sábado, 5 de janeiro de 2013

AINDA SOBRE EXUPÉRY

 

 
Carlos Roberto de Miranda Gomes

Ansiei por muito tempo, a publicação desse livro "ASAS SOBRE NATAL", do escritor João Alves de Mello, narrando a passagem de pilotos por esta cidade e Parnamirim, em particular sobre Antoine de Saint Exupéry. Infelizmente, nele não enxerguei a afirmativa sobre a estada em Natal do extraordinário escritor...
 
As fotografias apresentadas à página 168 do livro possuem nominata dos personagens, uma delas reproduzida na última página (450) apontando Exupéry como o de nº 2, parecendo-me, não necessariamente ter sido feita pelo autor da obra. Aliás, nessas anotações consta a mesma pessoa com nomes diferentes: "Emont" (rádio) e "Ezan" (rádio), que na última página corresponde ao de numeração 3.
 
Tal fato, no entanto, não diminui a qualidade da obra, rica em detalhes e trazendo, em relação a Exupéry um texto do jornalista francês e historiador da história da Latecoere Jean-Gerard Fleury, contemporâneo do piloto-escritor do Pequeno Príncipe, onde é enfático: ..."Todos os seus companheiros fizeram muitos voos sobre o Brasil. Mas ele só transitou por aqui rapidamente. Conhecia bem o Rio e Natal, porém, mas (sic) como passageiro de navios. Como os monoplanos Laté dificilmente poderiam vencer uma longa travessia, como a do Atlântico, navios tipo destróieres, faziam a viagem, em tempo record entre Dakar/Natal, onde os sacos de correspondências eram colocados nos aviões que partiam rumo ao sul."...
 
Aliás, ele faz um comentário que coincide com os mesmos argumentos que usei durante um debate em evento realizado no Museu Câmara Cascudo, com o Cel. Hippólyto da Costa, numa mesa em que estavam também presentes o jornalista Vicente Serejo e o escritor Pery Lamartine, onde contraditei o pensamento daquele ilustre militar da reserva, quando afirmou da impossibilidade de Exupéry ter vindo a Natal porque o seu avião não possuía estabilidade para o tráfego entre Buenos Aires e Natal e eu ponderei – “a vinda daquele famoso piloto a Natal, em viagem certamente de fiscalização da linha, não necessariamente teria de acontecer pelo ar, pois ele costumava viajar de navio, como foi desde a primeira vez em que veio para a América do Sul”!
 
Mas o assunto permaneceu sem uma conclusão dos participantes daquele evento.
 
Pesquisei na internet no site do Instituto Saint Exupéry (www.saintexupery.com.ar) onde há uma coluna chamada “Les lieux”, com o desenho de um globo terrestre assinalando no mapa do mundo, em vermelho, os pontos da linha francesa e, no Brasil, está assinalada Natal, com o seguinte texto:

"Natal – Brésil
Natal est Le point d´Ámérique Du Sul Le plus rapproché de La côteafricane d´où l´Aéropostale envisageait de farire partir lês avions devant assurer une laison transatlantique exclusivement aéronautique. C´est donc à Natal qu´amerrit en 1939 l´hydravion de Jean Mermoz, premier pilote à accomplir cet exploit. En as qualité de chef de l´Aeroposta Argentina, Antoine de Saint Exupéry se rend à plusieurs reprises a Natal sans que l´on puísse établir avec précision lês dates. On raconte qu´on peut encore y voir La Maison ou il aurait logé lors de sesdifférentes visites. On raconte que l´idée dês baobabs qui menacent la planète du Petit Prince lui aurait été suggérée par um arbre géant vu à Natal."

Tradução feita gentilmente pela Professora Madalena Rosado:
 

"Natal é o ponto da América do Sul mais próximo da costa africana, onde a Aeropostale visava fazer partir os aviões devendo assegurar uma ligação transatlântica exclusivamente aeronáutica.
É pois em Natal que amerrisa em 1939 o hidroavião de Jean Mermoz, o primeiro piloto a completar essa exploração. Na sua qualidade de chefe da Aeroposta Argentina, Antoine de St. Exupery esteve várias vezes em Natal sem que se possa estabelecer com precisão as datas. Conta-se que ainda se pode ver lá a casa onde ele teria se alojado nas diferentes visitas. Conta-se que a ideia dos baobás que ameaçam o planetas do Pequeno Príncipe. lhe teria sido sugerida por uma árvore gigante vista em Natal."
 
Nesse site não existe uma só fotografia com Saint-Ex usando óculos, nem com o seu corpo com aparência de sobrepeso, como aparece nas fotografias do livro de João Alves, com uma estatura não condizente com o que se comentava - ser um homem alto.
 
Quando escrevi e publiquei o livro em homenagem ao meu sogro Rocco Rosso, que foi funcionário da Latecoere (Air France), morando em Parnamirim, apresentei o seu registro, como fotógrafo amador, de vários acontecimentos que envolviam os pilotos, inclusive apresentando fotografias de Exupéry, que havia tirado no campo de aviação e de outros pilotos, que fizeram parte de um álbum enviado para o Concurso Internacional promovido pela Air France, onde logrou um honroso 2º lugar, com premiação e o agradecimento da Companhia por ter oferecido subsídios para o acervo da empresa, consequentemente, não tendo sido desclassificada nenhuma das fotografias que compunham o seu álbum de concorrência, o que lhes dá autenticidade.
 
Além de depoimentos importantes que transcrevi e opiniões de pessoas respeitáveis, apresentei até um extraordinário achado de Vicente Serejo - um texto do próprio Exupéry sobre o desaparecimento de Mermoz, com o título "Depois de 48 horas de silêncio", que mereceu tradução do jornalista Mário Ivo Cavalcanti, e o comentário de Serejo ... "Mas, sua descrição do espelho de água e do terreno cheio de formigueiros também não parece ser apenas por ouvir dizer."
E agora José! Vamos considerar o assunto encerrado? Exupéry esteve efetivamente em Natal, como defende Luiz Gonzaga Cortez e Diógenes da Cunha Lima, ou com as frustrantes provas fotográficas, como afirmam Pery Lamartine e Fred Nicolau, indiciam que ele não passou por aqui? E o texto traduzido do Instituto Saint Exupéry não tem valor?
 
No meu entender, as provas pela sua passagem por Natal são mais consistentes e até lógicas, pois um Diretor da Air France para a América do Sul não visitar o ponto mais importante do continente, seria uma irresponsabilidade!
Para mim Saint-Ex esteve em Natal, mas o assunto não “c´est fini”.

ME ENGANA QUE EU GOSTO


ferreira gullar
 
Muitos de vocês, como eu também, hão de se perguntar por que, depois de tantos escândalos envolvendo os dois governos petistas, a popularidade de Dilma e Lula se mantém alta e o PT cresceu nas últimas eleições municipais. Seria muita pretensão dizer que sei a resposta a essa pergunta. Não sei, mas, porque me pergunto, tento respondê-la ou, pelo menos, examinar os diversos fatores que influem nela.
 
Assim, a primeira coisa a fazer é levar em conta as particularidades do eleitorado do país e o momento histórico em que vivemos. Sem pretender aprofundar-me na matéria, diria que um dos traços marcantes do nosso eleitorado é ser constituído, em grande parte, por pessoas de poucas posses e trabalhadores de baixos salários, sem falar nos que passam fome.
 
Isso o distingue, por exemplo, do eleitorado europeu, e se reflete consequentemente no conteúdo das campanhas eleitorais e no resultado das urnas. Lá, o neopopulismo latino-americano não tem vez. Hugo Chávez e Lula nem pensar.
 
Historicamente, o neopopulismo é resultante da deterioração do esquerdismo revolucionário que teve seu auge na primeira metade do século 20 e, na América Latina, culminaria com a Revolução Cubana. A queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética deixaram, como herança residual, a exploração da desigualdade social, já não como conflito entre o operariado e a burguesia, mas, sim, entre pobres e ricos. O PT é exemplo disso: nasceu prometendo fazer no Brasil uma revolução equivalente à de Fidel em Cuba e terminou como partido da Bolsa Família e da aliança com Maluf e com os evangélicos.
 
Esses são fatos indiscutíveis, que tampouco Lula tentou ocultar: sua aliança com os evangélicos é pública e notória, pois chegou a nomear um integrante da seita do bispo Macedo para um de seus ministérios. A aliança com Paulo Maluf foi difundida pela televisão para todo o país. Mas nada disso alterou o prestígio eleitoral de Lula, tanto que Haddad foi eleito prefeito da cidade de São Paulo folgadamente.
 
E o julgamento do mensalão? Nenhum escândalo político foi tão difundido e comprovado quanto esse, que resultou na condenação de figuras do primeiro escalão do PT e do governo Lula. Não obstante, o número de vereadores petistas aumentou em quase todo o país.
 
E tem mais. Mal o STF decidiu pela condenação de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, estourava um novo escândalo, envolvendo, entre outros, altos funcionários do governo, Rose Noronha, chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo e pessoa da confiança e da intimidade de Lula.
 
Em seguida, as revelações feitas por Marcos Valério vieram demonstrar a participação direta de Lula no mensalão. Apesar de tudo isso, a última pesquisa de opinião da Datafolha mostrou que Dilma e Lula continuam na preferência de mais de 50 % da opinião pública.
 
Como explicá-lo? É que essa gente que os apoia aprova a corrupção? Não creio. Afora os que apoiam Lula por gratidão, já que ele lhes concedeu tantas benesses, há aqueles que o apoiam, digamos, ideologicamente, ainda que essa ideologia quase nada signifique.
 
Esse é um ponto que mereceria a análise dos psicólogos sociais. O cara acha que Lula encarna a luta contra a desigualdade, identifica-se com ele e, por isso, não pode acreditar que ele seja corrupto. Consequentemente, a única opção é admitir que o Supremo Tribunal Federal não julgou os mensaleiros com isenção e que a imprensa mente quando divulga os escândalos.
 
O que ele não pode é aceitar que errou todos esses anos, confiando no líder. Quando no governo Fernando Henrique surgiu o medicamento genérico, os lulistas propalaram que aquilo era falso remédio, que os compridos continham farinha. E não os compravam, ainda que fossem muito mais baratos. Esse tipo de eleitor mente até para si mesmo.
 
Não obstante, uma coisa é inegável: os dirigentes petistas sabem que tudo é verdade. O próprio Lula admitiu que houve o mensalão ao pedir desculpas publicamente em discurso à nação.
 
Por isso, só lhes resta, agora, fingirem-se de indignados, apresentarem-se como vítimas inocentes, prometendo ir às ruas para denunciar os caluniadores. Mas quem são os caluniadores, o Supremo Tribunal e a Polícia Federal? Essa é uma comédia que nem graça tem.
 

domingo, 30 de dezembro de 2012

NOVAMENTE A PRIMEIRA CHANCE

 
 
 
François Silvestre
 
Novamente a primeira chance.
 
Ouvi numa canção de Rock, em inglês, uma frase poética que dizia mais ou menos assim: Não quero uma segunda chance. Mesmo que me seja dada uma segunda vida, quero novamente a mesma primeira chance.
 
Pois é. Não tive o talento para compor esses versos, mas foi sempre assim que repensei minha vida. Gostaria de uma segunda vida, não de uma segunda chance. Até porque gostaria de ter os mesmos amigos para amar e os mesmos inimigos para desprezar. O mesmo lugar de nascimento, a mesma origem e a mesma família bocó da primeira vez.
 
Os mesmos mofumbos para me esconder e o mesmo jardim da casa da avó. Os mesmos medos para vencer e os mesmos sonhos inalcançáveis. As mesmas molecas que pari e os mesmos paridos delas.
 
Nem o cinzento da seca eu quero diferente, pois só assim a chuva se faz desejo.
 
As mesmas dores, para exercitar a tática de vencê-las. Os mesmos atropelos, para afiar o gume de superá-los. E mesmo sem vencer umas ou superar outros, não peço suavidade neles, mas a chance de ter de novo a mesma primeira chance.
 
Arrependimentos, não. Que é coisa de cristão. E só fui cristão na infância, por indução irresistível. Autocrítica, nem tanto, que é coisa de marxista; e eu o fui, na mocidade, por influência da ingenuidade.
 
Mesmo assim quero Cristo de novo e novamente Marx, na nova primeira chance. Duas grandes figuras que nasceram na humanidade errada, ou na pré-humanidade.
 
Alguns livros deixaria fechados, desletrados que foram da primeira leitura. Outros a serem abertos, muito poucos; pois a vida merece mais vida e menos leitura. Não escrever antes dos quarenta, para renegar a escrita só aos sessenta. E rasgar meia página de cada página escrita. E da meia página salva, deixar exposto apenas o último parágrafo.
 
Apoiar todas as campanhas contra a bebida alcoólica, acompanhado de uma cerveja gelada; para dar testemunho da irresistível hipocrisia. E tomar todas as cervejas possíveis para diminuir o estoque e agradar aos abstêmios.
 
Aprender todas as rezas de afugentar visagens, durante a noite, e esquecê-las ao amanhecer. Pileque à tarde para conquistar a noite e ressacar a madrugada.
 
Olhar de chã e igualdade para os humildes, ombro a ombro. Olhar de serra pra grota, de cima pra baixo, os poderosos falsos e fáceis arrogantes.
 
Não perder a oportunidade de uma flatulência na presença deles.
 
Manter distância higiênica do poder. Cuja força falece ante a vulnerabilidade. Até dos que estão na festa sem o convite da Constituição. Penetras do foguetório.
 
Manter a reclusão na democracia e a revolta na ditadura.
 
Mesmo que a democracia seja apenas uma ditadura alegre.
Lutar por eleições e depois votar nulo.
 
Peço ao infinito surdo uma segunda vida quase do jeito da primeira vez. Numa nova primeira chance.
 
Té mais.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

INDÚSTRIA DA SECA IGNORA O PATRIMÔNIO DAS ÁGUAS

Do blog do Carlos Santos:


"Seca com Umari, Armando Ribeiro e a Barragem Santa Cruz sem aproveitamento de águas, é caso de polícia, crime contra humanidade e não um fenômeno climático.
 
Fenômeno em nossa região é o inverno torrencial, a abundância dos rios cheios e ruidosos, levando tudo à sua frente e engolindo suas próprias margens.
 
Continuamos sendo vítimas da indiferença, do imobilismo, da frieza de gerações e gerações de administradores públicos.
 
A “indústria da seca” é um próspero negócio desde os tempos da Coroa.
 
E assim continuará."

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"GRUDA QUE ELE PISA, PISA QUE ELE GRUDA"


Cintia Mercer
 

Por Cintia Mercer 

"# Fato:
 Eu, sinceramente, não concordo com esse ditado de "gruda que ele pisa, pisa que ele gruda". Sabe porque? Os relacionamentos que mais duram não são feitos de joguinhos, são feitos de sentimentos e verdade. Se você não dá atenção o suficiente, como espera receber também? Eu acredito, mesmo, que cada um deve ter seu espaço, mas quem não adora receber uma mensagem de "boa noite"? quem não adora escutar um "eu te amo" ? O que ocorre na verdade é que de tanto você "pisar" um dia ele "desgruda". Então, aprenda: Dê atenção para quem te dá atenção. Na mesma medida, nem mais e nem menos. Sabe porque? Quem gosta de joguinho é criança."

O SERMÃO DO BOM LADRÃO, PADRE VIEIRA

Do blog de Ricardo Noblat 


Pe. Antônio Vieira
 

(...) O que eu posso acrescentar pela experiência que tenho é que não só do Cabo da Boa Esperança para lá, mas também da parte de aquém, se usa igualmente a mesma conjugação.
 
Conjugam por todos os modos o verbo rapio, não falando em outros novos e esquisitos, que não conhecem Donato nem Despautério (a).
 
Tanto que lá chegam começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos, é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo.
 
Furtam pelo modo imperativo, porque, como têm o misto e mero império, todo ele aplicam despoticamente às execuções da rapina.
 
Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quanto lhes mandam; e para que mandem todos, os que não mandam não são aceitos.
 
Furtam pelo modo optativo, porque desejam quanto lhes parece bem; e gabando as coisas desejadas aos donos delas por cortesia, sem vontade as fazem suas.
 
Furtam pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco cabedal com o daqueles que manejam muito; e basta só que ajuntem a sua graça, para serem, quando menos, meeiros na ganância.
 
Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes compram as permissões.
 
Furtam pelo modo infinito, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes, em que se vão continuando os furtos.
 
Estes mesmos modos conjugam por todas as pessoas; porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados e as terceiras quantas para isso têm indústria e consciência.
 
Furtam juntamente por todos os tempos, porque o presente (que é o seu tempo) colhem quanto dá de si o triênio; e para incluírem no presente o pretérito e o futuro, de pretérito desenterram crimes, de que vendem perdões e dívidas esquecidas, de que as pagam inteiramente; e do futuro empenham as rendas, e antecipam os contratos, com que tudo o caído e não caído lhes vem a cair nas mãos.
 
Finalmente nos mesmos tempos não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, plusquam perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse.
 
Em suma, o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo: a furtar, para furtar.
 
E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles, como se tiveram feito grandes serviços, tornam carregados e ricos: e elas ficam roubadas e consumidas...
 
Assim se tiram da Índia quinhentos mil cruzados, da Angola, duzentos, do Brasil, trezentos, e até do pobre Maranhão, mais do que vale todo ele.
 
 
Padre Antonio Vieira, sacerdote jesuíta, professor de retórica, pregador, confessor, embaixador e escritor português. Trecho do Sermão do Bom Ladrão, escrito em 1655. Proferido na Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha), perante D. João IV e sua corte. O retrato que apresenta o autor é de Cândido Portinari.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

UM ANJO NEGRO DE LULA?

Paulo de Tarso Venceslau e a face escura de Okamotto
 
 
 
Um dos fundadores do PT, Paulo de Tarso Venceslau foi expulso do partido e demitido do cargo de secretário de Finanças da prefeitura de São José dos Campos depois de ter revelado a Lula delinquências envolvendo bandidos de estimação do chefe supremo.
 
Esse foi um dos muitos episódios que lhe permitiram ver de perto a face escura de Paulo Okamotto, iluminada por um artigo publicado no blog do Ucho.
 
Paulo Okamotto
 
 
Confira dois trechos do texto:
 
Okamotto costumava circular pela prefeitura de São José em busca de lista de empresários credores. Ele não ocupava qualquer cargo no paço. Era evidente que buscava recursos paralelos, com a anuência da então prefeita Ângela Guadagnin.
 
No mesmo dia em que a auditoria externa encerrou seus trabalhos e me enviou o relatório, fui exonerado sumariamente a pedido de Paulo Okamotto e Paulo Frateschi, segundo me relatou a própria prefeita.
 
O administrador do sindicato, Sadao Higuchi, era quem encaminhava os recursos vindos do exterior a Okamotto.
 
Em 13 de junho de 1998, em plena campanha eleitoral, Sadao morreu “afogado” numa represa localizada nas proximidades de Bragança Paulista. (…)
 
Morreu afogado, mas tinha uma contusão na cabeça. Ele teria caído n’água e o barco teria se chocado com ele. Pequeno enorme detalhe: tratava-se de um bote inflável.
 
Coisa de direitista delirante? Mais uma da elite golpista? Invencionice da mídia conservadora? É difícil enquadrar nesses clichês o economista Paulo de Tarso Venceslau.
 
Paulista de Santa Bárbara d’Oeste, hoje com 69 anos, Venceslau se engajou na luta armada como ativista da Ação Libertadora Nacional (ALN), participou em setembro de 1969 do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, foi capturado dias depois pela polícia política, passou cinco anos na cadeia e ligou-se a um dos grupos que fundariam o PT.
 
Não é loiro. Nem tem olhos azuis.
 
Anos depois de ouvir ameaças de morte berradas por torturadores decididos a fazê-lo falar, Venceslau voltou a ouvi-las sussurradas por companheiros decididos a fechar-lhe a boca.
 
Na prisão, poderia ter morrido por insistir em mentiras. No PT, quase morreu por ter contado a verdade.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

MESMO QUE EU NÃO O CONHEÇA, FELIZ NATAL

Por Carlos Santos

O que eu desejo para o Natal?
 
Respondo-lhe:
 
- Tudo que é comum a outros dias, em minhas manifestações. Bastam saúde e paz.
 
Não sei quem você é? Talvez não lembre do seu rosto, menos ainda do seu nome. És um estranho, provavelmente.
 
Sem problema. Nada me impede de continuar lhe desejando saúde e paz.
 
O caso não é um arroubo próprio do que costuma ser definido como “espírito natalino”. É até mais simples. Diria que é um mantra, resposta pacífica aos que resmungam, vomitam impropérios e que acabam o mundo em sua volta a cada amanhecer, sendo Natal ou não.
 
O Natal tem uma atmosfera ambivalente. É misto de alegria e melancolia, caldeirão de sentimentos. Soma e perda, um pouco do que quero e tenho; a certeza do que perdi e me falta.
 
Como resistir à criança com olhos cintilantes, que ronda a árvore enfeitada de sonhos?
 
Impossível não ser tocado pelo sorriso dos que nada possuem e que são lembrados hoje, mesmo que esquecidos logo amanhã, pela ‘caridade sazonal’ de alguns mais afortunados.
 
Os sabores e aromas mexem com nossos paladar e olfato. Atiçam todos os nossos sentidos.
 
Eis as luzes, o colorido, a mesa posta…
 
O presépio continua na minha infância nos arrabaldes da Capela de São Vicente e Igreja do Coração de Jesus, em Mossoró. A casa de dona Maria de Uriel transformada em Belém, nossa Galileia em miniatura, ao alcance da mão traquina.
 
A espera de Papai Noel está atualíssima, mesmo que agora sem mistério. Causava insônia. Dali nascia a tentativa de simular o sono para flagrá-lo exatamente àquela hora em que deixaria meu brinquedo embaixo da rede.
 
Ele, o bom velhinho, enfim descoberto. Um espectro na escuridão, de silhueta conhecida, cometia o inafiançável crime da perpetuação da felicidade.
 
Eu, cúmplice, prometi a mim mesmo nunca entregar sua real identidade.
Crescido, com a vida indo bem além do Cabo das Tormentas, não é o lúdico que me instiga nesta data. Entre o profano e o sagrado, tento ser indiferente ou pelo menos cumprir o ritual exigido para o bom convívio social.
Oscilo entre a alegria da atmosfera dos festejos e a própria deprê que paradoxalmente esse período provoca.
 
Bom, me conheço. Um velho amigo, Diassis Linhares, até emendaria com sapiência: “Algumas pessoas amadurecem, outras apodrecem”.
 
Amadurecer é estar pronto no tempo certo, uma forma de sempre nascer. Aí o Natal se encaixa perfeitamente. Palavra de origem latina, Natal vem de “nativitas”, que significa “nascimento”.
 
De algum modo renasço e sobrevivo às minhas perdas nos olhos daquela criança boquiaberta e encantada, diante do presépio de Maria de Uriel e à espera do Papai Noel. Meu presente – hoje – é ter passado.
 
O brinquedo embaixo da rede é apenas um detalhe. O que vale é o vulto dos meus bons velhos diante de mim, a cada amanhecer. A cada dia, outro nativitas.
Saúde e paz.

domingo, 23 de dezembro de 2012

E SE VOCÊ SE ENGANOU QUANDO ESCOLHEU SUA PROFISSÃO?


 
 
Honório de Medeiros
                                   Ao longo de minha vida enquanto professor encontrei muitos casos de alunos que claramente não queriam se bacharelar em Direito. Estavam ali, no curso, cumprindo uma trajetória que não era de seu agrado. Prefeririam se dedicar à música, à história, a escrever, à arquitetura, jornalismo...

                                   Quando eu percebia procurava conversar. Às vezes, em alguns casos, sequer o aluno tinha percebido que sua praia não era aquela. Seduzido por ideais que lhe eram impostos pela sociedade, como status e dinheiro, ou, pior, por ideais que seus pais cultivavam, ali ficava ele, nas salas de aula, a passar horas e horas tomando contato direto com uma realidade, no seu caso, no mínimo entediante.

                                   Mesmo aqueles que sabiam exatamente o que queriam como fazer um concurso, se tranquilizar quanto ao futuro, e, então, se dedicar a alguma atividade que lhe desse prazer, como literatura, era fácil perceber uma dúvida latente e perturbadora a pairar sobre nossos diálogos enquanto conversávamos: “será que vale a pena todo esse tempo perdido? A vida é tão curta...”

                                   Pois bem, se é assim, ou mesmo que seja apenas para lhe assegurar a certeza de sua escolha, na medida em que isso é possível, ou por pura curiosidade, vale a pena ler esse livro que eu vou lhes indicar.

                                   Trata-se de “COMO ENCONTRAR O TRABALHO DE SUA VIDA”, de Roman Krznaric, editora Objetiva.

                                   Desde já advirto: não se trata propriamente de livro de autoajuda. O livro é sério, bem escrito, bem fundamentado, e faz parte de uma coleção “tocada” pelo filósofo Alain de Botton, autor de “Religião para Ateus” e “Como Proust pode Mudar sua Vida”. Eu mesmo somente me interessei quando li uma citação de Richard Sennet, pensador de meu agrado, no livro.

                                   Quanto a Roman, é membro fundador da The School of Life, e foi nomeado pelo jornal Observer um dos mais importantes pensadores sobre estilo de vida do Reino Unido, além de ser conselheiro de organizações tais quais a Oxfam e Nações Unidas.

                                   Então, se for o caso, mãos à obra. Ah! Última observação: não estou ganhando dinheiro com essa indicação! Mas estou ganhando capital simbólico...

                                  

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

PROF. GILSON PEREIRA É CAMPEÃO MOSSOROENSE DE XADREZ DE 2012




GILSON RICARDO DE MEDEIROS PEREIRA, 55, professor-doutor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) é o Campeão Mossoroense de Xadrez de 2012.
 
Mossoroense da gema, GILSON PEREIRA é neto de Manuelito Pereira, o histórico fotógrafo de Mossoró. 

Após treze rodadas, com partidas acirradas e muito bem jogadas, o enxadrista Gilson Pereira sagrou-se vencedor invicto, com dez vitórias e dois empates, e uma rodada de antecipação.
O segundo lugar ficou com Carlan Amorim que marcou nove pontos e meio e o terceiro lugar ficou com Márcio Barbosa que marcou oito pontos e meio.
 
Prof. GILSON PEREIRA
 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

AQUELE BEIJO QUE EU TE DEI



Honório de Medeiros
 
O beijo que eu presenciara, entre dois adolescentes, qual a Madeleine de Proust, me remeteu para um passado distante, no qual minha memória se deleitou e se abateu com as imagens borradas de vultos que transitavam em nosso entorno, sons não identificáveis e odores misturados de perfumes e suor, enquanto sentados por sobre um batente qualquer, nós, eu e ela, de quem sequer lembro o nome, ou mesmo o rosto, exceto, apenas, o vulto esmaecido de um rosto claro, cabelos negros, lisos, cortados curtos à moda Príncipe Valente, e lábios cheios, fartos, trocamos meu primeiro beijo.

                      Dias mágicos aos quais fui conduzido pelo trem no qual meu pai, um dia, muito antes, havia sido chefe. Somente isso já valera a pena. A sensação de liberdade que a primeira viagem sozinho originou foi alimentada pelas cervejas tomadas com o amigo recém-adquirido no restaurante para o qual minha curiosidade me impeliu.  Ali meu pai trabalhara, durante muito tempo.

Na chegada, na cidadezinha onde iria haver o casamento de uma prima distante, eu me misturei com uma legião de parentes desconhecidos aos quais eu me apresentava como representante dos meus pais. Entre homem e menino, logo, logo, porém, me esqueci da missão diplomática que me havia sido confiada, e me aventurei com alguns primos por uma caminhada até uma fazenda remota na esperança de em lá chegando, saciaríamos nossa fome com mangas saborosas que embora fartamente consumidas, não resolveram o problema que somente a bondade de um morador, ao nos oferecer farinha amassada com feijão de corda e rapadura, finalmente deixou para trás. Como esquecer o sabor e o cheiro daquele almoço inesperado?

                       À noite, o casamento e, em seguida, a festa no Mercado. Lá, olhares e um convite para uma dança canhestra, logo esquecida, nos aproximou. Sentamo-nos em um batente qualquer. Pouco nos dissemos. Em um momento especial, no qual o tempo e o espaço pareciam suspensos, nos beijamos naturalmente, e o beijo teve um sabor de bala de hortelã e de algo mais que não sei descrever.

Não creio que alguém esqueça o primeiro beijo. Nunca esqueci o meu. Já na volta para minha cidade natal, no mesmo trem, eu me perguntava se algum dia ainda conseguiria encontra-la. Dentro de mim achava que não, mas nutria alguma esperança.

Não porque ansiasse por outros beijos seus, ou mesmo porque lhe tivesse algum afeto irrompido naquela noite especial. Não por que quisesse ter a saudade erótica de um corpo que a noite festiva apresentara apenas nuançado. Não se trata disso. O que eu queria era observar, até mesmo distante, de longe, e gravar para todo o sempre, e assim pudesse convocar quando desejasse a lembrança detalhada daquela bela adolescente que uma noite, na qual quase não nos falamos, me deu meu primeiro beijo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ, CONCLUSÃO


Coronel Rodolpho Fernandes: a história os uniu...
 
 
Massilon: em lados opostos.
 
 
Honório de Medeiros
 
Terá sido assim que tudo aconteceu? Concretamente não se sabe. Os indícios, entretanto, estão aí, para quem quiser analisá-los, relacioná-los e descobrir o que eles formam.
 
São fortes esses indícios. São como pontos de uma malha, intersecções de uma rede, elementos possivelmente conectados formando uma unidade, aguardando que alguém consiga tirá-los da sombra e trazê-los para a luz do sol, revelando a verdade que o tempo cada vez mais condena ao esquecimento.
 
Os personagens são todos fartamente citados na literatura acerca do assunto. Uns mais, outros menos: o Coronel Rodolpho Fernandes; o Coronel Francisco Pinto; o jagunço/cangaceiro Massilon Leite; Lampião, o rei do cangaço; o Coronel Isaías Arruda; os coronéis apodienses; os coronéis paraibanos; o Governador José Augusto Bezerra de Medeiros.
 
É difícil acreditar que todas as questões levantadas e não respondidas teriam respostas circunscritas à própria causa específica que as fez surgir, sem que houvesse qualquer relação entre as mesmas que suscitasse uma conexão, uma unidade de propósitos.
 
Essa teoria, evidentemente, ainda está sob o domínio da especulação: talvez jamais venha a ser descartada ou encampada definitivamente, se não surgir algum fato novo, como alguma correspondência, algum diário, relato, guardada em baús, armários ou armazéns, em propriedades rurais ou imóveis urbanos, coberta pelo pó do tempo.
 
Há muito que pode ser dito para negar essa teoria, a de que o ataque de Lampião a Mossoró foi resultado de um complô político que visava assassinar o Cel. Rodolpho Fernandes. Tal complô, se houve, foi um dos últimos espasmos[1] do coronelismo que sob a forma pela qual ficou conhecido, ditou os rumos do Sertão nordestino, o Sertão de Lampião e Pe. Cícero, dos cantadores de viola, dos jagunços, das volantes, do final do ciclo do couro, até a chegada de Getúlio Vargas e do Estado Novo.
 
Esse coronelismo sucumbiu à presença do Estado. O coronelismo, não.
 
Então resta dizer, à guisa de conclusão, que as coisas podem não ter acontecido como descrito até agora.
 
Mas que poderia ter sido assim, isso poderia...


[1] O último mesmo, até onde se sabe, foi o assassinato do Cel. Chico Pinto, de Apodi, na famosa campanha do Partido Popular contra o Interventor Mário Câmara.

domingo, 9 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL, FELIZ ANO NOVO, FELIZ FÉRIAS!

rosasdocotidiano.blogspot.com
 
 
Eu lhes desejo, caros leitores, feliz natal, feliz ano novo e, quando for o caso, feliz férias.
Quanto a mim, é o caso.
Que Deus nos abençoe a todos, inclusive os que Nele não acreditam.
E, se possível, que mande chuva para o Sertão e juízo, muito juízo, para todos os homens!
 
Honório de Medeiros