O governo é o pior dos sócios: arranca sem piedade, não contribui com coisa alguma, e não tem como vc se desfazer dele (de um empresário brasileiro mais que desiludido).
sábado, 18 de agosto de 2012
MAU RESULTADO EM EXAME DA OAB ALERTA MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Do Blog de Ricardo
Noblat
Congelamento da oferta de vagas está em estudo, diz
secretário
Por Marcio Beck
RIO - Diante da reclamação da OAB de que a baixa qualidade
dos cursos jurídicos do país é o principal motivo para o fraco desempenho dos
candidatos no exame da Ordem, o governo federal estuda um novo plano de
regulação do segmento, que será apresentado em novembro e entrará em vigor em
janeiro de 2013. O último exame da entidade aprovou apenas 14,97% dos 109.649
candidatos que compareceram à prova. Foi o pior resultado desde que a
verificação, antes promovida pela seccional da ordem em cada estado, foi
unificada, em 2009.
O secretário nacional de Regulação e Supervisão da Educação
Superior do Ministério da Educação (MEC), Jorge Messias, afirmou que essa realidade
vai mudar. Entre as propostas discutidas por um grupo de trabalho formado por
representantes do MEC e da OAB, estão a revisão do processo de autorização para
a criação de cursos, que ficará mais rigorosa, o congelamento da oferta de
vagas, cortes nas vagas efetivas e remanejamento das ociosas. Para definir os
critérios destas ações, o ministério está mapeando a distribuição da oferta nas
microrregiões do Brasil.
— Queremos uma análise qualitativa mais apurada dos cursos.
Na última supervisão que fizemos, no ano passado, cortamos 10.868 vagas de 160
cursos, incluindo vagas efetivas — explica Messias.
OAB contabiliza mais de 1.200 cursos
O número excessivo de cursos de Direito no país é o
principal motivo apontado pela OAB para a baixa qualidade do ensino. Os 1.092
cursos superiores de Direito registrados no Ministério da Educação — que reúnem
594,5 mil alunos matriculados — têm atualmente cerca de 80 mil vagas ociosas.
Nas contas da OAB nacional, o número de cursos é maior: 1.259, segundo o
presidente da Ordem, Ophir Cavalcante.
Cavalcante defende que é “impossível” a oferta de ensino de
qualidade com a quantidade elevada de cursos.
— O exame é de dificuldade média. A única matéria cobrada
que não é obrigatória na grade curricular do MEC é Direitos Humanos. Quem faz
bom curso passa na prova — completa Cavalcante, para quem o percentual de
aprovados deveria ser pelo menos de 50%.
O grupo de trabalho começou a se reunir em julho e terá mais
três encontros antes de apresentar o plano. O aumento no rigor da fiscalização,
porém, já está valendo, afirma o secretário:
— Nos últimos cinco anos, apenas 38 dos 178 pedidos de
abertura de cursos de Direito foram atendidos.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
O "OAB RECOMENDA" E A GESTÃO DO ENSINO NAS INSTITUIÇÕES PRIVADAS DE ENSINO JURÍDICO
Por Honorio de Medeiros
A
Diretora Nacional de Ciências Jurídicas do Grupo Estácio, Solange Moura,
explicando o índice de aprovação de 45,83% do Campus Petrópolis no Exame da OAB
cujo resultado foi anunciado neste agosto de 2012, fez um diagnóstico das
dificuldades das instituições particulares quando comparadas com as públicas e
apresentou o projeto pedagógico que, no seu entender, é o apropriado para
enfrentar tal situação. Veja em: (http://www.tribunahoje.com/noticia/36467/brasil/2012/08/13/universidades-federais-sao-campeas-de-aprovacao-no-exame-da-oab.html).
No
seu entender o trabalho das instituições particulares é “muito mais duro” que o
das públicas, já que elas recebem, de forma acentuada, os alunos vindos do
ensino público, e precisam nivela-los com aqueles oriundos do ensino privado de
primeiro e segundo graus.
Diz
Solange: “Nos primeiros anos trabalhamos fortemente leitura e redação. A
formação específica é feita de forma contextualizada. A cada semana eles
resolvem um caso concreto jurídico”.
Seria
interessante sabermos se é esse o projeto pedagógico do INSTITUTO DE CIÊNCIAS
JURÍDICAS E SOCIAIS PROFESSOR CAMILLO FILHO (ICF), uma Instituição de Educação
Superior (IES) mantida pela SOCIEDADE PIAUIENSE DE ENSINO SUPERIOR LTDA. O ICF
foi inaugurado em 5 de julho de 2000, iniciando suas atividades acadêmicas em 5
de agosto do mesmo ano, e recebeu, recentemente, o disputado “OAB
RECOMENDA” (http://oab.jusbrasil.com.br/noticias/3092628/oab-confere-selo-de-qualidade-a-89-cursos-de-direito-brasileiros).
Aqui
no Rio Grande do Norte somente o CENTRO UNIVERSITÁRIO DO RIO GRANDE DO NORTE (FARN)
ostenta esse galardão.
Não
é muito difícil chegar ao diagnóstico apresentado pela Diretora Solange Moura.
Entre outros indicativos, tais como gestão equivocada de recursos humanos e infraestrutura,
ou mesmo planejamento realizado segundo moldes ultrapassados, a questão do
nível de aprendizado dos alunos das escolas públicas, principais “clientes” dos
cursos particulares de Direito, é, realmente, significativa, e uma das causas
do pífio resultado obtido por essas instituições nos exames da OAB.
Outro
indicativo é a leniência com os alunos que estudam à noite e sua cultura de
“pagou passou”.
Da
mesma forma, no que tange a sua proposta pedagógica, no geral ela está correta.
A grande questão não é a ideia em si de trabalhar esmeradamente leitura e
redação, como proposto, nos primeiros anos. Aliás, é preciso trabalhar
firmemente leitura e redação TODOS OS ANOS DO CURSO.
O
problema é como fazê-lo. Aliás, esse é o problema fundamental da gestão, pois
implica em avaliação permanente e retificação constante dos obstáculos que se apresentam,
tudo dentro de uma determinada perspectiva estratégica. Leia, para ter uma noção, http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2011/06/eficiencia-na-gestao-publica.html
No
caso específico das instituições particulares, que têm de levar em consideração
a presença do viés financeiro e seu mandamento fundamental (“é preciso lucro”)
no planejamento, a gestão, para alcançar êxito, precisa de recursos humanos com
experiência (currículo) e descortínio. Precisa de solidez e ousadia. Precisa de
conhecimento e inteligência. Não há espaço para a mediocridade.
Será
que as instituições particulares de ensino do Direito no Rio Grande do Norte
estão atentas a esses parâmetros?
OAB DE MOSSORÓ FIRMA PARCERIA PARA COLETAR PAPEL E RECICLÁ-LO
A OAB Subsecção de Mossoró, através da Comissão de Meio Ambiente, firmou parceria com a empresa Brasil Green Embalagens, com o intuito de coletar papel usado e fazer a devida reciclagem.
Haverá uma contrapartida financeira da empresa por cada quilograma de papel recolhido, cujo valor será revertido para as atividades da própria Comissão e doação a entidades que militam na proteção dos animais e defesa do meio ambiente.
Separe os papéis (papel ofício usado, jornais, revistas, etc.) que você normalmente jogaria no lixo comum, e ligue para a OAB que faremos a coleta, ou ainda pode deixar na própria OAB, para a devida RECICLAGEM pela empresa conveniada.
Agradecemos sua colaboração e desde já aceite nossa felicitação por esta atitude, que contribuirá para termos progresso com desenvolvimento sustentável.
Atenciosamente,
OAB Subseccional Mossoró – RN
Comissão de Meio Ambiente
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
DE UMA CONVERSA AGRADÁVEL ACERCA DE CANGAÇO NA OITAVA FEIRA DO LIVRO DE MOSSORÓ
No sentido horário, Professor Joca, Kydelmir Dantas e Honorio de Medeiros
No dia 11, começo da noite, eu e o Professor Joca, com moderação de Kydelmir Dantas, conversamos acerca de Cangaço, para uma atenta e participativa platéia na 8ª Feira do Livro de Mossoró.
O professor, que andava afastado do "mundo do cangaço" reviveu suas experiência de pesquisador, quando saiu Brasil adentro pesquisando, entrevistando e conhecendo os principais personagens dessa saga sertaneja nordestina.
Eu, pelo meu lado, mais uma vez falei acerca dos mistérios que envolvem a invasão de Mossoró por Lampião. Acrescentei, também, alguns dados que não eram do meu conhecimento quando lancei "Massilon".
Seu Kydel, serenamente, conduziu os trabalhos e, qual cangaceiro escapando das volantes, tão logo terminou a mesa-redonda, desapareceu sem deixar vestígios, não podendo participar do jantar com o qual eu, generosamente, queria lhe presentear, para agradecer uma lembrança da residência onde Childerico Fernandes e sua família residiam quando receberam a visita de Lampião fugindo de Mossoró, após a derrota, e que foi demolida pelo tempo e insensatez dos homens.
É isso mesmo. Que se há de fazer?
No mais é salientar o prazer de ter conhecido o professor Joca e ter estado, mais uma vez, falando para os mossoroenses acerca de cangaço.
MOYSÉS SESYOM
Por Ricardo Sobral
Moysés Lopes Sesyom (Sesyom é Moyses ao contrario, observou?), poeta fescenino, quando nasceu em 28 de julho de 1883, na fazenda Baixa Verde, Caicó se chamava Vila do Princípe.
Embora caicoense, viveu a partir de 1905 em Assu, contribuindo decisivamente para que Assu seja conhecida hoje como a terra dos poetas. Gostava de uma carraspana e de frequentar cabaré.
Era sifilítico; de nariz achatado.
É o Gregório de Matos do Rio Grande do Norte, já que, além de versos fesceninos, produziu também versos chistoros e satíricos. Entretanto, como predominou na tradição oral seus versos fesceninos, ficou conhecido como "O Bocage Rio Grandense".
Segundo Câmara Cascudo "in" "O Livro das Velhas Figuras", volume 4, Sesyom começou a versejar aos 30 anos de idade - "sem saber, era poeta verdadeiro, espontâneo, inexgotável, imaginoso, original".
Próximo ano, completa 130 anos de seu nascimento.
Este ano, em 09 de março, completou 80 anos de seu falecimento (1932). Contudo, seus versos são declamados até hoje, perpetuados que foram pelo povo.
Para homenageá-lo no transcurso dos 80 anos de sua derradeira viagem, escolhi três glosas. A primeira, revela seu lado boêmio; a segunda, o chistoso; a terceira, o satírico. Vejamos:
I
Vida longa não alcanço
Na orgia ou no prazer,
Mas, enquanto eu não morrer
- Bebo, fumo, jogo e danço!
Brinco, farreio, não canço,
Me censure quem quiser...Enquanto eu vida tiver
Cumprindo essa sina venho,
Além dos vícios que tenho,
Sou perdido por mulher!...
II
Eu conto o que se sucedeu
Debaixo da gameleira.
Foi um tiro de ronqueira,
O peido que a nega deu.
Toda a terra extremeceu,
Abalou todo o Assu,
A nega mexendo angu,
Puxou a perna de lado.
Deu um peido tão danado
que quase não cabe no cu.
III
Sargento as suas devisas
Deus terá de protegê-las
Dos braços irão para os ombros
E aí serão estrelas.
E deus há de me dar vida
Para que eu possa vê-las
O Cabo que aí está
Nunca será tenente.
O galão que ele terá
É um galão diferente:
È um pau com duas latas,
- Uma atrás, outra na frente.
domingo, 12 de agosto de 2012
O ENGENHO DE SÃO PEDRO
Por François Silvestre
Não lembro exatamente da primeira vez que senti o gosto do alfenim ainda quente, na hora do puxa-puxa. Mas lembro, como se fosse agora, do cheiro da fumaça que se despregou da chaminé do engenho no primeiro dia daquela moagem.
Não lembro exatamente da primeira vez que senti o gosto do alfenim ainda quente, na hora do puxa-puxa. Mas lembro, como se fosse agora, do cheiro da fumaça que se despregou da chaminé do engenho no primeiro dia daquela moagem.
A casa sede da fazenda ficava num alto, de onde se avistava o engenho e as pedras de uma pedreira branca, cujo sol do meio dia iluminava a subida verde da Serra de Portalegre.
O ano fora de bom inverno; a baixa de cana adocicou, ao sugar a seiva doce do massapê, dando aos jegues bastante trabalho para carregar os cambitos cheios das piojotas e listadas na direção das caldeiras.
No ano anterior morrera meu pai adotivo, o padre Alexandrino Suassuna. No ano seguinte, seria assassinado o meu pai biológico. Antônia de Bibiana, mulher de Raimundo de Taninha, era, naquele momento, minha mãe provisória.
O engenho de São Pedro era propriedade de um tio, irmão do padre. A Serra do Martins, onde eu morara na primeira infância, apenas desenhava para o poente uma silhueta azul acinzentada. Pois o azul não é uma cor, mas uma distância.
Estava agora noutro mundo. Moleques da minha idade, entre sete e oito anos. O bagaço da cana estendida no oitão do engenho oferecia uma praça para jogos e brigas. O açude e a barragem, que hoje sei pequenos, pareciam imensos mares aos meus olhos de criança.
Ficávamos de olho na chaminé, cuja parte de cima se avistava da barragem. O segredo residia na cor da fumaça. Assim como na eleição dos papas, a cor da fumaça, no engenho, também avisa a hora do melado, ao ponto, ser transferido para a gamela. Só muda a tonalidade das cores. No vaticano, o sinal é a fumaça branca; no engenho, a fumaça cinza escuro.
Aí saíam todos, pelados, da água, para vestir às pressas calções ou calças curtas. Em carreira estabanada para o pátio da bagaceira. Era o momento das puxadeiras mergulharem os camelos no mel. Camelo é uma cana grande de boa espessura, geralmente a listada, que se raspa a parte superi cial sem tirar a casca, lavada, que se mergulha na gamela e se vai girando para fixa-lo até que se proceda a retirada do melado ainda marrom, que vai virar alfenim.
É uma dança de arte; várias mulheres a puxar, girando no ar, aquele mel grosso, mudando de cor, até ficar quase branco. Antes que “morra”, elas fazer desenhos de flores ou bichos, que serão postos numa tábua untada de goma.
Para nós, os moleques, restava o mais sublime dos doces, que é a raspa da gamela. Lambuzados de mel e infância corríamos de volta para água. A criança é o mais perigoso dos vigilantes. O adulto, cuja ganância armazena rugas, não vigia o prazer. Gasta-o. O moleque nada promete ao futuro.
Quando cresce, mata o menino e vira estúpido. Té mais.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
ADEMIR RIBEIRO - A VOZ DE OURO DO RÁDIO
Ademir Ribeiro
Por Carolina Wanderley Neves
Esta é uma história curta, que se preenche de outra.
Começa, caso tenha início, com o contato entre dois desconhecidos.
“Não nos conhecemos. Mas me parece que tínhamos um amigo (ao menos conhecido) em comum: Ademir Ribeiro. Falecido ontem, por volta das 20h no hospital da Av. Antônio Basílio. Nos últimos quatro anos, definhando sob as garras da demência senil agravada pelo Alzheimer, sucumbiu, pois, a uma repentina queda de pressão.
Uso este meio para lhe informar do falecimento. Morreu esquecido e só (à exceção da presença dos filhos do primeiro casamento, com Teresa). Solidão mesma que já lhe ocorria há uns poucos anos. Sem álcool, sem cigarro, sem amigos.
Vou ver se consigo ao menos deixar-lhe gravado à lápide: “Ademir Ribeiro – A voz de ouro do rádio”.”
A morte parece-nos um destino comum, sob o qual nenhum controle detemos. E sendo curta a vida, mais hora, menos hora, ela chega. Preciso agora falar sobre este homem, que há pouco faleceu, meu avô, Ademir Ribeiro.
TANTO NOMINI NULLUM PAR ELOGIUM, eis o epitáfio de Maquiavel: “Para tão grande nome, elogio não há!”. Meu avô provavelmente não se satisfaria com tamanha luxúria em elogios! Ele não queria elogios à toa. Dispensava-os sem falsa modéstia, escondendo no fundo uma sincera certeza de ter cravado sua marca na história do radio potiguar, e no coração norte rio grandense. Sempre soube: ele gostava era de reconhecimento.
Ademir Ribeiro, nascido em 02 de junho de 1939, locutor e boêmio por profissão, era um apaixonado pelo Radio e pelo Futebol.
Viveu intensamente cada faceta de sua vida. Amou suas mulheres, seus filhos, sua profissão, sua cachaça e o cigarro de cada dia. Devoto de Nossa Senhora de Fátima e torcedor ferrenho do América, escreveu na história do Radio Brasileiro um importante capítulo.
Nostálgico e solitário, meu avô foi, sem dúvidas, um dos homens mais inteligentes que já conheci na vida. A solidão tem mesmo dessas coisas. Lembro-me das visitas semanais, aos sábados, à sua residência, no bairro de Cidade Satélite, regadas a torradas de pão dormido da padaria, café, e muitos vídeos. Entrar no “escritório” do meu avô era o que hoje eu chamaria de “momento Cult”.
Entre cinzeiros, copos de café frio e garrafas de cachaça, um raro acervo de fitas VHS e inúmeras K-7s do programa Show da Manhã, do qual se orgulhava de ter protagonizado por muitos anos, transmitido pela Radio Poti.
Com sua bolsa tiracolo e seu gravador munido de fitas, a qualquer hora do dia Ademir estava disponível no Bar de Lourival, na Deodoro da Fonseca, tomando sua garrafa diária de Caranguejo e fumando suas tantas carteiras de cigarro.
Avesso à política, repetidamente se recusou a ter sua voz estampada em campanhas e candidaturas. Dedicou-se ao “rádio-romantismo” à lá Janete Clair. Não se furtou à oportunidade de abrir espaço para sua nostalgia no Show da Manhã, tocando “músicas do passado”, como dizia.
Ademir era isso, ou este. Ou as duas coisas. Gostaria de ter-lhe ao menos dito: “Vai em paz, tua história vive!” Mas foi e é assim, sorrateira e repentinamente que a morte chega. Precisando, então, de um epitáfio digno para este homem, recordei-me que, em entrevista ao Jornal Zona Sul, quando perguntado sobre como queria ser lembrado, respondeu: Eu? Nem sei... Podia ser Ademir Ribeiro, a voz de ouro do rádio. Porque esta voz eu não ganhei de graça. Foi Deus quem me deu.
Pode botar lá no meu túmulo. “Ademir Ribeiro – A voz de ouro do rádio”. Só isso.
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
BLOG DO CARLOS SANTOS: UNP BALANÇA COM CRISE SEM PRECEDENTES
Jornalista Carlos Santos
Do blogcarlossantos.com.br
Por Carlos Santos
quinta-feira - 09/08/2012 - 10:24h
Gestão e ensino
O Curso de Direito da Universidade Potiguar (UnP), Campus de
Mossoró, vive há vários dias uma crise sem precedentes. O redemoinho produz
círculos concêntricos que ameaçam estilhaçar a imagem da instituição fora de
sua estrutura física, no âmbito do Ministério da Educação (MEC) e Justiça
Federal.
Tudo começou com a imposição de decisões pela diretoria da
instituição, que é controlada há alguns anos por poderoso grupo multinacional.
A partir daí ocorreu demissão sumária do diretor do curso no Campus em Mossoró,
o conceituado professor Marcelo Roberto dos Santos.
A Laureate International Universities — maior rede de
universidades do mundo -, que controla a UnP desde 2007, pretende um reordenamento de custeio da
máquina pedagógica, sacrificando justamente quem mais precisa de incentivo: o
docente. Quer reduzir custo punindo seu melhor insumo, o professor.
Essa chamada “reengenharia” passou a suprimir benefícios da
remuneração do professorado, traduzidos de forma mais clara no que se denomina
de “hora-aula”, assentada em trabalhos, orientações de cursos etc.
Punição
Marcelo resolveu escudar os professores
Opondo-se à mudança, ele mostrou em seu arrazoado que o
Curso de Direito do Campus de Mossoró mostrava resultados que mereciam
incentivo e não punição. Sua performance eclipsa congêneres da mesma
instituição, que funcionam na capital do estado. Em Natal, o corte começou há
mais tempo e de modo incisivo.
Até o momento, a Laureate não conseguiu contorna o caos que
se formou a partir da demissão de Marcelo Roberto. A direção do curso em
Mossoró virou um vácuo.
Professores prometem debandar, solidários e insatisfeitos
com a supressão de ganhos pecuniários. Noutra frente, há mobilização com dossiê
que denunciaria a instituição ao MEC e Ministério Público Federal, por supostas
e graves irregularidades. A UnP estaria maquiando desempenho e certas
exigências legais.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
ACERCA DE UMA COLEÇÃO DE QUEM REALMENTE PESQUISAVA O CANGAÇO
Por Rostand Medeiros
Em 9 de janeiro de 1980, o jornalista pernambucano Nilson
Deocleciano Pereira Lima falecia no Hospital Geral de Urgência de Recife . O
jornalismo nordestino perdeu então um profissional de espírito irrequieto,
considerado um ótimo repórter e que se foi com apenas 38 anos.
Nilson Pereira Lima atuou em veículos de comunicação como os
jornais “O Globo” (Rio de Janeiro), “Diário de Pernambuco” e “Jornal do
Comércio” (Recife), além de ter atuado nas revistas “O Cruzeiro”, “Veja” e
“Manchete”. Esteve também em redações de emissoras de televisão. Seu trabalho
foi laureado com o Prêmio Esso de Jornalismo.
Segundo a reportagem sobre a sua morte, publicada no “Jornal
do Comércio”, edição de 10 de janeiro de 1980, entre as décadas de 1960 e 1970
Nilson viajou muito pelo interior do Nordeste . Deste período o jornal destaca
uma reportagem feita no Rio Grande do Norte, onde ele apresentou o “Sindicato
da Morte”. Este era um grupo de pessoas que se especializou em contratar “mão
de obra qualificada”, que atuavam no Seridó e Oeste potiguar, matando quem quer
que fosse e preços a serem combinados.
A reportagem do “Jornal do Comércio” informa que em suas
viagens, Nilson Pereira Lima não deixava passar a oportunidade de entrevistar
pessoas que estiveram envolvidos com cangaceiros, ou foram vítimas destes. Para
este fim utilizava os velhos e pesados gravadores de fitas K7, daqueles que a
energia provinha de quatro pilhas das grandes e era transportado a tiracolo.
Batalhador, ele não deixava de buscar uma boa informação sobre o cangaço,
Lampião, coronéis e outros personagens nordestinos, indo buscar as fontes nos
rincões mais isolados.
Consta que ele foi a última pessoa a entrevistar Francisco
Heráclio do Rêgo, o famoso coronel Chico Heráclio, do município de Bom Jardim,
Pernambuco, considerado o derradeiro coronel nordestino.
Anda sobre o cangaço, Nilson Pereira Lima possuía um vasto
acervo de gravações e fotografias, conquistado em uma luta de muitos
quilômetros de estrada. A reportagem informa que ele desejava escrever uma
biografia de Lampião, onde buscaria dar um enfoque diferenciado a vida deste
bandoleiro.
Tempos depois após seu falecimento, mais precisamente no dia
12 de maio de 1980, na coluna do jornalista Paulo Fernando Craveiro, na página
A-6 do Diário de Pernambuco, publicou uma pequena nota informando que o acervo
de Nilson Pereira Lima sobre o cangaço seria doado a Fundação Joaquim Nabuco.
Efetivamente, em 28 de outubro de 1981, segundo o site desta
instituição (http://www.fundaj.gov.br/docs/indoc/icono/npl.html) a viúva do
jornalista, a Senhora Cristina Maria Fills Pereira Lima, entregou a esta
respeitada entidade o material de seu esposo.
Segundo o site, constam no inventário da Fundação Joaquim
Nabuco 165 fotografias, com uma abrangência que abarcar os anos entre 1930 a
1974, com autores como os fotógrafos Pedro Luiz e Alcedo Lacerda e outros não
identificados. O site ainda informa que algumas destas imagens mostram áreas do
Rio Grande do Norte, como a região de Mossoró, Angicos e as nossas salinas.
Relativo ao cangaço nesta coleção, o site informa que
existem “fotos de cangaceiros com familiares e captores”.
Sobre as gravações, não existe nenhuma referência.
Busquei contato com esta entidade através de telefone, onde
fui muito bem atendido, mas não obtive nenhuma resposta se, no momento da
entrega do acervo do jornalista Nilson Pereira Lima, o material gravado foi
igualmente entregue.
Realmente esta coleção, na mão de um esforçado pesquisador,
poderia render ótimos frutos e ótimos trabalhos. Para este pretenso
pesquisador, ele nem precisaria viajar ao interior para procurar as fontes e
isto lhe facilitaria muito a sua vida.
Um adendo.
Segundo site da Fundação Joaquim Nabuco, que no seu estatuto
informa ser uma “entidade vinculada ao Ministério da Educação e Cultura, sem
fins lucrativos”, que apregoa em seu site ter como missão “Produzir, acumular e
difundir conhecimentos, resgatar e preservar a memória e promover atividades
científicas e culturais, visando à compreensão e ao desenvolvimento da
sociedade brasileira, prioritariamente a do Norte e do Nordeste do país”, chega
a cobrar até R$ 92,00 pelo serviço de reprodução digital (em resolução 300 DPI)
de cada uma das fotos da coleção do jornalista Nilson Pereira Lima, ou de
qualquer outra imagem de suas variadas e raras coleções de fotografias.
No site da Fundação encontramos a informação que
“Diversificar e ampliar as ações de comercialização de bens e serviços para
elevar a arrecadação de recursos próprios é uma das prioridades estratégicas da
Fundação Joaquim Nabuco”.
Realmente “prioridade” não é a mesma coisa que “missão”.
domingo, 5 de agosto de 2012
O FIM (OU NÃO) DO EXAME DA OAB COMEÇA A SER VOTADO
O debate sobre a manutenção do exame da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB) para exercer a advocacia poderá ganhar novo capítulo esta
semana.
Deve ser colocado em votação, na quarta-feira (8), o
requerimento de urgência para o Projeto de Lei nº 2.154/2011. A proposta, de
autoria do deputado federal Eduardo Cunha (pmdb-RJ), visa alterar a lei para
que o exame da OAB seja extinto.
Caso a urgência seja aprovada, o texto seguirá para
apreciação no plenário da Câmara dos Deputados.
De acordo com Cunha, a exigência da prova é discriminatória.
"A profissão de advogado, no Brasil, é a única que pede
a realização de um exame para ser praticada. Isso está errado."
Para ele, a regra não pode se restringir a uma só carreira.
"Se é para ter, isso deve ser estendido a outras áreas", diz.
Uma possível reserva de mercado é colocada pelo deputado
para sustentar o projeto.
"Na medida em que se escolhe quem pode exercer a
profissão, mantém-se um campo de atuação profissional de tamanho reduzido,
eliminando a concorrência."
Deu no Correio Braziliense
DESEMBARGADORES: RENDIMENTOS EM ALTA, PRODUTIVIDADE EM BAIXA
http://oglobo.globo.com
Em junho, salários de desembargadores em 16 TJs superaram o
teto
Por Gustavo Uribe
SÃO PAULO - Em junho, os desembargadores do país receberam,
em média, remunerações superiores ao atual teto constitucional brasileiro, o
que, mesmo assim, não tem representado alta produtividade no andamento dos
processos. A conclusão é de levantamento realizado pelo GLOBO, que cruzou a
folha de pagamento dos tribunais de Justiça estaduais com pesquisa realizada
pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a taxa de congestionamento das
ações que correm na segunda instância do Judiciário.
O GLOBO pesquisou folhas de pagamento dos 16 tribunais de
Justiça que cumpriram, total ou parcialmente, a determinação que obrigou a
divulgação nominal dos salários de magistrados e servidores. O vencimento médio
dos desembargadores, no mês de junho, foi de R$ 31,8 mil, montante acima do
teto constitucional, de R$ 26,7 mil.
A última edição da Pesquisa Justiça em Números, do CNJ,
apontou no Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJ-MT), no qual o rendimento
médio dos desembargadores chegou a R$ 49.501,97, que a taxa de congestionamento
foi de 52,6%, acima da média nacional, que é de 48,2%. No período, os maiores
valores foram pagos aos desembargadores Paulo da Cunha (R$ 64.708,54) e Dirceu
dos Santos (R$ 57.383,31). O órgão de justiça alega que o mês foi atípico, uma
vez que os magistrados receberam parte da indenização de férias não gozadas,
“após o acúmulo de dois períodos”.
Com uma taxa de congestionamento de 35,1%, o Tribunal de
Justiça do Rio (TJ-RJ) pagou em junho aos seus desembargadores um valor médio
de R$ 39.878. O maior rendimento foi do desembargador Plinio Pinto Coelho
Filho, que recebeu, no período, R$ 119.764,07, o maior valor encontrado pelo
GLOBO nas folhas de pagamento. No Rio, 30% dos desembargadores e juízes
receberam acima do teto. O menor vencimento foi recebido pela juíza Ana Paula
Rodrigues Silvano ( R$ 11.028,40).
No Ceará, que possui a maior taxa de congestionamento do
país, 70,5%, os desembargadores tiveram um rendimento médio, em junho, de R$
33.331,66. Em São Paulo, o maior TJ do país, que teve um percentual de 63,2% de
congestionamento, apresentou uma média salarial de R$ 30.404.
No Amazonas, média salarial alcançou R$ 55,9 mil
Em meio à discrepância entre rendimentos e produtividade, o
levantamento constatou casos de órgãos que apresentaram rendimentos altos,
porém com baixo índice de congestionamento. O caso mais emblemático foi no
Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), cujos desembargadores receberam, em
média, no mês de junho, R$ 55.985,94.
A taxa de congestionamento foi uma das menores do país, de
25,1%. Por lá, o salário mais alto foi o da desembargadora Maria das Graças
Figueiredo, que teve um rendimento, no período, de R$ 79.036.57.
Um outro episódio semelhante foi o do Tribunal de Justiça do
Amapá (TJ-AP), no qual os desembargadores tiveram uma média salarial de R$
37.299,44. O porcentual de congestionamento, segundo a última edição da Justiça
em Números do CNJ, foi de 19,9%. No estado, o desembargador Mário Gurtyev de
Queiroz recebeu, no período, R$ 71.706,89.
No Maranhão, a taxa de congestionamento foi de 29,5%,
enquanto a média salarial chegou a R$ 34.185,86.
O GLOBO identificou ainda órgãos estaduais de Justiça que
tiveram médias salarias abaixo do teto constitucional, de R$ 26,7 mil e
apresentaram altas taxas de congestionamento. Em Roraima, por exemplo, os
desembargadores tiveram uma média salarial de R$ 23.787,76, enquanto a taxa de
congestionamento chegou a 63,3%.
O Distrito Federal foi o único que apresentou, em junho, uma
baixa taxa de congestionamento e uma média salarial abaixo do teto
constitucional. O vencimento médio pago aos desembargadores, no período, foi de
R$ 19.837. O porcentual de processos congestionados foi de 33,5%.
sábado, 4 de agosto de 2012
O PASSIONAL CÍVICO DO SUPREMO
jornaloexpresso.worpress.com
Do Blog do Noblat
Por Vitor Hugo Soares
A expressão do título destas linhas de opinião é tomada de empréstimo ao saudoso Raimundo Reis, no texto de um dos cronistas maiores do cotidiano da Bahia e do País, sobre um daqueles apaixonados torcedores bissextos que aparecem a cada disputa de Copa do Mundo. Aqui, no entanto, serve para definir a imagem e atuação de um magistrado nesta primeira semana de agosto, na abertura do julgamento dos réus do caso Mensalão.
“Passional cívico” casa perfeitamente com o perfil e a definição do desempenho do ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, que salvou do engodo e da apatia - com sua implacável e indignada reação ética - o espetáculo de abertura do julgamento dos quase 40 acusados no polêmico e explosivo processo.
Na tarde de quinta-feira (2), país na frente da tela da TV. A atenção dividida entre os jogos olímpicos de Londres e o torneio jurídico, político e midiático em Brasília. No plenário do STF, tudo parecia caminhar para o mais indesejável.
“Um espetáculo de quinta (categoria)”, como definiu irritada ao meu lado minha mulher, também jornalista, ao receber telefonema da irmã impaciente e mais brava ainda diante do que estava vendo e ouvindo em sua casa, em Salvador, na transmissão direta do palco dos ilustres juristas.
Margarida (também formada em direito) tentava conter sua fúria pessoal e acalmar a irmã do outro lado da linha. Falava sobre a previsível questão de ordem levantada (mal iniciada a sessão), pelo advogado e ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em defesa do desmembramento dos processos acusatórios contra os 38 réus, na hora H de começar o julgamento.
Manobra ladina, de aplicação comum por figurões do direito nos tribunais de província -, mas visivelmente precária tentativa de um dos mais caros e requisitados defensores de gente de poder, fama e dinheiro no Brasil, de jogar areia no ventilador e confundir os ministros do mais vistoso e importante fórum de justiça do Brasil.
A manobra do advogado dos réus do Banco Rural no Mensalão, entretanto, foi surpreendentemente apoiada de pronto por um dos nomes mais pomposos e acatados entre seus pares no STF: o ministro Ricardo Lewandowski.
Como se não bastasse o simples e estranho acatamento efusivo à tese de Bastos, o ministro sacou do bolso da toga (esta é apenas uma figura de retórica, esclareço) longo, enviesado e cansativo parecer para justificar a injustificável e já superada tese.
Era essa a causa principal do espanto e dos muxoxos de incômodo no plenário, na sede do Supremo, no Distrito Federal. E da irritação manifestada até com impropérios, que se espalhava pelas redes sociais no resto do país como faísca lançadas por ouvintes irados diante das imagens, enquanto o ministro Lewandowski destrinchava o seu interminável arrazoado.
Mas veio do ministro Joaquim Barbosa, caprichoso e eficiente relator do caso Mensalão, a mais ética e indignada reação. Diante da proposta do advogado famoso e do inesperado voto de apoio de seu colega e revisor do montanhoso processo, o ministro Barbosa foi direto ao ponto, sem meias palavras ou filigranas da retórica habitual nos tribunais.
“Nós precisamos ter rigor no fazer das coisas no País. Eu não vejo razão (para o desmembramento do processo unificado) e me parece até irresponsável voltar a discutir esta questão”, reagiu o relator, ao votar contra a proposição de Thomaz Bastos.
Mas o ministro Barbosa seria ainda mais duro ao se opor ao apoio à tese do advogado, partida do ministro que o acompanhara mais de perto e com quem dialogara mais direta e francamente por mais tempo, durante os tensos e desgastantes quase dois anos de preparação do gigantesco processo.
Mal comparando (ou bem?) era lancinante e dolorida como a punhalada inesperada da tragédia shakespeariana. Era o golpe partido de quem menos se espera e de quem mais se confia. Era como se o parceiro tentasse jogar na lixeira tudo que fora arduamente construído em conjunto, para começar tudo de novo.
Com nervos e emoção à flor da pele, o firme e destemido jurista mineiro lembrou tudo isso em breves e candentes palavras, para arrematar com a sentença mais exemplar da abertura do tão aguardado julgamento:
“Isso me parece deslealdade”, questionou Joaquim Barbosa a Ricardo Lewandowski. Palavras de firmeza de caráter e dignidade profissional, que repercutiram intensamente no placar elástico da derrubada da questão de ordem levantada por Thomaz Bastos: 9 a 2.
Palmas para o Relator (com R maiúsculo) no começo do espetáculo. Próximos capítulos a conferir.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
SURGE SINHÔ, O MAIOR DOS PEREIRAS, NO CANGAÇO
Por Manoel Severo
Sinhô Pereira, sentado e Luiz Padre,
de pé
O ano é 1915
quando vamos encontrar Né Dadu, retornando da cidade de Triunfo após ser
absolvido de crime de morte de João Jovino. Naqueles dias uma volante se formava
para capturar um dos maiores desafetos da família Carvalho. Sob o comando do
Tenente Teófanes Ferraz Torres e contando ainda com os Carvalho: Antonio e José
da Umburana e João Lucas das Piranhas, atacam São Francisco , mas não encontram
Né Dadu, espancando fortemente uma negra de nome Antonia Verônica, governanta do
lugar, conhecida por “Mãe Preta” e prendem o mais novo dos filhos de D.
Constança, irmão de Né Dadu: Sebastião Pereira, então com 16
anos.
A represália dos Pereira veio
logo em seguida, quando é morto José da Umburana em emboscada de Vicente de
Marina, o morticínio continua, desta feita mais um Pereira tomba, Né Dadu morre
em 16 de Outubro de 1916, vítima de covarde traição de um ex-cabra dos Carvalho,
Zé Rodrigues, Zé Grande ou simplesmente “Zé Palmeira” que o matou com seu
próprio rifle no lugar Poço do Amolar, na fazenda Serrinha. Esse caboclo Zé
Palmeira havia se aproximado de Né Dadu após ardilosa trama traçada pelos
próprios Carvalho, simulando o rompimento do referido cabra com a família
inimiga. Apesar de Atento e desconfiado Né Dadu acabou sendo ludibriado pelo
audacioso golpe e acabaria sendo vítima fatal do mesmo.
A morte do irmão empurrou
definitivamente o mais jovem da família para o mundo do crime, nascia ali aquele
que seria o mais valente de todos os cangaceiros, segundo o próprio Virgulino
Ferreira: Sebastião Pereira, vulgo Sinhô Pereira.
Partindo na sanha da formação
de seu grupo, Sebastião Pereira partiu em busca do Coronel Zé Inácio, do Barro,
conhecido coiteiro e protetor de bandidos, dali saiu com um grupo de 20 cabras,
tendo como seu lugar tenente seu primo, Luiz Padre, rumo a Vila Bela, no Vale do
Pajeú.
Invadindo São Francisco,
depredou e queimou a loja de Antonio da Umburana e tomou a pequena vila,
partindo dali para as fazendas dos Carvalho, Umburanas e Piranhas, depredando,
queimando, matando animais, destruindo cercas, arrasando tudo. Os Carvalhos
diante de tanta fúria se retiraram para a cidade, finalizando assim a primeira
grande investida do grande cangaceiro.
Sobre a eterna peleja entre os
clãs vamos ter o episódio da invasão à fazenda Piranhas, narrado por inquérito
na própria delegacia de Vila Bela, como segue: “... no dia 1º corrente
apresentaram-se voluntariamente a prizão os indivíduos José Alves de Barros e
José de tal conhecido por José Caboclo e Francisco Alves de Barros, Cincinato
Nunes de Barros, Antonio Carvalho de Barros, conhecido por Antonio da Umburana,
Antonio Alves Frazão, José André, Feliciano de tal, João Ferreira, Francisco
Porphirio, Antonio Teixeira, Antonio Pedro da Costa Neto, Antonio Pequeno, José
Flor e João Tapia todos denunciados neste município como incursos no artigo 294
por terem morto ao cangaceiro Paixão na ocasião em que os mesmos se defendiam do
ataque feito a fazenda Piranhas pelo grupo chefiado por Sebastião Pereira e Luiz
Padre dos qual fazia parte o referido Paixão (Informe ao Chefe de Polícia pelo
delegado de Vila Bela, 5/9/17).
Algum tempo depois
Sebastião Pereira mataria o assassino de seu irmão Né Dadu, o indivíduo
Palmeira, na localidade de Viçosa em Alagoas, tendo Luiz Padre sangrado o
matador de seu pai Padre Pereira, Luis de França, em São João do Barro Vermelho.
Em outra oportunidade na localidade de Queixada, sob a proteção do Coronel Pedro
da Luz, acabou encontrando Antonio da Umburana que foi sangrado, esquartejado e
queimado, assim se configurava a vingança dos primos, Sebastião e Luis
Padre.
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
OUTSIDER: QUEM NÃO SE ENQUADRA
Por Mário Bortolotto
A figura do outsider. Do cara que não se enquadra. Do
sujeito que não faz questão de pertencer a nenhuma turma. O cara que no colégio
sentava na última carteira, não falava com ninguém e ia embora sozinho. Havia
algo de muito maneiro em figuras desse naipe. {na foto, Bukowski}
Numa sociedade onde qualquer babaca quer virar celebridade,
a figura do “ninguém” sempre me pareceu o melhor modelo de vida. E aqui não vai
Charles Bukowskinenhuma pretensão estilosa do tipo “é legal ser diferente”.
Porra nenhuma. O que eu penso é que simplesmente “ninguém precisa ser igual”.
Cada pessoa devia andar por aí rezando pela própria Bíblia,
ou seja, fazendo suas próprias leis e fazendo uso de seu livre arbítrio. Mas
não é o que tem acontecido.
Assisto sem nenhum entusiasmo e com bastante perplexidade
aqueles filmes americanos de turmas de universidade com aquelas indefectíveis
fraternidades onde o cara passa por uma coleção inimaginável de humilhações
apenas com o inacreditável intuito de ser aceito em uma fraternidade de
babacas. Não é muito diferente das merdas dos trotes universitários
brasileiros. Babaca não respeita geografia.
Fico imaginando o que leva uma pessoa a essa necessidade
doentia de ser aceito. E com o tempo me parece que em busca de aceitação as
pessoas têm se padronizado de maneira assustadora e alarmante.
Hoje em dia a rapaziada usa piercing, tatuagem (não que eu
tenha exatamente nada contra o uso de piercings ou tatuagens, mas é que parece
que grande parte da molecada começa a usar apenas numas de copiar outra pessoa
e aí é esquisito), o mesmo corte de cabelo, gosta das mesmas músicas e das
mesmas roupas e emprega as mesmas expressões (“Galera”, “é dez”, “é show”,
“baladinha” e outras que eu não consigo sequer repetir aqui sem ter o meu
estômago revirado) e aí ele se sente parte de alguma coisa, é compreendido e
aceito e não vira motivo de zombaria entre os demais, justamente por não ser
diferente.
Então o que acontece é muito simples. Se o sujeito tá num
grupo onde o lance é odiar alguém, seja quem for, pode ser negro, viado, gordo,
mulher ou o Mico-Leão Dourado, então o cara vai passar a odiar, ele nem sabe o
motivo, é que a turma odeia e ponto. E se a turma pinta o cabelo de azul, então
o panaca pinta também. E se a turma acha que é legal praticar artes marciais
pra sair dando porrada em desavisados noturnos, então o cara automaticamente se
inscreve numa academia e sai de lá o mó Steven Seagal.
E acha legal sair de carro com uma piranha oxigenada (esses
caras sempre andam com piranhas descerebradas que são apreciadoras de bravatas
intimidatórias) e provocar o primeiro sujeito pacífico que eles cruzarem pela
frente. E vai ser providencial se eles pegarem pela frente um carinha com um
livro do Kafka no ponto de ônibus. Esses caras nutrem um profundo ódio por
qualquer sujeito que consiga articular mais que duas frases inteligíveis. E as
suas piranhas são as primeiras a aplaudir o massacre.
Não tô aqui querendo de maneira nenhuma desmerecer o
trabalho de alguns professores de artes marciais que sei o quanto são sérios e
dignos. Mas é que sem a devida orientação eles estão criando um exército de
babacas extremamente perigosos.
E é claro que a mídia e a publicidade incentivam
irresponsávelmente esse estilo de vida. Elas querem todo mundo comprando e
consumindo as mesmas coisas, coisas essas que eles fabricam em larga escala
para atender a demanda desenfreada.
Numa novelinha como Malhação, só pra citar um exemplo
bastante óbvio, a impressão que fica é que o roteirista escreveu um monólogo e
depois distribuiu as falas entre vários personagens. Não há diferenciação de
personalidade. Todos falam as mesmas coisas, do mesmo jeito e usando as mesmas expressões.
Em resumo: fique igual e permaneça legal.
Há um processo de idiotização total e irrestrita avançando a
passos largos. E essa busca pela padronização e no conseqüente status mediano
(estou sendo generoso com esse “mediano”) que as pessoas têm alcançado ganhou
por esses dias duas novas forças de responsa.
A MTV “onde é que estão os clipes, porra?” estreou dois
programas que são verdadeiras aberrações. O primeiro deles é o tal Missão MTV
onde a Modelo Fernanda Tavares totalmente destituída de qualquer coisa que
possa ser chamada de carisma, apesar de bonitinha (é o mínimo que se pode
esperar de uma modelo) é chamada para padronizar qualquer sujeito que não
esteja seguindo as regrinhas do que eles chamam de “bom gosto”. Então se uma
garota não fizer o gênero patricinha afetada, então ela automaticamente está
out e a missão da Fernanda é introduzir a “rebelde” ao mundo dos iguais.
E dá-lhe o que eles chamam de “banho de loja”. Se o cara usa
roupas largas e o cabelo sem uma preocupação fashion e ainda se diz roqueiro,
então eles transformam o coitado num metrosexual glitter afetado e por aí vai.
Parece que a mulher vai dar um jeito no quarto de um sujeito. Ela diz que tá
tudo errado no quarto do cara. Como assim? É o quarto dele, porra. Enfim, é proibido
ter estilo. Quem não se enquadra, sai de cena. Em resumo, um programa
vergonhoso.
Mas o pior ainda é o outro: O inacreditável e assustador
Famous Face. Sacaram qual é a desse? Uma maluca encasqueta que quer ficar
parecida com a Jeniffer Lopez ou com a Britney Spears e tal estultice é
incentivada. Em resumo, a transformação é filmada e testemunhamos a verdadeira
frankesteinização sofrida pela pobre iludida. Ela se submete à operação
plástica, lipoaspiração e o caralho. Chega a ser nojento. Eu não entendo qual é
a de um programa como esse. Será que a indústria da cirurgia plástica tá
precisando de uma forcinha? Eu duvido. Nunca vi se falar tanto em botox,
silicone, lipo e outras merdas. Todo mundo tentando evitar o inevitável. Todo
mundo querendo retardar o tempo incontrastável. Vivemos cada vez mais em uma
gigantesca e apavorante Ilha do Dr. Mureau. Foda-se Dorian Gray. Eu sou bem
mais as rugas de Hemingway.
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