sábado, 23 de março de 2013

VIVA PORTUGAL!

Já estive em Portugal, antes, por pouco tempo. Desta vez, entretanto, a demora está sendo longa. E aprofundada, horizontalmente, pois estou flanando também no seu interior, e verticalmente, pois puxo conversa onde chego, desde o taxista ao garçom, passando por balconistas de lojas, vendedores de jornais e revistas, e quem danado, segundo meus padrões, represente o povão. A conclusão é simples, mas dolorosa, porque resulta, sempre, de uma comparação com o Brasil. Para começo de assunto Portugal é lindo, sua história é muito interessante, e, ao contrário do que se supõe, o povo é educado e a nova geração muito bonita e bem cuidada. E alegre, nada melancólica. E tudo funciona, aqui, bem, muito bem, se comparado com o Brasil: educação, saúde, segurança e infra-estrutura. As cidades são limpas, sem mendigos, pastoradores de carro ou lavadores de parabrisas; o asfalto das ruas e das estradas é de primeira qualidade; os ônibus são novos e disciplinados; o trânsito flui normalmente e sem estresse. Como viajamos de carro pelo interior, pude perceber a limpeza das laterais das estradas, das cidades e dos lugares onde se para para uma visita ao tualete. A sinalização é perfeita. Quanto à segurança, o contraste também salta aos olhos: as pessoas andam pelas ruas, à noite, despreocupadas. Esqueci de falar do metrô: em termos de limpeza e regularidade, supera em muito o de Paris. Há senões? Claro que há! Como ainda volto,e por um período maior, a Portugal, escreverei algo acerca disso um pouco mais adiante. Enquanto não, quero confessar: ando muito surpreendido, e agradavelmente, com as terras lusitanas...





segunda-feira, 18 de março de 2013

VOU ALI BATER PERNA...

Editora Flâneur
 
 
Honório de Medeiros
 
 

                   A partir de amanhã entro de férias. E vou bater perna na Europa velha de guerra, enquanto posso. Flanar. Viver a rotina dos cafés, das livrarias, das feiras ao ar livre, das igrejas – como eu gosto delas, e quanto mais antigas, melhor! – dos sebos, dos antiquários.

                   Nada que eu não faça aqui mesmo em Natal, Mossoró, Martins, Pau dos Ferros, São Paulo, os chãos que eu sempre piso, os lugares nos quais eu sempre ando, na condição de vivente curioso acerca da faina humana e supostamente um pouco acima do analfabetismo  institucional que galopa Brasil adentro mais rapidamente que a Moça Caetana no seu mister de povoar o céu, o purgatório e o inferno.

                   Esqueci Cabaceiras, na Paraíba, no Pai Mateus, Sertãozão de Meu Deus, pedras e mais pedras, rochas e mais rochas, terra, mato rasteiro, céu de um azul sem igual, noites estreladas de tirar o fôlego, e emas, seriemas, veados, gato-do-mato, mocós, arapongas, jacus, toda a fauna do Sertão que a fome e descuido dos homens praticamente extinguiu, o linguajar arrastado contando “causos”, o chiste permanente, o cavaqueado dos meus irmãos paraibanos no centro do seu, do nosso Paraíso sertanejo.

                   Pois bem, mas na República Tcheca só me programei para fazer duas coisas: procurar a casa onde nasceu Hans Kelsen, o mais original e profundo dos filósofos do Direito, se é que ela ainda existe, e visitar o Cemitério Judeu. Nada mais. O resto é andar, perambular, deambular, flanar, pensar no sentido da vida, na origem das coisas, enquanto o tempo passa, pastorar o espírito de Vaclav Havel, com quem gostaria de trocar dois dedos de prosa, e assim por diante.

                   De lá, Hungria, onde vou segurar a vontade de fazer carreira até a Romênia para visitar o Castelo de Vlad Drakul, o Conde Drácula. Segurada a vontade, a goles de Tokay, pretendo vadiar pelo Danúbio, o quanto puder, escutando os magiares falam seu idioma incompreensível, olhar atento à possibilidade de encontrar uma cigana que leia a minha mão e me diga, em inglês macarrônico igual ao meu, que eu vou ser feliz, ter muita saúde, e morrer bem velhinho, imensamente rico.

                   Então Viena. Em Viena, os cafés, para mim, o Castelo de Sissi para minha amada. Eu vou a Sissi, claro, com ela; e, ela, claro, vem aos cafés comigo, e vamos celebrar a vida, e nos deleitarmos com a beleza da capital austríaca, e eu vou lhe contar acerca do surgimento do Positivismo Lógico naquela Viena do começo do Século XX que viveu seu apogeu intelectual antes que os nazistas chegassem. Quem me conhece sabe que procurarei, de todas as formas possíveis, os rastros de Karl Popper, o maior filósofo do século XX, um dos maiores de todos os tempos, seja na política, com sua análise de Platão, Hegel e Marx, seja na ciência com sua epistemologia, construída a partir da teoria da seleção natural. Filósofo, músico, matemático, lógico, epistemólogo, Popper foi, com certeza, o último dos polímatas.

                   Depois Portugal. Ah, Portugal! Bom, agora vou pedir licença para somente falar em Portugal um pouco mais à frene, se e quando os excelentes vinhos do Douro me permitirem. Mas lá vou à procura de Eça de Queirós, paixão antiga. E, como não poderia deixar de ser, pretendo mergulhar fundo no Sertão de Portugal. Ou Certão, como se dizia em Português arcaico... 

                   Até mais ver.

quinta-feira, 14 de março de 2013

A VIDA É LÍQUIDA


lojaorganicuspn.blogspot.com


Honório de Medeiros
 
 
“A vida é líquida”, diria Zygmunt Balman, aludindo à consistência das relações entre nós e os outros, ou entre nós e as coisas e/ou fenômenos. Líquida, posto que essa consistência não tem forma definida, assume aquela que o recipiente (o contexto) impõe.

 

Não somos estruturas rígidas que atravessam o tempo imutáveis ou pouco atingidos pelas circunstâncias, somos proteiformes, somos difusos, somos evanescentes.

 

             Vivemos em uma época na qual as gerações mais novas escrevem tudo em uma linha. No máximo algumas poucas linhas. E somente lêem, e são treinadas pela realidade virtual com a qual convivem “full time” exatamente para isso, algumas linhas, umas poucas linhas. Tal é o ser (e o dever-ser) que essa realidade virtual impõe: tudo é frenético, tudo é descartável, tudo é cambiante, imediato. É a maximização das potencialidades, negativas ou positivas, da nossa espécie sobrevivente e dominante, conforme descrito pela teoria da seleção natural.

 

             O ensino, hoje, está em ruínas por vários motivos, mas desconfio que o modelo que ainda predomina está fadado ao fim, entre outras razões, mais ainda, em decorrência do descompasso com essa realidade que aos poucos se impõe, no qual não há mais espaço para uma educação que se estrutura a partir de livros, com textos pesados, longos e que exigem tempo e estudo profundo, e o tratamento do “pensar” típico dos escolásticos medievais que moldaram as bases do nosso ensino ocidental e cristão.

 

             As gerações mais novas, que herdarão o mundo, ou o que restar dele, e sua forma de apreender e expressar a realidade, estão em processo de descompasso com aquela construída pelos nossos antepassados. Não se trata de estarmos certos e eles errados por não quererem ler livros como “Ulisses”, de Joyce, “Paidéia”, de Jaeger, ou “Em Busca do Tempo Perdido”, de Proust.

 

             São elas, as gerações mais novas, mutações engendradas pelo meme que é a realidade virtual: caracterizam-se por viver em ritmo alucinante, pensar freneticamente, falar acelerado, em contraposição ao viver, pensar e falar arcaico, que vai sendo deixado para trás.

 

             O livro de papel sobreviverá, claro, como sobreviveu o ritual do chá no Japão moderno que a restauração Meiji instaurou, e atirar com arco-e-flecha, algo excêntrico, típico de verdadeiros “outsiders”, a partir do qual hão de se criar seitas e seus inevitáveis rituais iniciáticos. Livros em ambientes virtuais existirão cada vez mais, óbvio. Mas nunca serão consumidos como o foram os livros de papel após Gutenberg.

 

             Assim como os monges que salvaram a civilização como nós a conhecemos, na Alta Idade Média, copiando os textos antigos e os deixando para a posteridade, será em ambiente monacal que os iniciados lerão obras como as que foram citadas acima.

 

             O velho mundo está morrendo, viva o novo mundo, do qual serei espectador privilegiado, posto que, quando menino, fui apresentado ao milagre da televisão já completamente cativado pelo livro de papel, e, agora, cinquentão, me maravilho com as infinitas possibilidades de uma realidade sequer possível de ser imaginada antes, domínio e prisão dos que, hoje, ainda são apenas adolescentes.

 

quarta-feira, 13 de março de 2013

CIDADÃO ESBRAVEJA EM DEFESA DA POLÍCIA E DO GOVERNO


bizudepraca.blogspot.com
                           
 
Publico a mensagem abaixo, como recebi:
 
"Caro Editor:


Como cidadão e admirador da briosa Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte e de sua Secretaria de Estado da Segurança Pública, tenho que me solidarizar com essas vetustas instituições ante o contínuo, crescente e agressivo desrespeito com o qual a bandidagem inescrupulosa anda lhes tratando, e com a insistência com que tal fato é dado ao conhecimento da população por intermédio da tal da rede social (Orkut, Facebook, Twitter, etc. e tal) e, também, embora palidamente e sem qualquer aprofundamento, graças a Deus, pela cansada e ineficiente imprensa escrita, radio difundida e televisada.

                            Bem que eu desconfiava que a culpa dessa falta de respeito fosse da mídia, ao provocar indiretamente o aumento da sensação de insegurança. Como nosso glorioso líder Lula deixou claro, recentemente, depois de ter se comparado muito justamente a Jesus: a mídia insiste em persegui-lo, hoje, como perseguiu, antes, Abraham Lincoln. Somente não vê quem não sabe das coisas e a oposição doentia. Pois é o caso, na nação potiguar: trata-se, claramente, de perseguição da mídia pacificada.

E é fácil perceber que ele, o glorioso líder, tem razão: por que não deixar para lá esse noticiário horrendo, acerca de educação, segurança pública, saúde, corrupção, insinuações veladas e insidiosas acerca de sua honorabilidade marital, e cuidar de apresentar toda a maravilha que é o Brasil hoje, esse país sem igual, sem terremotos, sem inflação, sem pobreza extrema, no qual acontecerá a Copa do Mundo de 2014?

                            Pois essa mídia sorrateira, a das redes sociais, insiste em ir contra os dados apresentados pelo Secretário de Segurança do Estado do Rio Grande do Norte, que recentemente, muito recentemente, provou por A + B, estar a insegurança em declínio e que, continuando nesse ritmo, muito em breve viveremos uma realidade semelhante à da Suíça. Aberta como ela é, a mídia social, quando deveria ser controlada por quem pudesse, graças a seu preparo, sua ética, seus desígnios para o futuro, escolher quais assuntos deveriam cair na rede, fica apresentando relatos e mais relatos de cidadãos que foram vítimas da violência e não procuraram a Polícia porque supostamente perderam a fé em sua ação, desmoralizada que foi pela bandidagem. Tudo falso, haja vista os dados oficiais colhidos cientificamente, cientificamente, repito.

                            Em certas rodas das quais participo pela cidade, insisto em me colocar contra a versão que corre em disparada dando conta de que o Secretário de Segurança não tem conhecimento da maquiagem dos dados que apresenta na mídia paga. Eu digo sempre que isso não é verdade, e que não há mídia no Rio Grande do Norte pacificada a dinheiro. Isso, obviamente, é intriga dos descontentes e desavisados, dos inocentes úteis, daqueles que preferem ver o caos a construir um Estado com base na Ordem e no Progresso.

                            Alguns, mais audaciosos, por mim combatidos veementemente, querem convidar o Secretário para uma pesquisa nas ruas da cidade, com seus cidadãos, aos quais lhes seriam apresentada uma questão segundo eles muito simples: “o(a) senhor(a) já foi assaltado?”. Depois da pesquisa o resultado seria confrontado com aquelas que são apresentadas pelo Secretário para se chegar a um denominador comum, e concluir acerca de quem está certo ou errado. Sou contra, digo sempre, por uma razão muito simples: em primeiro lugar devemos nomear uma comissão, composta por todos os órgãos que lidam com a segurança no Estado, além da Ufrn, Uern e Ifrn, para definir qual a metodologia a ser corretamente aplicada. Só então, e com a mais perfeita segurança, poderíamos pensar na possibilidade de aplicação de uma pesquisa desse tipo.

                            Por outro lado, somente não enxerga quem não quer: é nítido o esforço do Governo no que diz respeito à Segurança Pública: carros e mais carros são comprados, armas e mais armas, coletes e mais coletes, portanto, se o crime persiste em aumentar, não é problema da Secretaria de Segurança Pública, afinal de contas quem poderia prever a epidemia de crack que toma conta do país? E não adianta argumentarem com a situação de Nova York. Todo mundo sabe que Nova York é Nova York, e o que funciona lá não funciona aqui, e o que funciona em Tóquio, não funciona aqui, e o que funciona em Berlim, não funciona aqui. É tão fácil perceber isso, por que será que as tais redes sociais não percebem isso, e continuam apontando aquelas cidades como exemplo a ser seguido? Continuo achando que não percebem porque não são controladas como deviam ser, e, como não o são, sua ação termina incentivando a sensação de insegurança pela qual passa a Sociedade, e que tantos danos causa ao turismo, e, portanto, à economia. Em um país sério, essa mídia já estaria controlada.

                            Portanto, receba a briosa Polícia Militar, o Secretário de Segurança e o Governo no Estado minha solidariedade. Ora, todos nós sabemos que o Governo quer o melhor para a população, mas nem sempre isso é possível: quem seria capaz de prever uma seca como esta que está acontecendo, justo quando muitos recursos estão sendo disponibilizados para a construção da Arena das Dunas, a futura redenção econômica do Rio Grande do Norte?

                            E, por favor, não me venham falar em dinheiro gasto com propaganda: é óbvio, até para os mais xiitas dos críticos, que a população precisa saber o que está sendo feito com o dinheiro dos impostos. Eu penso que isso está na Constituição do Brasil. É um direito fundamental, uma cláusula pétrea, o de sermos informados pelo Governo.

                            Como se pode perceber claramente, o que há é muito falatório e pouca ação: criticam, mas não apresentam propostas viáveis. Ficam nessa ladainha, nesse nhém-nhém-nhém, mas são incapazes de ajudar, fazendo, por exemplo, uma autocrítica quando vão publicar matérias acerca da insegurança no Estado, se perguntando acerca das conseqüências sociais danosas de suas publicações.

Por essas e outras reitero minha solidariedade à briosa Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte e sua Secretaria de Estado da Segurança Pública.

                            Seu leitor de sempre,

                            Antônio Apolinário do Amaral"
 
* Não estava datada!

domingo, 10 de março de 2013

14 DE MARÇO - DIA DA POESIA NA PINACOTECA DO ESTADO DO RN

 
Thiago de Mello

Franklin Jorge informa:

"A Secretaria Extraordinária da Cultura preparou uma programação especial para Dia da Poesia, na próxima quinta-feira, quando a Pinacoteca do Estado receberá os amantes da poesia e da música, pois um dos pontos altos do evento será a apresentações da Orquestra Jovem de Violinos e do Corangelis, ambos oriundos do município de Goianinha, e a Banda Filarmônic...a Jovem, de Macau, todos esses grupo ainda pouco divulgados em Natal.

Convidei-os para abrilhantar nossas comemorações do Dia da Poesia, e ao fazê-lo pus em prática um dos eixos da nossa gestão á frente da Pinacoteca do Estado: a interiorização da cultura, integrando assim as Casas de Cultura num projeto didático-pedagógico e, ao mesmo tempo, de valorização dos nossos artistas e produtores culturais sérios.

A Casa de Cultura de Goianinha, bem amparada por este e pelo prefeito que o antecedeu, é a menina dos olhos da secretária municipal de cultura, Ana Maria Barbalho, que tem se destacado pela qualidade e regularidade de suas ações, o que faz de Goianinha, hoje, motivo do nosso aplauso e exemplo para outras administrações.

Teremos, ainda, lançamentos de livros, exposições, simpósios, projeção de documentários, performance com baloes e várias outras atrações. O ponto alto será a homenagem ao poeta Thiago de Mello, que declamara seu célebre poema Estatutos do homem, no Salão Nobre do Palácio Potengi, sede da Pinacoteca do Estado, que tenho a honra de dirigir."

quarta-feira, 6 de março de 2013

DO SACRIFÍCIO FINANCEIRO DE GERAÇÕES FUTURAS


Gostaria de saber de quem é esta arte, para render as devidas homenagens!
 
 
Honório de Medeiros
 

                               Recordo Zygmunt Bauman (“Isto Não É Um Diário”; Zahar) citando José Saramago enquanto contorno o canteiro de obras no qual é erguida a Arena das Dunas em Natal, esse monumento ao desperdício de dinheiro público e segregação social:

                               (...) as pessoas não escolhem um governo que colocará o mercado sob controle; em vez disso o mercado condiciona os governos de todas as formas a colocar as pessoas sob seu controle.

                               É o caso.

                            Em nossa alienação, a informação que o site http://www.copaemnatal.com.br/oprojeto nos fornece, qual seja, a de que entre a construção do estádio e das obras acessórias ao complexo, o Governo confirma gastos de mais de R$ 2 bilhões, confirmada por intermédio da excelente reportagem de Ana Ruth Dantas para o jornal Tribuna do Norte (http://tribunadonorte.com.br/noticia/governo-vai-pagar-mais-de-r-1-bilhao-pela-arena/175668) nos soa banal, face ao onipresente cansaço de nossa capacidade de se indignar ante a gastança governamental ilegítima, ampla e continuada, e até mesmo compreensível, tendo em vista a maciça e reiterada propaganda, por nós financiada, que busca nos convencer da necessidade do investimento aludido.

No próprio e primeiro site acima citado, trecho da matéria que ele veicula tem o seguinte título: Copa impulsiona economia potiguar. E a matéria prossegue:

(...) Segmentos de comércio, turismo, imobiliário e de serviços terão ganhos na geração de empregos e renda. A economia do Rio Grande do Norte será remodelada nos próximos cinco anos. (...) O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio), Marcelo Queiroz, também acredita no desenvolvimento de Natal e destaca melhorias no comércio. “Os investimentos serão feitos em todas as áreas para os natalenses e para os milhares de turistas que virão conhecer o Estado”. “A visibilidade de Natal para todo o mundo, criada com o evento, só proporciona ganhos na economia”, lembra o presidente da Fecomercio. A criação de novos empreendimentos e as melhorias nas obras de infraestrutura irão gerar mais empregos e renda, alterando o perfil econômico do Estado.

Assim é que apenas um muxoxo contrai nosso rosto quando lemos o quê Ana Ruth Dantas esclarece:

O Governo do Estado pagará pela Arena das Dunas, que sediará os jogos da Copa do Mundo de 2014 em Natal, mais de R$ 1 bilhão. Embora o valor da obra seja de R$ 400 milhões, bancados pela construtora OAS através de recursos próprios e empréstimo junto ao BNDES, o desembolso dos cofres públicos potiguares para a empresa vai representar, ao término do contrato de 20 anos de concessão, o equivalente a três Arenas.

A engenharia financeira feita pelo Executivo para a construção da Arena das Dunas prevê repasses mensais durante 17 anos para a construtora. Esses repasses não terão qualquer ligação e/ou compensações com a possível receita auferida pela OAS da administração compartilhada do estádio. Os primeiros três anos, quando o estádio estará sendo construído, é o chamado "período de carência" do contrato Governo/OAS. A construtora é quem vai contrair o empréstimo de R$ 300 milhões oferecidos pelo BNDES e investir outros R$ 100 milhões, de recursos próprios, cobrindo o custo da obra. A partir do primeiro ano de operação do estádio, ou seja, em 2014, o Governo começará a pagar os R$ 400 milhões a OAS. Nos primeiros 11 anos de funcionamento do estádio serão prestações mensais de R$ 9 milhões. Do décimo segundo ano até o décimo quarto ano, serão R$ 2,7 milhões/mês de prestação. Nos três últimos anos do contrato de financiamento, o Governo pagará à OAS prestações mensais de R$ 90 mil. Ao final do contrato de 20 anos, incluindo os três de carência, o Governo do Rio Grande do Norte terá desembolsado R$ 1.288.400.000, ou seja, o equivalente a três Arenas das Dunas.

Não vou nem argumentar em defesa do emprego dessa colossal montanha de dinheiro em programas sociais na área de saúde, educação e segurança pública. Não vou mencionar o sucateamento da saúde estadual. Esse discurso está entediante. Vou argumentar em defesa do uso dessa montanha de dinheiro em uma infraestrutura que permitisse o avanço do turismo. Seria o caso de cuidar do nosso fantástico litoral, totalmente abandonado, bastando nos dirigirmos a Ponta Negra ou à Praia do Meio para comprovarmos essa situação. Seria o caso de interiorizar o turismo. Seria o caso de tantas outras idéias com retorno garantido...

As gerações futuras estão condenadas ao pagamento de um empréstimo ilegítimo em todos os seus aspectos. Não lhes sobra alternativa, vez que nós, o presente, não reagimos quando e como deveríamos. Por esse empréstimo, um segmento muito específico da Sociedade amealha riqueza arrancada de todos quantos estando na outra ponta do processo, seja em Natal, seja no interior, estão excluídos da possibilidade de serem beneficiados com esses recursos.

E por que esse empréstimo é ilegiítimo? É ilegítimo porque não beneficia, por exemplo, os favelados de Natal. Com uma população de 803.739 mil habitantes, Natal tem 10% de seus moradores vivendo em aglomerados subnormais, ou seja, favelas, invasões e loteamentos sem titulação. Segundo o Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital do Rio Grande do Norte tem 80.774 pessoas vivendo em aglomerados subnormais.
 

É ilegítimo porque não beneficia o interior, ou seja, segundo dados do IBGE - Censo 2010, como a população do RN é de 3.168.027 habitantes, e Natal tem 803.739 habitantes, ficam fora dos benefícios mais de dois milhões e trezentos mil habitantes.
 

Ou alguém imagina que para a população interiorana do Rio Grande do Norte a construção da Arena das Dunas trará alguma vantagem? Ou alguém imagina que essa obra trará benefícios para os mossoroenses, caicoenses, pauferrenses, para citar alguns?
 

Claro que todos quantos foram movidos, encaminhados para fazerem a defesa da Arena das Dunas, seja por ignorância, seja por má-fé, hão de dizer que todo esse investimento feito há de retornar por intermédio, por exemplo, do aumento da tributação que reverterá para o social, seja em Natal, seja no interior. É a famoso “teoria do bolo econômico”, o xodó dos ricos, o argumento principal esgrimido para justificar a espoliação, dos que detêm o capital financeiro. Por essa teoria, “aumentemos o bolo que todo mundo come”!
 

Lamento dizer, mas essa teoria foi construída para beneficiar os ricos. Nasceu nos laboratórios do chamado “Consenso de Washington”. E não é nova. Delfim Neto já a brandia décadas atrás quando dirigia os destinos econômico-financeiros do Brasil, sabe-se lá a serviço de quem. Não por outra razão Branko Milanovic, principal economista do departamento de pesquisa do Banco Mundial, citado por Bauman, afirma que
 

Na virada do século XXI, os 5% mais ricos do planeta recebem um terço do total da renda global, tanto quanto os 80% mais pobres.
 

Conclui Balmant:
 

Embora alguns países pobres estejam se emparelhando ao mundo rico, as diferenças entre os indivíduos mais ricos e mais pobres são enormes e tendem a crescer.
 

E o que é pior, especificamente, é que os ricos estão mais ricos pegando nosso dinheiro a preço vil, oferecido pelo Estado, captado diretamente, e o maior atingido é a classe média, vítima indefesa da tributação (os ricos transferem o ônus para os pobres), ou captado obliquamente, na base da sociedade, quando esta paga tributo indireto ao comprar bens de primeira necessidade, como uma caixa de fósforos, e o recebendo de volta gordo e lustroso.
 

Chama-se transferência esse processo: tiram de nós e dão a eles. É isso que os governos fazem quando pegam dinheiro emprestado para financiar obras que somente beneficiam uns poucos, em detrimento de muitos.
 

Vou dobrando o cabo da boa esperança, como dizia minha mãe se referindo aos que passam dos cinqüenta, e não vi nada mudar desde criança, no que diz respeito à distribuição da riqueza que o bom Deus houve por bem deixar na face da terra: os ricos continuam ricos, os pobres continuam pobres. O que mudou - e como, foram os instrumentos por meio dos quais os ricos arrancam o dinheiro dos pobres.
 

Não estranho, portanto, o que li em Bauman. Tampouco o que li do economista do Banco Mundial.
 

Mas não vou perder as esperanças. Meu padrinho Padre Cícero dizia, e minha santa mãe repetia, que “um dia o Sertão vai virar mar, e a roda grande entra na roda pequena”.
 

É aguardar...

sábado, 2 de março de 2013

QUAL CONSTITUIÇÃO?

Robert Darnton, em "Os dentes falsos de George Washington":

"Examine a correspondência entre Jefferson e Madison e você topará com observações como esta: 'A terra pertence sempre à geração contemporânea (...). Cada Constituição, portanto, e cada lei, expira (sic) naturalmente ao final de dezenove anos. Se forem levadas a durar mais, trata-se de um ato de força, e não de direito".

Lysander Spooner, em "No Treason", compilado por George Woodcock em "Os grandes escritos ANARQUISTAS":

"A Constituição não tem autoridade ou obrigação inerentes. Não tem nenhuma autoridade, a não ser pelo contato homem a homem. Nem mesmo pretende ser um contrato entre pessoas. No máximo pretende ser um contrato entre pessoas que viveram há 80 anos".

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

DE UM PAI APAIXONADO



 
A Princesa do meu Reino
 
 

Parece que foi ontem, mas você tinha ainda quatro ano:
 
-      Papai, o medo pode transformar a gente em herói, não é?
-      Como assim, Bárbara?
-      Como Mogli, papai.
-      O que é que tem Mogli?
-      Ora, papai, ele estava com medo dos bichos e aí ele fez muitas coisas.
-      Como Mogli?
-      Sim Papai. Você não gosta de Coragem, o Cão Covarde?
-      Gosto.
-      Então? Coragem não é medroso? E ele sempre não salva sua dona?
 
Minha filósofa...
 
Não pude perceber, não tinha como, não é, naquele momento, sua inteligência fulgurante, a rapidez e a profundidade do seu raciocínio, sua propensão para a abstração. Não pude pressentir, ali, sua capacidade de viajar da matemática para a literatura, fazendo conexões complexas, com a simplicidade que somente alguns privilegiados possuem...
 
 
Minha bela...
 
 
E essa sua beleza moreno-clara que chama a atenção pela simplicidade harmoniosa dos traços, esse rosto suave emoldurado pelo sorriso luminoso que é uma das suas características físicas mais marcantes?
 
 
Minha amiga e confidente...
 
 
Não é assim que nós somos? Amigos desde sempre? Não nos divertimos em longos debates espirituosos e tortuosos, com todas as armas retóricas possíveis, cheios de estratégias e táticas inimagináveis? Não nos consolamos mutuamente, quando a tristeza quer nos arrebatar? Não nos escutamos mutuamente quando o dia ensolarado insiste em se fazer noite tempestuoso? Não já beijei suas lágrimas? Não fui abraçado forte e carinhosamente por você nos meus cansaços?
 
 
Minha inspiração...
 
 
Que dizer do seu apurado senso social? De sua indignação com as injustiças? De sua tristeza com a miséria, com a humilhação, com a opressão? Do quanto você me inspira? Do quanto você me impediu, muitas vezes, de entregar os pontos?
 
 
Conclusão:  
 
Tudo foi, minha princesa, uma eternidade que passou como em um piscar de olhos, de tão feliz: cada segundo, cada minuto, hora, dia, anos, desde o momento mágico em que a tive pela primeira vez nos braços, tão frágil, tão indefesa, tão pequenina, até hoje, quinze anos depois, quando eu a olho e abraço, e meu coração se contrai, acelera, e percebo a menina-moça encantadora que você se tornou.
 
Deus lhe abençoe, meu amor: que a vida lhe seja leve!
 
Honório de Medeiros
 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

NO CORAÇÃO DE NATAL, O ABANDONO!

NA BELA NATAL, EM PLENA AV. GOV. JUVENAL LAMARTINE, TEMOS:
 
 
 
Parque Ney Aranha Marinho
 
 
 
Alameda Deífilo Gurgel e Academia da Terceira Idade
 
 
QUE VOCÊ, DE LONGE, IMAGINA SER ASSIM:
 
 
 
 
MAS QUE, NA VERDADE, É ASSIM:
 
 
 
E ASSIM:
 
 
 
 


A NORMA JURÍDICA É SEMPRE UMA EXTENSÃO DO PODER POLÍTICO

A interpretação, produção, e aplicação da norma jurídica reflete, sempre, a vontade de quem detém o Poder Político, mesmo que em uma circunstância fugaz.
 
Não poderia ser diferente: a norma jurídica, sua interpretação, produção, e aplicação é, sempre, uma extensão desse Poder Político, é, sempre, um instrumento do Poder Político.
 
Quando, pela primeira vez na história, em Atenas, a norma jurídica adquiriu a roupagem retórica de instrumento para a obtenção da Justiça, refletiu a vontade política da nova classe que se contrapunha à aristocracia então reinante: a classe média, formada por comerciantes, artesãos, construtores, prestadores de serviços, produtores rurais de pequena monta, e assim por diante.
 
O sonho durou pouco e se transformou em pesadelo com Esparta, Alexandre da Macedônia, e, no final, Roma. Mas durou o suficiente para originar essa retórica relação entre Direito e Justiça.
 
Uma retórica Justiça que tem como núcleo o Justo-Em-Si-Mesmo, esse fantasma que ainda hoje assombra os atrasados livros de Filosofia do Direito.    

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O DEDO NA FERIDA

Carlos Santos, mais uma vez, com o talento que lhe é peculiar, põe o dedo na ferida. Leiam, abaixo, o que ele pensa acerca do bate-boca entre os idiotas "esquerdopatas", de um lado, e os imbecis "quasímodos morais da direita", do outro:

Dois lados de um debate que não existe

Blog do Carlos Santos


As redes sociais não têm contribuído para o bom debate. Triste, mas é a mais pura verdade.
 
De um lado, os “esquerdopatas” e na outra ponta, “quasímodos morais da direita”.
 
Cada corrente defende seus ícones atacando o contendor ideológico. Ambos fogem do questionamento elevado e do estudo de fatos.
 
Prevalece a deificação ou o enxovalhamento da honra desse ou daquele político, dependendo do ângulo de visão e interesse.
 
Sobram agressões e insultos bobos. Mexer nos vespeiros é ruim para os militantes cibernéticos.
Ninguém para para discutir o cerne da questão, em temas como impunidade e corrupção.
 
Com isso, testemunhamos a perpetuação de antigos vícios que prejudicam o Estado e afligem a sociedade.
 
“A culpa é do mordomo”, como se diz num velho clichê de filmes policiais.
 
Pobre Brasil!

A LETRA DO INFINITO

Do retalhosdoquesou.blogspot.com
 
 
Regina Azevedo
 
reginazvdo.blogspot.com.br
 

Em janeiro, li 'As vantagens de ser invisível', e chorei bastante, porque, além de ter me identificado muito com as histórias, o livro é tocante e muito lindo. 

Quem nunca se sentiu infinito? 

Eu já. 

A primeira vez em que me senti infinita foi quando li esse livro. A segunda foi quando tive um pesadelo e meu pai cantou pra mim, enquanto me balançava numa rede, até eu adormecer. A terceira vez foi quando senti um calor gigante, e tomei um quase-banho numa pia, e minha roupa ficou toda molhada - uma coisa linda de se ver. A quarta vez foi quando tomei banho, depois de um dia extremamente cansativo, e adormeci sem roupa alguma, completamente molhada, debaixo dos lençóis. A quinta vez foi quando me disseram que algo que eu tinha escrito tinha mudado uma vida. A sexta vez foi quando eu assisti o filme 'O lado bom da vida', e fiquei dançando, ali, no meio do filme, um monte de gente olhando. A sétima vez foi quando eu fiquei brincando de ser feliz, em um balanço que, teoricamente, só suportaria metade do meu peso. A oitava vez - e já estou ficando cansada desses números ''ordinários'' - foi quando dancei tanto que acordei completamente dolorida, no outro dia. A oitava vez, e não menos importante, foi quando comprei minha nova sapatilha de ballet e dancei e dancei e dancei, como se eu fosse a única no mundo e o mundo inteiro fosse vários. 

Mas, e quando esse sentir-se infinito não acaba nunca?, me pego perguntando, pouco tempo atrás. 

Dizem que eu estou apaixonada. Meus olhos brilham, meus poemas ganharam um quê de paixão e eu vivo chorando. Mas, oras! Eu sempre fui apaixonada. 

Pelos pássaros. 

E quem nunca?! 

Pois que digam. Espalhem em todos os reinos, façam a notícia correr rios e lagos, mandem avisar aos reis. Ordenem ao (ex-)papa que não renuncie, porque REGINA ESTÁ APAIXONADA! 

Estou apaixonada por um simples e único motivo: poder me apaixonar. 

E se não existisse ninguém que cativasse outros a tal ponto de fazer olhos brilharem e textos ganharam mais paixão? Como seria o mundo? 

Por Jesus, Maria e Vishnu. 

Estarei apaixonada até o dia em que estiver viva. 

Se não por algo, por tudo! Por um pássaro, por um canto, por um olho, por uma lágrima de canto de olho, uma dança, uma música, um poema, uma palavra... 

E espero que o Infinito inteiro me faça sentir infinita, sempre. 

Porque se não for assim, eu não quero ser nada. 

P.S.: Esqueçam essa história de pedir pro (ex-)papa não renunciar, porque eu quero é um papa mais pop!