estado: a interiorização da cultura, integrando assim as Casas de Cultura num projeto didático-pedagógico e, ao mesmo tempo, de valorização dos nossos artistas e produtores culturais sérios.

A Casa de Cultura de Goianinha, bem amparada por este e pelo prefeito que o antecedeu, é a menina dos olhos da secretária municipal de cultura, Ana Maria Barbalho, que tem se destacado pela qualidade e regularidade de suas ações, o que faz de Goianinha, hoje, motivo do nosso aplauso e exemplo para outras administrações.

Teremos, ainda, lançamentos de livros, exposições, simpósios, projeção de documentários, performance com baloes e várias outras atrações. O ponto alto será a homenagem ao poeta Thiago de Mello, que declamara seu célebre poema Estatutos do homem, no Salão Nobre do Palácio Potengi, sede da Pinacoteca do Estado, que tenho a honra de dirigir."

quarta-feira, 6 de março de 2013

DO SACRIFÍCIO FINANCEIRO DE GERAÇÕES FUTURAS


Gostaria de saber de quem é esta arte, para render as devidas homenagens!
 
 
Honório de Medeiros
 

                               Recordo Zygmunt Bauman (“Isto Não É Um Diário”; Zahar) citando José Saramago enquanto contorno o canteiro de obras no qual é erguida a Arena das Dunas em Natal, esse monumento ao desperdício de dinheiro público e segregação social:

                               (...) as pessoas não escolhem um governo que colocará o mercado sob controle; em vez disso o mercado condiciona os governos de todas as formas a colocar as pessoas sob seu controle.

                               É o caso.

                            Em nossa alienação, a informação que o site http://www.copaemnatal.com.br/oprojeto nos fornece, qual seja, a de que entre a construção do estádio e das obras acessórias ao complexo, o Governo confirma gastos de mais de R$ 2 bilhões, confirmada por intermédio da excelente reportagem de Ana Ruth Dantas para o jornal Tribuna do Norte (http://tribunadonorte.com.br/noticia/governo-vai-pagar-mais-de-r-1-bilhao-pela-arena/175668) nos soa banal, face ao onipresente cansaço de nossa capacidade de se indignar ante a gastança governamental ilegítima, ampla e continuada, e até mesmo compreensível, tendo em vista a maciça e reiterada propaganda, por nós financiada, que busca nos convencer da necessidade do investimento aludido.

No próprio e primeiro site acima citado, trecho da matéria que ele veicula tem o seguinte título: Copa impulsiona economia potiguar. E a matéria prossegue:

(...) Segmentos de comércio, turismo, imobiliário e de serviços terão ganhos na geração de empregos e renda. A economia do Rio Grande do Norte será remodelada nos próximos cinco anos. (...) O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio), Marcelo Queiroz, também acredita no desenvolvimento de Natal e destaca melhorias no comércio. “Os investimentos serão feitos em todas as áreas para os natalenses e para os milhares de turistas que virão conhecer o Estado”. “A visibilidade de Natal para todo o mundo, criada com o evento, só proporciona ganhos na economia”, lembra o presidente da Fecomercio. A criação de novos empreendimentos e as melhorias nas obras de infraestrutura irão gerar mais empregos e renda, alterando o perfil econômico do Estado.

Assim é que apenas um muxoxo contrai nosso rosto quando lemos o quê Ana Ruth Dantas esclarece:

O Governo do Estado pagará pela Arena das Dunas, que sediará os jogos da Copa do Mundo de 2014 em Natal, mais de R$ 1 bilhão. Embora o valor da obra seja de R$ 400 milhões, bancados pela construtora OAS através de recursos próprios e empréstimo junto ao BNDES, o desembolso dos cofres públicos potiguares para a empresa vai representar, ao término do contrato de 20 anos de concessão, o equivalente a três Arenas.

A engenharia financeira feita pelo Executivo para a construção da Arena das Dunas prevê repasses mensais durante 17 anos para a construtora. Esses repasses não terão qualquer ligação e/ou compensações com a possível receita auferida pela OAS da administração compartilhada do estádio. Os primeiros três anos, quando o estádio estará sendo construído, é o chamado "período de carência" do contrato Governo/OAS. A construtora é quem vai contrair o empréstimo de R$ 300 milhões oferecidos pelo BNDES e investir outros R$ 100 milhões, de recursos próprios, cobrindo o custo da obra. A partir do primeiro ano de operação do estádio, ou seja, em 2014, o Governo começará a pagar os R$ 400 milhões a OAS. Nos primeiros 11 anos de funcionamento do estádio serão prestações mensais de R$ 9 milhões. Do décimo segundo ano até o décimo quarto ano, serão R$ 2,7 milhões/mês de prestação. Nos três últimos anos do contrato de financiamento, o Governo pagará à OAS prestações mensais de R$ 90 mil. Ao final do contrato de 20 anos, incluindo os três de carência, o Governo do Rio Grande do Norte terá desembolsado R$ 1.288.400.000, ou seja, o equivalente a três Arenas das Dunas.

Não vou nem argumentar em defesa do emprego dessa colossal montanha de dinheiro em programas sociais na área de saúde, educação e segurança pública. Não vou mencionar o sucateamento da saúde estadual. Esse discurso está entediante. Vou argumentar em defesa do uso dessa montanha de dinheiro em uma infraestrutura que permitisse o avanço do turismo. Seria o caso de cuidar do nosso fantástico litoral, totalmente abandonado, bastando nos dirigirmos a Ponta Negra ou à Praia do Meio para comprovarmos essa situação. Seria o caso de interiorizar o turismo. Seria o caso de tantas outras idéias com retorno garantido...

As gerações futuras estão condenadas ao pagamento de um empréstimo ilegítimo em todos os seus aspectos. Não lhes sobra alternativa, vez que nós, o presente, não reagimos quando e como deveríamos. Por esse empréstimo, um segmento muito específico da Sociedade amealha riqueza arrancada de todos quantos estando na outra ponta do processo, seja em Natal, seja no interior, estão excluídos da possibilidade de serem beneficiados com esses recursos.

E por que esse empréstimo é ilegiítimo? É ilegítimo porque não beneficia, por exemplo, os favelados de Natal. Com uma população de 803.739 mil habitantes, Natal tem 10% de seus moradores vivendo em aglomerados subnormais, ou seja, favelas, invasões e loteamentos sem titulação. Segundo o Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital do Rio Grande do Norte tem 80.774 pessoas vivendo em aglomerados subnormais.
 

É ilegítimo porque não beneficia o interior, ou seja, segundo dados do IBGE - Censo 2010, como a população do RN é de 3.168.027 habitantes, e Natal tem 803.739 habitantes, ficam fora dos benefícios mais de dois milhões e trezentos mil habitantes.
 

Ou alguém imagina que para a população interiorana do Rio Grande do Norte a construção da Arena das Dunas trará alguma vantagem? Ou alguém imagina que essa obra trará benefícios para os mossoroenses, caicoenses, pauferrenses, para citar alguns?
 

Claro que todos quantos foram movidos, encaminhados para fazerem a defesa da Arena das Dunas, seja por ignorância, seja por má-fé, hão de dizer que todo esse investimento feito há de retornar por intermédio, por exemplo, do aumento da tributação que reverterá para o social, seja em Natal, seja no interior. É a famoso “teoria do bolo econômico”, o xodó dos ricos, o argumento principal esgrimido para justificar a espoliação, dos que detêm o capital financeiro. Por essa teoria, “aumentemos o bolo que todo mundo come”!
 

Lamento dizer, mas essa teoria foi construída para beneficiar os ricos. Nasceu nos laboratórios do chamado “Consenso de Washington”. E não é nova. Delfim Neto já a brandia décadas atrás quando dirigia os destinos econômico-financeiros do Brasil, sabe-se lá a serviço de quem. Não por outra razão Branko Milanovic, principal economista do departamento de pesquisa do Banco Mundial, citado por Bauman, afirma que
 

Na virada do século XXI, os 5% mais ricos do planeta recebem um terço do total da renda global, tanto quanto os 80% mais pobres.
 

Conclui Balmant:
 

Embora alguns países pobres estejam se emparelhando ao mundo rico, as diferenças entre os indivíduos mais ricos e mais pobres são enormes e tendem a crescer.
 

E o que é pior, especificamente, é que os ricos estão mais ricos pegando nosso dinheiro a preço vil, oferecido pelo Estado, captado diretamente, e o maior atingido é a classe média, vítima indefesa da tributação (os ricos transferem o ônus para os pobres), ou captado obliquamente, na base da sociedade, quando esta paga tributo indireto ao comprar bens de primeira necessidade, como uma caixa de fósforos, e o recebendo de volta gordo e lustroso.
 

Chama-se transferência esse processo: tiram de nós e dão a eles. É isso que os governos fazem quando pegam dinheiro emprestado para financiar obras que somente beneficiam uns poucos, em detrimento de muitos.
 

Vou dobrando o cabo da boa esperança, como dizia minha mãe se referindo aos que passam dos cinqüenta, e não vi nada mudar desde criança, no que diz respeito à distribuição da riqueza que o bom Deus houve por bem deixar na face da terra: os ricos continuam ricos, os pobres continuam pobres. O que mudou - e como, foram os instrumentos por meio dos quais os ricos arrancam o dinheiro dos pobres.
 

Não estranho, portanto, o que li em Bauman. Tampouco o que li do economista do Banco Mundial.
 

Mas não vou perder as esperanças. Meu padrinho Padre Cícero dizia, e minha santa mãe repetia, que “um dia o Sertão vai virar mar, e a roda grande entra na roda pequena”.
 

É aguardar...

sábado, 2 de março de 2013

QUAL CONSTITUIÇÃO?

Robert Darnton, em "Os dentes falsos de George Washington":

"Examine a correspondência entre Jefferson e Madison e você topará com observações como esta: 'A terra pertence sempre à geração contemporânea (...). Cada Constituição, portanto, e cada lei, expira (sic) naturalmente ao final de dezenove anos. Se forem levadas a durar mais, trata-se de um ato de força, e não de direito".

Lysander Spooner, em "No Treason", compilado por George Woodcock em "Os grandes escritos ANARQUISTAS":

"A Constituição não tem autoridade ou obrigação inerentes. Não tem nenhuma autoridade, a não ser pelo contato homem a homem. Nem mesmo pretende ser um contrato entre pessoas. No máximo pretende ser um contrato entre pessoas que viveram há 80 anos".

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

DE UM PAI APAIXONADO



 
A Princesa do meu Reino
 
 

Parece que foi ontem, mas você tinha ainda quatro ano:
 
-      Papai, o medo pode transformar a gente em herói, não é?
-      Como assim, Bárbara?
-      Como Mogli, papai.
-      O que é que tem Mogli?
-      Ora, papai, ele estava com medo dos bichos e aí ele fez muitas coisas.
-      Como Mogli?
-      Sim Papai. Você não gosta de Coragem, o Cão Covarde?
-      Gosto.
-      Então? Coragem não é medroso? E ele sempre não salva sua dona?
 
Minha filósofa...
 
Não pude perceber, não tinha como, não é, naquele momento, sua inteligência fulgurante, a rapidez e a profundidade do seu raciocínio, sua propensão para a abstração. Não pude pressentir, ali, sua capacidade de viajar da matemática para a literatura, fazendo conexões complexas, com a simplicidade que somente alguns privilegiados possuem...
 
 
Minha bela...
 
 
E essa sua beleza moreno-clara que chama a atenção pela simplicidade harmoniosa dos traços, esse rosto suave emoldurado pelo sorriso luminoso que é uma das suas características físicas mais marcantes?
 
 
Minha amiga e confidente...
 
 
Não é assim que nós somos? Amigos desde sempre? Não nos divertimos em longos debates espirituosos e tortuosos, com todas as armas retóricas possíveis, cheios de estratégias e táticas inimagináveis? Não nos consolamos mutuamente, quando a tristeza quer nos arrebatar? Não nos escutamos mutuamente quando o dia ensolarado insiste em se fazer noite tempestuoso? Não já beijei suas lágrimas? Não fui abraçado forte e carinhosamente por você nos meus cansaços?
 
 
Minha inspiração...
 
 
Que dizer do seu apurado senso social? De sua indignação com as injustiças? De sua tristeza com a miséria, com a humilhação, com a opressão? Do quanto você me inspira? Do quanto você me impediu, muitas vezes, de entregar os pontos?
 
 
Conclusão:  
 
Tudo foi, minha princesa, uma eternidade que passou como em um piscar de olhos, de tão feliz: cada segundo, cada minuto, hora, dia, anos, desde o momento mágico em que a tive pela primeira vez nos braços, tão frágil, tão indefesa, tão pequenina, até hoje, quinze anos depois, quando eu a olho e abraço, e meu coração se contrai, acelera, e percebo a menina-moça encantadora que você se tornou.
 
Deus lhe abençoe, meu amor: que a vida lhe seja leve!
 
Honório de Medeiros