sábado, 17 de maio de 2014

LIVROS ACERCA DE CANGAÇO, PARA VENDA, POR QUEM ENTENDE


O Professor Francisco Pereira Lima, membro do Conselho Consultivo do CARIRI CANGAÇO, dispõe, para venda, de vários títulos de autores do cangaceirismo, misticismo e coronelismo, podendo envia-los para todo o Brasil e exterior.

Os preços podem variar, para mais ou para menos, a qualquer momento, em decorrência do mercado.

O frete registrado, para todo Brasil,  já está incluso no preço do livro.

Os livros ficam reservados, no máximo, por uma semana, após o pedido.

É necessário confirmar o estoque antes de fazer o depósito bancário.

O acervo pode ser solicitado por intermédio dos seguintes e-mails:


ou

bem como diretamente pelos telefones:

(83) 9911 8286

ou

(83) 8706 2819

POR QUE AS INSTITUIÇÕES NÃO SAÍRAM EM DEFESA DE JOAQUIM BARBOSA?



* Honório de Medeiros

Ameaçado de morte por um malfeitor do PT, o Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, não recebeu, até onde sei, a solidariedade do Governo, tampouco dos juízes, menos ainda dos procuradores, sequer dos advogados, ou seja, das instituições.

Não importa se, para muitos, ele não é simpático. Aqui se trata da defesa do próprio Supremo Tribunal Federal, representada por seu Presidente. Trata-se da defesa de uma instituição fundamental para a democracia.

Onde anda a OAB, de passado tão glorioso? Transformou-se em uma mera repartição pública? Onde anda o Ministério da Consciência Negra? Onde andam as Associações de Magistrados, sempre tão lestas e dinâmicas na defesa dos seus interesses internos?

Chegamos a um nível de torpeza, neste País, incalculável. Não há mais limites para nada. Se é possível fazer o que esse malfeitor fez com o Presidente do Supremo Tribunal Federal sem receber a repulsa imediata de toda a Sociedade, onde vamos parar?

Tristes tempos.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

COPA DO VEXAME?




* Honório de Medeiros


O Presidente do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes, escancarou o que muitos já dizem aos berros nos quatro cantos deste País sem eira, beira, nem cumeeira: "o Brasil vai passar vergonha na Copa". 

Ele não estava se referindo ao futebol, muito embora isso também possa acontecer.

Referia-se às obras inacabadas, apesar dos rios de dinheiro despejados nos bolsos dos espertos de sempre.

Ora, ora, não é que o Presidente Nardes foi contido? Muito contido. Deveras contido.

Sequer mencionou, por exemplo, essa vergonha nacional que é o menosprezo com o qual somos tratados pelas operadoras de telefonia. Fazem o que querem conosco. Não são punidas. E quando o são, devem rir da punição recebida. Como se explica que continuem a fazer o que fazem, sem que as autoridades tomem providências? Será corrupção? Não são essas autoridades acometidas dos mesmos problemas que nós, os reles mortais? Conseguem elas ligar quando querem e manter a ligação durante a conversa? 

Nem mencionou a (in)segurança pública. Hoje somos reféns dos bandidos, que nos encurralam em nossas casas, e furtam, roubam, matam, estupram, em escala cada dia maior, mas, também, do aparelho policial-militar que, ao cruzar os braços com seu oportunismo grevista, passa a senha para o crime surgir dos esgotos e atacar à luz do dia.

Tampouco mencionou a saúde pública. O povão, aqui, além da classe média, está se acostumando ao caos que é a saúde pública. As autoridades lidam com a questão de tal forma que já se espraia, nos corações e mentes, a sensação de que tudo isso é assim mesmo, não tem como mudar, e se mudar, é para pior. Enquanto isso somos espoliados pela máquina de arrecadação do Estado em níveis cada dia mais cruéis. Ou seja: pagamos cada dia mais, por cada dia menos e pior.

Também não mencionou a corrupção generalizada, onipresente, no nosso dia-a-dia. Nada, hoje, no Brasil, parece funcionar sem corrupção. Nada. Essa face horrenda do País estará à disposição dos turistas que vierem, em massa, acompanhar a Copa do Mundo, desde seu contato inicial com os motoristas de táxi, passando por momentos inesquecíveis nos bares, restaurantes e similares. Torçam, eles, para não terem que manter contato com a burocracia nacional. Torçam muito. E torçam ainda mais para não terem que manter contato com o aparelho repressor do Estado.

Enfim e por fim, não mencionou o Ministro que nem mesmo o brasileiro - pelo menos os das grandes cidades - é mais esse primor de cordialidade e hospitalidade que o Governo apregoa e espera reinar durante o evento. Muito pelo contrário. O brasileiro anda muito mal humorado. E com razão. Seu dia-a-dia - excluo os bem nascidos -, o dia-a-dia da imensa maioria dos brasileiros, piorou, vem piorando, vai piorar, e a esperança é, hoje, mercadoria em falta.

Não resta a menor dúvida: o Ministro Nardes foi muito comedido...

domingo, 11 de maio de 2014

FELIZ DIA DAS MÃES!


Aldeiza Fernandes Sena de Medeiros (20 de abril de 1926 / 27 de maio de 2010)
Como eu queria, agora, sentir seu perfume de Lavanda Inglesa.
Saudade imensa...

NÓS, OVELHAS; ELES, LOBOS




* Honório de Medeiros

"Foi buscar lã e saiu tosquiado"
DITO POPULAR 

Antes que me acusem de “simplismo” lembro, aos leitores, que guardando as proporções devidas entre o gênio e o provinciano inquieto, o texto a seguir, pelo menos na aparência, pode guardar alguma semelhança remota, no que diz respeito à ausência do embasamento erudito tão caro aos acadêmicos (nada mais que argumentos de autoridade quando não é possível comprovação empírica), ao “Manifesto Comunista” de Marx e Engels e ao “Servidão Voluntária” de La Boètie, ou mesmo ao “O que é a Propriedade”, de Proudhom.

Entretanto ouso dizer que é possível um tratamento “acadêmico” ao que se vai expor. Tanto é possível fazê-lo a partir da Filosofia, com Marx e os anarquistas ou, para não ser acusado de tendência óbvia pelo pensamento de esquerda, com base no pensamento de Gaetano Mosca, comprovadamente um autor de direita, quanto a partir da Sociologia, desde que haja, como matriz, a Teoria da Evolução de Darwin.

Posto isso, gostaria de iniciar apresentando a célebre fábula de La Fontaine, “o Lobo e o Cordeiro”, devidamente parafraseada:

“Um cordeiro matava a sede nas águas límpidas de um regato.”

“Eis que se avista um lobo que por lá passava em jejum e que lhe diz irritado”:

- “Que ousadia a sua, turvando, em pleno dia, a água que bebo. Vou castigar-te”.

- “Majestade, permita-me um aparte – diz o cordeiro – veja que estou matando a sede vinte passos adiante de onde o Senhor se encontra. Não seria possível eu ter cometido tão grave grosseria”.

- “Mas turva, e ainda pior é que você falou mal de mim no ano passado”.

- “Mas como poderia – pergunta assustado o cordeiro – se eu não era nascido”?

- “Ah, não? Então deve ter sido seu irmão”.

- “Peço-lhe perdão mais uma vez, mas deve haver um engano, pois eu não tenho irmão”.

- “Então foi algum parente seu: tios, pais... Cordeiros, cães, pastores, nenhum me poupa, assim vou me vingar”.

“E o leva até o fundo da mata, onde o esquarteja e come sem qualquer processo judicia”.

Os lobos são a elite política; as ovelhas, o povo.

Desde que o mundo é mundo, excetuando, talvez, um período provavelmente mítico no qual o Homem vivia anarquicamente de caça e coleta[1], sem chefes nem hierarquias[2], a Sociedade é assim mesmo: de um lado os exploradores, do outro lado, os explorados.

Lembremo-nos como era antes nas grandes civilizações arcaicas: a grega, a judia, a chinesa, a hindu. O quê mudou de lá para cá? Nada, exceto a forma: se antes a polícia do chefe usava lança, hoje usa fuzil AK-47; se antes o tributo era o butim arrancado violentamente sem qualquer justificativa, hoje a extorsão se faz sob a desculpa de se dar condições ao Estado para que este melhore a vida das ovelhas em Sociedade.

Não vou perder tempo discutindo o que é o Estado. Desde que surgiu, quando surgiu a Polícia, o Tributo, a Norma Jurídica, e a Propaganda, o Estado é isso mesmo que você, caro leitor, pensa que é: um conjunto de aparelhos de controle social que a elite política criou para manter o “status quo”. 

Pensemos, por exemplo, na Norma Jurídica. A elite política dissemina a idéia de que sua finalidade é o bem-estar social. Quando os gregos irridentes, nas guerras civis, pediram leis que submetessem a todos, a aristocracia pressionada acatou, mas tratou logo de controlar sua interpretação, produção e aplicação[3]. Hoje ainda é do mesmo jeito.

Aliás, a Norma Jurídica deve ter surgido como um estratagema de domínio: como não era mais possível dar ordens verbais a todos, e a escrita estava surgindo, nada melhor que cria-las, coloca-las em algum lugar público, e impor que “a ninguém é dado alegar o desconhecimento da lei”. Tudo sob medida.

Pois bem, e essa elite política se perpetua? Claro, em todos os lugares. No Brasil, desde o Império.

Vejamos o caso do Rio Grande do Norte: nos Alves, Walter Alves é filho de Garibaldi Alves filho, que é filho de Garibaldi Alves pai, que é irmão de Aluízio Alves, que foi filho de Manuel Alves, o “Seu Nezinho”, líder político em Angicos, Rn, e de Maria Fernandes, da família Fernandes, de Aristófanes Fernandes, pai de Paulo de Tarso Fernandes; nos Maia, Felipe Maia é filho de José Agripino Maia, que é filho de Tarcísio Maia, que é filho de José Agripino Maia, que é parente próximo da esposa de Jerônimo Rosado, iniciador da oligarquia homônima em Mossoró, todos com raízes políticas ancestrais no Rio Grande do Norte e Paraíba; Larissa Rosado, por exemplo, é filha de Sandra Rosado, que é filha de Vingt Rosado, que é filho de Jerônimo Rosado; Fábio Faria é filho de Robinson Faria, que é filho de Osmundo Faria, latifundiário parente e protegido de Dinarte Mariz, de quem foi suplente no Senado; Dinarte de Medeiros Mariz, com ascendentes que vão até o Império, era parente de José Augusto Bezerra de Medeiros; este, por sua vez, familiarmente ligado a Juvenal Lamartine de Faria, de quem Márcia Maia, filha de Wilma de Faria, que é filha de Morton Mariz de Faria, parente de Dinarte Mariz, este por sua vez parente de José Augusto Bezerra de Medeiros, etc., etc..., é descendente colateral, todos com raízes que vão até o passado remoto do Rio Grande do Norte.

As oligarquias, para sobreviverem, em certas circunstâncias históricas usam talentos aos quais agregam, consomem e expelem para fora do círculo íntimo do Poder Político: Dinarte Mariz fez isso; Aluízio Alves, também; Tarcísio Maia o fez, os Rosados o fizeram; Wilma de Faria idem, e assim por diante. São os escalões intermediários entre o círculo íntimo e a base mais abaixo, constituída de “inocentes úteis”.

Brigam entre si os integrantes da elite política[4]. Mas, se ameaçados, se unem contra o inimigo comum. Vejam o caso de Mossoró. Não por outro motivo o PT, até Lula chegar ao Poder, era um anátema, posto que representasse uma real ameaça aos interesses políticos/econômicos dos detentores do Poder. Hoje, a história é outra.

Essa elite política, para sobreviver, se espraia por todos os aparelhos do Estado: Judiciário, Legislativo, Executivo. Aparelha tudo. Os aparelhos são integrados por membros das famílias que constituem a elite política ou agregados. Quando não é possível a nomeação de familiares ou agregados, ainda resta a cooptação e o exílio, o esvaziamento político/social. E, obviamente, se espraia também pela mídia servil, que bem paga, passa a filtrar os fatos – até mesmo criá-los, se for necessário - e lhes dá a conotação que interessa ao grupo dominante, assim como pelos negócios, através dos predadores empresariais, quase sempre sanguessugando, obliqua e dissimuladamente, a máquina estatal.

Obviamente, em certas circunstâncias históricas, como ocorreu recentemente no Brasil pós Lula, parece mudar os atores principais do teatro político. É possível. Mas a estrutura continua: uma nova elite política substitui a anterior que, derrotada, sai de cena. Os atores são novos, mas o Teatro e a tragicomédia são os mesmos, há sempre lobos e ovelhas, e continua tudo igual. “Mutatis mutandis”.

Portanto temos que a elite política domina o Executivo, o Legislativo, o Judiciário; os meios de comunicação, a tributação e os negócios empresariais com o Estado, bem como a Polícia. Ou seja, domina tudo. E o domínio é extremamente eficiente: os tributos alimentam o Tesouro que vai pagar as obras que vão, por sua vez, pagar toda a máquina política. Tudo isso legitimado por uma propaganda eficiente que cria a impressão de que a arrecadação vai ser usada para produzir e manter políticas públicas de interesse da ovelhada.

Enfim, não por outras razões, como não somos lobos, somos ovelhas: nos tempos de hoje, enquanto alienados, indo inevitavelmente para a tosquia, tão logo sejamos convocados, sem “tugir nem mugir”, ou, quem sabe, quando muito, discreta e aceitavelmente perorando pelos cantos, em voz educadamente baixa, para não levar castigo.

[1] Jacques Le Goff.
[2] Robert Wright.
[3] Nikos Poulantzas.
[4] Gaetano Mosca.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

UM A SÓS ENTRE TANTOS



Não consigo permanecer por muito tempo em um teatro ou cinema. Mal posso ler um jornal, raramente leio um livro moderno. Não sei que prazeres e alegrias levam as pessoas a trens e hotéis superlotados, aos cafés abarrotados, com sua música sufocante e vulgar, aos bares e espetáculos de variedades, às Feiras Mundiais, aos Corsos, aos centros culturais e às grandes praças de esportes. Não entendo nem compartilho essas alegrias, embora estejam ao meu alcance, pelas quais tantos milhares anseiam.
(O lobo da estepe; HESSE, Hermann)

* Arte em: gavetadoivo.wordpresse.com  

sexta-feira, 2 de maio de 2014

O QUE AQUILO DE FATO É




* Honório de Medeiros

Aquilo que você diz que (algo) é,
nada mais (o) é,
que aquilo que você crê.

Arte: matematicanoalvoilusaodeotica.blogspot.com

segunda-feira, 28 de abril de 2014

SOZINHO NA NOITE DE OUTONO




* Wang Wei



Sentado, sozinho,
na sala vazia,
antes de soar
a segunda vigília,
lamento o branco 
em minhas têmporas.
Na montanha, tombam
com a chuva as frutas,
e os insetos zumbem
em volta da candeia.
Impossível impedir 
o branco nos cabelos,
assim como criar ouro;
como se livrar da idade
e dos seus incômodos?
Melhor começar logo
o estudo do não ser.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

NÃO VEJO A LUZ NO FINAL DO TÚNEL. SEQUER VEJO O TÚNEL

* Honório de Medeiros


Encurralada, extorquida, abandonada, segue, inerme, a classe média brasileira, bem como a base da pirâmide social, ante a incompetência e a roubalheira generalizada que grassa nesse País.

A corrupção, hoje, faz parte da alma brasileira. Está em toda a parte, em todos os momentos, em todas as classes.

A falta de respeito dos dirigentes do Estado para com a Sociedade atinge níveis alarmantes. É um câncer. Em metástase.

Não sei o que seria do Brasil se não fosse o Ministério Público e alguns juízes abnegados.

Ouço, aqui e ali, pais inconformados, embora passivos, declararem seus sonhos com a ida dos filhos para outros países, onde a decência ainda é um valor cultivado. Aqui, todos os valores desmoronam lentamente. Alguns, em velocidade estonteante.

As regras implícitas que regem a Sociedade brasileira, neste atual momento da nossa história, são terríveis: não há o pensamento no outro, não há a solidariedade, não há o interesse social. Para onde dirigimos nossa atenção percebemos apenas falta de dignidade própria, ausência de respeito com os valores cultivados pelo processo civilizatório, descompromisso com a verdade mais comezinha, intuito de enganar, de manipular, de espoliar.

O resumo da ópera é esse: temos um aparato legal de faz-de-conta e uma realidade normativa social implícita derruidora. Os códigos dizem uma coisa, as ruas dizem outra totalmente diferente.

Os políticos, com raras e honrosas exceções, mentem e furtam sem qualquer pudor. Os administradores públicos, idem. As instituições estão corrompidas e tomadas pelo aparelhamento vil.

Quem discordar que mergulhe na história do Brasil. Analise o antes. Estude o agora. Pense no depois.

As consequências do que se está fazendo aqui, e agora, durarão gerações, para o bem ou para o mal.

Não vejo luz no final do túnel. Para ser sincero, sequer vejo o túnel.

Temo pelo futuro das futuras gerações.

PS: Acerca da classe média e sua pasmaceira, sugiro a leitura de   http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2014/04/23/uma-elite-perdida-por-ruth-de-aquino-533458.asp

terça-feira, 15 de abril de 2014

DIFERENÇA ENTRE ANDRÉ VARGAS E OS MENSALEIROS

PT tritura Vargas para preservar Dilma e Padilha

 * Josias de Souza

"Se Deus intimasse o PT a optar entre sua antiga cúpula que cumpre pena no sistema carcerário de Brasília e a humanidade, o partido daria uma resposta instantânea: “Morra a humanidade”. O deputado André Vargas (PT-PR) achou que seria beneficiário dessa mesma solidariedade fulminante e incondicional. Descobriu que pertence a um grupo de amigos 100% feito de inimigos."

Leia a continuação em: 
http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2014/04/14/pt-tritura-vargas-para-preservar-dilma-e-padilha/

sexta-feira, 11 de abril de 2014

É PRECISO DUVIDAR DE TUDO!

Kierkegaard




* Honório de Medeiros



“Na cidade de H... viveu há alguns anos um jovem estudante chamado Johannes Climacus, que não desejava, de modo algum, fazer-se notar no mundo, dado que, pelo contrário, sua única felicidade era viver retirado e em silêncio”.

Assim começa “Johannes Climacus”, ou “É preciso duvidar de tudo”, delicioso texto do escritor – meio esquecido – Soren Kierkegaard, nascido em 1813, e morto quarenta e dois anos depois, em 1855, um típico excêntrico pensador do século XIX.

O pequeno livro que tenho em mãos é da Martins Fontes, Coleção “Breves Encontros”, que vem publicando opúsculos de autores variados, como Schopenhauer, Cícero, Sêneca, Schelle, dentre outros menos conhecidos, como o Abade Dinouart e Tullia D’Aragona.

O prefácio e notas, cuidadoso no que diz respeito ao levantamento da história da produção do texto e a um leve perfil do autor, está assinado por Jacques Lafarge – me é desconhecido – e a tradução por Sílvia Saviano Sampaio professora da PUC/SP, doutora em filosofia pela USP com a tese “A subjetividade existencial em Kierkegaard”, e membro da AMPOF – Associação Nacional de Pós-graduandos em Filosofia.

“É preciso duvidar de tudo” é dividido em três partes: "Introdução", "Pars Prima" e "Pars Secunda". A parte primeira contém três capítulos e o primeiro é uma afirmação: “A filosofia moderna começa pela dúvida”. A segunda parte, contendo somente um capítulo, Kierkegaard lhe nomina interrogando: “O que é duvidar?”

A mim, particularmente, interessou a seguinte proposição: “a filosofia começa pela dúvida”, que é o Capítulo II, da "Pars Prima". A conclusão de Kierkegaard, falando por intermédio de Climacus, é de que essa proposição se situava fora da filosofia e a ela era uma preparação. Perfeito.

No próprio texto Kierkegaard alude ao fato de os gregos ensinarem, aludindo a Platão, no "Teeteto", que a filosofia começa com o espanto. Eu traduziria espanto por perplexidade, mas talvez haja diferenças sutis entre os dois termos que não valem a pena serem esmiuçadas.

Muito mais recentemente Karl Popper propôs que o conhecimento novo – não apenas a filosofia – começasse por problemas. Esses problemas surgiriam a partir do conhecimento antigo, ou seja, da expectativa de que regularidades, padrões, se mantivessem, inclusive em relação a nós mesmos. Ao nos depararmos com algo que o nosso conhecimento antigo não explica, há uma fragmentação nas nossas expectativas e surge, então, o problema a ser solucionado. Elaboramos uma nova teoria que explique esse "algo" e, assim, surge o conhecimento novo.

Bachelard diz tudo isso de forma profunda e elegante: "o conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão".

Observe-se que tal teoria pressupõe a existência do conhecimento inato adquirido geneticamente, no que é referendada pela teoria da seleção natural de Darwin. Pressupõe, ainda, dando-se razão a Kant, que o Conhecimento, em última instância, antecede a Realidade.

Em certo sentido estão certos não somente os gregos, como Kiekergaard, Bachelard e Popper. Resta saber se, no início, há o espanto com a dúvida, ou a dúvida com o espanto.

Cabe também observar que Johannes Climacus é um típico caso de personagem acometido da Síndrome de Bartleby, algo que, com certeza, interessaria bastante à Enrique Vila-Matas, referência contemporânea do romance-ensaio.

 * Arte em filosofianews.blogspot.com

domingo, 6 de abril de 2014

VIVA A SIMPLICIDADE!

Conheça homens e mulheres que optaram por uma vida mais simples

Na contramão da sociedade contemporânea, homens e mulheres optam por uma vida mais simples. Eles garantem que são mais felizes. Conheça as histórias

Você pode ter passado a vida inteira, ou parte dela, ouvindo a expressão: tempo é dinheiro. Conhecido de perto um universo em que ter do “bom e do melhor” é sinônimo de uma vida sossegada. Também deve ter escutado, e acreditado, que comprar roupas, sapatos e supérfluos alivia o estresse, principalmente, das mulheres durante a tensão pré-menstrual (TPM). Que shopping é e será um dos melhores lazeres desta vida moderna. Agora, suponha que tudo isso virasse de cabeça para baixo. Em nome da simplicidade do ser, homens e mulheres, de idades diferentes, chacoalharam esses velhos conceitos cada vez mais impostos à sociedade e optaram, sem culpa e com leveza, por uma vida simples. Acreditam que precisam de pouco para se satisfazer e asseguram que o lucro com tudo isso não se vende nem se troca, e tem nome: felicidade.



Texto de Luciane Evans, Estado de Minas

sábado, 5 de abril de 2014

A QUESTÃO É MORAL



* Honório de Medeiros


Imagine que você precise de uma segunda via do documento do seu carro. Dirige-se ao Órgão apropriado. Em lá chegando recebe uma ficha que indica sua vez de ser atendido. Pelo número da ficha você percebe que não adiantou chegar cedo. Seu atendimento, se acontecer, ocorrerá no final da manhã, começo da tarde, e olhe lá. No dia seguinte, comentando o episódio com um amigo, escuta dele: "mas por que você não pagou um despachante para fazer isso?" "Ele resolveria tudo na mesma hora e lhe entregaria a segunda via em casa." "Você não teria incômodo algum."

O despachante é aquela figura nebulosa que abre todas as portas, em qualquer momento, das repartições públicas, providenciando, nelas, soluções para quem não quer se submeter a filas e tem dinheiro suficiente para contratá-lo.

A questão é a seguinte: e quanto aos que não têm dinheiro para contratar um despachante? E quanto aos que acordaram cedo, pegaram a fila, esperaram, mas são ultrapassados, às vezes sem saber, pelas artes e ofícios de quem abre, na hora que quer, todas as portas? 

Como se percebe facilmente, trata-se de uma questão cujo cerne é constituído por moral e dinheiro. Moral, aqui, para além de como deve agir o Estado que, conforme a Constituição Federal, deve, por intermédio de seus servidores, agir com absoluto respeito à igualdade entre os cidadão.

É esse o tema do recente livro de Michel J. Sandel, "O Que O Dinheiro Não Compra", professor em Harvard, atualmente professor-visitante na Sorbonne. Sandel ficou midiático desde que seu curso "Justice", no qual interagia com seus alunos lhes propondo questões de natureza moral, apareceu na internet e ganhou o mundo. Em 2010 a edição chinesa do "Newsweek" o considerou a personalidade estrangeira mais influente no País.

Sandel elenca muitos exemplos de "coisas" que hoje estão à venda, graças à onipresença e influência do mercado. Trocando em miúdos: graças ao afã do lucro. Alguns até mesmo cômicos, se não fossem trágicos: "upgrade" em cela do sistema carcerário; barriga de aluguel; direito de abater um rinoceronte negro ameaçado de extinção; direito de consultar imediatamente um médico a qualquer hora do dia ou da noite...

Nos EUA, segundo Sandel, é florescente o negócio de comprar apólices de seguro de pessoas idosas ou doentes, pagar as mensalidades enquanto ela está viva, e receber a indenização enquanto morrer. Ou seja: quanto mais cedo o segurado morrer, mais o comprador ganha.

O professor considera que "hoje, a lógica da compra e venda não se aplica mais apenas a bens materiais: governa crescentemente a vida como um todo." E não aceita a teoria dos que atribuem à ganância essa falha moral, pois, no seu entender, o que está por trás é algo maior, qual seja à "extensão do mercado, dos valores do mercado, a esferas da vida com as quais nada têm a ver."

Eu compreendo esse salto que o professor dá desde a ganância até o mercado. Mas não concordo. Para o professor, o mercado deixa o Homem ganancioso; eu, pelo meu lado, penso que foi a ganância que criou o mercado. Se lá na aurora da história do Homem o primeiro ganancioso tivesse sido silenciado, seu "meme" não teria sobrevivido. Ou será que era para ser assim mesmo, caso contrário não existiria a nossa espécie?

Antes que imputem a mim uma percepção simplista da questão, saliento logo que ela é mais profunda: diz respeito a uma discussão de natureza ontológica acerca da realidade social: em última instância, no que concerne a sua instauração, está o Homem ou a Sociedade? Ou seja: a Sociedade é gananciosa porque o Homem o é, ou o Homem o é porque a Sociedade é gananciosa?

Aceita a premissa de que a Sociedade é gananciosa porque o Homem o é, cabe então perguntar: por que o Homem é ganancioso? Essa questão, a verdadeira questão, não é enfrentada como deveria ser, hoje em dia, por que virou moda escamotear o óbvio atribuindo ao "sistema", ao "meio", a uma "realidade exterior a nós", aquilo que somos individualmente.

Fica mais fácil, em assim sendo, fugir da nossa responsabilidade individual, da moral, do caráter, e nos auto-excluir da culpa por nossas decisões e atitudes.

Exemplo patente dessa perspectiva vil e equivocada, mas compreensível e eficaz, é o escândalo do Mensalão, essa nódoa permanente e intransferível na nossa elite política. Ao invés do mea culpa, mea maxima culpa ao qual temos direito nós outros, os cidadãos inocentes deste País de bandalheiras ao qual sustentamos passivamente ao longo dos anos, bem como à escumalha dirigente e sua soturna vocação para a ladroagem, lemos e escutamos cretinices tais quais as que pretendem imputar a responsabilidade pelos malfeitos acontecidos ao sistema eleitoral e de financiamento de campanhas aqui existente.

Ou seja, querem nos fazer crer que quando o irmão de Zé Genoíno foi flagrado escondendo dinheiro enlameado na cueca, em um dos mais grotescos episódios recentes da crônica da corrupção tupiniquim, assim agia porque o sistema não presta.

Faz parte da própria lógica do aparato intelectual que sustenta uma teoria como essa, a de que o meio cria o Homem - o determinismo social -, a falta de capacidade técnica para compreender aquilo que está em jogo, em termos científicos, embora não lhe falte mecanismos ou artefatos que a protejam da luz crua da verdade. Os defensores de teorias como essas pululam nas redes sociais.

Darwin está aí, basta lê-lo. Aliás, como a grande, a imensa maioria dos nossos cientistas sociais é herdeira de uma tradição marxista que eles não compreendem em seus fundamentos por lhes faltar preparo e leitura, ou então são devedores de um funcionalismo anêmico de tradição funcionalista norte-americana, para o qual a realidade social é um carro que funciona sem a estrada e quem as produz, estão atrasados gerações em relação ao que se discute, em termos científicos, nos centros de pesquisa das grandes universidades do mundo.

Não compreendem, mas usam. É mais fácil botar a culpa no Sistema. Como se fosse responsabilidade apenas do meio o fato de sermos como somos, nivelando todos por baixo, inclusive aqueles que, ao longo da história, tornaram-se as nossas referências quando, em alguns momentos, acreditamos no processo civilizatório.

Mas que se há de fazer? Talvez responder à Baronesa Thatcher: não, você se enganou, a ganância não é um bem; o altruísmo, sim, é um bem.

segunda-feira, 31 de março de 2014

A ARENA DAS DUNAS É UMA PENEIRA




* Honório de Medeiros

Começamos a pagar – eu, você, todos nós – R$ 10,2 milhões por mês pela “Arena das Dunas”. R$ 10,2 milhões. À construtora OAS. Pagaremos esse valor até dezembro de 2022. Depois haverá uma redução no repasse. Mas no final dos pagamentos teremos repassado mais de 1 bilhão de reais à construtora. Para ser mais preciso, R$ 1.288.400.000, o equivalente a três “Arena das Dunas”. Somente este ano serão R$ 91,8 milhões.

Enquanto isso Mossoró vive uma guerra civil. Mata-se sem limites, rouba-se, furta-se, na cidade. Convido o leitor a abrir o Blog do BG e tomar conhecimento da postagem “Jornalista narra ‘guerra’ em Mossoró”, que diz respeito a informações veiculadas pelo jornalista Cezar Alves de Lima por intermédio do Twitter. É desesperante ler o que acontece lá.

Enquanto isso o médico Hausemann Morais, ortopedista, plantonista do Hospital Walfredo Gurgel, usa sua página no Facebook para fazer um desabafo. Teclem seu (dele) nome no Google e leiam. É estarrecedor. “Hoje, morando em Natal, venho testemunhando há anos situações no mínimo absurdas: falta de fixador externo, falta de gases, falta de luvas, falta de fios de aço, falta de vagas de UTI, tanta coisa e ainda ter que ver mentiras na TV para disfarçar ou maquiar o caos”, diz ele. E, mais à frente: "Talvez os senhores não tenham dado conta da gravidade sobre a que ponto chegou a saúde do RN. Eu temo! Por mim, por meus familiares, por meus amigos e pelos meus futuros pacientes. Temo muito!"

Mas o detalhe, crucial, cômico, se não fosse trágico, é a informação que nos chega pela rede social hoje, 31 de março, aniversário da Redentora: a “Arena das Dunas”, essa apoteose à incúria, à falta de respeito com a Sociedade, ao desprezo com os mais humildes, ficou alagado durante as chuvas que caíram no jogo América versus Alecrim. Torcedores brincaram nas piscinas formadas pelas águas da chuva. Jornalistas quase não puderam trabalhar com tanta goteira.

É isso mesmo. O complexo batizado pomposamente de “Arena das Dunas” não resistiu às primeiras chuvas. É uma peneira. Uma peneira de mais de um bilhão de reais. Uma peneira que eu, você, todos nós, inclusive nossos filhos, vamos pagar. Uma peneira inútil e desnecessária.

Releio esse comentário e percebo o uso de palavras muito fortes: "desesperante", "estarrecedor"... Um pouco mais de tempo e as palavras serão impotentes, se já não o são, pelo desgaste, quando se trata de retratar uma situação como essa que estamos vivendo. O uso intermitente gera a banalização. É mais um fator a contribuir para a perpetuação da ignomínia. De tanto conviver com o mal terminamos nos tornando indiferentes a ele.

O pior é lermos as desculpas dos gestores. Quase sempre se escudam no desempenho de seus iguais em estados vizinhos. Deveriam ser exceção, ficam satisfeitos por serem a regra. Da incompetência.

* Com imagem captada do Blog do BG

quinta-feira, 27 de março de 2014

VEM AÍ NOSSA TORTURA ANUAL: A HORA DE PAGAR O IMPOSTO SOBRE A RENDA

* Honório de Medeiros


Está prestes a chegar a hora da tortura anual: a declaração do imposto sobre a renda.

Nós, da classe média, como sempre assistiremos passivos o massacre feito pelo Governo. Em algum lugar do cérebro surge uma vontade inicial de se revoltar, mas, logo, logo, retornamos à nossa passividade natural, tipicamente brasileira.

No nosso país não pagam imposto sobre a renda os muito pobres e os muito ricos. Os muito pobres por razões óbvias. Os muito ricos por que se beneficiam das brechas da lei, das facilidades legais, da impunidade onipresente, dos grandes escritórios de advocacia. Ou pagam, mas repassam o ônus para nós, a classe média. E o Governo, o Governo acha mais fácil tributar na fonte ou expropriar a passiva e inerte classe média.

Essa nossa passividade não é genética, como pensam alguns sociólogos de meia-tigela. Não somos assim por que resultamos do cruzamento de brancos portugueses de baixíssima qualidade moral, negros indolentes e índios preguiçosos ou mal-acostumados. Nada disso é verdade. Ao contrário. É difícil um povo que trabalhe mais para sobreviver que o brasileiro.

E tampouco somos cordiais além da medida, como disse Sérgio Buarque de Holanda. Ele, o grande Sérgio, talvez não tenha sido suficientemente crítico ao olhar para nossa história antes do Estado Novo de Getúlio. Uma história cheia de irridências, revoluções, insurgências, banditismo, cangaço e massacres. Taí Canudos, a cabanagem, o banditismo rural, o movimento farroupilha e tantos e tantos outros, para provar o que está sendo dito.

Com Getúlio e o Estado Novo acontece o que o Professor Gilson Ricardo de Medeiros Pereira lembra a partir da obra de Raimundo Faoro “Os Donos do Poder”: o pacto das elites para dissolver a luta de classes através da “solução pelo compromisso”, ou seja, a permanente negociação através da qual o zé-povinho recebe, quando muito irada, uma ração extra de carne para acabar com o resmungo.

Não por outra razão vai ano e vem ano e os tubarões da elite continuam o colossal processo expropriatório através dos inocentes-inúteis que exercem cargos na estrutura do poder e se prestam a fazer o serviço sujo dos patrões.

Quem conhece a história recente deste país sabe, talvez até mesmo na própria pele, o que foi feito com o serviço público a partir de Collor. Quem não sabe porque não é servidor público, mas pertence à classe média para baixo, com certeza sentiu e sente na pele quando precisou ou precisa da estrutura do Estado na saúde, educação e segurança pública.

E nós, estúpidos, continuamos esperneando e votando nos mesmos candidatos de sempre!

sábado, 22 de março de 2014

A FOLHA MORTA E O RIACHO



* Honório de Medeiros

A FOLHA MORTA DA QUIXABEIRA E O RIACHO

Às margens do pequeno riacho, sentado e com as costas repousando no espaldar inclinado de uma grande pedra, gozando a sombra de uma quixabeira, o adolescente, absorto, observava o revolutear de uma folha seca em suas águas.

A água fazia a folha ir e vir, às vezes afundar para reaparecer uma pouco mais à frente, acalmar-se e, pouco depois, irromper velozmente contra as pedras que afloravam ante seu percurso, numa sarabanda caótica de recuos e avanços que, mesmo assim, levavam-na riacho abaixo, para seu destino final.

O adolescente, esgotado por uma longa caminhada que o levou até o riacho, devaneava. No devaneio imaginou que aquela água era como a vida, e a folha, ele. Foi uma fugaz imagem, essa, instantânea. Mas ficou encravada em sua memória para sempre.

Algum tempo depois, já universitário, entre uma aula e outra se deitou com dois amigos de infância à sombra do telhado de um depósito que ficava ao lado de um dos auditórios da Universidade. Estavam começando uma nova fase da vida. Cada um dos amigos expôs o que imaginava ser seu próprio futuro, a partir do curso que estava fazendo. Cismavam, todos. Quando chegou sua vez de falar, antes mesmo de expor seu pensamento, se lembrou repentinamente daquele instante vivido alguns anos antes, às margens do riacho.

Na medida em que relembrava o episódio, contando-o, acrescentava detalhes não ao fato em si, mas à interpretação. Pensava o fato e o interpretava. Agora já não era apenas uma comparação entre sua vida e aquela folha seca que revoluteou nas águas do riacho. Era isso e algo mais: a folha seca, embora tivesse um revolutear caótico, não iria além das margens do riacho, e, caso superasse os obstáculos com os quais se deparava, desaguaria no rio que aguardava suas águas, mas, quem sabe, poderia prosseguir até cada vez mais longe, para destino ignorado.

Ao longo dos anos esse episódio passou a ser como que uma chave simbólica, cada vez mais complexa, para abrir a porta que conduzia à sua metafísica pessoal. Essa metafísica, esse discurso racional de si para si lhe permitia tentar compreender, na medida do possível, como era a realidade, tudo que o cercava e envolvia, incluindo ele mesmo.

A folha era ele; a realidade, a água...

O MESTRE E MARGARIDA

Em uma avaliação muito pessoal considero que os dois maiores romances escritos no século XX foram “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marques, e “O Mestre e Margarida”, de Mikhail Bulgakov.

Li “O Mestre e Margarida” adolescente. Estávamos em plena ditadura e Aluísio Alves, líder político norte-rio-grandense cassado pelos militares montou uma editora para sobreviver. Dentre os livros lançados por sua editora estava a grande obra de Bulgakov, que ele ofereceu a uma tia minha sua seguidora em cujo entorno se reunia a fina flor da intelectualidade oposicionista e provinciana de minha cidade natal.

A primeira leitura registrou e apreciou a insólita trama, o roteiro absurdo, a parte epidérmica da alegoria do grande escritor ucraniano. A segunda nada acrescentou, exceto mais prazer. A terceira, entretanto, deixou marcas profundas em meu espírito de leitor agora engajadamente crítico, principalmente quando as comparo com “Cem Anos de Solidão” e, em ambas, suponho encontrar o fundamento básico do que se convencionou denominar, nos círculos acadêmicos, de “realismo fantástico”.

Mas não é disso que se quer tratar aqui.

Em certo momento inicial de “O Mestre e Margarida” aquele que vai ser a chave da trama, o desconhecido que se intrometeu na conversa entre Ivan Nikolaievitch e Mikhail Alexsándrovitch Berlioz, e que se apresentou com o nome de Woland, mas que na verdade era Satanás, após ouvir de ambos que eles não acreditavam em Deus, lhes diz o seguinte:

“- Também acho uma pena – confirmou o desconhecido com um olhar cintilante, e prosseguiu: - Mas eis a questão que me preocupa: se não há Deus, então pergunta-se, quem administra a vida humana e, em geral, toda a ordem na terra?”

“- O próprio ser humano – o enfurecido Ivan apressou-se em responder essa questão admitidamente não muito clara.”

“- Perdão – replicou docilmente o desconhecido -, mas para governar, queira ou não queira, é necessário possuir um plano preciso com alguns prazos estabelecidos, nem que seja o mínimo. Permita-me perguntar: como é que pode o ser humano governar, se não apenas não tem condições de fazer qualquer plano, mesmo que seja com um prazo ridiculamente curto de, digamos, mil anos, como também é incapaz de garantir sequer seu dia de amanhã? E realmente – o desconhecido virou-se para Berlioz – imagine, por exemplo, que o senhor comece a governar, dispondo de sua vida e da vida de outras pessoas, e então passe a tomar gosto pela coisa, e de repente o senhor... hum... hum... descobre que está com câncer de pulmão... – o estrangeiro sorriu docemente, parecia que a idéia do câncer lhe dava prazer -, é, câncer – repetiu a palavra sonora e apertou os olhos feito um gato -, pronto, seu governo chegou ao fim! Não lhe interessa o destino de mais ninguém, somente o seu.”

“Os parentes começam a mentir para o senhor. Pressentindo algo errado, o senhor recorre a médicos formados, depois a charlatães e até mesmo videntes. Assim como o primeiro e o segundo, o terceiro não ajuda em nada. Tudo termina tragicamente: aquele que, ainda há pouco, acreditava administrar algo de repente se vê imóvel em um caixão de madeira, e as pessoas que o cercam, compreendendo que não mais nenhuma utilidade naquele que está deitado, o queimam no forno. E existem casos piores: o sujeito pode decidir ir a Kislovôdsk, o estrangeiro olhou para Berlioz com os olhos apertados, uma coisinha de nada, pode-se pensar, mas nem isso ele consegue realizar, assim como não sabe por que ele de repente resolve escorregar e vai parar debaixo do bonde! Será que o senhor dirá que foi ele quem planejou isso para si mesmo? Não seria mais razoável pensar que ele foi governado por alguém? E aqui o desconhecido desatou a soltar estranhas gargalhadas.”

Como sabem os que leram o romance, Berlioz, de fato, escorregou e foi parar debaixo do bonde e teve a cabeça decepada – e esse foi o ponto-de-partida de toda a confusão instalada por Satanás na Moscou da primeira metade do século XX.

Caso se leve em consideração aquilo que Satanás diz, o revolutear caótico da folha seca nas águas do riacho é resultado do planejamento de algo ou alguém que lhe é incompreensivelmente superior. Não seria estranho supor que se trata, ali, da concepção de que nossas vidas obedecem, no geral, a desígnios sobrenaturais além de nossa capacidade de compreendê-los, muito embora mantenhamos uma possibilidade de atuação livre, nos limites desse plano.

Os limites da folha seca são as margens do riacho.

Essa, a grosso modo, é a doutrina de Santo Agostinho, que com matizes diferentes em cada época, ainda constitui o cerne do pensamento oficial da Igreja Católica.

O fluxo no qual nós nos movemos, ou seja, as águas do riacho, essa teoria podemos rastrear até Heráclito de Éfeso. Podemos encontra-la no pensamento oriental – basta ler Sidarta, de Herman Hess. Mas também é, por incrível que possa parecer, guardando os limites óbvios, o núcleo da filosofia marxista, de forte influência hegeliana. Hegel, como sabemos, bebeu exageradamente na fonte heraclitiana.

Assim temos: no primeiro caso, Deus; no segundo, a eterna realidade em fluxo; no terceiro, a luta de classes como motor da história, no âmbito da qual se desenrolam nossas vãs tentativas individuais de extrapolar os limites do determinismo.

Arte: oloboeocordeiro.wordpress.com

sexta-feira, 21 de março de 2014

ESTAMOS FICANDO CADA DIA MAIS LIMITADOS


* Honório de Medeiros

A ciência começa a comprovar algo que o senso comum já constatara: estamos ficando cada dia mais limitados na nossa capacidade de nos concentrar, principalmente em tarefas de natureza abstrata como ler um livro.

Em "A Civilização do Espetáculo" Mário Vargas Llosa especula, a esse respeito, por vias transversas, enquanto descreve a banalização da cultura contemporânea na medida da opção pelo entretenimento ligeiro, de conteúdo pobre e forma atraente, em detrimento da complexidade de nossa anterior herança cultural comum.. Não aponta causa específica para o fenômeno, mas alude, obliquamente, à onipresença imperiosa, por trás dos panos, da incessante necessidade do lucro.

Em outra face da questão o filósofo americano Michael J. Sandel, autor de "Justiça" menciona, em "O que o Dinheiro não Compra", como a corroborar Llosa, o poder avassalador do mercado a dominar tudo e todos, corações e mentes, e suas consequências no universo moral. Quem diz mercado, diz lucro.

Daniel Coleman, o famoso psicólogo americano professor em Harvard, criador do conceito de "Inteligência Emocional", pondera acerca de outra face desse poliedro social, ao apontar o déficit de atenção cada vez mais profundo, decorrente da escravidão às redes sociais , em nossa civilização, a originar uma demanda, no futuro, pelo próprio mercado, de todos quanto sejam capazes de se concentrar em tarefas de médio e longo prazo. Perguntamo-nos se quando o mercado reagir a catatonia (alienação) já não estará estabelecida de vez.

Acerca do fenômeno da volatilidade das coisas, causa e consequência desta atual fase do capitalismo, discorre Baumant com excepcional clareza em sua obra de caráter mais filosófico que sociológico. Somos uma sociedade evanescente, crê ele, na qual a transitoriedade de tudo, cada vez mais acentuada e veloz, seria o único fator permanente.

Ou seja, mercado, lucro, redes sociais potencializadoras, volatilidade, déficit de atenção, tudo interconectado.

Em outra face - são mesmo muitas, para a mesma realidade - Moisés Naím especula acerca da fragmentação do poder, tal qual o conhecemos, como consequência dessa realidade volátil, evanescente, permanentemente transitória, em decorrência, entre outras coisas, dos instrumentos que a alimentam e ampliam, ou seja, a rede social e a interconectividade, por exemplo.

O que estaria por trás de tudo isso? Como chegamos a esse patamar? Que teoria explicaria esse fenômeno em sua inteireza?

A menção, feita por Llosa, Sandel, Michel Henry e Debord, estes aqui ainda não citados, mas que também especulam acerca de faces do mesmo poliedro, qual seja o dinheiro, o lucro, o mercado, poderia, obliquamente, dar razão ao Marx sociólogo, não aquele do materialismo dialético. Ou à teoria da seleção natural, do qual o capitalismo seria um epifenômeno.

Nesses casos bem vale o dito atribuído a Proust: "o tempo é senhor da razão."

Ressalve-se, apenas, que as tentativas para conter a alienação, quando e se acontecerem, promovidas seja pelo próprio mercado, seja pelo Estado, poderão encontrar um status quo irreversível. Isso acontecendo, tendo como causa um brutal nivelamento por baixo em termos de capacidade de apreensão, cognição, pensar em termos complexos, perdemos todos.

Concretamente viveremos a realidade da Academia no Brasil, hoje: cada dia mais alunos, cada dia menos conhecimento...

quarta-feira, 19 de março de 2014

À MEMÓRIA DOS ESCRITORES ESQUECIDOS


* Honório de Medeiros                           
Na Rue de Lutèce, entre o Boulevard du Palais e a Rue de La Cité, em algum lugar conhecido por muitos poucos, o “La Mémoire de L'homme” cumpre sua missão de preservar a história abandonada da humanidade, assim como, na Barcelona arcaica, o Cemitério dos Livros Esquecidos, do qual nos deu conta Carlos Ruiz Zafón em “A Sombra do Vento”, arquiva, em seus infinitos desvãos, tudo quanto a loucura e a sanidade de cada um de nós ousou escrever ao longo do tempo e terminou encaminhado às traças ou, em lugar incerto e não sabido, a Biblioteca de Babel, descrita por Jorge Luis Borges em “Ficções”, de 1944, que nos fala da realidade constituída por uma biblioteca sem fim, abriga uma infinidade de livros possíveis e impossíveis...

Histórias tais quais aquelas vividas pelo velho militar a quem deu tempo e voz Alain de Botton, em “Nos Mínimos Detalhes”:

“Ele não tinha nenhum biógrafo para recolher suas palavras, para mapear seus movimentos, para organizar suas lembranças; ele estava vazando sua biografia para o interior de inúmeros receptores, que o ouviam por um momento, e então lhe davam uma pancadinha no ombro, e partiam para suas próprias vidas. A empatia dos outros era limitada às exigências do dia de trabalho, e assim ele morreu deixando fragmentos de si dispersos casualmente em meio a uma caixa de cartas esmaecidas, fotografias sem legenda reunidas em álbuns de família e histórias contadas a seus dois filhos e a um punhado de amigos que marcaram presença no funeral em cadeiras de rodas.”

Ou aquela acerca de todos os poemas e fragmentos que Robert Walser, ao qual aludiu tão belamente Enrique Vila-Matas em um dos seus romances-ensaios, escreveu e dispersou ao vento, sobre as neves por onde caminhou durante vinte e três anos, em sua Suíça natal, ansiando pela morte, interno em um manicômio.

A eles, a todos eles, a todos os esquecidos de ontem, hoje e amanhã, ao fim do livro de papel, da leitura densa, do pensar crítico, da profundidade do argumento, da propriedade do estilo, da beleza da forma, da imanência do conteúdo, da elegância do texto, do prazer da leitura cultivada, a homenagem de todos os que resistem,na Rue de Lutèce, nessa missão de preservar a história do Homem.

terça-feira, 18 de março de 2014

MP DO RN X GOVERNO DO RN

* Honório de Medeiros

Quanto à ação do MP/Rn contra o Governo do Rn, para que este use os milhões destinados à publicidade na Saúde e Segurança Públicas: jornal desta província apresenta opinião de um doutor advogado - como os há - na qual expressa que "essas ações não possuem fim público. Apenas midiático. Basta observar os precedentes jurídicos e ver que elas não deveriam ter sido mais propostas".

Ora, Doutor, se novas ações não arremeterem contra velhos vícios, não haverá novos precedentes. Esqueceu que a realidade não é estática?

sábado, 15 de março de 2014

A BANALIDADE DA CULTURA ATUAL

Llosa



* Honório de Medeiros

Fecho o livro de Llosa, Mário Vargas Llosa, “A Civilização do Espetáculo”, cujo título foi calcado no “A Sociedade do Espetáculo”, de Guy Debord, um dos mais originais pensadores do século, e me percebo confortável por ter encontrado um texto, da melhor qualidade, que desse corpo a essa sensação permanente de estranhamento e solidão vivenciada por mim e alguns poucos, originada pelo descompasso entre a “cultura” na qual fomos criados e a realidade que encontramos nos dias de hoje.

Não é, portanto, “saudosismo”, o que sentimos. Há, de fato, um progressivo, solerte e profundo processo de banalização dos valores fundantes da cultura, entendida esta como o pressuposto da construção do processo civilizatório. Cultura como a pensou, por exemplo, T. S. Elliot, citado por Llosa, em “Notas para uma definição de cultura”, de 1948, tão atual, posto que, por exemplo, lá para as tantas, expõe: “E não vejo razão alguma pela qual a decadência da cultura não possa continuar e não possamos prever um tempo, de alguma duração, que possa ser considerado desprovido de cultura.”

É bem verdade que em ensaios tais como “A civilização do espetáculo”, e “Breve discurso sobre a cultura”, Llosa não nos aponta as causas do surgimento desse epifenômeno muito embora aluda, de forma enfática, à “necessidade de satisfação das necessidades materiais e animada pelo espírito de lucro, motor da economia, valor supremo da sociedade”, como a força que está por trás das rédeas que conduzem o processo de destruição da cultura tradicional. Não nos é oferecido, de sua lavra, uma macroteoria, que nos explique tudo.

Para Llosa, por exemplo, civilização do espetáculo é "a civilização de um mundo onde o primeiro lugar na tabela de valores vigentes é ocupado pelo entretenimento, onde divertir-se, escapar do tédio, é a paixão universal."

Como não lembrar do personagem de "O lobo da estepe", de Hesse, em seu permanente solilóquio: "O que chamamos cultura, o que chamamos espírito, alma, o que temos por belo, formoso e santo, seria simplesmente um fantasma, já morto há muito, e considerado vivo e verdadeiro só por meia dúzia de loucos como nós? Quem sabe se nem era verdadeiro, nem sequer teria existido? Não teria sido mais que uma quimera tudo aquilo que nós, os loucos, tanto defendíamos?"

Entendo, embora possa estar enganado, que mesmo Zygmunt Bauman e sua obra acerca da “vida líquida”, “modernidade líquida”, na qual mergulhei durante algum tempo, também não o conseguiu. Sua preocupação é, também, descrever um fato, ou melhor, um epifenômeno social, o processo civilizatório por nós vividos hoje, um degrau acima, em termos de tempo, com alguns instrumentos intelectuais diferenciados, como tentado pelo excepcional Norbert Elias.

Para Bauman, "a vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante"; nas quais "as realizações individuais não podem solidificar-se em posses permanentes porque, em um piscar de olhos, os ativos se transformam em passivos, e as capacidades, em incapacidades."

Eu me pergunto, em relação a Bauman: não há um padrão, uma lei geral que origine esse processo? Não seria essa "vida precária" em "condições de incerteza constante" uma face avançada do processo evolucionário de Darwin?

Aliás, ainda hoje somos devedores, nesse aspecto, dos titãs do século XX, quais sejam Freud, Marx e Darwin, por assim dizer. Mas não é o caso de abordar esse tópico por aqui. O caso aqui é apenas registrar o alívio ao constatar que não estamos errados nós que sentimos que somos, cada vez mais, órfãos de uma cultura que desde os meados do século XX, vem sendo deixada, cada dia mais velozmente, e de forma mais radical, para trás.

Que o digam, como pálido exemplo, a música, o teatro e a literatura contemporânea.

É a banalização da cultura...


Arte em desencarte.blogspot.com

domingo, 9 de março de 2014

QUATRO EX-PRESIDENTES E A DEMOCRACIA NA VENEZUELA


Nós, abaixo assinados, Oscar Arias Sánchez, Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Lagos e Alejandro Toledo,concordamos em formular a seguinte declaração conjunta:

Temos observado com preocupação e alarme os acontecimentos que vêm ocorrendo na Venezuela durante as últimas semanas. Manifestações estudantis de protesto pacífico contra as políticas do governo, fato normal em qualquer sociedade democrática, têm sido objeto de uma repressão desmedida por parte das forças de segurança e de ataques por parte de grupos armados ilegais que alguns meios de comunicações vinculam com partidos políticos no governo.

Estes fatos estão na origem de uma alarmante escalada de violência e de uma rápida deterioração da situação dos direitos humanos no país.

A violência já custou a vida de várias pessoas atingidas por balas; estudantes presos declararam publicamente terem sido submetidos a torturas e tratamento desumanos e degradantes por parte das autoridades; a imprensa independente tem sido perseguida e dificuldades foram criados para impedir que os meios de comunicação informem sobre os acontecimentos, incluindo a retirada do ar de um canal internacional de televisão e ameaças de fazer o mesmo com outro, agressões físicas a jornalistas e limitações à aquisição de papel para a imprensa escrita.

Numerosos estudantes presos estão sob a ameaça de processos penais; o senhor Leopoldo López foi sumariamente privado de liberdade

Além disso, o protesto cívico e da oposição democrática tem sido criminalizado. Numerosos estudantes presos estão sob a ameaça de processos penais; o senhor Leopoldo López, líder de um partido de oposição, foi sumariamente privado de liberdade e acusado, por motivos políticos, de diversos delitos. Outros líderes democráticos também têm sido submetidos a perseguições judiciais por razões políticas.

Condenamos estes fatos e instamos o Governo venezuelano e todosos partidos e atores políticos a estabelecer um debate construtivo no marco de referência dos princípios democráticos universalmente reconhecidos, tal como definidos na Carta Democrática Interamericana.

Fazemos um apelo especial ao governo para que contribua para a criação, sem demora, das condições propícias para esse debate, com uma agenda compartilhada e sem exclusões. Para tanto é imperativo que se ponha fim de imediato à perseguição contra os estudantes e os líderes da oposição, colocando em liberdade o senhor Leopoldo López e todos os demais detidos ou perseguidos por razões políticas. Faz-se também necessária a condução de uma investigação independente e transparente sobre as denúncias de torturas e outras violações de direitos humanos. Devem cessar as restrições e hostilidades impostas à imprensa independente, o que inclui o restabelecimento do sinal do canal internacional de televisão bloqueado pelo governo.

É igualmente necessário que as manifestações de protesto dos partidos de oposição e de outras organizações sejam conduzidas de forma pacífica, como ocorre nas sociedades democráticas e com o respeito devido ao mandato das diferentes autoridades do país, nos termos definidos pela Constituição venezuelana.

Na condição de amigos da democracia venezuelana, confiamos que esse país será capaz de superar a extrema polarização e a intolerância que dominaram a cena política nos últimos anos – males que minaram a eficácia dos mecanismos internos de debate democrático e a confiança na independência e imparcialidade de numerosas e relevantes instituições. Ao mesmo tempo, fazemos um chamamento à comunidade internacional para que se junte a um esforço concertado em prol do fortalecimento da democracia e da preservação da paz na Venezuela.

5 de março de 2014

Oscar Arias Sánchez, Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Lagos e Alejandro Toledo

* Oscar Arias, Fernando Henrique, Ricardo Lagos e Alejandro Toledo foram presidentes, respectivamente, da Costa Rica, Brasil, Chile e Peru.