quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PATOS, ONDE EXISTIU UMA LAGOA (1)

Virgílio Trindade


                   Saímos cedo de Pau dos Ferros no rumo de Patos, na Paraíba, em busca das raízes de Massilon. Lá chegamos ao meio-dia. Hospedamo-nos no Hotel Zurick. À noite perguntamos ao recepcionista porque o hotel tinha esse nome. Com certo sarcasmo sertanejo, respondeu: “o homem andou por lá e por certo achou esse nome bonito.” Franklin Jorge comentou: “se Cascudo tivesse estado aqui escreveria uma crônica com o seguinte título “Zurick em pleno Sertão paraibano; faria algo grandioso e o dono terminaria recebendo o título de cônsul honorário da Suíça”.

                   Fomo à Matriz. Prédio simples. Chegamos em plena missa das 16:00 horas. Rodeamos a Igreja cujos fundos dão para uma rua estreita, pequena. Olhávamos para uma porta, indecisos, quando um homem trigueiro, alto, encorpado, trinta e poucos anos, cabelo curtíssimo, à escovinha, vestido com uma camisa de mangas compridas abotoada nos pulsos se aproximou maciamente. Desejou-nos uma boa tarde. Perguntei-lhe se ali era a Secretaria da Paróquia. Ele disse que não e nos apontou onde ficava. Perguntei-lhe se era padre. Confirmou com aqueles ademanes típicos, mas discretos, de seminarista, contidos por sua estrutura física maciça embora não desmesurada e nos entregou sua mão também macia para apertarmos. Padre Francisco foi gentil, delicado.

                   Na livraria da cidade perguntamos à vendedora pelas obras dos autores locais. Ela nos apontou, com certa displicência, um canto afastado de uma estante. Encontramos uma gramática em versos, que eu logo comprei, e livros e mais livros de um poeta local. O poeta praticamente inundara a livraria. Não se tratava de vários volumes de um livro de poesia. Tratava-se de vários livros de poesia a ocupar a livraria. Nada mais.

 Depois, fomos às ruas: vibrantes, febris, plenamente comerciais. Carros, motos, bicicletas... Pessoas vinham e iam rápidas, com aquele semblante típico de quem precisa chegar logo em algum lugar qualquer, para resolver algo. Não vimos pedintes, nem pastoradores de carro, nem lavadores de pára-brisa, nem deficientes físicos. Vimos uma louca, personagem folclórico, que me abordou na farmácia: “lindão, me dê um dinheiro”. Como não dar? “Ela dá sempre esse golpe em quem não é daqui” me diz a caixa da farmácia.

Raros são os passeantes. Os flâneurs. A maioria mulheres. As mulheres de Patos são belas, não bonitas. Há uma diferença entre ser bela e ser bonita. A mulher, quando é bela, desafia o tempo. Não pede emprestado à juventude aquilo que já possui. Belas, as mulheres de Patos. Suavemente arredondadas, como um ideal rafaelita amoldado à realidade anoréxica dos tempos atuais. Altivas. Ou contidas. Ou dissimuladas. Pernas longas, levemente grossas, torneadas. Narizes afilados. Belos dentes. Compuseram um contraste marcante com o bulício comercial suburbano que ocupou nossos olhos enquanto caminhávamos pelas ruas da cidade. Não haveria ruas onde não se compra e não se vende? Aparentemente não. Em qualquer lugar havia essa atividade febril, tipicamente burguesa, que pressupunha uma interação constante entre as pessoas e que se opunha à percepção do aparente distanciamento das belas mulheres de Patos.

                   “Por que Patos?”, perguntei a Virgílio Trindade, a quem seu primo homônimo Virgílio Trindade, comerciante no Mercado Central, por nós procurado por indicação de um transeunte como sendo bastante antigo na praça, reputa como grande escritor. Recebeu-nos muito bem. Tem um programa político em uma rádio importante da cidade. Magro, moreno, careca, sentado por trás de um birô anacrônico em um escritório de um só vão no centro da cidade, com sua voz característica de fumante e locutor, nos presenteou com um livro de crônicas de sua autoria, “Relíquias”. Falou-nos do programa político: “é complicado”. “Por quê?” “A todo instante a gente está falando com alguém ao telefone, ao vivo, no ar, e a criatura grita: eu voto em Lula! Já pensou?”

                                     

terça-feira, 25 de outubro de 2011

II CONGRESSO NACIONAL DO CANGAÇO E III SEMANA REGIONAL DE HISTÓRIA

Bilhete do Presidente da SBEC:

"Caros Sócios e amigos,

O II Congresso Nacional do Cangaço e III Semana Regional de História teve inicio nesta segunda feira (24).

Ultrapassamos o numero de 470 participantes entre estudantes, professores, pesquisadores, e o evento irá até a sexta feira (29).

Ainda há tempo de participar. Venha para Cajazeiras/PB e se hospede no Gravatá Flat Hotel através do site www.gravatahotel.com.br

Prestigie a SBEC e a UFCG/CFP.

Abraços,
Lemuel Rodrigues da Silva"

sábado, 15 de outubro de 2011

UM EVENTO COMUM

Miss Marple, de Agatha Christie
robertarood.wordpress.com


Honório de Medeiros


                        “Um radialista”. Assim, secamente, Antônio Gomes me identificou o morto cujo enterro passava pela esquina onde estávamos postados em Cajazeiras, Paraíba. Até que o enterro passasse por mim não lhe dera atenção. Observara, fascinado, aquela fila coleante a se arrastar molemente, ocupando todos os espaços da rua. Era sempre assim, fosse enterro, manifestação, passeata política, desfile: um fluxo constituído por pessoas diferentes, mas iguais quando em grupo. O ser humano. Esse compósito de vilania e santidade se arrastando em grupo, ou a sós, do nada para o nada. “De longe, todo mundo é normal”: terá sido Wilde, quem o disse?

                        Antônio Gomes, como eu, estava de braços cruzados olhando o enterro, mas seu olhar era sardônico. Um olhar que combinava bem com o rosto magro, de feições indefinidas, comuns. Deveria ter sessenta e poucos anos. Cabelos grisalhos, abundantes, cortados curtos, displicentemente penteados para trás. Ao observá-lo tive a sensação de que ele parecia um elemento estranho à paisagem. Não combinava com Cajazeiras, uma cidade que, como muitas outras, sendo grande para os padrões do Sertão, disso nada extrai de bom, assim como não guardou o que de bom havia de quando era pequena. Era como uma questão de foco. Ele parecia deslocado não porque estivesse no centro da cidade, e não acompanhasse o enterro, mas, sim, por que estava ali como se fosse um estrangeiro em pleno Sertão, muito embora sua roupa, dele, não dissesse nada, nem os sapatos, nem qualquer adereço, até por que não os havia, excetuando o relógio que também era muito discreto.

                        “O senhor não é daqui.” “Sou e não sou. Nasci aqui há uns sessenta anos atrás, e voltei há uns poucos dias para vender uma terra que me coube por herança.” E me perguntou o que eu fazia em Cajazeiras. Falei-lhe de minha pesquisa acerca de Massilon e que acabara de voltar de Missão Velha, no Ceará, terra onde o Cel. Isaias Arruda “reinara” na década de 20 e da qual, com seu apoio logístico, Lampião partira para invadir Mossoró. Agora já estávamos sentados numa lanchonete que colocara aquelas mesas e cadeiras de metal com imensas logomarcas de cerveja na calçada. Mesas e cadeiras sujas, evidentemente. Como não era possível tomar um café respeitável, pedíramos água mineral. “Ah, o cangaço”, disse, e perguntou: “descobriu algo em Missão Velha?”. Sim, eu havia descoberto, mas não queria falar acerca de cangaço. Será que eu conseguiria transmitir oralmente, para aquele estranho, um homem educado, percebia-se facilmente isso, minhas impressões de viagem? Será que eu conseguiria prender sua atenção durante um tempo suficiente para lhe dizer uma crônica elaborada com fragmentos de imagens e palavras? O que significaria tudo isso quando cada um fosse para seu lado e um tempo razoável tivesse passado desde então?

                        O cariri é verde, muito verde para ser Sertão, comecei. E Missão Velha parece uma cidadezinha perdida no tempo, uma Macondo. Lá, quando chegamos, fomos direto para o coração da cidade. Estacionamos. Seria dia de feira? Não, é que o pagamento da “esmola oficial do governo federal” era naquele momento. As feiras, como eram antigamente, não existem mais. Não há mais cantadores de viola, coquistas, literatura de cordel, contadores de “causos”, vendedores de drogas milagrosas, rezadeiras, adivinhos, mágicos, circos mambembes... Há tipos estranhos, é impossível não haver: uma mulher de mais de sessenta anos, horrorosamente maquiada, vestida como uma adolescente, a carne sobrando por sobre a barra da minissaia, a abraçar freneticamente uma comadre a quem aparentemente não via há muito tempo e lhe responder em cima da bucha quando ela dissera “criatura, você já está com muitos janeiros, né?; “estou, mas você não fica atrás não, olhe as pelancas, não é, mulher?” E depois dessa resposta, se virou para o lado e tangeu o marido que empurrava um carrinho de sorvete caseiro, enquanto olhava: “vai, vai, que aqui é conversa de comadres”. O sorveteiro obedeceu, mas como vingança, ao passar por mim que observava deliciado a cena, levou a mão ao lado da cabeça, e fez, com o indicador apontado para si e desenhando um círculo, o comentário final: “é tudo doida”.

                        Mestre Antônio rira do episódio das mulheres e depois comentara que, às vezes, dizia a seus amigos do Sul, quando se demorava a voltar, que ali, no Sertão, para quem soubesse ver, ouvir, e extrair as conclusões possíveis, não havia escola nem teatro iguais, e, finalizando, aludiu ao personagem de Agatha Christie, Miss Marple, personagem insulada em uma pequena cidade inglesa, a resolver crimes Inglaterra afora a partir de sua peculiar psicologia aldeã, e à frase de Tolstoi “ninguém se torna universal sem escrever acerca de sua aldeia”, para encerrar nossa rápida e estranha conversa que lhe dava razão na justa medida em que, no coração de Cajazeiras, o teatro da vida nos permitira divagar, filosoficamente, acerca da condição humana, sem que fosse necessário nada mais além de um final-de-tarde, um encontro casual, e um evento comum.                 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

E ASSIM SERÁ!

Colégio Diocesano Santa Luzia, Mossoró, Rn, 1972 - 2012: 40 ANOS.

AINDA SOMOS OS MESMOS

Da esquerda para a direita de quem olha: Fred, Paulo Maia, Hélton, eu, Fernando Negreiros, Segundo Paula, Lenilson, Anchieta, Delevan, Jânio Rêgo

Por outro ângulo, da esquerda de quem olha para a direita: Segundo Paula, Lenilson Costa, Anchieta Medeiros, Delevam Gutemberg, Jânio Rêgo, Fred Câncio, Paulo Maia, Hélton, Honório de Medeiros, e Fernando Negreiros

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

AS SOCIEDADES PRIMITIVAS NÃO TÊM O ESTADO PORQUE O RECUSAM

Pierre Clastres


Pierre Clastres

"Como sociedades completas, acabadas, adultas e não mais como embriões infrapolíticos, as sociedades primitivas não têm o Estado porque o recusam, porque recusam a divisão do corpo social em dominantes e dominados."

"ARQUEOLOGIA DA VIOLÊNCIA" (Cap. VI, A Questão da Violência nas Sociedades Primitivas)

O MELHOR DO BRASIL É O BRASILEIRO

* Por Ricardo Sobral (ricms@uol.com.br)

Ainda bem que casos que tais não se dão no Brasil, na razão direta de inexistir no seio de nossa sociedade caldo de cultura onde floresçam. De modo que sequer se pode alimentar fundado receio de que possam vir a acontecer, em face das salvaguardas cívicas que nos protegem.

Podemos negar que temos partidos políticos fortes, bem definidos ideologicamente e atuantes, durante e depois de cada eleição? Basta ver que praticamente não se tem conhecimento de notícia de corrupção no País! Depois, registra-se que o Estado Brasileiro não adota políticas públicas paternalistas. Ao contrário, ensina a pescar, não entrega o peixe de mão beijada. Somos, pois, um povo consciente e laborioso, que cumpre fiel e resignadamente a sentença divina: viverás do suor do seu próprio rosto.

Não é sem propósito que nos recusamos a receber esmolas populistas institucionalizadas e detestamos apresentações “gratuitas” de bandas de forró. Por esses motivos, a máxima romana “dei-lhes pão e circo” jamais terá serventia por aqui.

Não é à toa que nos é atribuída a destinação de País do futuro.

Outra: se, por um lado, é certo que os tipos humanos estão todos na literatura universal; por outro, não é menos certo que Machado de Assis, Mário de Andrade e Nelson Rodrigues, não adotaram o brasileiro como modelo, quando pintaram Prudêncio, Macunaíma e Peixoto com todas as letras.
 
Delicadamente tenho discordado de um nobre e dileto amigo, useiro e vezeiro no afirmar que até hoje, depois de ler praticamente toda a obra de Cascudo, não entendeu ainda a frase a ele atribuída – O melhor do Brasil é o brasileiro.

Ora, somos um povo ético, honesto, trabalhador e sábio na escolha dos nossos dirigentes. Logo, o melhor do Brasil só pode ser o brasileiro.

Duvidam? Tirem daqui os nacionais e povoem o nosso território com os de qualquer outra nação. O Brasil quebraria em um semestre, do mesmo modo que eles estão quebrando seus países lá fora. Não é difícil, pois, alcançar a profundidade da assertiva.

Outro amigo fraternal, por sua vez, tem manifestado com freqüência sua tristeza por não ter seu País sido agraciado pelo destino com a mesma sorte grande.

Relatou-me um caso lá acontecido, dando notícia de um determinado decider minores que se declarou incapaz para a continuidade de sua missão institucional, mesmo ausente justo motivo agasalhador de sua infundada pretensão. Esperneou, fez o maior alarido, pugnou até mais não poder, sempre se afirmando incapaz. Após ter negado o pleito descabido, postulou promoção para decider more, por merecimento.

Lamento – retruquei. Caso semelhante é impossível ocorrer no Brasil, repleto de revoluções e prenhe de heróis, nenhum deles de espada virgem.

domingo, 9 de outubro de 2011

CARIRI CANGAÇO 2011

A arte de Clara de Paula:

Perorando!

A arte de Bárbara Lima:


Bárbara de Medeiros e Clara de Paula: ensimesmamento aos pés de Padre Cícero.

CARIRI CANGAÇO 2011

A arte de Clara de Paula:


Meninos dançarinos de Missão Velha, Ce.


A arte de Bárbara Lima:


Meu padrinho Padre Cicero, orai por nós!


sábado, 8 de outubro de 2011

DEUS ESTÁ (TAMBÉM) NOS DETALHES

A arte de Bárbara Lima:




SOL POENTE

"Dia da minha vida!
aproxima-se a noite!
Já o teu olhar cintila
semi-cerrado,
já do teu orvalho
gotejam lágrimas,
já serena sobre mares brancos
voga a púrpura do teu amor,
a tua derradeira, trêmula felicidade"

"ditirambos de diónisos", Nietsche.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

DONA EFIGÊNIA, OU DA ARTE DE FAZER O BEM

Honório de Medeiros

Dona Efigênia pontificava naquela rua onde morei. Gorda, imensa, um pouco surda – talvez por puro cálculo – passava o dia sentada em uma cadeira de balanço na ampla sala de estar que dava para um jardim lateral e portão de ferro batido, este pintado de branco, a lhe separar do resto do mundo, em sua casa antiga, senhorial, de esquina, de frente para os fundos da Capela local. Sempre perfumada, penteada e bem vestida, ficava o dia inteiro colada a uma mesinha redonda cheia de quinquilharias na qual reinava, inconteste, o telefone e o rádio. “Prefiro o rádio”, me disse ela quando lhe perguntei qual a razão do eterno silêncio da televisão. “As pessoas de fora participam mais à vontade”.

Eu cumpria fielmente o ritual de visitá-la tantas vezes fosse a sua cidade. E tenho certeza que ela gostava de minhas visitas. Prova-o o doce de coco verde sempre disponível, quando eu avisava previamente da visita, e do qual eu gostava imensamente. Acredito até saber a razão de sua simpatia para comigo: ao contrário da grande maioria dos que a procuravam, eu não estava interessado em fofocas, ou, melhor dizendo, meu interesse era secundário, existia apenas na justa medida em que ilustraria alguma opinião sua a respeito de fatos ou pessoas, essa sim extremamente interessante porque revelava um agudo poder de observação e análise.

Pois Dona Efigênia, viúva, com pensão mais que razoável que o falecido lhe deixara, filhos dispersos pelo mundo, era uma renomada e rematada fofoqueira, na opinião de alguns. Talvez fofoqueira não fizesse jus ao que de fato ela era. Talves, não, certeza. Como uma aranha postada no centro de uma imensa teia ela recebia, analisava e devolvia informações ao longo do dia de uma imensa variedade de informantes: serviçais, comadres, afilhados, sobrinhos, primos, amigos, o carteiro e o padre – por quem tinha especial predileção, dado que o primeiro vivia batendo perna pelos cantos, e o segundo a escutar confissões – o leiteiro, as crianças da rua, os vizinhos, pessoas de outros lugares com recomendações, o rádio e o telefone.

Devo ter esquecido alguns, óbvio. Mas não esqueço sua sala de visitas quase sempre cheia e ela quase sempre em silêncio escutando até que, em determinado momento, chamava alguém para sentar em um banco baixo que ficava estrategicamente postado perto de sua cadeira de balanço e lhe cochichava algo durante alguns minutos após os quais a conversava privada era dada por encerrada.

Quando a conheci, ainda menino, supus que aquela sua atividade começasse e acabasse conforme comentavam os maledicentes. Diziam estes que tudo aquilo não passava de fofocas de viúva velha. Depois de algum tempo compreendi que ela mesma criara essa camuflagem. Era assim que queria que os outros lá fora a enxergassem! Essa camuflagem ocultava o verdadeiro propósito de sua atividade diária. Através da colheita de informações ela ficava sabendo o que de errado havia acontecido no seu entorno: alguma gravidez indesejada, uma demissão inesperada, uma prestação de colégio atrasada, uma virgindade perdida, um exame médico além do alcance financeiro de quem dele estava precisando, uma traição amorosa que se consumara, uma despensa desabastecida, uma violência doméstica cometida, um recém-nascido abandonado...

Então Dona Efigênia entrava em ação: chamava um, chamava outro, cobrava antigos favores, pedia novos, recebia dinheiro de quem lhe devia e repassava para quem estivesse precisando, a perder de vista, dava carões, espalhava conselhos, apontava caminhos, indicava obstáculos, aproximava pessoas, afastava outras, mandava fazer, mandava desmanchar, realizando um metódico, complexo e minucioso bordado social.

Assim encaminhava os seus dias, exceto aos domingos, reservados a Deus e sua família, quando Aldenora, sua escudeira-mor, estava autorizada a dizer, aos incautos que a procurassem, que “ela está recolhida e só recebe a partir de segunda-feira”.

Dona Efigênia, há muito, descansa em paz e, se existe Céu, nos braços do Senhor. Seu enterro foi algo inesquecível. Muitas flores, muita gente, muitas lágrimas de saudade e gratidão. Dela ficou, em mim, a lembrança de alguém extremamente inteligente. De alguém extremamente bom, no antigo sentido do termo.

Ao longo da vida me peguei, várias vezes, lembrando de alguma observação sua. Invariavelmente paro, componho em minha mente o quadro de sua presença sentada na cadeira de balanço, naquela sala de estar hoje silenciosa, pego no seu breviário que eu herdei, me ponho a lê-lo e é essa minha oração saudosa para ela.

"O GENE EGOISTA"

Post Scriptum ao texto "O SISTEMA JOGA SUJO":

"Penso que um novo tipo de replicador surgiu recentemente neste mesmo planeta. Está bem diante de nós. Está ainda na sua infância, flutuando ao sabor da corrente no seu caldo primordial, porém já está alcançando uma mudança evolutiva a uma velocidade de deixar o velho gene, ofegante, muito para trás.
O novo caldo é o caldo da cultura humana. Precisamos de um nome para o novo replicador, um nome que transmita a idéia de uma unidade de transmissão cultural, ou uma unidade de imitação.

 (...) Espero que meus amigos classicistas me perdoem se abreviar mimeme para meme.

Exemplos de memes são melodias, ideías, slogans, as modas no vestuário, as maneiras de fazer potes ou construir arcos. Tal como os genes se propagam no pool genético saltando de corpo para corpo através dos espermatozóides ou dos óvulos, os memes também se propagam no pool de memes saltando de cérebro para cérebro através de um processo que, num sentido amplo, pode ser chamado de imitação. Se um cientista ouve ou lê sobre uma boa idéia, transmite-a aos seus colegas e alunos. Ele a menciona nos seus artigos e palestras. Se a idéia pegar, pode-se dizer que ela propaga a si mesma, espalhando-se de cérebro para cérebro."

"O GENE EGOISTA";  Capítulo 11: "Memes: os novos replicadores"; Richard DAWKINS.


terça-feira, 4 de outubro de 2011

REUNIÃO DO GRUPO DE ESTUDOS DO CANGAÇO, CORONELISMO E MISTICISMO DE NATAL, RN

Devido à impossibilidade de comparecimento de alguns membros do Grupo de Estudo do Cangaço, Coronelismo e Misticismo de Natal, a reunião prevista para hoje, 4 de outubro fica adiada.

Entraremos em contato tão logo seja marcada a próxima reunião.

A Coordenação.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"O INIMIGO DO POVO"

Henrik Ibsen


Post Scriptum ao texto "O SISTEMA JOGA SUJO":

"PREFEITO - Deus me livre! Tenho horror a brigas ou discussões com quem quer que seja. Mas exijo que tudo se resolva segundo os regulamentos e passe pela autoridade legitimamente constituída para esse fim. Nada de operações clandestinas!

DR. STOCKMANN - Tenho eu por acaso o hábito de usar caminhos escusos ou clandestinos?

PREFEITO - Não digo que você tenha feito isso. Mas sei que tem a tentação permanente de fazer as coisas por sua própria conta. E, numa sociedade bem organizada, isso é indamissível. As iniciativas particulares devem se submeter, custe o que custar, ao interesse geral, ou melhor, às autoridades encarregadas de zelar pelo bem geral."

"UM INIMIGO DO POVO", Henrik Ibsen, Primeiro Ato. 

sábado, 1 de outubro de 2011

O SISTEMA JOGA SUJO



Honorio de Medeiros


                        O pior da luta contra o Sistema é que não conseguimos individualizar o adversário. Não conseguimos identificar o responsável pela nossa ira. Não conseguimos olhá-lo no olho e lhe dizer o que ele merece escutar.

                        Lutamos contra algo amorfo, sem consistência definida, sem limites delineados, que não oferece resistência imediata e clara. Há pequenos recuos ante nossa indignação, que são apresentados pelos tentáculos do sistema – os seus operadores – e uma imediata, homogênea e difusa contrapressão como resposta ao incômodo que causamos e nós terminamos sendo manipulados e conduzidos, lenta e inexoravelmente, para o lugar que nos foi reservado.

                        Muito abstrato? Exemplifico.

Em uma instituição de ensino superior deste imenso e desgovernado País um velho e experiente professor de História das Idéias Políticas percebeu, em certo momento de desconforto profissional alusivo à “como as coisas estavam acontecendo” no seu Departamento, como quem acorda abruptamente e a realidade penetra sem rodeios sua percepção, um insidioso e ainda opaco processo de mudança nos paradigmas implícitos que governavam a Instituição. Algo sutil, mas persistente.

O velho professor já passara por algo semelhante, em sua longa carreira universitária. Sentiu que a luta era vã, sua resistência inócua, contra o processo que se instalava lentamente, mas decidiu lutar, resistir, para documentar, mesmo que somente para si, tudo quanto estava acontecendo.

“Quando tudo havia começado?”, se perguntou. “Ora, como saber?” Deixou essa questão para trás e tratou de fazer um registro e análise “positivista”, sem levar em consideração possíveis causas estruturalistas, materialistas, marxista-leninistas, do fenômeno em si. Faria o registro, pura e simplesmente dos fatos e os interpretaria a partir da própria lógica do sistema.

Recordou que longe, lá no começo, sua Disciplina, que previa 80 horas/aulas por semestre, fora reduzida para 60 horas/aula. Reduziram, também, para 60 horas/aula a Disciplina co-irmã História das Idéias Sociais. Depois, extinguiram História das Idéias Sociais e a História das Idéias Políticas passou a ser História das Idéias Sócio-Políticas, com as mesmas 60 horas/aula. De uma penada só o Sistema se livrou de vários professores.

Resolveu protestar, então. O Chefe do Departamento o escutou atentamente e se prontificou a levar sua Exposição de Motivos à próxima reunião do Conselho Diretor. Algum tempo depois, sem receber resposta do Chefe, indagou dele acerca da decisão do Conselho. Este lhe comunicou que o assunto estava despertando o devido interesse e que, inclusive, tinha sido encaminhado para a Comissão de Análise, uma instância superior, restando apenas aguardar e ter paciência.

Dias depois o velho professor recebeu formalmente, por intermédio de um Memorando, a notícia da desativação da sua linha de pesquisa. Novo protesto. Nova atitude do dirigente de encaminhar, para escalões superiores, sua queixa. Nova espera. E, como não poderia deixar de ser, nova retaliação: as decisões acerca da rotina futura acerca das relações entre professores e alunos de sua disciplina foram tomadas sem seu conhecimento, sem sua participação.

E o velho professor, no atual estado-de-coisas, ao perceber o esvaziamento profissional para o qual o encaminha o Sistema, passou a duvidar, inclusive, de si mesmo: “será que tudo isso não é o resultado da aplicação dos meios que são usados para afastar aqueles que, como eu, já estão próximos da aposentadoria, abrindo espaço para o “sangue novo” dos “inocentes úteis” que assumiam os paradigmas que lhes eram impostos com questionamentos meramente formais? Lembrou-se de uma antiga tia, professora universitária assim como ele, que se queixava amargamente, pouco tempo antes de sua aposentadoria, de como estava sendo deixada, deliberadamente, para trás em tudo que dizia respeito ao Departamento no qual estava lotada.

Como também se perguntou, muitas vezes, acerca de como o Sistema agia com outras pessoas, individualmente demarcadas, que eram seus opositores, por essa ou aquela circunstância pessoal. Lembrou-se de um amigo que encetara uma guerra solitária e inútil contra o Tribunal de Contas do seu Estado; outro às voltas com o Ministério Público Estadual; outro enredado nas malhas do Tribunal de Justiça; outro sendo massacrado, lentamente, na burocracia da Prefeitura Municipal. Por fim, outro, a quem a posição do seu Sindicato, oportunista e alienada, condenava ao isolamento. Todos vítimas, todos impotentes, todos derrotados.

“Que fazer”, perguntou-se muitas e muitas vezes. Tentar ser um predador, mesmo com os dentes gastos? Imaginar que a experiência compensa o passar do tempo e ir á luta? Ou deixar que tudo passe, sobrevivendo no dia-a-dia, sem se preocupar com o amanhã, agindo como a grande maioria age, engolindo o sapo nosso de cada hora e seguindo em frente? “Não há resposta”, concluiu desanimado. “O Sistema vence sempre”. “É mesmo seguir em frente.” “Caminhante, o caminho se faz ao caminhar”, consolava-se, enquanto a moenda prosseguia, implacável, até que nem o pó de seus ossos existisse mais. Nem o de todos os que viessem pela frente, meras peças de reposição.

Pois a idéia precede a ação, não há ação no vazio da mente, e assim emerge o sistema: uma idéia mutante, uma idéia fora do sistema anterior, fora do padrão, uma idéia que é um vírus em busca de um ambiente fértil no qual se replique, se desenvolva. Um “meme”.

Quando o primeiro ser humano cercou uma área de terra e afirmou que ela lhe pertencia, eis que surge uma idéia-mutante. Uma vez tendo surgido, e sobrevivido, atraiu outras idéias que puderam a ela se conectar, a mutação funcionando como atrator, ensejando o surgimento de uma rede. A rede é o Sistema. O Sistema é idéias e homens. O Sistema passa a se expandir na medida em que supera os obstáculos à sua expansão. Assim foi com o rock; assim foi com o futebol; assim foi com o protestantismo; assim foi, no Direito, com o Positivismo; assim foi com o cálculo integral.

Sistemas destroem Sistemas. O Coronelismo se foi; o Feudalismo se foi; o Cangaço se foi; Roma se foi; todos eles Sistemas que entraram em colapso.

Tudo há de ir, um dia. Enquanto isso, na moenda da vida, homens e idéias são triturados.

ELIANA CALMON CONTRA OS TOGADOS IMPUNES

Eliana Calmon


Publicado em 30/09/11 às 11h16 em http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/

A corregedora nacional de Justiça Eliana Calmon, baiana arretada que esta semana arrostou a classe dos "bandidos togados", já não está sozinha na sua luta contra a impunidade dos magistrados que, em benefício próprio, desrespeitam as leis no lugar de zelar pelo seu cumprimento.
A boa notícia foi publicada na coluna de Mônica Bergamo desta sexta-feira:
"Racha no CNJ (Conselho Nacional de Justiça): seis de seus 15 integrantes se arrependeram de ter endossado às pressas a nota divulgada pelo presidente do colegiado e do STF (Supremo Tribunal Federal), Cezar Peluso, contra a corregedora Eliana Calmon. E devem divulgar nova manifestação para esclarecer seu posicionamento.
De acordo com vários relatos, Peluso estava muito nervoso com as declarações de Eliana Calmon de que há " bandidos escondidos atrás da toga". Chegou a bater as mãos na mesa ao discutir a nota. Por isso, ela teria sido aprovada "de afogadilho" pelos demais conselheiros".
O que tanto irritou o valente presidente do STJ e do CNJ, egresso do Tribunal de Justiça de São Paulo, o mais corporativista reduto do Judiciário brasileiro?
Em resumo, o que Peluso e seus aliados indignados com Eliana Calmon querem é tirar o poder da corregedoria do CNJ para investigar os crimes praticados por juízes, delegando a tarefa aos tribunais regionais, onde eles seriam julgados por seus pares, no cafofo do compadrio que garante a impunidade.
Peluso deve ter ficado particularmente incomodado com uma comparação feita pela corregedora, quando ela diz que "o Tribunal de Justiça de São Paulo só vai se deixar ser investigado no dia em que o Sargento Garcia prender o Zorro".
Pois é isso mesmo, como sabem todos os que não entenderam as declarações de Eliana Calmon como uma acusação generalizada à Justiça, mas apenas uma constatação sobre os abusos e privilégios de uma casta de supertogados, que se acham acima do bem e do mal.
Os donos do poder do Judiciário não admitem qualquer controle _ nem externo, nem interno. Julgam-se inimputáveis, como as crianças, os idosos e os índios. Dos 33 juízes punidos pelo Conselho Nacional de Justiça, desde a sua criação, em 2005, o Supremo Tribunal Federal já concedeu liminares suspendendo as penas de 15 deles.
É por isso que cada vez mais gente acredita que no Brasil só vai para a cadeia quem não tem dinheiro para contratar um bom advogado. Neste momento, 35 desembargadores estão sendo investigados pela corregedoria do CNJ, mas de que adianta o bravo trabalho de Eliana Calmon se depois o STF vai lá e concede liminares tornando todos inocentes?
O trabalho de Eliana Calmon é em defesa da dignidade e da credibilidade do Judiciário, e não contra os juízes honestos, que trabalham pesado e são a maioria.
"É coisa notória que os atuais instrumentos orgânicos de controle ético-disciplinar dos juízes, porque praticamente circunscritos às corregedorias estaduais, não são de todo eficientes, sobretudo nos graus superiores de jurisdição".
A frase acima não é de Eliana Calmon, como pode parecer, mas do próprio Cezar Peluso, em 2005, quando ele foi o relator do processo no STF movido pela mesma AMB (Associação Brasileira de Magistrados), que agora novamente quer reduzir o poder de investigação do CNJ.
O que aconteceu para justificar esta guinada? Aconteceu que, sob o comando de Eliana Calmon, a corregedoria do Conselho Nacional de Justiça está realmente cumprindo seu papel e incomodando os togados da AMB. Sob o pretexto de defender "a independência do Poder Judiciário", o que eles querem na verdade é a impunidade garantida pelo corporativismo.
Eliana Calmon que se cuide. Basta ver o que aconteceu com a juíza carioca Patrícia Acioli, que combatia a corrupção dos fardados do andar de cima da PM do Rio de Janeiro. Levar a sua missão com honestidade às últimas consequências pode ser perigoso.
Na próxima semana, teremos todos a oportunidade de saber mais sobre o que anda acontecendo nos bastidores dos nossos tribunais. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado convidou para depor a corregedora Eliana Calmon e o presidente do CNJ e do STF, Cezar Peluso. Eliana já avisou que vai aceitar o convite.

ACERCA DE "INTELIGENTES E SABIDOS", DO PE. ZÉ LUIS

Recebi do Professor João da Mata Costa o seguiste "post":

"Caro amigo Medeiros, o meu abraço fraterno.

Tentei postar um comentário no seu blog mas não consegui.

A interessante cronica postada no seu blog sobre os inteligente e sabidos , foi publicada no livro
" Apesar de Tudo " ( pp 105- 107) de José Luiz Silva ( Pe Zé Luiz)   Eureka 1983 Natal - RN .

Seria interessante que voce colocasse essa referencia para a posteridade.

Um forte abarço do amigo,

João da Mata Costa"

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

OUTRA AÇÃO GENIAL

 François Silvestre 

         Recebi hoje, do amigo e oficial de justiça Darlan Moura, mais uma citação. Da Quarta Vara Criminal, via Carta Precatória.
         Como já disse, toda Ação contra mim tornarei pública, antes da manchete de picaretagem. Não quero segredo de justiça. Só justiça.
         Sabe qual é o crime desta Ação? Deixei de responder ofícios do MP. Processo criminal. Aliás, em pesquisa recente, apenas sete por cento dos inquéritos por homicídios chegam a termo no Estado. Tempo de sobra para o delírio jurídico. E gente morrendo feito rato, em 93 por cento de inquéritos ao vento.
 Não respondi, segundo a denúncia, quatro ofícios em 2005. Para eu explicar por que não criava rampas de acesso em quatro edificações históricas de Natal. Exigindo que eu praticasse uma ilegalidade.
         Parece até brincadeira. Atravessou a fronteira do ridículo. Enquanto as ruas são propriedade da bandidagem e os cidadãos enjaulados.
         Sou um “criminoso” fácil de apanhar. Lotado em Pau dos Ferros, defendo a Fazenda Pública em dez Comarcas. Patroa de juízes, procuradores, promotores. Roubada por corruptos e esbanjada por holofotes. Percorro as dez Comarcas no meu carro particular. O Estado não me paga um copo de gasolina.
         Restaurei o Palácio da Cultura, que nunca mereceu a preocupação do MP. Recuperei o Forte, com acesso e estacionamento, rebocos e retelhamento. Iluminei-o de forma exuberantemente bela. Com material de primeira. Mas não poderia criar rampas de acesso para deficientes e idosos, por impedimento legal.  
         Desafio o promotor a descrever, por dentro, o Museu Café Filho. Nunca foi lá. Nunca vi um desses promotores prestigiando ação cultural do Estado.
         Todas as edificações objetos da determinação “genial” estão sob legislação vigente de Tombamento do Patrimônio Cultural e Artístico. Basta ver a lei.  
         Se eu fizesse isso seria processado pela outra parte do MP. A que cuida da legalidade do patrimônio ou a que cuida das licitações. Como a FJA possui uma Coordenação de Obras; com Engenheiros, arquitetos e mestres de obras, eu faria tudo com dispensa de licitação. Fiz muita coisa assim. E fui processado noutras ações pelo que fiz. Esse agora é um processo pelo que não fiz. Nunca se fez rampa no Forte.  Nunca se fará. Ele é mais antigo do que Natal.  Quem quer ser levado a sério precisa agir com seriedade. Só faltou um ofício exigindo que eu fizesse um surdo de nascença ouvir o concerto da Orquestra.
         A molecada tá fazendo vestibular pra Direito a torto e a direito. Vocação jurídica? Só sendo! Olho nos salários e vantagens. Grana gorda!
         Temos segurança pública plena. Saúde pública exemplar. Educação pública de fazer inveja à Suécia. Promotores serenos e longe dos holofotes. Verdade? Ou isso é fantasia da ilha de Sancho Pança? Té mais.

SAUDADES DO CARIRI CANGAÇO

João e Severo


João de Souza Lima

o Cariri Cangaço é algo dificil de se explicar, para quem participa é duro encontrar palavras para expor a satisfação de ter estado nesse encontro ou talvez as fotografias, como provas incontestes,  consigam  compor um pouco desse quadro.

 O evento é na realidade um encontro de amigos, pessoas que realizam suas pesquisas, suas buscas e suas descobertas e no exato momento do Cariri Cangaço explanam suas impressões, discutem seus erros e acertos, ajustam suas dúvidas, defendem suas razões.

As vezes as discussões são acirradas, ásperas, uma quase batalha "NAS CAATINGAS DA PESQUISA HISTÓRICA", em cujas plagas o guerreiro transfigura-se em um Mandacarú imponente, brava árvore nordestina que não se abala ante as intempéries que o cercam e as vezes parece o caboclo sertanejo de braços voltados aos Céus clamando a Deus um pouco de água.

O Cariri Cangaço é a expressão maior da arte diversificada dos fatos históricos do meu sertão nordestino e ele está nas pequenas impressões que colhemos: está no sorriso da Nely, na educação carinhosa de Honório de Medeiros, no amor de Manoel Severo, na visão divina de Marcos Passos e seu fiel escudeiro Felipe Passos, na fidelidade de Ângelo Osmiro, na longa caminhada de Antonio Amaury e na epressão ajustada de Alcino Alves Costa, na voz inconfundível de Barros Alves, na gentileza de Geraldo Ferraz,  na felicidade de Ivanildo Silveira, no silêncio contagiante de Kiko Monteiro, na recepção acertada de José Cícero, na inteligência de Renato Casimiro, na presença de Narciso, no barulho eterno de Paulo Gastão e seu discipulo Vilela, na elegância de Pedro Luis, na companhia de Tomás e Afrânio Cisne, na amizade de Reclus, na sensibilidade de Wescley, na educação de Bosco André, nas letras de Pereirinha, no amor de Juliana e Júlio Schiara, no silêncio do Bonessi, nas imagens de Aderbal, nas imagens eternas de Ricardo Alburqueque, na fala de sabino Basseti, nas bombas desativadas de nosso BIN LADEN, na saliência de Lívio, na presença contagiante de  Wilson Seraine, no conhecimento de Múcio Procópio, na participação de Archimedes, na sombra de Aninha, na perseverança do Comendador, na participação de Jairo, Cacau e Inácio Loiola e no pelotão pauloafonsino Gilmar, Rubinho, Alcivandes, Voldi e  Luiz.

O Cariri Cangaço é a expressão maior na discussão da arte Nordestina, é a lembrança do passado como inclusão social no conhecimento do presente e na divulgação pontual desses fatos relevantes que fazem parte da historiografia brasileira.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

NO PÈRE LACHAISE



Honório de Medeiros

Père Lachaise. Tarde de frio, vento, e neblina. Tudo cinza, como convém a um cemitério. Ninguém à vista, exceto duas mulheres que se dirigem a mim e me perguntam se lhes posso informar onde está sepultado Azzis, “Le philosophe Azzis”. Peço-lhes que me perguntem em inglês. “Não, desculpem-me, não sei”, lhes respondo, enquanto me censuro por minha ignorância. Elas se vão. Cochicham. Que dizem entre si? Admiro-lhes o talhe discreto, a beleza madura, o andar elegante, até mesmo os guarda-chuvas, empunhados como complemento, não como proteção.


Tento decifrar o mapa do cemitério para me pôr em marcha batida na busca dos meus mortos queridos. Começo. É um alumbramento. Paro aqui, paro ali, paro acolá. Em cada canto, a história. Túmulos de grandes homens ou mulheres disputam espaço com anônimos. Enterneço-me com uma lápide solitária pousada no chão e rodeada de flores murchas. Foi recente o sepultamento, percebe-se. Em um canto, solitário, um ursinho de pelúcia cumpre a dura tarefa de velar o morto e lhe render as últimas homenagens que alguém – uma mulher? - lhe destinou. Fotografo.


Sigo em frente. Ofereço as flores que carrego comigo a Honoré de Balzac. Rezo, não, converso com ele. Pergunto-lhe por Alexandre Dumas e lhe digo de minhas manhãs, tardes e noites, quando ainda menino, quase adolescente, preenchidas pela genialidade de ambos. Vou mais além, homenageio Oscar Wilde, e enquanto começo a prosseguir, me assusto com alguém que surge de repente, como uma aparição, ao meu lado, e cruzando o braço esquerdo sobre o peito, eleva o direito à face escondendo-a com a mão e se coloca em um isolamento absoluto em relação ao resto do mundo. Quais seriam suas orações?


A tarde cai lentamente. Breve anoitece. Tenho que ir, embora não deseje. O instante é mágico. Olho para todos os lados e não vejo ninguém. Sento em um banco às margens de uma das vias principais do Pére Lachaise, protegido por uma árvore frondosa, e me lanço em uma divagação sem nexo, constituída de fragmentos do passado, na qual estou em plena madrugada, deitado de costas e olhando alternadamente para a torre da igreja por trás de mim – a Igreja de São Vicente, em Mossoró? - e para as estrelas logo acima, enquanto meus amigos conversam ao lado, e estou também em Paris, olhando aquele céu cor de chumbo, molhado, sem que ninguém dê conta. Lá, eu sou adolescente. Aqui, adulto. Em ambas as situações uma angústia metafísica por não conseguir entender tudo que me cerca, tudo que me envolve, tudo que eu sou.


Vou embora. Os passos ressoam no silêncio das alamedas. Aproximo-me da entrada. Cumprimento a guarda, que responde mecanicamente. Chego à rua. A Paris cheia de bulício vem ao meu encontro. Paro ligeiramente atordoado. Sigo, então, enquanto tento guardar as cores, os cheiros, as sensações, os fatos. O cemitério fica para trás. É noite e os vivos passam, ligeiros, enquanto os mortos dormem.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

REUNIÃO DO GRUPO DE ESTUDO DO CANGAÇO, CORONELISMO E MISTICISMO DE NATAL

ATENÇÃO!

PRÓXIMA REUNIÃO DO GRUPO DE ESTUDO DO CANGAÇO, CORONELISMO E MISTICISMO DE NATAL SERÁ NO DIA 4 DE OUTUBRO, ÀS 19:00 HORAS, NA ACADEMIA DE POLÍCIA, NA ALEXANDRINO DE ALENCAR.

QUALQUER INFORMAÇÃO PELO E-MAIL HONORIODEMEDEIROS@GMAIL.COM