sábado, 21 de maio de 2011

MARCOS PINTO: JERÔNIMO ROSADO E FELIPE GUERRA PARTICIPARAM DO COMPLÔ PARA O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ!

Historiador Marcos Pinto

O historiador Marcos Pinto, autor do respeitado "Datas e Notas para a Historia de Apody", concedeu esta entrevista ao www.honoriodemedeiros.blogspot.com Confiram abaixo:

Honório: vc é defensor da teoria da participação direta, embora oculta, de Jerônimo Rosado nas articulações para o ataque de Lampião à Mossoró. Como isso aconteceu?

Marcos: Cresci ouvindo  meu  avô  paterno  ARISTIDES  FERREIRA  PINTO (18.04.1907 / 19.09.1975)  narrar, de forma  minuciosa, no  alpendre  de  sua  fazenda, a  saga do seu  irmão  Cel. FRANCISCO  FERREIRA  PINTO (17.04.1895 / 02.05.1934), sempre  relatando  trechos da  carta  escrita  pelo  mesmo, e  enviada  para o  seu  parente  RODOLFO  FERNANDES, por  emissário  especial, após o  célebre  ataque à  Apodi por  uma  parte  do bando  do  famigerado  Lampião, comandados  pelo  célebre  cangaceiro  Massilon  Benevides, fato ocorrido  à  10 de Maio  de  1927.

Honório: em que vc se fundamenta para defender essa teoria? 

Marcos: Lembro-me que o meu  avô  fez  o  relato sempre  observando    ter  ouvido  inúmeras  vezes  do seu  perseguido  irmão, que  dentre  o intrincado  de  particularidades  da  missiva  informando  o  Rodolfo, destacava:

            -    Que fora informado por pessoa  de  acentuada  estima  e  confiança, de que fora  armado  um  complô  com fito  único  de  exterminá-los  fisicamente, engendrado  pelo  quarteto   sinistro  composta  por  Jerônimo  Rosado, Felipe  Guerra,  seu  cunhado Tilon Gurgel, que   por sua  vez  arregimentou  a  participação  do  seu genro  Décio  Holanda; 

            -     O alerta a    Rodolfo  para  a  necessidade  e    cuidados  de  chefe  de  estado em    arregimentar  pessoas de  sua mais  íntima  amizade  e  confiança, de  preferência  parentes;

            -     Que o complô  tinha  como  objetivo  abrir  lacunas  nos  executivos de  Apodi  e  Mossoró, proporcionando  a  assunção de Tilon  Gurgel  em  Apodi, e  o  retorno  de  Jerônimo  Rosado ao  comando  do  executivo  mossoroense, na  Presidência da Intendência  municipal (Equivalente ao de Prefeito) que    ocupara  no  período  1917-1919, tendo  como  Vice-Presidente da  Intendência (equivalente ao cargo de Vice-Prefeito) o  Dr. Antonio  Soares  Júnior, genro  de  Felipe  Guerra;


Honório: é sabido de sua anterior e forte ligação com Vingt-Un Rosado. Seu afastamento dele se deveu à sua teoria acerca da participação de Jerônimo Rosado no ataque de Lampião a Mossoró?

Marcos: Antes de adentrar na resposta, faço a  observação  de  que  o  grande  e  profícuo  historiador VINGT-UN  ROSADO  enfatizou, em um dos  seus  livros  em  que  aborda  a  atuação  de  seu  irmão  Dix-Sept  como  governador  do  RN, a  importância  do mesmo ter  ratificado  o  intrínseco  vínculo  de  amizade  existente  entre  seu  pai (Jerônimo  Rosado) e  o  Dr. Felipe  Guerra,com a  nomeação  do  Dr.  OTO  GUERRA  para  o  pomposo  cargo  de  Procurador  Geral  do  Estado.

                Acredito que o  sutil  afastamento  do  VINGT-UN  em  relação  a  minha  pessoa  dera-se  em  decorrência  de um  artigo que escrevi  em  um  jornal  de  Mossoró, com  o  sugestivo  título  "FORJARAM  FATOS  NA  HISTÓRIA DE  MOSSORÓ"  em que  desmitifiquei   fatos  supostamente históricos  elencados  por  VINGT-UN  sobre  o  "MOTIM  DAS  MULHERES"  e  sob  o  verdadeiro  motivo  que fez  com  que  o  então  governador  DIX-SEPT  ROSADO  encetasse  a  viagem  ao  Rio de Janeiro, então Capital  da  República, ou seja, que a  viagem  dera-se  em atendimento  a  um telegrama  enviado  pelo  Presidente  Getúlio  Vargas, que  pretendia  aparar  arestas existentes entre  DIX-SEPT  e  o  CAFÉ  FILHO, então  Vice-Presidente  da  república.  Ressalte-se que o Dr. VINGT-UN nunca deixou de  saudar-me  quando  nos  encontrávamos.  Em que cofre estará escondida a carta do Cel. Francisco Pinto? Terá sido incinerada pelo Dr. Aldo  Fernandes, genro  de  Jerônimo  Rosado ?  Por que deram  sumiço  a  essa  prova, que  paira  apenas como uma  referência  metafórica  a  um segredo ?

Honório: há, em sua opinião, alguma relação entre o ataque a Apodi, feito por Massilon, e o ataque a Mossoró, no qual esse cangaceiro chefiava um dos subgrupos de Lampião?

Os interesses políticos e  pessoais  que  uniam  JERÔNIMO  ROSADO, FELIPE GUERRA  e  seu  cunhado  TILON GURGEL, somado  à  intrínseca  participação  do seu genro Décio  Holanda, conduz  à  certeza  de  que havia  um  consórcio em confidências  íntimas  e  profundas. Delas se poderá até deduzir  que, nos  episódios  do  10 de Maio  de  1927  e  de  13 de Junho  do mesmo  ano, Jerônimo  e  Felipe  Guerra  atuaram  como  espécies  de   mentores  com  acentuadas  ascendências. As perspectivas de sucesso das nefastas empreitadas alegravam perversamente os seus espíritos.  Em sentido adverso a eles, os desígnios divinos anularam tamanha virulência em matéria de inveja  e  cobiça. Nuances que anularam seus princípios de homens públicos e anulam suas individualidades.  Foram pródigos em protagonizarem distorções de caráter. A ânsia pelo poder fez com que perdessem inteiramente o contato  com  a  realidade.

Honório vc está escrevendo algum livro, atualmente? 

Marcos:      Sim, estou em fase de conclusão  trabalho  de  cunho  histórico/genealógico  com  o  título  "SUBSÍDIOS  PARA  A  HISTÓRIA           FAMÍLIAS  APODIENSES".

sexta-feira, 20 de maio de 2011

ALUÍSIO LACERDA E A TAL DA PARCELA AUTÔNOMA DE EQUIVALÊNCIA (PAE)

"Boa tarde, comedores de caranguejo uçá. Eu vendo.

Na minha coluna PONTEIO, edição desta sexta-feira, 20, registrei que o Conselho de Desenvolvimento do Estado havia negado acesso a algumas atas, sempre disponíveis na página da Seplan na intenet. Coincidência ou não, foi liberado o acesso há poucos instantes. Vejam o que foi aprovado na 1.335ª Reunião Ordinária do CDE:

O Conselho de Desenvolvimento do Estado aprovou o Processo nº 87622/2011 - PGE; Interessado: Procuradoria Geral do Estado; Espécie: Crédito suplementar (remanejando recursos de diversas dotações orçamentárias); Objeto: Pagamento da Parcela Autônoma de Equivalência (PAE), no valor de R$ 903.832,00, da Fonte 100 - Recursos Ordinários; Decisão: O Conselho decidiu aprovar a matéria objeto do referido processo. O Procurador-Geral do Estado absteve-se do voto por suspeição.

Traduzinho: o PAE também é uma mãe para os procuradores do Estado. (rsrs)
P.S - No meu caso só resta a canção popular: "...os bichinhos estão criados/ satisfiz o meu desejo/ eu podia descansar/ mas continuo vendendo caranguejo"."

POLÍTICA

Sir Karl Raimund Popper

"O que necessitamos, o que queremos, é moralizar a política, e, não, politizar a moral".

CARGOS EM COMISSÃO


Honório de Medeiros

“Cargos em Comissão” são aqueles, na estrutura administrativa do Estado, que devem ser preenchidos de acordo com um perfil técnico condizente com a necessidade da gestão pública.

 A filosofia é a seguinte: quando há uma mudança no Poder, é preciso implantar um novo plano de Governo, e, para que isso seja possível, o administrador deve dispor de cargos a serem preenchidos por pessoas que sejam de sua confiança e disponham de um perfil técnico apropriado para os programas e projetos que serão implementados.

É assim que funciona? Não. Os políticos usam os cargos em comissão como moeda de troca ou pagamento por favores prestados durante o período eleitoral.

 Evidentemente há exceções, mas são raríssimas. E é óbvio que alguns cargos, dada a necessidade de a gestão não naufragar por completo, realmente são entregues a técnicos reconhecidamente competentes, que se tornam responsáveis por conduzir o navio – os “carregadores de piano”.

Mas não há a razão para existirem tais cargos. Isso por que, tomando como exemplo o Rio Grande do Norte, existe uma imensa massa de servidores públicos – em torno de 100.000 – que pode executar qualquer atribuição no âmbito da gestão pública, desde ser “secretário de Estado” até “auxiliar de serviços gerais”. Aliás, no Rio Grande do Norte, a presença de “auxiliares de serviços gerais” que estão em desvio de função, fazendo aquilo para o qual não foram concursados, vez que os comissionados não conseguem dar conta do recado, é imensa.

Se as políticas públicas, os programas e os projetos estão entregues nas mãos de comissionados, toda vez que há uma mudança política, tudo tem que começar novamente.

É exatamente assim que ocorre, financiado pelo dinheiro do contribuinte: chega um novo “secretário de Estado”, nomeiam-se os “fulanos” para os cargos em comissão, eles assumem sem qualquer preparo e experiência a responsabilidade da gestão e lá se vão aprender, criar e executar políticas públicas, programas e projetos que serão totalmente deixados de lado pelo próximo ocupante da cadeira. E tome torrar dinheiro do contribuinte!

Não há qualquer justificativa sensata para a existência de cargos em comissão. E, como não temos continuidade na prestação do serviço público, bem como servidores concursados, efetivos, treinados, bem pagos e experientes, à frente das demandas sociais, padeceremos ainda muito tempo até que nós, eleitores, sejamos capazes de votar em parlamentares que sepultem, de vez, essa excrescência do serviço público chamado “cargo em comissão”.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

ESTADO SE PREPARA PARA PAGAR PARCELA AUTÔNOMA DE EQUIVALÊNCIA AOS PROCURADORES DO ESTADO

RIO GRANDE DO NORTE 
CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO 
1335ª REUNIÃO ORDINÁRIA 
PAUTA 
LOCAL: Secretaria de Estado do Planejamento e das Finanças 
DATA: 10/05/2011 
HORÁRIO: 09:00 
I. ORDEM DO DIA 
DECISÃO 
19 - Processo Nº 87622/2011 PGE 
Órgão: Procuradoria Geral do Estado 
Espécie: Crédito suplementar (remanejando recursos de diversas dotações orçamentárias). 
Objeto: Pagamento da Parcela Autônoma de Equivalência. 
Modalidade: Crédito Suplementar 
Valor: 903.832,00 100 - Recursos Ordinários

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A VEJA DIZ O QUE É "PARCELA AUTÔNOMA DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL"

Leia em http://www.veja.com.br/, 1º de maio de 2000, edição 1.673:

"Eles moram,
você paga.

Confira a luxuosa saga destes brasileiros que ganham bem, têm imóvel próprio ou funcional, são donos de mansões ou impérios imobiliários – e recebem auxílio-moradia.

Por Lourenço Flores e Márcio Pacelli.

Em Brasília, a Câmara dos Deputados não diz quantos parlamentares recebem o auxílio-moradia, um benefício de 3.000 reais mensais para pagar o aluguel. Informa que são "uns 300", mas guarda segredo do número exato e da lista dos beneficiados. Em São Paulo, 1.600 promotores e procuradores também recebem a ajuda, mas a chefia do Ministério Público se recusa a dizer o valor. Em Curitiba, os 35 desembargadores do Tribunal de Justiça decidiram, há quatro meses, autopresentear-se com 2.600 reais mensais de auxílio-moradia – retroativo a fevereiro. Para tomar essa decisão, reuniram-se em sessão secreta, cuja ata não pode ser divulgada. Quando o tema é esse tipo de subsídio, ouve-se o mesmíssimo silêncio em diversos pontos do país. A Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul, onde 24 deputados recebem o benefício, não fala do assunto. Em Porto Velho, os sete desembargadores do Tribunal de Justiça de Rondônia dão ordens para ninguém comentar detalhes. Tanto silêncio se explica pelo constrangimento das autoridades. É que, no país onde o déficit habitacional passa de 5 milhões de residências, o auxílio-moradia virou a casa da sogra.

(...)

Até fevereiro passado, o auxílio-moradia era mais ou menos limitado. Nessa época, porém, o ministro Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal, resolveu conceder o benefício aos juízes federais, que ameaçavam entrar em greve. Foi apenas um pretexto para dar aumento salarial à categoria e evitar a paralisação. O ministro Jobim concedeu aos juízes uma parcela correspondente ao auxílio-moradia recebido por deputados e senadores. Tanto que, no contracheque dos juízes, o valor não aparece como "auxílio-moradia". Ganhou um daqueles apelidos que só a burocracia federal é capaz de inventar: é a "parcela autônoma de equivalência salarial". Feito isso, todo mundo que podia foi reclamar sua "parcela autônoma". A fila, é claro, não parou de crescer. Quem não precisava pedir a ninguém autonomamente se concedeu a "parcela autônoma". Surgiram, assim, situações tão embaraçosas que alguns desistiram de receber a mamata autônoma.


OAB VAI AO SUPREMO QUESTIONAR PAGAMENTO DE AUXÍLIO MORADIA AO MINISTÉRIO PÚBLICO

http://www.midianews.com.br:

07h02 - Atualizado em 18.05.11

OAB vai ao STF questionar pagamento a membros do MPE

Para a entidade, pagamento do auxílio viola a Constituição Federal

O questionamento deve-se ao fato do auxílio ter sido incorporado ao salário

ANTONIELLE COSTA,

DA REDAÇÃO

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) irá propor uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) e Ações de Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal (STF), questionando as leis estaduais que prevêem o pagamento de auxílio-moradia aos membros do Ministério Público Estadual de cinco Estados, entre eles, Mato Grosso.

A decisão foi tomada em sessão plenária realizada na última segunda-feira (16). Para a OAB, a concessão do benefício viola a Constituição Federal (CF), que veda o acréscimo de qualquer gratificação no subsídio, que deve ser pago em parcela única. De acordo com a Carta Magna, o auxílio-moradia deve ser pago como verba indenizatória e não salarial.

Conforme o MidiaNews apurou, o pagamento do benefício vem sendo investigado pela Comissão de Controle Administrativo e Financeiro do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). A apuração dos fatos visa detectar se o pagamento é legal ou se está em desacordo com a legislação. A investigação foi proposta pelo conselheiro Almino Afonso.

Após levantamento feito em todas as unidades do MPE do país, ficou comprovado que cinco Estados recebem o benefício, amparados por lei estadual. No entanto, existe uma dúvida quanto à legalidade, uma vez que o auxílio previsto para ser temporário, em muitos casos foi incorporado ao salário - em algumas situações chega a ultrapassar o teto constitucional de 26,7 mil.

Após a abertura das investigações, a comissão solicitou informações sobre os benefícios a todas as unidades da instituição. Os dados foram fornecidos na semana passada e a comissão já começou a analisa-los.

Segundo o CNMP, ainda não há conclusões sobre a ilegalidade ou não dos pagamentos. A comissão se reúne nos próximos dias para definir quais as providências que serão tomadas, para detectar se há ou não irregularidades.

O caso

O caso começou a ser investigado após o CNMP negar três pedidos de concessão do auxílio-moradia, formulados por dois promotores e um ex-promotor do MPE do Estado do Rio Grande do Norte.

Segundo o relator dos requerimentos, conselheiro Achiles Siquara, o benefício deve ser pago como verba de caráter indenizatório e transitório. Ele destacou ainda que caso fosse pago conforme pleiteado ganharia caráter permanente e remuneratório. Sendo assim, os pedidos foram negados.

ISAÍAS ARRUDA E MASSILON


Honório de Medeiros

Hoje, passados mais de oitenta anos da invasão de Mossoró pelo bando de Lampião, ainda não foi devidamente escrito a história de dois personagens secundários que participaram direta e ativamente do episódio: refiro-me a Isaías Arruda e Massilon. Há outros, que o tempo se encarrega, lentamente, de jogar no esquecimento. Não, entretanto, com a dimensão do ex-chefe Político do Cariri, Delegado e Prefeito de Missão Velha, e o ex-cangaceiro cuja família deitou raízes sólidas no chão sertanejo da aba da Serra de Luís Gomes, no Sítio Japão.

Isaías é uma figura maior, historicamente falando. Pertence ao ciclo áureo dos barões feudais nordestinos que usavam o título de Coronel. Sua vida, os episódios por ele vividos no Cariri, tudo quanto acontecido nas primeiras décadas do século XX nesse Sertão dos coronéis, do cangaço, do misticismo, está sendo contado muito devagar, no mesmo ritmo dos seus mistérios e segredos, aguardando o somatório dos talentos passados, presentes e futuros de homens contadores de estórias e histórias, repentistas, cordelistas, declamadores, ratos-de-biblioteca, fuçadores de papel, escrevinhadores agalardoados ou não, enfim, dessa imensa fauna que constrói, aos poucos, e sempre, o espírito de uma época.

Massilon, por sua vez, historicamente é uma figura menor. Até por que sua vida no cangaço foi muito curta. Um nonada. Algo da qual ele se afastou logo, queixando-se da sorte, indo à busca dos “eldorados” do Norte. Foi, pois tinha encontro marcado com a morte. Tivesse ficado, sendo filho de sua época e avesso, por fim, ao cangaço que abraçara cavalgando as circunstâncias, teria, talvez, morrido cedo e da mesma forma, violentamente: era de praxe acontecer com tantos e tantos por aqueles dias.

Mesmo assim deixou sua marca. Gravou seu nome na nossa história de forma definitiva. Não há como se falar em Lampião, Mossoró, 1927, sem que seu nome seja trazido à baila. Sempre é, aliás, embora não com a devida importância. Importância esta que aparece tão logo alguém se faz a seguinte pergunta: teria havido Mossoró sem Massilon?

Pois que Massilon foi muito mais do que lhe pintam a figura e os atos, eu dou fé. E afirmo que ele é maior que os registros existentes, hoje, de suas andanças e feitos. Isso por que ele é um símbolo de como as coisas aconteciam no feudalismo sertanejo. Ele é o símbolo do feudalismo sertanejo. Naquilo que de melhor e pior tal feudalismo pudesse ter. E tinha muita coisa ruim.

Entender Massilon, saber quem ele foi, por que foi, como foi, quando e onde foi, é dar um passo grande na caminhada que é fazer história. Caminhada que por maior que seja, tem sempre que começar com o primeiro passo. E é necessário dar esse passo, e outros tantos, para conhecer a folhada do nosso presente através das raízes do passado. Basta, pra entender esse raciocínio, analisar todo esse rico material a partir de uma perspectiva somente: o fio-condutor que é a existência do Poder e seus desdobramentos ontem e hoje: como era? Quem o exercia? Hoje, como é? O que mudou? Não por outro motivo, além dos pessoais, escrevi “Massilon”, no qual conto algo de sua vida e elenco teorias bastante críveis acerca dos reais motivos da invasão de Mossoró por Lampião, e o disponibilizei aos leitores.

Massilon é uma figura emblemática, simbólica. Peça no jogo de xadrez do Poder da década de 20. Não houve nem há Sertão sem pessoas como ele. Não há Nordeste sem Sertão. Não há Brasil sem Nordeste. Ele, enquanto cangaceiro ou jagunço, Pe. Cícero, o Coronel Isaías Arruda, todos são uma das faces de nós, os sertanejos do Nordeste do Brasil.

CONVITE DE LANÇAMENTO DO LIVRO AZOUGUE.COM

CARLOS GOMES


Mestre Carlos Gomes está de blog na praça.


Sinônimo de qualidade e inteligência.

Recomendo!

NOTA DO SECRETÁRIO DE CULTURA DA PARAÍBA


Enviado por Gizelda Barbosa:

"NOTA DO SECRETÁRIO DE CULTURA DA PARAIBA

O secretário de Estado da Cultura da Paraíba, Chico César, emitiu nota nesta segunda-feira (18/04/2011), esclarecendo que o objetivo do Governo não é proibir ou impedir que eventos sejam organizados com tendências musicais diversas, mas sim, direcionar os recursos públicos para incentivar o fortalecimento e o resgate da cultura paraibana e nordestina.

Abaixo segue na íntegra a nota do secretário:

“Tem sido destorcida a minha declaração, como secretário de Cultura, de que o Estado não vai contratar nem pagar grupos musicais e artistas cujos estilos nada têm a ver com a herança da tradição musical nordestina, cujo ápice se dá no período junino. Não vai mesmo. Mas nunca nos passou pela cabeça proibir ou sugerir a proibição de quaisquer tendências. Quem quiser tê-los que os pague, apenas isso. O Estado encontra-se falto de recursos e já terá inegáveis dificuldades para pactuar inclusive com aqueles municípios que buscarem o resgate desta tradição.

São muitas as distorções, admitamos. Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada pelo governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava “Zezé cadê você? Eu vim aqui só pra te ver”.

Intolerância é excluir da programação do rádio paraibano (concessão pública) durante o ano inteiro, artistas como Parrá, Baixinho do Pandeiro, Cátia de França, Zabé da Loca, Escurinho, Beto Brito, Dejinha de Monteiro, Livardo Alves, Pinto do Acordeon, Mestre Fuba, Vital Farias, Biliu de Campina, Fuba de Taperoá, Sandra Belê e excluí-los de novo na hora em que se deve celebrar a música regional e a cultura popular”.

Chico César

Secretário de Estado da Cultura"

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O QUE DANADO É "PARCELA AUTÔNOMA" E "AUXÍLIO MORADIA"?

François Silvestre, lá em seu canto no "Novo Jornal", ontem, Domingo 15 de maio deste ano, publicou "A Piscina do Diocesano".

Recomendo a leitura.

Trata-se de uma explicação sua acerca de um repasse feito pela FJA ao Diocesano de Caicó quando ele era Presidente da instituição.

Repasse questionado pelo MP.

François diz, no texto, que não lembra, mas que se não tiver assinado o repasse, assina agora.

E segue criticando a denúncia por expor o nome do Diocesano, "numa vala comum da busca da notoriedade".

Mas o que chamou mesmo a atenção, no texto, foi o último parágrafo.

Transcrevo: "Meu caro leitor, você sabe o que é Parcela Autônoma e Auxílio Moradia? Té mais".

Como o artigo de François foi esgrimindo contra o MP, tudo indica que esse último parágrafo foi uma estocada final.

Que deixou todo mundo muito curioso: afinal, o que é essa tal de "Parcela Autônoma e Auxílio Moradia?

CLAUDER ARCANJO LANÇA "NOVENÁRIO DE ESPINHOS"

PARA LOS ODIADORES DE FRANÇOIS SILVESTRE DE ALENCAR

 Por Alfredo Pérez Alencart:

 ...¡No lancéis más piedras
porque os dolerán
las manos
y algún fragmento que
rebote os dejará ciegos
para siempre!
¡No infaméis
simulando preocupación
ciudadana:
la espuma en la boca
demuestra vuestro
acecho!
Llamas diminutas
sois, llamas encendidas
entre las tinieblas
de la envidia.

Salamanca, 14-5-2011

domingo, 15 de maio de 2011

O JOGO DA SEDUÇÃO

o globo.globo.com

Honório de Medeiros

                   “Antigamente”, dizia um amigo meu, “a mulher se sentia ameaçada pelo interesse masculino”. “Era algo instintivo”. “E só no começo, claro”. “Essa sensação de ameaça era algo ancestral”, ele explicava, “do tempo do baraço e do cutelo”. Eu ponderei que essa expressão não se adaptava bem ao tema, mas ele afastou a ponderação com um gesto de enfado, dizendo que a expressão era muito interessante para somente ser usada quando descrevendo cenas de violência de coronéis nordestinos de ontem e antes-de-ontem. Algo como uma licença poética. “Baraço e cutelo quer dizer, aqui, do tempo em que as mulheres eram agarradas pelos cabelos e arrastadas à força, mas ainda acontecendo nas guerras de hoje quando há estupro em massa”.

                   “Essa ameaça, pressentida”, continuava ele, “é o primeiro passo no jogo da sedução”. “Através dela o homem avisa do seu interesse e a mulher se prepara para bancar o jogo ou fugir dele”. “A partir daí tudo não passa de uma questão de negaceio, ida e vinda, recuo e avanço, tais e quais, até o bote recíproco”. “Um ritual, nada mais, nada menos, em tudo e por tudo igual ao que se pode observar natureza afora ou adentro, que os deuses sábios inventaram para seu folguedo no teatro da vida, mas com uma finalidade óbvia: o multiplicai-vos do qual nos fala a Bíblia”. “Ou seja, o ritual, que nas outras espécies denominamos de ‘acasalamento’, tem como objetivo a nossa propagação, seja isso bom ou ruim”.

                   “Entretanto – e aí é que está o ‘x’ da questão, às vezes a mulher não capta interesse algum no predador com o qual se depara. Nenhum interesse. Nada de nada. E ela, principalmente se for acostumada a negar olhares, quanto mais um sorriso, que premiem o interesse de quem lhe procura por causa de sua beleza, enquanto avalia a situação, fica perplexa”. “Claro! Em seu instinto, assim como na razão, esse tipo de conduta não está previsto: um homem indiferente a si”. “Será que ele...? - as perguntas são muitas, enquanto percebe o interesse dele voltado para outras.” “O que está acontecendo, ela se pergunta, há algo de errado comigo?”

                   “Acontece que às vezes o predador não foi despertado por ELA – isso acontece”. “Às vezes é por que a outra tem algo – uma energia, como se diz hoje – que mexe diretamente com ele”. “Mas às vezes nada mais é que puro cálculo!” “Ele agiu como se soubesse aqueles bordões de técnicas de venda de antigamente: ‘primeiro chamar atenção, depois...’” “O que poderia chamar mais a atenção de uma mulher bonita que uma solene indiferença inicial, uma indiferença que cale fundo, despertando a síndrome da rejeição?”.

                   “Agora veja”, terminou meu amigo, “isso tudo foi antigamente, quando havia um jogo do qual todos participavam, chamado sedução.” “Uns melhores, outros nem tanto.” “Hoje, ah, hoje, bem... se seus rótulos estão em dia, seja qual seja sua tribo, então é só colher.” “Não terá sido necessário plantar nada.” “Como você acha que Ronaldinho Gaúcho se vira?”

sábado, 14 de maio de 2011

ABOIO PARA FRANÇOÁ

François Silvestre de Alencar

Por Paulo Procópio (www.territoriopotiguar.blogspot.com):

O sertão resiste. O enfrentamento é coisa de honra. Onde se lava a moral. Sertão que repele as contra-venturas dos covardes. As traições do nunca mais. Sertão que vive nas veias dos homens de vergonha e tradição.

O sol do semi-árido é a luz ao redor do alpendre. Facho que leva a boiada quando chega à matina. O sertão é pedra espinho. Tangida de todo dia. Juremas e oiticicas. Passarinho na bebida. Riacho das invernadas. Desenhado das montanhas. A lamparina que alumia quando a noite chega. E a lua que abranda as veredas.

CONCENTRAÇÃO CONTRA DEMOLIÇÃO DO MACHADÃO

Do www.lauritaarruda.com.br



 Mais um capítulo na já atrasada, complicada, Copa em Natal. Natalenses inconformados com a demolição do Estádio Machadão e do Ginásio Humberto Nesi farão neste sábado, 14 de maio, às 14 horas, com concetração no Espaço Cultural Papa João Paulo II, o Papódromo.
Segundo os organizadores, o ato não é contra a realização da Copa em Natal, nem contra a construção da Arena das Dunas. É contra a demolição do estádio e do ginásio. Para os organizadores da caminhada, a Arena das Dunas pode ser construída em outro lugar, a cidade ganhando patrimônio e preservando o que já possui.
Durante o evento, assinaturas serão colhidas para uma Ação Popular contra a demolição, bem como para a renovação do Pedido de Tombamento do ginásio e do estádio, já enviado à Fundação José Augusto em maio do ano passado e que dizem, está desaparecido.
Os organizadores do evento solicitam aos que comparecerem à marcha que levem bandeiras e vistam as camisas de seu clube. 

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O ESTADO É UM NEGÓCIO!

jfrancica.blogspot.com

Honório de Medeiros

Pedro deve ter uns dezenove anos. Magro, magérrimo, seu corpo ossudo sobra dentro da farda do supermercado. Há sinais claros de subnutrição. No rosto espinhudo um sorriso nervoso aparece e desaparece sem conexão com o que ele diz: sorri quando fala sério, fica sério quando parece brincar com a própria desdita.

 Pedro está noivo: quer casar logo, mas não pode. Pergunto-lhe se estuda. “Não tenho tempo”, diz. “Pego aqui às oito da manhã e só largo lá pras oito da noite, e, aí, tenho que pegar ônibus pra Zona Norte, do outro lado de Natal, é quase hora e meia de viagem.” “Chego cansado, só penso em dormir, nem a noiva eu vejo.”

                   “Está comprando as coisas para o casamento?”, pergunto. “Nada!” “A gente recebe um cartão do supermercado quando entra no trabalho e vai comprando, comprando, lá pra casa mesmo, pros meus pais, e no final do mês quase não recebe nada em dinheiro.” Faz uma pausa e continua: “mas minha noiva tá procurando emprego”. “Ela estuda?”, continuo. “Terminou o segundo grau, mas não foi em frente por que tem que ajudar em casa.”

 Pedro segue arrumando as mercadorias nas sacolas enquanto conversa comigo. Diz para mim que folga uma vez por semana, “às vezes”, já que quase sempre aparece um trabalho extra na empresa. E afirma enfático, que vai voltar a estudar, “é só as coisas melhorarem.”

                   Pedro não sabe, mas sua turma tende a aumentar cada dia mais. A lógica do capital é essa. E anda cada dia mais sofisticada: nos círculos íntimos do Poder o Estado é tratado como “business”.

 Os termos usados pelos gestores públicos pertencem ao mais fino dialeto econômico/financeiro: é “destino econômico” para cá, “benefícios fiscais” para lá, “mercado interno” ali, “agenda de desenvolvimento” acolá. É preciso “vender” o Estado, dizem eles. É preciso “captar” investidores, entoam.

 Pura lógica do capital que amealhando corações e mentes desprevenidos ou ávidos induz sua entrega à tarefa menos árdua e mais prazerosa de semear facilidades, mão-de-obra barata e grata e outros mimos ao custo óbvio de almoços, jantares, e viagens, para os predadores de fora, loucos para espoliar mais uma caterva de ingênuos sob a batuta firme e alienada da administração pública.

 Vão se multiplicar, leio na imprensa, graças às injunções dos sábios conselheiros da Corte ante os maestros da economia brasileira, as empresas no Rio G. do Norte.

 Elas vêm aí: lépidas e fagueiras, sem pagarem impostos, sem darem qualquer contrapartida para o resgate do atraso social, “mas gerando riqueza e empregos”, segundo a propaganda infernal dos publicitários.

 Riqueza para os ricos e empregos-farsas para os Pedros da vida, as Taís da vida – garçonete noite-e-dia em um “fast-food” desses que pululam por aí, a esconder rápido, um dia desses, suas lágrimas derramadas pelo filho recém-nascido e doente deixado em mãos estranhas enquanto o emprego é defendido com unhas e dentes; os Josés da vida – empregado de uma indústria “captada” no Sul maravilha, imposto “zero”, contribuição nenhuma, - quase um escravo, tal sua jornada de trabalho.

 E tudo continuará como sempre foi, desde que o mundo é mundo, por que essa história se repete há muito tempo.

                   Quem duvidar da história de Pedro, Taís, José, procure a Justiça do Trabalho. Leia as sentenças dadas pelos juízes de primeira instância.

 Delicie-se com a expropriação da força de trabalho da nossa classe média mais baixa. Com a história daqueles que sustentam este arcabouço todo reproduzindo, cada vez mais sofisticadamente, o modelo de exclusão social no qual vivemos.

 Projete, a partir daí, o futuro de nossa juventude cinzenta, aquela que se contrapõe à “juventude dourada” – os filhos das elites.

 E esqueça os excluídos: esses sequer constam corretamente nas nossas estatísticas governamentais, a não ser muito por cima, como quando imaginamos quanto à economia marginal, aquela à margem do Governo, produz dia-a-dia.

                   Enquanto isso, enquanto os Estados são “vendidos” lá fora, no Sul maravilha, no “estrangeiro”, conseqüência de um surto atrasado e colonial de um capitalismo ingênuo e predatório – que o diga, por exemplo, para ficarmos na área governamental, aquilo que a Petrobrás faz com o Rio Grande do Norte ao arrancar nossa matéria prima deixando quase nada em troca – Pedro, Taís, e José não sabem, mas a cada momento aumenta o custo social que eles têm que pagar para sobreviverem nesta selva de pedra: não há políticas públicas, não há projetos sociais, não há ações governamentais planejadas, não há governo, enfim, portanto a eles e a seus filhos estão destinadas escolas decrépitas e sem professores; postos de saúde sem médicos e sem remédios; bairros e ruas com postos policiais abandonados, viaturas policiais inapropriadas, quebradas e sem gasolina; e servidores públicos trabalhando como se estivessem em pleno século XIX.

 E como os Pedros, Taíses e Josés vicejam na lama obscura da alienação, terminam achando que plano de saúde, escola particular, automóvel, lazer, cerca elétrica, carro blindado, segurança privada é, pela ordem natural das coisas, algo ao qual somente os ricos têm acesso. Seguem em frente, portanto, a venderem seu suor, seu sangue, sua vida, a preço vil.

terça-feira, 10 de maio de 2011

NOAM CHOMSKY CRITICA OPERAÇÃO QUE MATOU BIN LADEN

Noam Chomsky

Ricardo Noblat - 10.5.2011


O intelectual americano Noam Chomsky publicou um artigo esta semana, na revista online "Guernica", com duras críticas à decisão do governo Barack Obama e uma condenação firme à operação que resultou na morte de Osama bin Laden.
Ele chama a ação de "assassinato planejado" e levanta o questionamento: "E se um comando iraquiano invadisse de surpresa a mansão de George W. Bush, o assassinasse e atirasse seu corpo no Atlântico?".

- "Em sociedades que professam um certo respeito à lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. (...) Nada sério foi provado (contra Bin Laden). Falaram muito da 'confissão' de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Boston. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória".

- "Como reagiríamos se um comando iraquiano invadisse de surpresa a mansão de George W. Bush, o assassinasse e atirasse seu corpo no Atlântico? Sem dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e ele não é um suspeito, mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que tomou as decisões".

- Sobre o nome da operação, Geronimo. "A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas. É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk".

segunda-feira, 9 de maio de 2011

EU USO UMA MÁSCARA


Por Bárbara de Medeiros

Eu uso uma máscara.

Eu uso uma máscara.

Eu uso uma máscara.

Eu uso uma máscara.


Minha máscara não é de papel.

Não é de cartolina.

Não é de papelão.

É de ferro.


Minha máscara não ataca.

Não machuca.

Não irrita.

Me protege.


Minha máscara não faz mal aos outros.

Mas sim a mim mesmo.

Mas, no final do dia,

Eu uso uma máscara.

E sou feliz assim.

* Bárbara tem 13 anos.

domingo, 8 de maio de 2011

UMA SOLIDÃO CERCADA DE AMIGOS


Honório de Medeiros

                   Ariclê suicidou-se, tempos atrás. Mas quem foi Ariclê? Uma atriz global. Suave, delicada, simpática. E solitária. Antes de morrer estava fazendo o papel de mãe de JK, no seriado homônimo. Terminou sua participação e saltou do décimo andar do prédio onde morava, mergulhando para a morte.

                   Não é somente por ter sido atriz que chamou a atenção a morte de Ariclê. Nada disso. O que chamou também a atenção é que todos quantos foram a seu sepultamento eram seus amigos, muito embora ela fosse uma pessoa solitária. Morava sozinha, e segundo o relato do porteiro do prédio – ah, os porteiros de prédios, testemunhas silenciosas e onipresentes das nossas vidas – quase não recebia visitas.

                   Todos os amigos cobriram Ariclê de elogios. Não podia ser diferente. É da nossa tradição elogiar os mortos. E todos realçavam os laços de amizade existentes entre eles e até contavam, aqui e ali, algum fato vivido juntos. Nada diferente de velórios em outros mundos afora. Mas não freqüentavam o seu apartamento, esses amigos. Não invadiam sua cozinha, bisbilhotavam sua biblioteca, usavam seu toalete, deitavam em seu sofá. Ali estava um ambiente íntimo cheio de ausências.

                   Ariclê era uma pessoa solitária... Quase posso imaginar sua solidão tão comum em cidade grande. Conhece ela muitas pessoas, é conhecida e respeitada por muitas outras, trata-as por amigo, ou amiga, recebe o mesmo tratamento, mas com certeza não telefona para qualquer um deles para convidá-los a partilhar uma taça de vinho e um pouco de dor nas madrugadas melancólicas. Não é possível fazer isso porque o incômodo causado é muito grande. Transtorna-se a vida das pessoas. Atrapalham-se suas rotinas. E elas têm lá seus problemas, não estão dispostas a emprestarem seus ouvidos para ouvirem o que não conseguem resolver em si mesmas.

                   Antigamente as pessoas colocavam as cadeiras nas calçadas e contavam estórias, relatavam histórias, riam, faziam rir, e se solidarizavam umas com as outras. Mas isso faz muito tempo. Hoje não é mais possível, há a violência urbana, a televisão manieta, as portas e janelas estão todas fechadas. Enclausurando-nos estamos nos fechando para o mundo e para os outros. Nossa convivência passa a ser virtual. Podemos até almoçar juntos com um grande amigo, vez ou outra, mas quando a noite chega, no cotidiano, é cada um por si e Deus por todos.

                   Não por outra razão estamos cada vez mais sozinhos. Embora até mesmo estejamos acompanhados. Porque não nos dispomos a ser solidários. A estabelecermos pontes sólidas em direção ao outro. Pontes construídas com o cimento do sacrifício, da empatia, da história comum. Não por outra razão, quem sabe, Ariclê morreu. Para quem ela ligaria, no final de uma noite qualquer, de um dia qualquer, para dizer “venha, estou triste, preciso de você?”